Tipo: Estudos bíblicos / Autor: Pr. Airton Evangelista da Costa
O VALOR
DO PERDÃO
No segundo semestre de 1999, fui chamado para orar por uma jovem senhora, de
uns 23 anos, que se alimentava muito pouco, estava definhando rapidamente, e,
além disso, ficara possessa mais de uma vez. Essa situação já durava algumas
semanas. Vamos chamar essa jovem de Cláudia. Quem fez o contato comigo foi sua
sogra. Toda a família é crente, e freqüenta uma congregação não muito
distante da minha, no município de Aquiraz, Estado do Ceará.
Tão logo recebi o convite para ir visitá-la, senti no meu coração que o mal
era causado por falta de perdão. Durante sua enfermidade, recebeu orações de
irmãos de sua igreja, sem que houvesse melhora. Continuava muito fraca e
pálida. É muito freqüente esse tipo de enfermidade de difícil diagnóstico.
Marcamos então a visita. Depois do culto, num domingo à noite, fomos (eu,
minha esposa, um irmão e a sogra da irmã enferma) a um pequeno sítio onde
Cláudia e o marido moram. Ele é o zelador do sítio. Por mais de uma vez eu
havia pregado na minha igreja sobre o perdão, enfatizando a imperiosa
necessidade de não guardarmos rancores/ressentimentos em nossos corações,
para que as bênçãos divinas possam fluir.
Ao chegar em sua casa, trouxeram-na para falar comigo. Seu aspecto era de
sofrimento: magrinha, olhar sem brilho, desânimo. Sentei-me ao seu lado, no
sofá, e lhe perguntei: - Cláudia, você guarda rancor de alguém e não consegue
perdoar? Ela começou a chorar, e respondeu afirmativamente. Senti que eu
estava no caminho certo, e que o Espírito Santo me havia guiado nessa obra. O
passo seguinte, foi ajudá-la a perdoar, a arrepender-se e pedir perdão a
Deus. Depois que a ungi com óleo, fiz a oração intercessora, e, em nome de
Jesus, repreendi a enfermidade e toda a ação maligna sobre sua vida, tudo
conforme a Bíblia:
“Está alguém entre vós doente? Chame os presbíteros da igreja, e orem sobre
ele, ungindo-o com azeite em nome do Senhor, e a oração da fé salvará o
doente, e o Senhor o levantará; e, se houver cometido pecados, ser-lhe-ão
perdoados. Confessai as vossas culpas uns aos outros e orai uns pelos outros,
para que sareis; a oração feita por um justo pode muito em seus efeitos”
(Tiago 5.14-16; Marcos 16.17-18).
Em poucos dias Cláudia estava completamente curada. Entendo que foi curada
imediatamente; os sintomas da enfermidade é que foram desaparecendo aos
poucos. Semanas depois a encontrei alegre e feliz louvando ao Senhor. Louvo a
Deus porque, com isso, a minha fé aumentou muito. Fiquei mais convencido de
que não podemos guardar rancores, ódios, ressentimentos em nossos corações. É
imperioso que nossos canais espirituais estejam limpos. Jesus disse:
“Bem-aventurados os puros de coração, porque eles verão a Deus” (Mateus 5.8).
Cláudia não havia atentado para as seguintes palavras de Jesus: “Assim vos
fará também meu Pai celeste [vos entregará aos verdugos], se de coração não
perdoardes, cada um a seu irmão, as suas ofensas” (Mateus 18.35). E, mais
objetivo, disse: “Pois se perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso
Pai celestial vos perdoará a vós. Porém se não perdoardes aos homens as suas
ofensas, também vosso Pai celestial não vos perdoará as vossas” (Mateus
6.14-15).
Ora, se não tivermos capacidade de perdoar, os nossos pecados também não
serão perdoados. Se o Pai não nos perdoa, estamos afastados dEle pelo pecado
(Salmos 66.18; Isaías 59.2), e o diabo terá o direito legal de intrometer-se
em nossas vidas (João 10.10). Cláudia – como agem muitos – preferiu continuar
guardando o rancor, na esperança de que Deus não levasse em consideração a
sua desobediência.
Ninguém se esqueça de que o perdão deve ser sincero e de coração. Deus não
aceita perdão dos lábios para fora. O perdão deve ser incondicional. Nada de
dizer: - “Eu perdôo fulano, mas ele que fique lá no seu lugar e eu no meu; eu
perdôo fulana, mas não quero conversa com ela; não participo do seu grupo; não
me sento perto dela”. Vejam quão bonito exemplo Jesus nos deu da cruz, Seu
último púlpito: “Pai, perdoa-lhes, pois não sabem o que fazem” (Lucas 23.34).
E quando disse a Judas Iscariotes, depois do beijo da traição: “Amigo, para
que vieste?” (Mateus 26.50).
O ódio alimentado assemelha-se a uma árvore; quanto mais velha, mais difícil
de ser arrancada, porque suas raízes se aprofundam mais e mais. O mundo está
cheio de pessoas rancorosas, vingativas, escravas do ódio. Odeiam pessoas,
nações, raças, instituições, autoridades. Não há paz num coração assim.
Conheci várias pessoas cheias de ódio. Não podem receber a graça divina.
Vejam: “Segui a paz com todos e a santificação, sem a qual ninguém verá o
Senhor, tendo cuidado de que ninguém se prive da graça de Deus, e de que
nenhuma raiz de amargura, brotando, vos perturbe, e por ela muitos se
contaminem” (Hebreus 12.14-15). Perdoar, perdoar sempre é preciso se
quisermos viver em comunhão com Deus.
Se não estivermos em paz com os outros, de nada valem nossos atos de
misericórdia, orações e jejuns, nossa fé, nosso louvor, nossos dízimos. Jesus
deixou isso bem claro: “E quando estiverdes orando, se tendes alguma coisa
contra alguém, perdoai, para que vosso pai, que está nos céus, vos perdoe as
vossas ofensas” (Marcos 11.25-26).
Olhem o quanto perdoar é importante: “Se trouxeres a tua oferta ao altar, e
aí te lembrares de que teu irmão tem alguma coisa contra ti, deixa diante do
altar a tua oferta, vai primeiro reconciliar-te com teu irmão; depois vem, e
apresenta a tua oferta” (Mateus 5.23-24).
Esse caso nos leva a considerar o seguinte: Crente pode ficar possesso? Como
ficamos diante do que está escrito em 1 João 5.18, que diz que o maligno não
toca nos nascidos de Deus? Deus teria permitido que essa senhora fosse tocada
pelo maligno para que houvesse reconciliação? O crente em pecado não
confessado e não corrigido fica à mercê dos demônios?
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