Maquiavel foi da renascença?


O neoplatonismo e a problemática da busca pelo sagrado

Trabalho apresentado no XI CICLO DE DEBATES EM HISTÓRIA ANTIGA : " Gênero & Sexualidade" do LHIA- UFRJ

AUTOR: Anderson Fernando dos Santos


Buscamos com nossas pesquisas analisar o neoplatonismo Procurando entender as complexidades que envolvem tal intento. Percebemos ser um tema fecundo e interessante, em que o debate historiográfico intenso, denuncia o grande interesse que este momento histórico vem suscitando, sobretudo na área da história.

Acreditamos que as pesquisas que envolvem os temas da antigüidade, desenvolvida por não-europeus, podem suscitar uma série de questões novas, questionando uma série de imagéticas cristalizadas, que ganham com muita generalidade o sentido de ser uma verdade dada pelo passado. Sem perceber que este passado não é um dado da natureza; foi assim e pronto, mas uma construção. Neste sentido trabalho com o conceito de imagética de Nicole Loraux, que nos mostra como " cabe ao historiador evitar sucumbir ao discurso do Um: produto de um discurso oficial, mostrando como a pluralidade é absorvida, em proveito de uma abstrata singularidade." (Loraux,1994: 292).

O neoplatonismo seria a tendência mais influente em filosofia na Antigüidade tardia. Buscando interpretar o trabalho de Platão, Plotino criou um sistema filosófico vigoroso, iniciado no século III, que iria durar até o século VI, com o fechamento da academia platônica por Justiniano em 529. Deixando uma influência profunda na tradição européia em filosofia, literatura, arte e religião.

Plotino é sua figura principal nasceu em Licópolis no Egito em 205, morrendo no ano de 270. Plotino estuda filosofia com Amônio Sacas em Alexandria. Muito pouco sabemos dos preceitos de Amônio ou mesmo de sua vida, pois havia proibido seus discípulos de comentarem qualquer coisa sobre seus ensinamentos. Ao confirmar que dizem alguns autores era um grande admirador dos brahmanes da índia e parece que passou este entusiasmo pela filosofia oriental pára Plotino , pois Plotino desejoso de conhecer a sabedoria Persa e Hindu, alista-se no exército do Imperador Gordio que vai lutar contra ao rei Persa Sapor I, depois de derrotado Plotino busca refúgio em Alexandria, transferindo-se posteriormente em Roma, onde funda uma escola filosófica, em que estabelece estudos e comentários sobre filósofos, principalmente de Platão e Aristóteles, além de disciplinas ascéticas, que tinham como fim experiênciar o êxtase com o uno.
Sua atividade filosófica é representada por 54 dissertações, que Porfírio, um de seus discípulos, dispôs em seis séries de nove, sendo por isso entituladas de Eneadas.

As principais escolas neoplatônicas localizaram-se em:

- Alexandria,com o círculo de Amônio onde Plotino recebe a base de suas idéias.

- A de Roma, que é fundada por Plotino e seus discípulos, Amélio e Porfírio.

- Siríaca, fundada por Jâmblico, que tinha sido inicialmente discípulo de Porfírio.

- Ateniense, descende de Jâmblico. representantes: Proclo, Simplício, Damáscio.

Surgindo daí mais academias que manterão as idéias neoplatônicas.

- a escola de Pérgamo, ao qual pertenceram Edesio de Capadocia, seu fundador , Máximo e o Imperador Juliano o Apostata

- a escola de Alexandria do século V, de Sinésio de Cirene, João Filipono, Asclépio, Olimpiodoro, Davi o Armênio;

- A escola neoplatônica do Ocidente Latino no séc IV. Agostinho, Boécio, Calcídio, Macróbio e Mario Victorino.

Durante todo esse tempo teremos filósofos que não separarão o pensamento racionalista e o elemento espiritual. Uma forma holística de ver as coisas que não separava a necessidade do raciocínio lógico com a intuição, ao contrário a dialética era a base pra quê se pudesse cair numa percepção intuitiva da essencialidade das coisas.

