UMA HISTÓRIA DE NATAL

Jesus, filho de Deus, apareceu por um momento entre os povos do mundo. Naturalmente não era aquela anunciada vinda gloriosa. Não, visitava o mundo moderno momentaneamente para observar como o real espírito do homem tinha evoluído. Veio discreto e incógnito, e apropriadamente, veio nas proximidades do natal.

As luzes, como armadilhas multi-coloridas e a movimentação nervosa das multidões que iam de loja em loja, indicavam a aproximação do Natal.

Talvez o traço de um sorriso iluminasse seu rosto quando ele pensou sobre toda aquela atividade. Verdadeiramente, o que o homem comemorava e qual a finalidade? Supostamente se alegravam em homenagear seu nascimento. Não importava muito que a época da celebração tivesse alterada do evento real. O que importava era o espírito e a intenção engendradas pela ocasião. Determinar a profundidade e o sentimento deste espírito era a finalidade de sua visita.

Moveu-se silenciosamente em nosso meio. O sol do amor ardia em seu coração; luz e força brilhavam em seus olhos. Ainda assim, irreconhecível - mas não totalmente. Um velho, cego de infância, passando na multidão, tocou em seus trajes e percebeu seu ser.
- Oh senhor, toque-me e verei novamente. O velho falou.

E assim, lágrimas caíram de seus olhos e o homem enxergou.

Uma criança de rua, não muito longe de sua presença divina, sentiu sua influência e colocou sua minúscula mão nele. Este breve encontro com sua silenciosa troca de saber, confiança e sincero amor eram remanescentes de ocasiões de há muito tempo.

O homem cego e a criança compartilharam por um breve momento daquilo que o mundo inteiro procura mas está demasiado ocupado para reconhecer.

Passou através da multidão, absorta pela ocasião. Um jovem casal estava na frente da loja de discos. Discutiam calorosamente sobre seu status financeiro. Aqueles dois, que a menos de uma hora gostavam muito um do outro, estavam agora correndo o perigo de perder esse doce sentimento.
- Oh, minhas crianças. - Pensou Jesus - Como se o espírito do amor fosse medido pelo custo ou pelo tamanho de uma quinquilharia.

A loja de departamentos era grande e bem abastecida. Um grupo de pessoas em um canto da loja atraiu sua atenção. Um homem com barbas feitas de lã, usando uma roupa vermelha sentado em um trono, tinha à sua frente uma longa fila de crianças e pais. Papai Noel olhava cansado e Jesus sentiu uma certa afinidade com ele, compreendia como era cansativo um dia inteiro ouvindo os pedidos.

Duas pequenas meninas - um de seis e a outra de três anos - sentaram-se uma em cada joelho do homem. O usual padrão de pergunta e resposta se seguiu.
- E o que vocês querem que Papai Noel lhes traga neste Natal?

Em vez de realmente escutar as respostas, Papai Noel observava a roupa pobre das duas.
- E vocês tem sido boas meninas?

Outra vez, não ouviu as respostas. As meias das meninas há muito perderam a elasticidade e seus sapatos estavam se desintegrando de tão velhos.

Papai Noel deu a cada uma, um porta-níqueis de plástico que a loja tinha fornecido como souvenir. Mas não podia parar por aí. Tirou nove moedas de seu bolso e prosseguiu colocando uma em cada bolsinha, alternadamente. Os olhinhos infantis se arregalaram de contentamento. E o Papai Noel viu a alegria que sua pequena oferta trazia. Cada moeda tinha sido recebida com tal êxtase que desejou ter mais de cem.

Cada criança tinha quatro moedas em sua bolsinha e tinha chegado um momento de decisão: E a nona moeda?

Papai Noel perguntou,
- Para quem dou esta última?

A mais velha respondeu sem hesitação.
- Dê para a minha irmã pequena.

Jesus percebeu a emoção nublar os olhos de Papai Noel, enquanto dava um beijo em cada bochecha.

Jesus saiu como tinha vindo, quieto e sem ser percebido. Tinha visto e tinha sentido algo de bom e de ruim do mundo. Saiu com a certeza de que o certo prevaleceria. É verdade que a excessiva movimentação comercial o fez lembrar-se de mercadores de certo tempo, mas o espírito generoso estava em toda parte e haveria de prevalecer à chamativa comercial. Observou, também, que o verdadeiro sentimento do Natal esteve sufocado sob fábulas e tolices. No entanto, a força fundamentada na história real penetraria em todos influenciando-os para o bem.


Tradução: SergioBarros
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