FOLKCOM-2002

Santos, SP

 

Os Fanzines e Revistas Alternativas

(Palavras-chave:– Fanzines - HQs - Folclore)

por GAZY ANDRAUS

e-mail: gazyandraus@yahoo.com

 

Mestre em Artes Visuais pelo Instituto de Artes/

UNESP/SP

 

Resumo: 

 

O Fanzine (neologismo criado em 1940, a partir de duas palavras inglesas: fanatic+magazine), começou em 1930, inicialmente voltado para a temática da ficção científica. É um veículo de certa forma “popular”, ainda que direcionado (tal como a Literatura de Cordel), que tem grande influência no Brasil e no mundo, promovendo eventos nacionais e internacionais, além de figurar em seções distintas em algumas gibitecas, bem como numa fanzinoteca  específica na França.

O veículo Fanzine é uma publicação independente que serve como veículo comunicacional (atualmente existem na internet os E-zines), servindo como meio de divulgação de idéias, quer sejam na forma coletiva (divulgação de ONGs, movimentos Anárquicos, etc.), ou isoladas, como artigos de música, FC, poesias e HQs, funcionando como laboratório para futuros jornalistas, escritores, poetas e quadrinhistas, e também como único meio mais acessível de se promover escritores que talvez jamais veriam seus trabalhos publicados “oficialmente”.

Este artigo quer salientar a importância “folclórica” e social que o objeto fanzine está tomando e delineando no Brasil (e conseqüentemente no mundo), como propulsor e moldador imprescindível de intercâmbio e cultura geral nas sociedades contemporâneas.

 

Palavras-chave:

Fanzines – HQs - Folclore

 

 

1. Os Fanzines e Revistas Alternativas

1.1  Objetivo justificado

 

Este artigo quer salientar a importância social (e até “folclórica”) que o objeto fanzine está tomando e delineando no Brasil (e conseqüentemente no mundo), como propulsor e moldador imprescindível de intercâmbio e cultura geral nas sociedades contemporâneas, já que um fanzine é uma publicação independente de grande influência no Brasil e no exterior, servindo como veículo comunicacional e como meio de divulgação de idéias, quer sejam na forma coletiva ou isoladas, funcionando como laboratório para futuros jornalistas, escritores, poetas e quadrinhistas, e também como único meio mais acessível de se promover escritores que talvez jamais veriam seus trabalhos publicados nas editoras comerciais.

 

1.2. Introdução:

           

            O termo fanzine[1] é um neologismo criado da junção de duas palavras inglesas: fanatic+magazine (revista do fã), criado na década de quarenta, bem depois da invenção do objeto (o próprio “fanzine”), e começou a ser amplamente utilizado nos anos 70 pelos jovens estudantes, para divulgação de trabalhos contra a ditadura e como contestação do sistema social vigente. Seria a contra-cultura ou mesmo o "underground" (movimento independente de tudo que diz respeito à cultura massificada ou de consumo, onde temos como figura principal, o norte-americano Robert Crumb, o "papa" do movimento nas Histórias em Quadrinhos ou HQs).

Mas foi na década de trinta, nos EUA, que veio a surgir o primeiro fanzine de que se tem notícia, o qual se chamava "The comet", que era voltado para a ficção científica, tida na época como subliteratura. A partir de então espalhou-se pelo mundo. A imprensa alternativa no Brasil teve seu início nos anos 60, com o jornal Pif-Paf, cujos autores vieram a criar o famoso Pasquim, que teve colaboradores como Jaguar, Ziraldo, Henfil e Millôr Fernandes, entre outros artistas de expressão.

Esse veículo de comunicação alastrou-se pelo mundo inteiro, expressando idéias e informações adjuntas de um determinado assunto, de forma livre e independente, graças ao seu baixo custo, pois geralmente é rodado em fotocopiadoras (xerox) e divulgado através dos correios e, atualmente, pela Internet (os e-zines). Até hoje os fanzineiros buscam movimentar o pop alternativo, combatendo a cultura padronizada.

 

1.3. Ocorrências:

 

            Um fanzine, como dá a entender o próprio nome, é uma revista gerada pelo fã de determinado assunto, quer seja de cinema, de música, ou de poesia ou HQs (Histórias em Quadrinhos), que disserta acerca de tudo que pode obter de seu objeto de paixão, ou ainda, atualmente, um veículo de expressão e vazão do autor apaixonado por determinado gênero ou assunto, que não tem outro modo de divulgar suas idéias.