Este não é um fenômeno que surge com o neoplatonismo, como muitos afirmam. Remonta a uma tradição de filósofos que simplesmente viam a filosofia não como meio de erudição vazia e abstrata, mas como um caminho para atingir a catarse. E desta forma contemplavam a experiência espiritual como parte importante do processo de aprendizado.

No entanto estudiosos contemporâneos isolaram os pensadores clássicos do que denominaram um surto de irracionalidade e imputaram a experiência filosófico-espiritual dos neoplatônicos, como uma prova de desvirtuamento, e de fuga ao mágico graças à situação de crise que o Império Romano se encontra.

O que esqueceram de perceber, é que os neoplatônicos não inauguram tal processo. A herdam; e esta forma multidisciplinar de lidar com a filosofia remonta mesmo a Pitágoras no século VI a.C.

Assim para que entendamos melhor Plotino, a filosofia neoplatônica e o contexto em que se inserem, creio ser necessário falarmos um pouco sobre as bases as quais se sustentam esta longa tradição.

PITÁGORAS DE SAMOS

Esta longa tradição começa com Pitágoras de Samos no século VI A.C. Pitágoras que elaborou importantes questões no campo da geometria, em sua matemática apresentava também toda uma metafísica inserida em um processo de abordagem espiritual. Visto que Pitágoras afirmava que os números, são o princípio e a chave de todo o universo, assim como a natureza do som é a função do comprimento da corda que vibra as aparências coloridas do universo,que dissimulam relações numéricas que constituem o fundo das coisas, idéia capital que reencontramos em Platão.

É interessante notarmos que teria sido Pitágoras que elaborou o termo "Filosofia"- amor a sabedoria - e que este termo está ligado a uma forma de ver o mundo que não separava- filosofia, ciência e busca pela transcendência.Ou seja, a análise especulativa do universo tinha como fim a vivência de uma hierofania, a manifestação do sagrado, o encontro com o Uno. Com Pitágoras aparece também, a vida em comunidades.

PLATÃO

Platão a partir das influencias pitagóricas com as quais trava intenso contato, marca seu desligamento progressivo das idéias essencialmente socráticas e a formulação de uma doutrina própria, elaborandode uma nova solução para o conhecimento, representada pela doutrina das idéias. Essas novas formulações apareceram em textos como: Fédon, Ménon, banquete, República, fedro.

Alguma da idéias de Platão:

· Compreendia o homem como criatura dual, participaria tanto no reino perecível dos sentidos com seu corpo físico, quanto do reino imutável das idéias, com sua alma.

· Nosso corpo material estaria inseparavelmente ligado ao mundo dos sentidos e sujeitos ao mesmo destino de tudo o mais neste mundo.

· Nossos sentidos estariam no corpo, então não seriam confiáveis.

· A Alma é não física e imortal.

· Platão acreditava que alma existia antes de nascer no mundo das idéias, mas assim que esta alma nascesse em um corpo físico a alma se esqueceria de todas as idéias perfeitas que tinha antes.

Sua doutrina da imitação, ( mímesis ), difere da doutrina pitagórica. Os pitagóricos afirmavam que "todas as coisas são números". Realidades corpóreas. Os objetos refletiriam exteriormente sua constituição numérica interior. A mimésis no pitagorismo , apresentaria um modelo de dupla face em que ambas as faces se mostram no plano concreto. A face interna (apreendida racionalmente) e a externa (apreendida pelos sentidos). Com Platão a noção de mímesis adquire acepção metafísica, como lógica decorrência do "distanciamento" entre o plano sensível e o inteligível. Os objetos físicos - múltiplos, concreto e perecíveis - aparecem como cópias imperfeitas dos arquétipos ideais, incorpóreos e perenes.
O mundo sensível(sensações, matéria) seria uma imitação do mundo inteligível, pois todo o universo, segundo a cosmogonia que Platão escreve em Timeu, seria resultante da ação de um divino artesão (demiurgo) que teria dado a forma a uma matéria prima, tomando por modelo s idéias eternas.

