Negros:
uma história
de
lutas e realizações
Quando começou
a ser preparado, este trabalho não tinha certeza de nada. Os
arquivos e a memória dos negros de Botucatu, pareciam
impossíveis de serem alcançados, na profundidade e na
extensão necessárias.
Histórias
pessoais, fotos, papeis, tudo enfim, se existisse, deveria jazer
nos cantos da memória dos descendentes, ou esquecidos nos
fundos de gaveta.
Porque? É que
vencido o impacto da absorção de sua força de trabalho, num
mercado muito disputado, as famílias de ex-escravos tiveram que
construir sua libertação, também, no plano econômico.
Livres,
formaram ao lado de trabalhadores brancos na construção da EFS
em Botucatu, voltaram às fazendas de café – agora como
colonos - para colher o fruto do trabalho, ao lado de espanhois
e italianos. Dividiram com estes as casinhas das colônias, o
sofrimento do eito e a lida nos terreiros.
E
dispersaram-se pelas vilas da cidade com seus costumes, sua
culinária, seus sambas, seus batuques, suas rezas e devoções,
para construir parte do que se pode chamar de cultura
botucatuense.

Mapa
da África, com a localização da procedência dos grupos
étnicos negros
Abraçaram as
profissões mais humildes e as lidas mais duras. Nelas,
esperaram, pacientemente, que os anos lhes criassem
oportunidades. Quando puderam, dezenas e dezenas de famílias,
foram consolidando – através de seus filhos - novas e mais
expressivas posições na sociedade local. Uns foram ser
professores (dos mais queridos e competentes), outros músicos
(dos melhores) e alguns lançaram-se na busca da graduação
acadêmica, já na primeira metade do século passado.
Mas a
absorção do conjunto dos negros, pela sociedade botucatuense
não foi fácil. Conquistado o espaço econômico – mesmo o
nicho de prestação de serviços onde pontuaram (uma vez mais,
ao lado de italianos e espanhóis pobres) – precisaram
conquistar seu espaço social. Constituíram associações
próprias e clubes, nos espaços negros escolhidos –
verdadeiros sítios étnicos, entre eles o Largo do Rosário.
Afirmaram-se como comunidade, diante dos demais trabalhadores e
demais segmentos sociais, e atravessaram o século 20 buscando
dilatar esses espaços.
Decorridos
tantos anos, e enfrentados tantos problemas, os sinais de sua
história estariam perdidos?
Onde andariam
as fotos, os nomes dos presentes nelas, as histórias de vida,
suas lutas, sempre faladas, mas pouco registradas?
Prazerosa
surpresa tivemos ao verificar, junto às famílias, uma
imensidão quase inesgotável de documentos, carinhosamente
guardados, aguardando um olhar mais atento sobre sua História.
Iniciativas nesse setor, com o aval acadêmico, já começam a
ser feitas, como a tese de mestrado do professor Cesar Múccio,
ex-secretário da Cultura do Município, sobre as relações de
trabalho entre senhor e escravo, nas Fazendas de Café de
Botucatu.
Por saber de
nossos limites, este presente trabalho não tem a pretensão de
ser exaustivo ou abrangente, mas, antes e apenas, uma homenagem
que A Gazeta presta, aos afro-brasileiros de Botucatu, por
ocasião do 146 anos de fundação de nossa cidade.
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