            No Brasil, milhares de títulos têm inundado o circuito nacional. Muitos fanzines não passam do número dois, outros já estão há mais de vinte anos no ar, como é o caso do "Barata", de Santos/SP; outros funcionam como auto-edições independentes (livros) de autores, como escritores que não são aceitos pelas editoras comerciais.

            Em São Paulo acontece anualmente o HQMix, evento que premia entre outros, o melhor fanzine do ano. Em Ourense, na Espanha, também anualmente, é realizada uma exposição Mundial de fanzines e Prozines (termo que tenta dar um aspecto semiprofissional a alguns zines de concepção gráfica melhorada), além de Almada em Portugal. Já, na cidade de Poitiers, França, existe uma Fanzinoteca (Fanzinothéque de Poitiers) que reúne edições alternativas do mundo inteiro num acervo original.

 

1.4. Distinção entre Zines e Revistas Alternativas

 

            Cabe aqui uma pequena diferenciação entre Fanzine e Revista Alternativa. Embora ambas sejam independentes, a primeira trata de assuntos pertinentes a determinados temas com artigos, textos, resenhas críticas sobre, por exemplo, cinema, quadrinhos, música, etc.; já a segunda traz em suas páginas trabalhos artísticos como HQs (histórias em quadrinhos), ilustrações e poesias além de outras criações. Tal classificação foi feita por Henrique Magalhães, que se doutorou na França acerca dos fanzines, e lançou no Brasil o livro O que é Fanzine da Ed. Brasiliense.

            Mas é bem verdade que esta classificação, por vezes, pode não ser possível, pois há materiais publicados que misturam ambas, textos críticos e HQs, como apostilas explicativas governamentais de cunho social e de saúde, ou cartilhas de Ongs destinadas a esclarecimentos ecológicos a membros e/ou público em geral.

            Neste artigo frisa-se mais os fanzines, por serem manifestações de trabalhos artísticos, que teriam mais a ver com manifestos folclóricos.

 

1.5. Veículo de HQs e propagador cultural

 

            Costuma-se chamar de fanzine qualquer suporte de papel que contenha tanto uma como a outra publicação citada no item anterior, para facilitar esta grande corrente de caráter libertário que se utiliza do correio como seu melhor modo de propagação (atualmente com a franca utilização da Internet, apareceram os mencionados e-zines que nada mais são que os fanzines eletrônicos, o que facilitou em muito a divulgação dos mesmos.).

            Interessa frisar que, mesmo as HQs veículadas pelos fanzines (ou mais especificamente, nas revistas independentes), passeiam por diversos gêneros, inclusive tendo caráter de vanguarda, de experimentalismo, pois o caráter anárquico dos também chamados zines permite tais experimentações.

            Nas revistas alternativas independentes ou fanzines, seus autores/editores buscam espraiar ideologias e filosofias, estimulando a produção cultural e revelando novos artistas, novos escritores e quadrinhistas, que, devido à forma competitiva capitalista exagerada que tomou o mercado editorial, jamais, em sua grande maioria, serão comercializados de maneira oficial. Com isto, têm nos fanzines, tanto seus autores como os possíveis leitores, um modo único de poder ver suas idéias circularem e serem vistas, já que, aos fanzineiros, caso se abstivessem da utilização de tal veículo, privar-se-iam de poder expressar qualquer idéia, o que fatalmente coibiria totalmente a relação autor/leitor, fadando ao extermínio todo um caminho de construção cultural social e limitando o leque de obras criativas ao rol das produções, pertinentes a somente aqueles poucos que são comercializadas oficialmente. Em outras palavras, só alguns poucos teriam o privilégio de ter circulando seus trabalhos, dependendo da aceitação de, por exemplo, determinado editor, em detrimento de muitos outros que jamais teriam tal chance.

            Como se vê, a importância dos fanzines numa sociedade sempre em evolução é bem maior do que aparentaria em uma visão superficial e apressada.

            A importância deste artigo referente aos fanzines justifica-se também pelo fato de que, por exemplo, muitos autores brasileiros de HQs autorais adultas (de temática reflexiva e filosófica), estarem publicando nestas revistas independentes, e, muitas vezes auto-editadas, devido às editoras brasileiras não terem ainda percebido a importância (e existência) deste tipo e gênero de Histórias em Quadrinhos.

            É mister que se reitere nesta questão: as HQs para o público adulto, e seus autores, existem no Brasil, embora raramente se notifique tal fato na mídia em geral.