É importante deixar claro que Platão não segue um caminho de mística individual, sua visão de mundo é a de cidadão políade. seus últimos escritos deixam bem claro que ele se via antes de tudo como um cidadão da pólis, suas idéias de uma cidade- ideal, uma pólis ideal, mantêm toda uma idéia de coletividade. Paradoxalmente suas idéias congregadas com as idéias pitagóricas ajudaram a cimentar uma série de abordagens que traziam inseridos numa visão de mundo em que: filosofia religião e ciência, eram vistos como um todo.

PLOTINO

Plotino não escreveu sistematicamente, foi elaborando tratados parciais, que não encerravam pelo menos em eu propósito uma síntese completa de sua idéias. Por isso os textos muitas vezes serem tão repetitivos em sua propostas, o que acaba nos permitindo vislumbrar, mesmo sendo um texto complexo e original o pensamento plotiniano. Todo o tratado das Eneadas, está caracterizado por uma unidade tal que é possível vislumbrar em cada um dos tratados a totalidade do sistema.

Os elementos que fundamentam a obra de Plotino encontram-se na filosofia grega que o precedeu, nas idéias dos pitagóricos, dos estóicos, nos filósofos do médio platonismo, nas idéias de Aristóteles, porém é em Platão que ele irá encontrar a fonte maior de sua inspiração. Seria possível trabalhar com aproximações do pensamento do Uno de Plotino com o incondicionado de Platão, o que as duas filosofias dizem do belo, do Eros, dos Números, do ser, da alma. Contudo, o pensamento de Plotino situa-se em circunstâncias, bem diferentes das de Platão, As idéias de Plotino não têm o interesse político ou de educação coletiva da polis, temas que se destacam em Platão.

Plotino apesar de usar alegorias para explanar suas idéias, trabalhará mais com imagens. Plotino é um homem que experimenta, e quer passar para os outros, não só, sua filosofia, mas a experiência transcendente do encontro com o Uno, assim ele pretendia que as pessoas pudessem, como ele mesmo o fez, experienciar o divino.
Este texto mostra bem isso:

<< muitas vezes desperto-me a mim próprio ao escapar-me do meu corpo; estranho a qualquer outra coisa, na intimidade de mim mesmo, vejo uma beleza tão maravilhosa quanto possível. Fico convicto, sobretudo nessa altura, de que tenho um destino superior; a minha atividade é o mais alto grau da vida; estou unido ao ser divino, e, chegado a essa atividade, fixo-me nele por cima dos outros seres inteligíveis. Mas, depois deste repouso no ser divino e tendo voltado a descer da inteligência para o pensamento refletido, interrogo-me como é que realizo atualmente esta descida e como é que a alma pôde alguma vez vir para dentro dos corpos, existindo por si própria como ela me apareceu, conquanto esteja dentro de um corpo> ( IV, 8, 1)

Falaremos aqui alguns pontos que demarcam bem o ponto de vista plotiniano: Os pontos principais de seu pensamento são : As três hipóstases. As três substâncias que derivam uma da outra. A primeira é o uno.

Uno: O nome é dado por plotino, após não ter conseguido achar outro melhor.
O uno é o primeiro princípio, donde procede a multiplicidade de seres na eneada,V,4, 1 ele diz:

" É necessário que haja um algo anterior a tudo, algo, que deve ser simples e diferente de tudo posterior; existente por si próprio, transcendente ao que dele procede e, ao mesmo tempo, de uma maneira típica, capaz de estar presente nos outros seres" ( Eneada, V 4, 1)

