< Manu, a menina e o coração

p align=center>

  Manu, a menina e o coração
__ Que acontecerá quando meu coração parar de bater? – perguntou Manu.
__ Então, o tempo terá terminado para você. Ou pode-se também dizer que você mesma é que voltará através do tempo, através de todos os seus dias e noites, meses e anos: voltará através de toda a sua vida, até chegar à grande porta semicircular de prata, por onde no princípio você entrou e pela qual sairá de novo.
__ Que é que tem do outro lado?
__ Ah! Lá você estará no lugar de onde vem a música que tem por vezes ouvido, muito, muito longe. E então você mesma já fará parte dessa música: será uma nota na grande harmonia.
Mestre Hora considerou a criança com olhar atento:
__ Mas não creio que você agora possa compreender isso.
__ Acho que posso – murmurou Manu. Lembrou-se da caminhada que fizera na Alameda do Nunca, quando teve de andar de costas e pareceu-lhe regredir através de toda a sua vida. Perguntou então: __ O senhor é a morte?
Mestre Hora sorriu e ficou silencioso por alguns momentos, antes de responder.
__ Se as pessoas soubessem como é a morte, não teriam meda dela e assim já não seria possível roubar o tempo de ninguém.
__ Então, o que temos de fazer é avisá-las – sugeriu Manu.
__ Você acha? Pois é o que eu lhes digo em cada hora que lhes dou, mas não querem ouvir. Preferem acreditar naqueles que as assustam. Isso também é um mistério.
__ Eu não tenho medo – afirmou Manu.
Mestre Hora sacudiu devagar a cabeça, olhou em seguida para a menina e perguntou:
__ Você gostaria de ver de onde vem o tempo?
__ Muito! – sussurrou ela.
__ Pois vou levar você lá – disse Mestre Hora. __ Mas você terá de ficar inteiramente silenciosa, sem perguntar nem dizer nada. Promete?
Manu acenou afirmativamente, sem uma palavra.
Mestre Hora curvou-se então e carregou-a, segurando-a firmemente nos braços. Parecia de repente ter-se tornado muito grande e incrivelmente velho – não como um velho comum, e sim qual árvore muito antiga, ou montanha primitiva. Pôs as mãos sobre os olhos da menina, e foi como se frios e leves flocos de neve caíssem sobre seu rosto.
Manu tinha a impressão de que ele a levava por um longo e escuro corredor, mas se sentia segura e não tinha medo algum. No começo, pensou estar ouvindo as batidas de seu próprio coração, logo, porém, pareceu-lhe, cada vez mais, que elas eram o eco dos passos de Mestre Hora.
O percurso foi longo, mas por fim ele a colocou de pé, e com o rosto ainda bem junto ao seu, olhando-a fixamente, pôs um dedo nos lábios. Depois, endireitou-se e deu um passo atrás. Um crepúsculo dourado envolveu a menina.
Aos poucos, Manu viu que estava sob uma cúpula imensa, tão alta como a abóbada celeste, toda em ouro.
No cimo, bem no centro, havia uma abertura circular pela qual uma verdadeira coluna de luz se irradiava sobre um lago, também redondo, do mesmo tamanho da abertura do alto, cuja superfície negra era tão lisa e imóvel como a de um escuro espelho.
Pouco acima da água, algo parecendo uma brilhante estrela resplandecia na coluna luminosa, movendo-se com majestosa lentidão. Observando melhor, Manu viu que era um enorme pêndulo, oscilando de um lado para outro sobre o espelho negro do lago. Não estava suspenso de nenhum ponto, e pairava no ar como se fosse imponderável.
Quando o pêndulo estelar se aproximou da margem do lago, um grande botão de flor surgiu sobre a água escura. Quanto mais perto chegava o pêndulo, mais desabrochava o botão, até abrir-se completamente sobre a superfície lisa.
Era a flor mais maravilhosa que Manu jamais havia visto: parecia feita apenas de uma quantidade de cores brilhantes, tão belas como a menina nunca imaginara que existissem.
O pêndulo estelar se deteve um instante sobre a flor e Manu, completamente absorta nessa visão, estava inconsciente de tudo o mais a seu lado. O perfume da flor parecia-lhe uma coisa que sempre havia desejado, sem saber o que fosse.