            Os Fanzines e revistas independentes suprem tal lacuna.

            Quiçá, futuramente, estas HQs, deixem de ser vistas como arte menor, como espera o autor norte americano já mencionado, Will Eisner.

            Quanto a este fato, o mesmo autor, em entrevista a um jornal brasileiro, responde à questão quanto a uma mudança na forma de se ver esta arte:

                        “Vai levar tempo. E vai depender da qualidade das histórias sendo contadas. Afinal de contas, houve um tempo em que o cinema era considerado lixo. Cantores de ópera se recusavam a participar de filmes porque consideravam uma forma de expressão menor. O problema é o que eu chamo de mentalidade escrava. Se te tratam como escravo muito tempo, você começa a viver como se fosse um escravo. As pessoas que escrevem HQs não pensam que são responsáveis. (...) Mesmo em convenções como essa, as pessoas me diziam até pouco tempo atrás que adoravam meu trabalho como desenhista. E eu só queria que alguém elogiasse minha história.”[2]

            É claro que Eisner estava se referindo ao mercado norte-americano, pois no Brasil, quase inexistem autores publicando oficialmente, e os “escravos” e “irresponsáveis”, a que ele se refere, se adequam perfeitamente também aos desenhistas brasileiros que servem de peões ao mercado saturado (de também peões) dos EUA.

            Neste ponto, os autores brasileiros acabaram criando escolas em suas publicações alternativas, e muitos deles enveredam até hoje, imbuídos da mais sincera essência autoral e conscienciosa, a que Eisner se referia como qualidade necessária a um escritor/desenhista de HQs.

            Na França, os fanzines são como laboratórios, onde os autores vão adquirindo maturidade. As editoras francesas, sabendo disso, costumam procurar no fanzinato, novos profissionais, editando projetos pessoais ao público.

            Um grande crítico dos quadrinhos, o psicólogo norte-americano Fredric Wertham, que na época macarthista lançou o livro Seduction of Innocents, fadando ao preconceito a maioria das HQs, taxando-as de perigosas à educação dos jovens, concluiu paradoxalmente em seu último livro The World of Fanzines (1973), que os fanzines eram construtivos culturais, conforme citado no artigo publicado na revista Wizard, n. 7, p.43, Globo: RJ, fevereiro de 1997:

os “fanzines mostram uma combinação de independência que não se encontra facilmente em outras partes da nossa cultura” e (Wertham[3]) acabou concluindo que “eles são válidos e construtivos. A comunicação é o oposto da violência. E toda faceta de comunicação tem um lugar legítimo”. (William Christensen e Mark Seifert)

 

1.6. Fanzine e Literatura de Cordel: semelhanças folclóricas

 

            Pode haver uma estreita ligação entre os Fanzines e a Literatura de cordel, no que tange a ambas serem manifestações de grupos populares envolvidos culturalmente numa produção que chega quase a ser artesanal.

Na Literatura de cordel, muitos cordelistas ainda produzem seus livros através da tipografia, compondo letra por letra pelo processo manual[4], de geração a geração numa típica manifestação folclórica que goza de extremo respeito, principalmente pelo meio intelectual brasileiro.

Como exemplo de importância, temos a Companhia Paulista de Trens metropolitanos (CPTM) e a Companhia do Metropolitano de São Paulo (Metrô) promovendo neste mês de janeiro de 2002 o 1o. Concurso Paulista de Literatura de Cordel, de cujo folder retiro a citação a seguir:

“A história da literatura de cordel remonta há muitos séculos. O vocábulo foi registrado pela primeira vez no Dicionário Contemporâneo, de Aulete; em 1881. mas não há como precisar uma data do surgimento desse tipo de literatura, embora proceda a informação de que a herdamos dos colonizadores portugueses que primeiramente desembarcaram na Bahia. Porém, não foram os portugueses os únicos criadores da literatura de Cordel. Eles a assimilaram de fontes diversas, a partir da península Ibérica – região localizada entre Portugal e a velha Espanha – e a ela imprimiram uma marca própria. Ler Camões (1524-1580), Cervantes (1547-1616) e Castro Alves (1847-1871). Em Luís de Camões, acham-se elementos dessa cultura. Idem na obra de Miguel de Cervantes e do poeta baiano Castro Alves, morto aos 24 anos. Em vários países hispano-americanos e europeus, como o Chile e a França, também são perceptíveis sinais dessa literatura. Leandro Gomes de barros foi o principal expoente da arte cordelística no Brasil...”(texto extraído do livro a Presença dos Cordelistas e Cantadores Repentistas em são Paulo, ps. 92 e 93: Assis Ângelo, Ed. Ibrasa, SP)”.

