A LUA QUE QUERIA SER SOL

A Lua vivia feliz, iluminando a noite, alegrando os namorados, auxiliando animais e viajantes, marés e plantações, passando pelas suas quatro fases, até o dia em que encontrou um gênio que disse poder-lhe satisfazer um desejo. Apenas um.

Ela era tão feliz, pedir o quê? Mas, também, esbanjar essa chance era difícil!

Pensou, pensou, e resolveu pedir para ser um sol.

Já pensou que maravilha ser grande e forte como o Sol? Seria Sol!

O gênio tentou argumentar, mas ela não aceitou ouvi-lo. Seria Sol e pronto. Ou será que ele era um gênio de segunda classe, sem poderes para tanto?

- Já que a minha ama o deseja, que seja feita sua vontade, disse o gênio, entre o solícito e o já irônico, sabendo de antemão o que aconteceria.

Nesse momento, a Lua desapareceu e um novo sol passou a brilhar.

A noite ficou totalmente escura, sem luz, viajantes e pássaros confusos, marés, plantações e peixes, também.

Mas a lua, ou melhor, o novo sol, nem quis saber. Brilharia durante o dia, como o outro, seria importante como o outro!

Novo dia começou com dois sóis. O calor foi escaldante, queimando, destruindo tudo. Todos clamaram contra o novo sol.

Este, sem jeito, se escondeu, aguardando para brilhar à noite. Talvez fosse melhor, pensou. Não haveria noite. Mais segurança contra ladrões, feras, mais segurança para viajantes, etc.

Veio a noite e o novo sol brilhou. Novamente clamores se levantaram de todos os pontos. Crianças que não dormiam, gananciosos que se estressaram de tanto trabalhar, marés, peixes e plantas confusos, novamente.

O calor era causticante, pois o sol jamais se punha... Ninguém queria olhar diretamente para o sol. Seu brilho intenso cegava, seu calor excessivo afugentava a todos. Ficou odiado e só.

Não havia mais o que fazer. Dois sóis, decididamente não podiam coexistir. Um teria que desaparecer.

E teria que ser o segundo.

Mas como, se o gênio só podia atender a um pedido? O que fazer para voltar atrás?

Como reverter o encantamento?

Desesperado o novo sol chorou. Chorou, chorou tanto, que seu calor acabou, esfriou, sua massa diminuiu...

Se alegria de pobre dura pouco, alegria de pobre de espírito dura muito menos. Não podia ser o outro rei do dia, já não era a rainha da noite.

Já não tinha mais luz própria. Mas, será que o Sol, o verdadeiro Sol lhe permitiria refletir sua luz, como fizera desde o início, até o dia em que a vaidade e ganância a fizeram perder-se?

Envergonhada pela sua falta, dirigiu-se ao Sol, quando ele passou por ela, durante o eclipse, e pediu-lhe perdão.

O Sol, grandioso como sempre, compreendeu a travessura da Lua e, perdoando-a, permitiu que voltasse a refletir sua luz.

Nessa noite, todos, alegres, comemoraram o regresso da Lua, brilhando suavemente no firmamento.

Quando amanheceu o dia, antes da Lua se recolher, ela pensou consigo mesma:

- Agi como o ser humano, quando deseja ser Deus. Há um único Deus. Não pode haver dois ou mais. E cada ser humano deve ser como uma lua, a refletir a luz do Sol. Não se deve ter luz própria, mas ser reflexo da luz do Senhor a iluminar a noite trevosa.

- Obrigado, Sol por me permitir ser a Lua a refletir sua luz pelas trevas!, disse finalmente a Lua, feliz por ser quem era...

Lúcia Franco
Enviado por Vera - Guardiões da Noite

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