É o primeiro princípio. Deus. Ele é todas as coisas e nenhuma delas. É aquilo de que promana toda existência, toda vida e todo valor, mas ele próprio é de tal ordem que nada podemos afirmar a seu respeito, nem a vida, nem a essência; é superior a tudo e fonte absoluta de tudo. É certo que não está submetido a qualquer necessidade, não pode desejar coisa alguma - pois, desejar é sentir falta de algo, e ele é plenitude. Mas o Uno é riqueza infinita, generosidade sublime. A perfeição suprema se difunde em si mesma, tende a engendrar outros seres que se lhe assemelham, ainda que menores. Assim como de um fogo ardente as chamas se irradiam, assim ocorre com os seres emanados do Uno. Do Uno procede o Logos, a Inteligência. Essa Inteligência é o princípio de toda justiça, de toda virtude e, o que é capital para Plotino, de toda beleza. Na Inteligência existe a multiplicidade é ela contempla as idéias de todas as formas e faz com que tome uma forma. Ela (a inteligência) é coerente e harmoniosa, ela é a Beleza (nesta segunda hipóstase encontramos algo das Idéias de e do pensamento que se pensa de Aristóteles.) Da Inteligência procede a Alma, terceira hipóstase (que evoca o tema platônico da alma do mundo, assim como o deus cósmico dos estóicos). A Alma é a mediação entre a Inteligência, da qual ela procede, e o mundo sensível, cuja ordem é constituída por ela. As almas individuais emanam dessa alma universal. A alma humana também é uma parcela do próprio Deus presente em nós.

Abaixo das três hipóstases, o mundo material representa o último estágio dessa "difusão" divina, o ponto extremo onde morre a luz; é aqui que encontramos a opacidade da carne, o peso da matéria, as trevas do mal. Todavia, enquanto o Uno dispersou-se, obscureceu-se, abismou-se no múltiplo, este último aspira à reconquista da unidade, à luz e ao repouso na fonte sublime. Ao movimento de procedência corresponde o impulso de conversão pelo qual a alma, caída no corpo, obscurecida no mal, se assume e tenta se elevar até o Princípio original.

Evitemos, todavia, de ver no pensamento plotiniano um dualismo gnóstico. O próprio Plotino escreveu uma tratado contra as seitas gnósticas. Para ele, não existe um mundo do mal, rival do mundo do bem. O mal, para Plotino, não é um rival do bem: "O mal não é senão o apequenamento da sabedoria e uma diminuição progressiva e contínua do bem". A alma que dizem prisioneira do mal é apenas uma alma que se ignora, é, como diz Plotino, uma luz mergulhada na bruma.
O mal não é uma substância original. Nesse sentido, livrar-se do mal, para Plotino, não é, como para os gnósticos, destruir um universo para dar nascimento a outro, mas antes, encontrar a si mesmo em sua verdade.

O conceito de emanação está numa visão de mundo, que não vê Deus, a causa incausada como arquiteto ou um demiurgo construtor, como em Platão, também difere da noção bíblica de criação apartada do criador, não se trata de criação mas de unidade. O Uno irradia seus raios.
Ele utiliza a imagem da luz para explicar a sua percepção das coisas:

A luz é incorpórea mais provém de um corpo, é portanto um intermediário entre o inteligível que está lá em cima e o sensível que está aqui. A partir desta imagem poderemos ver a relação que existe entre o Uno supremo, situado num plano superior a todas as coisas, e o todo universal organizado, o que vemos no manifestado não é a simples cópia do modelo superior, mas aquilo que se tornou visível, melhor dizendo, o que existe graças a emanação da luz. Emanação é então um brilho sem movimento, o uno não engendra, nem fabrica, nem cria. Emana tal como a luz ou o calor liberto pelo fogo, não há separação tudo está ligado contentemente ao Uno. Como os raios partem do centro sem qualquer abandono, sem movimento, apesar de haver uma emanação a partir do centro, eles não abandonam o centro estão a ele interligado. Somos raios divinos conscientes, permanentemente ligados ao Uno.

Neopitagorismo

o Neopitagorismo, teve como principais figuras: Bolos de Mendes -
Bolus ou Bolos de Mendes, viveu no séc. III a.C. Pitagórico. Médico. Tinha escritos sobre religiosidade, mistérios e farmacologia. Escreveu um tratado sobre "forças simpáticas e antipaticas", restando uns poucos fragmentos de seu trabalho.

