“Tendo Jesus entrado no templo,
expulsou a todos os que ali vendiam e compravam; também derrubou as mesas
dos cambistas e as cadeiras dos que vendiam pombas. E disse-lhes: Está
escrito: A minha casa será chamada Casa de Oração; vós, porém, a
transformais em covil de salteadores.”
Mateus 21:12,13
Neste texto vemos Jesus agindo de uma forma singular. Em todos os
evangelhos vemos a figura do Cristo misericordioso, amoroso, compassivo, e
aqui temos uma atitude tão drástica e enérgica que até parece destoar
do resto de seus atos. Não que tenha sido errada ou exagerada, foi
precisa e perfeita, como perfeito sempre foi nosso Senhor. Mas bater com
um chicote, virar as mesas com mercadorias e dinheiro, espalhar animais, e
fazer tudo com tamanha autoridade à qual ninguém se opôs, mostra o
valor que tem diante de Deus o princípio que os judeus estavam violando.
E isto deve chamar nossa atenção. Jesus deparou-se com muitos erros e
pecados nos dias de seu ministério terreno, mas este parece ter sido um
dos mais duramente repreendido. Portanto, há uma séria e importante lição
a ser aprendida neste relato. Há um erro grave a ser evitado, e convido-o
a refletir comigo nos princípios bíblicos por trás desta porção das
Escrituras. Durante muito tempo achei que o problema aqui era o comércio
em si, mas quando examinamos o texto em seus detalhes, a acusação de
Jesus contra aqueles homens parece ter dois enfoques principais:
1. Uma distorção do propósito divino para sua casa – ser um ambiente
de relacionamento genuíno com Deus (casa de oração).
2. O roubo de alguma coisa – uma vez que Jesus os chamou de ladrões.
Pense nesta frase de Jesus: “vós a transformastes num covil de LADRÕES”.
O que esta em questão aqui não é necessariamente o ato de comercializar
em si, mas o que ele significava.
O Senhor não estava repreendendo a ganância, nem tampouco os chamou de
mercenários. A acusação não era contra ganhar dinheiro. Aqueles
comerciantes tinham o respaldo das autoridades do templo e não estavam
violando nenhuma das rígidas leis judaicas ou mesmo as romanas.
Portanto, é certo reconhecer que o roubo de que Cristo falava não era
algo no reino natural, mas sim no espiritual. Tenho certeza que o roubo não
era o “preço” pelo qual se vendia, pois se de um lado da barraquinha
havia um bom comerciante judeu para vender, do outro lado o comprador também
não era diferente, e isto sem falar na concorrência!
O quê, então, aqueles homens poderiam estar roubando? Precisamos de uma
volta ao Velho Testamento e à compreensão dos princípios da lei mosaica
a fim de entender o que estava acontecendo. A Bíblia faz menção de
animais sendo comercializados no templo, e esta era a principal mercadoria
ali.
Mas o que estes animais faziam lá no templo? Qual a razão de estarem
sendo mercadejados? Porque o comércio feito ali era principalmente o de
animais?
É importante lembrar que o culto do período em que vigorou a Lei de Moisés
era baseado nos sacrifícios de animais que se faziam no templo. Esta era
a principal ocupação dos sacerdotes, como podemos perceber nos livros de
Êxodo e Levítico.
Basicamente, o animal mais sacrificado era um cordeiro, embora havia situações
em que pudesse ser um bode ou até mesmo um novilho; outros sacrifícios
exigiam a presença de aves, e estas eram também aceitas quando o
ofertante não tinha posses suficientes para ofertar gado.
A ESCOLHA E PREPARAÇÃO DO ANIMAL
Deus esperava que os homens oferecessem a Ele o melhor animal. A palavra
sacrifício aponta não só o derramamento de sangue do animal, como também
o ato de abrir mão do melhor entre todo o rebanho. Houve períodos na
história de Israel em que eles perderam este enfoque e o Senhor os
repreendeu:
“O filho honra o pai, e o servo ao seu senhor. Se eu sou pai, onde está
a minha honra? E se eu sou senhor, onde está o respeito para comigo? Diz
o Senhor dos Exércitos a vós outros, ó sacerdotes, que desprezais meu
nome. Vós dizeis: Em que desprezamos o teu nome?
Ofereceis sobre o meu altar pão imundo, e ainda perguntais: Em que te
havemos profanado? Nisto que pensais: A mesa do Senhor é desprezível.
Quando trazeis animal cego para o sacrificardes, não é isso mal? E
quando trazeis o coxo ou o enfermo, não é isso mal? Ora, apresenta-o ao
teu governador; caso terá ele agrado em ti, e te será favorável? Diz o
Senhor dos Exércitos.”
Malaquias 1:6-8
Deveria haver todo um cuidado na escolha e preparo do animal antes de levá-lo
para ser sacrificado. Quando os israelitas começavam a fazer de qualquer
jeito, Deus protestava!
