O
sertão desconhecido
...novas buscas, desbravamentos e conquista definitiva
- De novo o caminho para o Mato Grosso -

Forte Iguatemi,
construído pelo Governo de São Paulo no reinício da hostilidade entre
Portugal e Espanha
A
Capitania de São Paulo, antes muito próspera, rica e
influente, começou a declinar. Tudo teve início quando foram criadas as
novas Capitanias de São Pedro do Rio Grande do Sul (1738), a de Goiás
(1748), a de Minas (1720) e a de Mato Grosso (1748). Ao
serem formadas, todas consumiram territórios de São Paulo e levaram,
junto, seus povoadores para engrossar as populações que nesses lugares
já existiam. Então, para lá foram, não só os mineradores mas,
também, pessoas das mais variadas profissões: dos funcionários da
Coroa, para organizar a cobrança dos impostos, aos comerciantes e
criadores, que se aproximavam das minas para realizar seus negócios, bem
como pessoas de todas as profissões possíveis na época.

Forte
Coimbra,rio
Paraguai
fundado
em1775
São Paulo ficou quase vazio de gente. Sua
população ficou espalhada pelo território e sua economia enfraqueceu,
até que em 1748 a própria Capitania foi anexada à do Rio de
Janeiro. A população que ficou envolveu-se apenas com a própria
subsistência. Os poucos que tentavam viver do comércio iam ao Rio de
Janeiro buscar tecidos vindos da Europa, vendendo-os, na volta, na
própria região paulista ou os negociavam em Minas. Da antiga Capitania
de S. Paulo apenas saía um algodão grosseiro e açúcar, produtos que,
também, eram negociados nas minas.