 

Sempre os fatos se mostram mais distantes de uma avaliação direta. Os cantadores repentistas, que provavelmente se tornaram extensões dos ministréis europeus, talvez tenham sua origem mais remota e diretamente ligada aos árabes, que também travam “duelos” de alaúdes em duplas, criando letras musicadas improvisadas tais quais os nossos repentistas brasileiros[5]. Mas voltando à Literatura de Cordel, pode-se visualizar facilmente mais paralelos com os fanzines: ambos são produzidos e vendidos geralmente por iniciativas do próprio autor, e se os cordéis são colocados em varais, aos fanzines são montadas exposições que por vezes usa-se colocá-los sobre varais também. Mas o mais importante é que as autorias de ambas as manifestações são oriundas de escritores que contam e recontam histórias e versões de contos, histórias, romances e até elucubrações cotidianas e/ou universais (vide o texto “Pavão misterioso”, fecundo em Literatura de Cordel).

Se a literatura de cordel pode se enquadrar como uma manifestação popular, logo folclórica, talvez o fanzine também o possa ser. O cordel é um segmento folclórico, assim como poderia ser o fanzine, cujos autores dialogam com outros autores e leitores, geralmente por correspondências (no caso dos fanzines). Ora, vejamos, segundo a enciclopédia Barsa

“O original folk-lore, atualmente simplificado para folklore,“saber vulgar”, foi o termo proposto pelo inglês William John Thoms, em carta famosa ao Athenaeum de Londres, publicada a 22 de agosto de 1846.” (Barsa, v.6, p.267)

            Ainda segundo a mesma fonte:

“Tanto o objeto de estudo, as tradições populares ou o populário, neologismo brasileiro, como a disciplina científica que o compreende, são igualmente designados por folclore.”

 

Enfim, neste item quis-se salientar alguns aspectos que corroborariam as hipóteses de o fanzine também ser colocado em paralelo com a Literatura de Cordel, rotulando ambas as manifestações como folclóricas, guardadas as devidas diferenças e objetivos, bem como segmentos públicos. Isto fica em aberto para estudos posteriores; no momento satisfaz-se colocar o objeto Fanzine ou zine como veículo de comunicação propulsor cultural, necessitado de divulgação acadêmica, motivo pelo qual ele figura como objeto deste artigo, em tal evento.

 

 

2. Considerações Fanzinais

 

            William Blake, poeta e pintor/gravador inglês do final do século XVIII foi poeta e artista:

&                                   “Para ver um mundo num grão de areia

&                                   E um céu numa flor silvestre,

&                                   Segure o Infinito na palma de tua mão,

&                                   E a eternidade numa hora.

                                  

            Em um de meus trabalhos: “Homo Eternus” (quatro tomos contendo HQs filosófico-místicas), eu atribuo a Blake o pioneirismo dos Fanzines, pois ele editava seus álbuns, contendo textos próprios, ilustrados com gravuras pessoais, pintadas à mão, uma a uma. De certa forma ele pode ter sido o propulsor do fanzinato e de um ou ouro elemento (de atitude) da Literatura de Cordel.

            Se um fanzine ou revista alternativa, cujo início oficial data desde 1930, pode ser tido como manifestação artístico-comunicacional de um segmento popular (como o é a literatura de Cordel), tornando-se quase como uma tradição “obrigatória” principalmente para os autores de HQs no Brasil, a fim de poderem escoar suas produções, já que há carência de editoração oficial de HQs brasileiras, e se o fanzine se estende para outros países, ganhando espaços em mídias e eventos, tal como o Cordel, que ganhou em maio de 2001 uma exposição em São Paulo, capital[6], e o folclore é uma manifestação de cunho popular e tradicional, é bem possível que o Fanzine possa ser tido como um objeto folclórico.

            De qualquer modo, o objeto fanzine é mais do que digno de citação, pois é através dele que muitos podem fazer escoar suas idéias, bastando para isso boa vontade, papel, tesoura e cola, e pequenas tiragens por fotocopiadoras, baratas atualmente devido à popularização das máquinas de reprodução.

            Com isto, mesmo indispondo-se de editoras interessadas, o pseudo-autor pode se tornar um auto-editor e ver escoadas suas idéias artísticas ou jornalísticas, tal qual o faz um escritor de cordel.

É neste ponto da livre iniciativa e liberdade de expressão que importa subsistir este artigo acerca dos fanzines como manifestação popular, ou quiçá folclórica.

 

 

2.1. Informações pós-Fanzinais

 

Pretendemos agora listar alguns poucos "ousados" do meio dos fanzines, que contribuem culturalmente nesta arte tão mal pesquisada. São os autores e editores nacionais do meio alternativo:

 

q       Edgar Franco

 

Arquiteto formado pela UNB, com seu estilo filosófico-visceral, produziu em co-edição com Edgard Guimarães o álbunzine "Sinfonias da Essência". Um compêndio com mais de 100 páginas onde reúne cronologicamente seus trabalhos (já amplamente reconhecidos), além de ter um estilo que mescla textos poéticos a imagens fortes, em mundos oníricos, transmitindo ao público o que só um artista verdadeiro consegue. Ilustra capas de cds, além de dar cursos de quadrinhos de autor, e estar envolvido com muitos projetos novos relacionados à arte-seqüencial. Publicou na "Brazilian Heavy Metal", "Metal Pesado", e na "Fêmea Feroz". É mestre pela UNICAMP/SP, tendo pesquisado e criado acerca dos e-zines.

 

q       Edgard Guimarães

 

Professor no ITA (Instituto Tecnológico da Aeronáutica) em São José dos Campos/SP. É engenheiro, quadrinhista e editor independente. Como atuante da área profissional, co-criou um coração artificial que simula os batimentos cardíacos para posterior utilização técnica dos médicos. Ao mesmo tempo edita o premiado QI (Informativo de Quadrinhos Independente), que divulga os trabalhos de todos os que produzem quadrinhos e zines, e funciona como catálogo bimestral e internacional das produções independentes.Edgard também atua como co-editor, revendendo revistas alternativas pelo sistema postal.

 

q       Flávio Calazans

 

Santista, e doutor em comunicação pela USP, publica há mais de 20 anos o fanzine Barata, que é um ícone dos zines nacionais. Calazans já tem vários livros publicados, dentre eles destacam-se Propaganda Subliminar Multimídia (ed. summus), e As Histórias em quadrinhos no Brasil, teoria e prática (edição com o Intercom e reconhecimento da Unesp/Proex). Publicou também HQs e textos na ed. Abril, e nas revistas Brazilian Heavy Metal e Fêmea Feroz. Congressista internacional, atualmente leciona na Fundação Cásper Líbero e na Unesp/SP.

 

q       Henrique Magalhães

 

Concluiu tese de doutoramento na famosa universidade Sorbonne em Paris (França), sobre o universo dos fanzines, e já tem um livro publicado no Brasil: O que é fanzine, da ed. Brasiliense.

Henrique mora na Paraíba e é, além de autor, editor no mundo alternativo. Fundou a Editora Marca de Fantasia, a qual mantém vários títulos, dentre eles ressaltamos Top! Top! e Mandala (ex-Tyli-Tyli) esta, exclusiva à temática filosófica, onde participam membros como Flávio Calazans, Edgar Franco, Gazy Andraus, o português Nuno Nisa entre outros, colaborando com HQs e matérias afins).

 

q       Henrique Torreiro

 

Espanhol da Galícia, é coordenador e organizador da “Xornadas de Fanzines”, evento

anual internacional de exposição e catalogação acerca dos Fanzines que ocorre em Ourense/Espanha.

  

q       Gazy Andraus

 

Mestre em Artes Visuais pela UNESP/SP e Arte educador formado pela FAAP. Tem uma temática similar no tocante ao filosófico estético da arte-seqüencial, assim como Edgar Franco. Aproxima sua arte à pintura Taoísta, onde o texto se alia à imagem como algo indivisível. Como Edgar, já publicou na "Brazilian Heavy Metal", "Metal Pesado", "Fêmea Feroz". Ambos publicam também no zine português "O Vôo da Águia". Gazy auto co-edita seus albunzines com Edgard Guimarães. Já expôs e palestrou sobre HQs e fanzines brasileiros na ALBA (Academie Libanaise de Beaux Arts) no Líbano.

 

Enfim, poderíamos continuar apontando dezenas, ou até centenas de autores brasileiros. Mas isto seria uma tarefa que está muito além deste singelo esboço, que só se presta a apresentar um pouco do mundo tão injustiçado dos quadrinhos e fanzines. Como se vê pelo simplificado currículo dos referidos autores abordados, o ecletismo cultural deles vai muito além do que costuma se esperar de um "quadrinhista", derrubando assim o mito que se faz de tal profissão: como o de uma criadora de leitura supérflua ou até nociva a um ser humano. 

Autores já conhecidos no meio, como Shimamoto, Flávio Colin, ainda resistem bravamente em tal luta cultural. Outros que já se foram, como Henfil ou Jaime Cortez persistem na memória dos atuais, motivando-os a continuar. Ivan Carlo, Antônio Amaral, Laudo, J. James, E. Franco e outros tantos sabem da responsabilidade que têm, a qual nada mais é do que auxiliar para uma educação futura, inculcando uma nova mentalidade nos leitores brasileiros, a que tenham uma madura visão para com esta "arma" cultural contra a tola ignorância de belos ignotos mundos criados a partir de imagens e textos, unidos num matrimônio de informação com lazer, que são as tão espezinhadas Histórias em Quadrinhos, no Brasil, geralmente publicadas em Fanzines, veículos “populares” que tomam suma importância nos tempos atuais, principalmente graças à tecnologia digital, com os contemporâneos e-zines.

Mas esta é outra história.

 

 

 

 

 

 

 

3.Bibliografia principal:

 

ANDRAUS, Gazy. Existe o quadrinho no vazio entre dois quadrinhos (ou: o Koan nas   

     Histórias em Quadrinhos Autorais Adultas. Dissertação de Mestrado, UNESP: São

     Paulo, 1999.

CHRISTENSEN, William e SEIFERT, Mark. A Ascensão da Besta. Wizard, n. 7, p.43, 

     Globo: RJ, fevereiro de 1997.

EISNER, Will. Quadrinhos e Arte Seqüencial. Martins Fontes: São Paulo,1989.

ENCICLOPÉDIA Barsa. vol. 6. Enciclopaedia Britannica do Brasil: Rio de

     Janeiro/São Paulo, 1989.

FRANCO, Edgar Silveira. HQTRÔNICAS – HISTÓRIAS EM QUADRINHOS

     ELETRÔNICAS:DO SUPORTE PAPEL À REDE INTERNET. Dissertação apresentada

     ao curso de Mestrado em  Multimeios do IA da UNICAMP: CAMPINAS, 2001.

FEIJÓ, Mário. Quadrinhos em ação:um século de história. Ed. Moderna: São Paulo. 1997.

GARCIA, Lauro Lisboa e Beatriz Velloso. Um século de Cordel in Revista Época, ano III,

     27 de maio de 2001, ps. 108 a 111.

CALAZANS,Flávio. As histórias em quadrinhos no Brasil: Teoria e prática. Apoio  

     Intercom/UNESP: São Paulo 1997.

IANNONE, Leila Rentroia & IANNONE, Roberto Antonio. O mundo das 

      Histórias em Quadrinhos. Moderna: São Paulo, 1994.

Literatura de Cordel – 1o. Concurso Paulista. Regulamento lançado por Companhia

     Paulista de Trens metropolitanos (CPTM) e a Companhia do Metropolitano de São

     Paulo (Metrô), 1991/1992.

MAGALHÃES, Henrique. O que é fanzine. Ed. Brasiliense: SP.

McCLOUD, Scott. Desvendando os quadrinhos. Makron Books: São Paulo. 1995.

Revista Época, ano III, n. 157, Globo: Rio de Janeiro, 21 de maio de 2001.



[1] Também chamado de Zine.

[2] BASTOS, Gabriel. In Will Eisner faz a história da Arte com emoção. Estado de São Paulo,

         18/07/96, Caderno 2, p. D9.

[3] Nota do autor deste artigo.

[4] Este trabalho lembra um pouco os álbuns produzidos das gravuras e textos de William Blake, artista e poeta inglês do século XVIII., que menciono novamente no item 2, p.8 deste artigo.

[5] Eu assisti um pequeno show em televisão libanesa onde apareciam estes repentistas árabes executando tais cantos, como continuando uma tradição antiga.

[6] Exposição “Um Século de Cordel” , evento realizado no Sesc Pompéia em São Paulo, SP, m maio de 2001, divulgado na Revista Época, ano III, n. 157, Globo: Rio de Janeiro, 21 de maio de 2001.