O animal oferecido, em termos práticos e racionais, era perdido. Deus não
o usava para nada e quem o ofereceu ficava sem. Muitos, nunca chegaram a
entender que o propósito do sacrifício era justamente cultivar no coração
o valor de Deus, como estando acima de todas as outras coisas, mesmo as
mais importantes. A entrega do animal em si, não tinha valor algum, mas o
que ela significava para a pessoa. Não estamos hoje habituados com a criação
de ovelhas, mas os donos se apegavam aos animais. Jesus disse que as
ovelhas conhecem a voz do pastor e o seguem, e que este, por sua vez, as
chama pelo nome (Jo.10:3). Quando o profeta Natã foi repreender Davi de
seu pecado, usou uma parábola palavra ilustrar o que Davi fizera, e
descreveu nesta alegoria como alguém chegava a se apegar a uma ovelha que
criava, como sendo um verdadeiro animal de estimação (II Sm.12:3). A
beleza do sacrifício estava no valor que o animal oferecido tinha.
Lembra-se do caso de Abraão, a quem Deus pediu seu filho Isaque em sacrifício?
Deus não queria nem precisava de Isaque sacrificado, Ele só buscava a
atitude correta no coração de Abraão, queria estar em primeiro lugar.
Isto agrada o coração do nosso Pai Celeste! E o que estava acontecendo
no templo, nos dias de Jesus era exatamente o oposto. Ninguém mais se
preparava para o sacrifício. Simplesmente deixavam para a última hora,
quando chegassem no templo e compravam um animal qualquer. O culto perdeu
seu significado, pois se tornou mecânico ao perder a sua essência: a
preparação. A ÚNICA EXCEÇÃO
A única exceção que vemos na Bíblia quanto a levar o animal preparado
era a seguinte: Quando alguém que fosse subir a Jerusalém sacrificar ao
Senhor e morasse muito longe, para não fazer toda a viagem com o animal,
poderia vendê-lo e subir com o dinheiro. Com esta orientação, o Senhor
queria facilitar o trânsito do adorador apenas. Facilitar a viagem e nada
mais. Ele deveria criar suas ovelhas, reconhecendo que a melhor do rebanho
não seria dele e sim do Senhor. Então quando chegava o dia de subir o
templo, ele se desfazia dela do mesmo jeito! Mas os judeus distorceram
este princípio. Em nome da facilidade, instituíram um sistema onde ninguém
mais precisava gastar tempo na preparação do sacrifício, bastava comprá-lo
de última hora. Por isto Jesus os chamou de ladrões. A única coisa que
eles estavam roubando era A PREPARAÇÃO PARA O CULTO. O momento do sacrifício
não era o culto em si, somente o clímax de algo que já havia sido
iniciado no coração do ofertante há muito tempo.
Talvez devêssemos nos perguntar porque Jesus ficaria tão incomodado com
um estilo de culto que estava prestes a mudar. Em poucos dias Jesus seria
crucificado, a Nova Aliança estabelecida, e o culto a Deus não mais se
expressaria por meio do sacrifício de animais... Mas a verdade é que o
Senhor Jesus não estava preocupado com a manifestação externa do culto,
mas como aquilo refletia um coração indiferente. E mesmo mudando o
estilo da adoração, ele sabia que nós continuaríamos errando e tropeçando
nas mesmas coisas. Então não perdeu sua chance de corrigir um pecado de
sua época, e também de nos deixar um ensino importantíssimo: o valor do
que oferecemos ao Senhor em nosso culto está intimamente ligado a nossa
preparação para o culto. Fico profundamente triste em ver como as
pessoas vão para os cultos em nossas igrejas. Sem contar o fato que
muitos chegam atrasados (o que reflete o valor do culto ou sua preparação),
e não estou falando de cinco ou dez minutos apenas! O momento em que nos
reunimos para cantar e orar ao Senhor, não é toda a expressão do culto,
mas o clímax de toda uma preparação que já começou antes de sairmos
de casa. Mas muitos crentes passam a tarde toda de um domingo (e não
estou santificando o domingo em relação aos outros dias, mas
reconhecendo-o como o dia convencional de culto em que a maioria das
pessoas não trabalha e poderia cumprir o que estou dizendo) na frente da
televisão, se empanturrando com tudo o que vem da bandeja dos
apresentadores de programas de auditório. Outros estão ligados no
esporte, mas não quero discutir a programação. O fato é que muitos
passam a tarde toda na frente da TV e depois quando chega a hora de ir
para o culto – e às vezes depois dela – saem correndo para a igreja
sem sequer ter cultivado um tempo diante do Senhor. Estão com seu espírito
totalmente desligado e insensível para a presença de Deus. E depois se
perguntam porque não experimentam nada de diferente! Deixe-me dizer-lhe
que a presença de Deus não é como uma torneira que você abre e fecha a
hora que quiser. A presença do Senhor não é como um interruptor que você
liga e desliga a hora que bem entende com resultados instantâneos. Não!
