Artigos
e temas diversos
O
Fórum de Botucatu
anotações
para sua história
Pesquisa
e textos realizados sob encomenda da Professora Isaura Bretan
O
Fórum de Botucatu foi criado para servir à Comarca de
Botucatu, instalada em 1866. Seu primeiro juiz foi o Dr. José
Carlos Machado de Oliveira. Foi substituído pelo Juiz Dr. Luiz
Ernesto Xavier.
O Fórum sempre funcionou em casas alugadas,
principalmente durante o Império. Antes do advento da
República o município construiu sua Cadeia, inicialmente na
Praça do Bosque, antigo largo Santa Cruz, enquanto o Fórum
funcionava na Cesário Alvim (atual João Passos), mais ou menos
na altura da Praça do Paratodos. Cartórios e seus serviços
funcionavam em casas particulares, geralmente
onde os escrivãos moravam, também. Assim, também, eram
os Cartórios de Coletores de Rendas do Estado.
Uma segunda Cadeia foi construída, com verbas
Estaduais, já durante a República, na última década do
século XIX, na
Praça 15 de Novembro, hoje ocupada pelo Cine Nelli, Centro
Cultural, Prefeitura e OAB. Ficava, exatamente na porta de
entrada do atual Botucatu Tênis Clube. Serviu durante muito
tempo, até a inauguração do prédio Fórum/Cadeia, no
princípio do século passado.
A
Construção do Fórum/Cadeia de Botucatu
Foi para servir de casa para uma nova Cadeia
Pública, em conjunto com o Fórum local (que nunca havia tido
um prédio próprio) que o Estado programou a construção do
edifício que hoje se ergue na confluência das ruas Marechal
Deodoro e General Telles. Era costume (com certeza seguindo uma
tendência na época, da parte da organização judicial) no
Estado de São Paulo, construir um mesmo edifício para servir
de Fórum/Cadeia. Existem dezenas de municípios que receberam
investimentos para esse fim. Todas as Comarcas do princípio do
Século Passado queriam seu Fórum/Cadeia. Em Botucatu isso só
veio a ocorrer na segunda década daquele século, o XX.
A
localização do Fórum/Cadeia
Na parte alta da cidade existia uma terreno grande
que havia sido um cemitério. Estava abandonado pelo município,
desde o ano de 1899, quando passou para o controle da
municipalidade, depois de uma negociação com a Igreja
Católica. O Cemitério Católico que funcionava no local, havia
sido liquidado em julho 1899, por ato da Intendência local, que
desejava abrir a Rua General Telles, impedida, no trecho, por
muros do cemitério.
Mas a ocupação do terreno demorou para ser
feita. Inicialmente a municipalidade ocupou-o com parte do
Jardim da Praça Rubião Junior (ver mapa de 1890, em anexo) e,
depois, tudo aquilo ali ficou subutilizado. Nos fundos da antiga
Matriz, o município abriu a Avenida Dom Lúcio (chamada da
Saudade), ligando o Largo da Matriz com a nova necrópole
(Portal das Cruzes).
A
Construção do Fórum/Cadeia
Exatamente o início da construção não se pode
afirmar ainda, mas ela ficou parada algum tempo. Vamos encontrar
documentação, para comprovar sua retomada, em
1920. Em julho daquele ano a Diretoria de Obras Públicas do
Estado autoriza a “conclusão da construção da Cadeia
Pública e Fórum desta cidade”. A verba destinada era de
223 contos, 188 mil e 584
réis. (ver xérox do contrato, em anexo). Pode ser que a
liberação dessa verba e a realização desse contrato, tenham
sido um aditamento a algum contrato anterior, com a mesma
empresa.
Essa parte da construção foi assumida pela
firma botucatuense dos empreiteiros Dinucci e Pardini, italianos
radicados em Botucatu desde o ano de 1898 e que haviam, ao
chegarem ao Brasil, passado pelos escritórios do Arquiteto
Ramos de Azevedo, onde trabalharam por um ano, como contratados.
Chegaram com diplomas de Arquitetura de um Liceu de Artes e
Ofícios da Itália. (ver xérox do cartão da firma e xérox
das credenciais de arquitetos, em anexo)
A conclusão demorou dois anos. Em
agosto de 1922,
o prédio estava levantado, mas faltavam alguns acabamentos,
como se pode ver por uma solicitação de verbas complementares
ao Tribunal de Justiça e Departamento de Obras. Pretendiam os
empreiteiros construir, com a verba, o que faltava: muros,
gradil e complementos do Edifício do Fórum/Cadeia.
O ano de 1923
entrou e o prédio continuava inacabado. Em seu relatório de
atividades, o delegado regional de polícia, salientava: “
27 de janeiro...Cadeia: continua funcionando no antigo prédio,
visto o novo edifício estar ainda em construção. A cadeia tem
5 prisões, que comportam 30 presos. Em agosto registrou-se uma
fuga...”
O ano passou e o prédio não foi entregue. Só mesmo
em fevereiro de 1924,
quase quatro anos desde o início da fase conclusiva da
construção, é que... “Fórum.
Acham-se terminados os trabalhos de construção do importante
edifício especialmente feito para fórum e cadeia da cidade,
faltando apenas completar o serviço externo da área em frente
ao edifício e o calçamento das entradas. A
um representante da Diretoria de Obras Públicas do Estado, já
foi feita a entrega provisória da construção, estando a
entrega definitiva marcada para breve. “
As
reformas do Prédio
Por alguma razão o prédio vive apresentando
rachaduras, desde logo cedo, pouco depois de ser entregue. Essas
rachaduras evoluíram lentamente, no inicio, mas se agravaram
por volta dos anos 40.
Foi realizada uma reforma em 1944, pelos próprios construtores. Naquela ocasião já havia
morrido um dos sócios, Adolfo Pardini, e Dinucci operava a
firma em sociedade com seu filho, engenheiro-construtor, Camilo
Fernandes Dinucci.
Nesse ano de 44 foi realizada uma reforma na
Cadeia/Delegacia (portanto, apenas em um dos lados), onde foram
construídos, também, dois pavilhões, para abrigar a
Delegacia. Acho que são as reformas internas. Dá para ver ali
um volume no pátio interno, que não tem nada a ver com o
edifício. Esse anexo destruiu a arquitetura primordial.
Mas o prédio continuava a apresentar rachaduras. A
situação estava grave demais nos meados daquela década de
quarenta. Tão grave que várias equipes da Diretoria de Obras
Públicas vieram a Botucatu para fazer um diagnóstico e
apresentar soluções. A
situação era tão alarmante que a imprensa local dizia que o
prédio poderia ruir a qualquer momento. Dizem, as pessoas mais
idosas que trabalhavam naquele local que, em algumas frestas,
era possível enfiar um punho cerrado.
Em maio
de 1948, a imprensa divulgou um dos diagnósticos, que
apontavam as causas e recomendavam soluções: “
Corre perigo o nosso Fórum? ... essas fendas apareceram logo depois que
foi ali construído um depósito subterrâneo d´água, com uma
capacidade para sessenta mil litros, apoiado nas bordas dos
alicerces internos para atender às necessidades higiênicas do
local. Esse depósito, pela sua localização subterrânea,
tornou-se difícil de ser rigorosamente inspecionado, para assim
se poder constatar um possível vazamento que iria fatalmente
abalar a solidez dos alicerces do prédio. Pela ausência de
fatos positivos, os técnicos avançaram várias hipóteses e
sugeriram providências para eliminá-las todas. Foi assim
determinado o abandono do velho depósito,
substituindo-o
por outro que já se acha construído fora do edifício, mas
não ainda em atividade, por falta de verba necessária para a
sua utilização definitiva. O cano coletor das águas pluviais
internas, que passava por baixo do depósito do água, foi
desviado lateralmente, eliminando assim mais uma das possíveis
causas. Os técnicos sugeriram ainda, como medida de segurança,
o fechamento das frestas respiratórias do porão, para formar
na base um todo sólido, com evidente benefício para
resistência dos alicerces. E ainda acorrentar
devidamente as paredes fendidas...”.
Parece que nada disso deu muito certo. E, então, em
1956, foi feita uma terceira reforma que incluiu o prédio
do Fórum/Cadeia, completa. Existiam ali novas rachaduras.
A
única Restauração
Foi feita uma restauração total no edifício
durante o ano de 1979.
Era governador o Dr. Paulo Egídio Martins. Todas as rachaduras
foram, mais uma vez, consertadas e o edifício foi calçado nos
seus alicerces. Vários buracos foram cavados nas laterais e
dentro dos porões e enchidos com concreto. A Delegacia de
Polícia já não estava mais ali, desde 1975, quando, no
Governo Plínio Paganini, havia sido transferida para o Bairro
Alto. Foi uma restauração preocupada mais com a sustentação
do edifício. Foi longa e demorada e todas as dependências do
Fórum funcionaram em outro lugar, durante o tempo que durou a
reforma/restauração. Há uma placa – imensa – sobre ela,
colocada no saguão do Fórum. Aliás, é a única placa
existente ali. Tem todos os dados sobre o trabalho de
restauração, inclusive a empreiteira que o realizou.
A
situação atual
É muito pior. Voltaram as rachaduras, insistentes,
mostrando que nenhuma das intervenções foi capaz de dar um
basta. O terreno, pelo visto, é instável e apresenta
movimentos que não foram diagnosticados, até agora.. Porque?
As constantes reformas e restaurações, com seus calçamentos
de colunas e etecetera, e tal, consumiram fortunas do Estado.
A autoria do
projeto e a localização da Planta
De quem seria a autoria do projeto arquitetônico?
Dizem ser do Escritório Ramos de Azevedo. É possível. No
entanto, não encontrei nenhuma referência a isso na imprensa
local. Procurei pela planta na Prefeitura já que o arquivo de
plantas (existente no prédio principal) tem plantas desde 1915.
Não achei.
Obtive informação do senhor Domingos Scarpellini
(Cartorário no Fórum local, por longo tempo) e soube que
quando da Restauração de 1979, essa planta apareceu. Estava
lá em seu cartório e foi usada pelos técnicos. Depois, disse
o sr. Domingos, que entregou-a à Dra. Nilze Aranha, que à
época era secretária da Direção do Fórum. Atualmente o
senhor Domingos Scarpellini diz que a planta deve estar na
Secretaria do Fórum, em algum local, pois a Doutora Nilze diz
isso, ou diz que a mesma pode estar em São Paulo, arquivada na
repartição que dirigiu a restauração.
Perguntei se ele lembra de quem era a autoria
da Planta. Ele fala que não leu na planta, mas que é do Ramos
de Azevedo. Perguntei se ele tem certeza disso. Disse que não.
Para afirmar que o prédio foi construído com
uma planta assinada pelo famoso arquiteto paulistano, será
preciso achar essa planta. Ela Existe.
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