Aos poucos, porém, devagar, muito devagar, o pêndulo começou a se afastar e, enquanto se distanciava, Manu viu com assombro que a flor maravilhosa começava a murchar. As pétalas caíam, uma após outra, mergulhando na escura profundeza. Quando o pêndulo chegou ao centro, nada restava daquela extraordinária beleza. Naquele exato instante, porém, outro botão começou a surgir da água, desta vez do lado oposto, e foi se abrindo à medida que pêndulo se aproximava. Manu viu que a outra flor maravilhosa ali desabrochava, ainda mais bela do que a anterior, e deu a volta ao lago para apreciá-la mais de perto.
Era inteiramente diversa da flor antecedente: suas cores pareciam à menina ainda mais ricas e suntuosas; seu perfume também era outro, ainda mais delicioso. E quanto mais Manu a contemplava, mais lindos detalhes nela cobria.
De novo, porém, o pêndulo oscilou para longe e todo aquele esplendor se desvaneceu, caindo, pétala por pétala, na insondável profundeza do lago.
Lenta, lentamente, o pêndulo moveu-se para a outra margem, e desta vez aproximou-se de outro ponto, ligeiramente distante do anterior, onde começou a surgir novo botão, que foi gradualmente desabrochando. Extasiada, Manu admirava essa flor – verdadeiro milagre de beleza –, que superava todas as outras.
Manu quase chorou ao ver também essa perfeição murchar e desaparecer no lago sombrio. Mas lembrou-se da promessa que fizera a Mestre Hora e ficou muda.
Então, na outra margem, no lugar onde se achava o pêndulo, surgia da água outro botão prestes a se abrir.
Aos poucos, a menina foi compreendendo que cada nova flor era sempre diferente da anterior e que aquela que floria agora lhe parecia a mais bela de todas.
Não se cansava de apreciar aquela cena, quando tomou consciência de que mais alguma coisa ali ocorria constantemente sem que o tivesse notado.
A coluna de luz irradiando do alto da cúpula não era apenas visível – Manu começou também a ouvi-la.
No princípio era apenas um leve sussurro como o som distante do vento soprando no cimo das árvores. Logo, porém, o som aumentou, fazendo-a imaginar uma cascata despencando das alturas, ou em grandes ondas rebentando contra os rochedos. Foi percebendo, cada vez mais distintamente, que aquele impressionante ruído era composto de inúmeras melodias separadas, que modulavam e se uniam para formar harmonias sempre novas. Era música e, ao mesmo tempo, coisa inteiramente diversa.
De repente, Manu descobriu: era música que ela ouvia por vezes, longe, muito ao longe, quando se punha a escutar o silêncio sob o céu estrelado.
O som se tornara mais nítido e irradiante. A menina começou então a suspeitar ser essa luz sonora que fazia surgir as flores das profundezas do sombrio lago, dando a cada uma sua beleza própria, única.
Quanto mais atentamente ouvia, com maior clareza podia distinguir as vozes individuais, que aliás não eram vozes humanas: pareciam vibrações de ouro, prata e outros metais preciosos. Além disso, no fundo, como cortina sonora, ressoavam vozes de outra espécie, de indescritível esplendor, vindas de incomensurável distância. Tornavam-se cada vez mais claras e Manu pôde aos poucos ouvir as palavras que elas cantavam. Palavras numa língua que jamais ouvira, e que no entanto compreendia: o Sol, a Lua, os planetas e todas as estrelas lhe revelavam seus nomes reais e verdadeiros. Esses nomes é que determinavam aquela maravilhosa força pela qual, todos unidos, suscitavam a floração das horas, que continuamente floriam e se desvaneciam.
Subitamente Manu compreendeu que aquelas palavras se dirigiam a ela! Todo o universo – desde a mais longínqua estrela – voltava-se para ela como se uma única face, inconcebivelmente vasta, a contemplasse e lhe falasse
Nesse instante, viu Mestre Hora, que silenciosamente lhe acenava. Correu para ele, refugiou-se nos seus braços e
o mistério da ponte
Meus links favoritos:
http://geocities.yahoo.com.br/gastou2002/comeco.htm
Yahoo! Games
Yahoo! Fotos
Yahoo! Cartões
Minhas informações:
Nome: Neidsom Alencastro
gastou20022YAHOO.COM.BR
E-mail: