O "Picadam"
do Morro do
Hybyticatu
...a busca do caminho por terra
às minas de ouro do Cuiabá
Os Bandeirantes eram paulistas que se embrenharam
pelo sertão do Brasil, durante longo tempo, em busca de ouro, prata,
pedras preciosas e índios, a quem procuravam para o trabalho escravo. A
eles o Brasil deve a expansão do seu território, antes pequeno, por
acordo entre Portugal e Espanha. Os Bandeirantes, em sua ânsia de
conquistas, não respeitaram esses acordos e, avançando além de nossas
fronteiras, ocuparam para Portugal, territórios que pertenceriam à
Espanha.
Em
1907 a Comissão Geográfica e Geológica do Estado de São Paulo repete a
epopéia de Bartolomeu Paes de Abreu, ao abrir o Picadão do Panela, na
expedição de exploração do rio do Peixe
Um desses bandeirantes, Bartolomeu Paes de Abreu,
fez sua história ligando-a à conquista do Sertão de São Paulo, Minas,
Mato Grosso e Goiás. Ativo e arrojado, em 1704, foi Procurador do
Conselho da Câmara de Vereadores de São Paulo e, no ano seguinte foi,
também seu Juiz Ordinário.
Empreendedor, possuía fazendas de criação em Minas
Gerais, no caminho por onde passavam as Bandeiras paulistas que buscavam
as regiões auríferas, localizadas entre o Rio Grande e o Rio das Mortes.
Nessa região ocorreria a sangrenta Guerra dos Emboabas, entre
mineradores paulistas e portugueses. Bartolomeu Paes de Abreu, nessa
ocasião, teve sua fazenda destruída, perdendo 400 cabeças de gado.
Possuía, também, outras terras nos campos de Curitiba, com grande
rebanho.
Irriquieto, Bartolomeu Paes de Abreu resolveu, no
início do século XVIII (1721), abrir um caminho por terra, para
possibilitar aos comboios de homens e animais chegarem até o Mato Grosso,
que começava a atrair mineradores para a lavras de ouro do Rio Coxipó,
que haviam sido descobertas por Pascoal Moreira Cabral e Gabriel Antunes
Maciel (1718).
Salto
do Itapura, na desembocadura do Tietê no Paraná, um dos inúmeros
obstáculos que os caminhos por terra ao Mato Grosso, pretendiam evitar.
Hoje submerso na represa de Jupiá.
Pediu ao governador da Capitania de São Paulo e Minas,
que àquela época eram uma só, autorização para isso, solicitando
algumas vantagens a serem cobradas de todos que usassem tal caminho.
Impaciente para esperar a resposta e, como estivesse ausente o Governador
da Capitania, em viagem às Minas Geris, decidiu partir para o Sertão.
Abriu um caminho, em 1721, que chamou de "picadão", a
partir do Morro do Hybyticatu, termo da Vila de Sorocaba. Começou-o, como
ele mesmo deixou escrito, da "derradeira povoaçam da última
villa...", subindo e varando a Cuesta a partir de uma das
inúmeras trilhas que apontavam para o Oeste. Algum tempo depois chegou ao
Rio Paraná, onde instalou três roças de milho, feijão, legumes e
deixou 250 bois em uma delas.
O rumo que tomou o seu caminho, num trajeto presumido
pelas descrições que deixou, foi: dos altos da Cuesta, a partir,
provavelmente do atual município de Pardinho, aos campos do Lençois
e dali à cabeceira do Rio Batalha e, então, pelo divisor (partes
altas que dividem as bacias hidrográficas) do Feio (atual
Aguapeí) e Peixe, por onde prosseguiu até os Campos da Laranja
Doce e, depois, pelas 18 léguas de densas matas do Vale do Rio
Santo Anastácio até o Rio Paraná.
Mas Bartolomeu não foi feliz. No tempo em que ficara
no sertão, um outro governador chegou ao Brasil e passou a dirigir a
Capitania de São Paulo e Minas. Julgando-se desrespeitado por Bartolomeu
Paes de Abreu, que saíra para o sertão sem o seu conhecimento, não lhe
deu nenhuma vantagem pretendida. Tudo perdido, num emaranhado de
conveniências oficiais e intrigas palacianas.
Mas o seu "picadão" ficou aqui, como o
primeiro caminho aberto a partir dos altos da Cuesta, no rumo do sertão.
Foi sobre ele que, algum tempo depois, Luiz Pedroso de Barros
começou a abrir, com autorização oficial, o caminho de São Paulo até
o Rio Coxipó, no Mato Grosso. Deste caminho, aberto a mando do governador
Rodrigo Cesar de Menezes, sabe-se que foi sair defronte à
desembocadura do Rio Pardo (o que desce do Mato Grosso e deságua no
Paraná), tendo usado a maior parte do traçado deixado feito por
Bartolomeu Paes de Abreu.
Seu trânsito esteve interrompido em várias ocasiões: ora por
violentas investidas dos Caiapós e Guaicurus, na região
dos rios que davam no Paraná; ora pelas entradas feitas pelos espanhóis
, que vinham pelo caminho até o território paulista colocar padrões
(marcos de pedra) que designavam ser aquelas terras da Corôa Espanhola.
Era a luta pelo território.
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