Nigídio Figulo – Publius Nigidius Figulus(? - 45 a.C.).
Filósofo pitagórico, que segundo Cícero (Timaeus, 1,1), teria revivido o pitagorismo. Mas na verdade o pitagorismo não sofreu interrupção. E ele, na verdade, foi uma peça dessa longa tradição, que vê de forma conjunta filosofia, artes científicas e espiritualidade. Estudou e lecionava matemática, astrologia, astronomia e “artes mágicas”, praticava a haruspicina. Eleito Pretor em 54, esteve ao lado de Pompeu nas guerras civis e por isso foi banido por Julio César, vindo a morrer no exílio por volta do ano 45.

Sócion, pitagórico, filósofo da escola dos Séstios, em Roma. defensor ardoroso do vegetarianismo,considerado eclético, por estar encaixado dentro de várias linhas de pensamento. E entre outras coisas, trabalha na direção d eum holismo, que não separa filosofia e religiosidade, sua sabedoria encantou seu famoso discípulo, Sêneca.

Apolônio de Tiana (I d.C). Pensador e taumaturgo Pitagórico. Nasceu no início do século I, em Tiana, na Capadócia. Viajou muito, e conheceu diversos ritos religiosos, mistéricos ou não. A ele foram atribuidas muitas capacidades, como visão a distância, sair fora do corpo, curar endemoniados. Vegetariano, seguiu a doutrina pitagórica a risca. Tendo tido contato com persas e indianos.

Celso (II d.C.). Filósofo platonista, polemista, viveu na época de Marco Aurélius, tinha um bom conhecimento do judaismo e da religiosidade egípcia, escreveu a obra "Contra os cristãos"

Numênio de Apaméia ( fim do séc. II d.C ). Oriundo da cidade Síria de Apaméia(hoje Qal`at el Moudiq).
Neopitagórico. Misturou as especulações pitagóricas com as de Platão, com idéias religiosas orientais, principalmente os procedentes dos mistérios egípcios e com idéias que fundamentaram várias tendências gnósticas

Os escritos de Numênio eram citados, juntamente com de outros platônicos no circulo de estudos de Plotino.

Escreveu : "sobre o bem", "sobre o ensino dos mistérios em Platão", "sobre a incompatibilidade da alma", "sobre o espaço" e "sobre os números".Restam apenas fragmentos de suas obras, sendo que a maior parte oriundo do "diálogos sobre o bem". O tema principal de Numênio era a reflexão sobre a divindade"

Hipácia (350 – 415 d.C)filosofa Neoplatônica e neopitagórica, , matemática, Existe uma tradição que imputa a ela a invenção do astrolábio e do hidrômetro, mas são escassas as evidências. Ligada a biblioteca de Alexandria, Hipácia era famosa em sua cidade, pois fazia preleções abertas ao povo. Vivendo em uma época em que o cristianismo já começava a ter a maioria da população. Hipácia foi morta assassinada, por cristãos que a viam como uma defensora da religiosidade filosófica do neoplatonismo. Foi uma espécie de mártir pagã, prenunciando os tempos de intolerância que viriam séculos depois.

MÉDIO PLATONISMO

Plutarco de Queroneia(Queronea 46 - 120)

Grego que viveu no primeiro século d.C. Serviu por muito tempo como sacerdote no templo de Apolo, em Queroneia sua cidade natal. Escreveu as "Vidas Paralelas", colocando sempre a história de um romano, com a de herói grego. Escreveu também uma outra obra "Moralia" sobre filosofia, religião,música, preceitos morais e artes.

Filon de Alexandria
Dele escreveu encomiásticamente Eusébio de Cesareia (c. 265 – 340) primeiro historiador da Igreja cristã:

"Nos tempos deste Imperador (Tibério) floresceu Filon, varão tido em máxima estima, não somente por muitos dos nossos, senão também dos gentios. Era hebreu de nascimento, não cedendo a nenhum em Alexandria pelo esplendor e dignidade de sua linhagem. A realidade o pôs em evidência quando trabalhou nas disciplinas divinas e pátrias.

Foi notável em filosofia e letras humanas; refere-se que, tendo cultivado principalmente as filosofias platônica e pitagórica, superou a todos os do seu tempo" (Eusebio, História eclesiástica, II, 5).