Conde
de Bobadela
governou
São Paulo
no
período de sua extinção
Esta situação perdurou até quando as hostilidades
com a Espanha foram retomadas e os Reis de Portugal restauraram a
Capitania de S. Paulo. Para isso, em1765, assumiu o governo da Capitania
Paulista, D. Luiz Antonio de Souza Botelho Mourão, com
ordens expressas do Conde de Oeiras e Marques de Pombal para
reativar a economia e organizar a defesa do território.
O novo governador, no entanto, conhecia muito pouco da
Capitania. Ao chegar ao Rio de Janeiro ficou sabendo que vivia ali o neto
de um antigo sertanista e procurou obter, com ele, o máximo de
informações. Pedro Paes Leme, também sertanista, neto de Fernão
Dias Paes, teve com o novo governador, longas conversas, assegurando a
viabilidade da ocupação do interior da Capitania de São Paulo.
Planejaram novas investidas aos sertões, para os lados do Rio Iguassu
(hoje Estado do Paraná) e, também, aos longínquos Campos da Vacaria,
no extremo oeste brasileiro, atual Estado do Mato Grosso. Depois de
empossar-se como novo governador, Dom Luiz organizou sete expedições ao
Iguassu, mas foi com a criação e fundação do Forte e Presídio do
Iguatemi, junto ao rio do mesmo nome, que marcou significativamente
sua administração.
O Iguatemi foi o primeiro forte criado no sertão
avançado e visava manter vigilância sobre as entradas de soldados e
colonos espanhóis que, de Assumpção no Paraguai, invadiam o território
já ocupado pelos portugueses. Essa experiência foi trágica. O forte e
presídio, que levava o nome de Nossa Senhora dos Prazeres e
São Francisco de Paula do Iguatemi, foi desativado em 1777, depois de
um ataque espanhol e dez anos depois de "engolir " a vida de
milhares de paulistas.
No
final do séc. XVIII, quando a Capitania de São Paulo foi restaurada, a
utilização do rio Tietê como
caminho para o Mato Grosso continuava predominante
Foi para conduzir homens e víveres a essa praça
militar que Dom Luiz, governador, realentou o sonho de retomar a abertura
de um caminho por terra, livrando as expedições que continuavam a se
dirigir ao Mato Grosso, do longo tempo e dos perigos da navegação pelo Anhembi
(Tietê), acidentado ao extremo. Tentou várias vezes sem sucesso.
Estava irritado com Antônio Barbosa, diretor de uma povoação nas
cabeceiras do Rio Piracicava, pois o mesmo comprometera-se em abrir
tal caminho, partindo daquela povoação e recebera por isso, mas não
cumprira o combinado.
Então, em fevereiro de 1771, recebeu uma carta de José
de Almeida Leme, capitão-mor de Sorocaba, propondo-lhe a abertura de
um caminho que, saindo de Sorocaba, varava os Morros de Botucatu e ía
sair junto ao Paranapanema, poupando as grandes voltas que o Anhembi
(Tietê) obrigava. O capitão-mor dizia possuir antigos mapas, traçados
por velhos sertanistas e que lhe serviriam de roteiro para a empreitada.
Cinqüenta anos haviam se passado, desde o longínquo 1721, quando o
bandeirante Bartolomeu Paes de Abreu, abrira a primeira picada a partir do
Morro do Hybyticatu.
Contratou com ele o novo traçado que iria repetir os
antigos caminhos dos sertanistas do século XVI e XVII, no mesmo sentido
ao Paraguai, Peru mas, agora, incluíndo um objetivo mais a noroeste,
buscando a colônia Penal à beira do Rio Iguatemi, hoje no Mato Grosso do
Sul. Em novembro de 1771, José de Almeida Leme anunciava a abertura do
caminho ao Iguatemi, varando o Morro do Botucatu, indo sair à beira do
Rio Aguapeí. Propunha, então, que se descesse esse rio até atingir o
Rio Paraná, procurando chegar à Picada de Francisco Paes,
já construída e que levava, em plena selva, do outro lado do rio, até o
Forte do Iguatemi.
O sertão da capitania ía sendo varado. Agora esse
novo caminho juntava-se às antigas picadas abertas por Bartolomeu Paes de
Abreu e Luiz Pedroso de Barros, já em desuso, por essa época. O
interessante desse novo traçado é que ele retomava um velho costume dos
sertanistas do início daquele século: ao empreenderem a volta das
incursões ao Mato Grosso e vizinhanças, o faziam através do Rio
Paranapanema. Subiam-no até o Salto do Paranan-Itù, onde abandonavam
suas canoas e, em marcha de sete dias, procuravam atingir as matas do
Morro do Botucatu, de onde desciam para alcançar as fazendas jesuítas do
Guarey e Botucatu, dali rumando para o centro da capitania. Agora fariam o
caminho inverso.
Navegava-se
pelo Tietê para se chegar ao Paraguai. O mapa faz parte do relatório de D.
Luiz de Céspedes Xéria para registrar sua viagem, entre São Paulo e
Assumpción, em 1628.
Ainda no governo de Dom Luiz Antonio foram projetadas cinco
povoações para defesa do território, estratégicamente posicionadas
nas vias de acesso ao centro da capitania. De três delas se conhece a
história. Piracicaba, ou uma povoação com esse nome, já existia
com diretor e localização, quando o sargento-mor Theotônio José
Juzarte desce pelo Tietê levando uma das expedições ao Iguatemi.
Isso em março de 1769. O plano para ela era trazê-la para trazê-la para a
desembocadura do Piracicaba no Tietê, de forma a transformá-la numa
fortificação soberana sobre aquele trecho do rio. Outras duas,
Itapetininga e Itapeva, foram criadas pelo governador, dentro de seu
plano, para guarnecerem os caminhos que davam entrada à Capitania, vindos
do sul, dos campos de Curitiba. Era o caminho das tropas. Essas
povoações, segundo o plano, bloqueariam também as incursões,
eventuais, que progredissem, demasiadamente, pelo alto Paranapanema e rio
Itapetininga. As duas foram criadas por ato do senado da Câmara de
Vereadores de Sorocaba, no transcorrer da implantação do plano de defesa
de Dom. Luiz.
Botucatu ou uma povoação no lugar chamado Botucatu
(o texto do decreto fala "... no Botucatu", podendo entender-se
que o governador referia-se ao território dos Morros do Botucatu, tão
apontado como referência), projetada para guarnecer o caminho do
Paranapanema, do qual acabamos de falar, era outra dessas povoações
de defesa. A responsabilidade de sua fundação foi entregue a Simão
Barbosa Franco.
Porém, restam dúvidas que tenha sido fundada por essa
ocasião – 1766; além do decreto do governador a documentação
silencia sobre os resultados.
Todas essas iniciativas, com sucesso ou não, constituíram-se nas
primeiras providências oficiais para a ocupação do sertão e resultaram
num conhecimento maior do mesmo, essencial à sua conquista e
desbravamento. São Paulo ainda demorou alguns decênios para sentir o
surgimento do primeiro ciclo da cana-de-açúcar e ao crescimento do
comércio de muares, fatores definitivos para a acumulação dos capitais,
que propiciaram a retomada do crescimento da capitania.
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