Para provar a presença do Senhor sua carne tem que morrer primeiro, seu
espírito precisa estar desperto, sensível. E sabe o que eu acho mais
engraçado? A quantia que ouço de muitos irmãos (de minha própria
igreja e de outras) que quando o período de louvor e adoração “está
ficando bom” nós – os líderes – costumamos encerrá-lo! Mas a
verdade é que para alguém que se prepara antes do culto, que tira um
tempo para orar, meditar na Palavra, se concentrar no propósito do culto,
buscar a presença e intimidade do Senhor, a adoração está boa a partir
da primeira frase cantada. A primeira oração já é poderosa! Precisamos
entender que o culto não fica melhor com seu andamento, nós é que nos
despertamos para a presença do Senhor que estava lá o tempo todo nos
esperando. Muita gente não cultiva em seu coração expectativa alguma
para o mover de Deus, e acaba não provando nada nos cultos.
A expectativa é algo que determina resultados. Quando Jesus foi para
Nazaré, sua cidade, as pessoas olhavam para ele sem expectativa. Diziam:
não é este o carpinteiro, filho de José e Maria? Em outras palavras,
estavam dizendo que viriam ele crescer que o conheciam, e não esperaram
muita coisa dele, o que fez o próprio Jesus afirmar que um profeta não
tem honra em sua pátria (Mc.6:1-6). O relato bíblico diz que Jesus NÃO
PÔDE fazer muitos milagres ali, a não ser curar uns poucos enfermos.
Isto me faz questionar porque Deus não tem podido fazer muitos milagres
em nossos cultos, a não ser curar uns poucos enfermos... a resposta é óbvia:
vamos para nossas reuniões sem esperar que aconteça. Não choramos e
gememos diante do Senhor em intercessão, não exercitamos nossa fé, não
o buscamos antes da reunião! Mas se fizermos isto, se aprendermos a nos
preparar para o culto, tudo será diferente. Já evoluímos bastante na
nossa qualidade musical, mas retrocedemos na preparação. Os crentes
antigos se preparavam melhor que nós antes do culto. Tenho saudade de
quando era criança e chegava a uma igreja e muitos estavam de joelhos
clamando pela reunião. Hoje em dia, na hora de começar a reunião você
quase tem que tocar um sino para que a conversa pare. Não estamos nos
preparando para o culto. E achamos que basta cantar um pouquinho para que
nosso Deus se agrade. Mas estamos errando! E a severidade com a qual Jesus
nos trataria hoje não seria menor do que a que ele usou ao virar as mesas
dos vendedores no templo. Certamente se Jesus estivesse fisicamente aqui
hoje e quisesse “arrumar” as coisas em sua igreja, nos consideraria tão
merecedores de um chicote quanto aqueles cambistas judeus de seus dias
terrenos. Precisamos corrigir isto em nossas vidas se queremos mais da
presença do Senhor.
Se queremos de fato agradá-Lo, precisamos entender que o culto não começa
na oração de abertura, mas em nossa casa, bem antes da reunião. Em
minha casa, temos o hábito de não assistir televisão aos domingos. Não
porque isto roube nossa “santidade”, mas porque nos distrai, rouba a
sintonia espiritual que deveríamos ter. Muitas vezes gasto parte da minha
tarde de domingo dormindo, e não só com leitura bíblica e oração. Mas
quando vou para o culto, estou descansado e disposto, e isto faz diferença!
Nas vezes em que me distraí, mesmo já conhecendo este princípio, o
culto não teve o mesmo resultado que quando me preparei. Meu irmão (ã),
quero desafiá-lo em nome de Jesus Cristo a considerar e corrigir este
princípio em sua vida. Virão dias em que provaremos um grande derramar
de Deus em nossos cultos. Estão chegando dias em que veremos o Espírito
Santo se mover de forma muito poderosa nas reuniões, mas tem que haver
preparação. Tenho pensado muito ultimamente na frase de Josué:
“Santificai-vos, porque amanhã o Senhor fará maravilhas no meio de vós”
(Js.3:5). Não há melhor forma de ver Deus fazendo grandes coisas em
nosso meio do que preparar-se para isto! Não sei o que tem sido seu ladrão
da preparação do culto. Talvez fosse só o fato de ignorar este princípio.
Talvez seja o jogo de futebol, seu mesmo ou de seu time. Talvez sejam os
programas de auditório. Sei que entre os ladrões da preparação do
culto a TV ganha disparado. Talvez seja outra coisa, mas você pode e deve
mudar isto. Alguns podem achar que estou espiritualizando demais, mas
quando contextualizamos o que houve naquele dia lá no templo, não
podemos chegar a outra conclusão. Experimente gastar tempo preparando-se
para o culto e comprove você mesmo a diferença que isto faz. Mas não
quero que conclua só na base do que foi bom para você. Além de ser bom
para você, certamente o será para o nosso Pai Celeste que anseia pela
comunhão conosco!
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