Fílon de Alexandria. Nasceu na cidade de Alexandria entre o ano 25 e 30 A.C. Judeu helenizado, vive entre o encontro de trës civilizações. O judaísmo, a cultura helenística e o império romano. Em uma cidade como Alexandria, onde havia uma presença cultural extremamente diversificada. Sua filosofia une a filosofia grega (Platão, Zenão de Citium, Pitágoras) e os ensinos judaicos. Através de uma interpretação alegórica da Bíblia. Procurando harmonizar a revelação bíblica e a razão, como os pitagóricos o fizeram. Sua idéia é levar apresentar o judaísmo, ao pensamento grego culto. Procura justamente fazer aquilo que o cristianismo realizará através da patrística. No entanto, com uma percepção alegórica da bíblia, ou seja, entendia-a não literalmente, mas como repositório de uma sabedoria sagrada, intuitiva.

Fílon afirmava que Deus é inacessível às nossas interpretações, podemos no entanto, através da renúncia as coisas transitórias e a um recolhimento da alma, nos aproximar de seu filho primogênito, o Logos, aquele que foi feito primeiro, este Logos é que se deve a criação do mundo, ele é a atividade intelectiva da divindade e o intermediário entre Deus e os homens. E é a imagem de Deus, apesar disso tudo ele é inferior a Deus. Vê-se logo, que o cristianismo e, sobretudo o evangelho joanino, deve muito a Fílon.

Juntando os elementos pitagóricos e platônicos, vemos que desde o século VI a. C. há uma visão de mundo, em que se conjugam a busca pelo sagrado e a especulação filosófica, ou seja no mesmo período em que se desenvolvia o naturalismo racionalista, se desenvolvia os sistemas filosóficos transcendentes, não foi algo que surgiu posteriormente, mas sim algo anterior, que permaneceu durante o processo e que no período helenístico, principalmente após o século II d.C., ganha um espaço maior, através do processo de interações culturais com uma série de religiões e filosofias orientais, entrando em contato com estas porém sem perder as características básicas.

De alguma forma podemos dizer que com diz John Dillon, que as questões tratadas por Plotino, já surgem no interior da academia fundada por Platão, logo após a sua morte, com Xenocrates, que já ali, faz abordagens em que o caminho de transcendência pessoal é abordado.

O que une todos estes pensadores é, de um lado, seu fundo místico sua afinidade com Platão, cujas teses espiritualistas favoreciam aquele fundo religioso, permitindo racionalizá-lo.

A afirmação expressa de Platão sobre a superioridade da alma, - com vida autônoma, nobre, elevada, aspiração à perfeição, purificação da matéria, - fizeram com que seus pensamentos tivessem uma grande penetração nos debates filosóficos, antes e durante o período helenístico, convencionou-se uma série de denominações que não traduzem religiões ou movimentos realmente existentes, apesar de que muitos destes pensadores, muitas das vezes, se autodenominarem estudiosos dos ensinamentos de Pitágoras ou estudiosos do pensamento de Platão. Era assim que Plotino se via, um professor dos ensinamentos de Platão que criou uma escola de pensamento, e só as classificações que são realmente necessárias apesar de serem algumas vezes confusas, são categorias posteriores.

Estes estudiosos, não se autodenominavam de neoplatônicos, nem de místicos, religiosos, magos, mas sim de filósofos. Tendo uma visão de filosofia em que a hierofania, o ato de manifestação do sagrado não passava por um processo de fé, mas sim através da reflexão filosófica, de um certo ascetismo e da meditação. Estas categorias, feitas pelos estudiosos servem para definir a preponderância de uma escola, a época, algumas afinidades, porém o fato é que esses pensadores não estavam fechados em camisas de forças do pensamento. No entanto parecendo ignorar todo uma tradição de pensamento, historiadores como Burkert, Dodds e Festugiere tendem como afirma Cornelli(2000:157):

Vê o neopitagorismo, e em geral as novas escolas filosóficas helenísticas, como uma perversão ou uma degradação da pura ciência teorética clássica...

é comum, ver o neopitagorismo associado questões de ocultismo e magia, com todo o peso pejorativo que estas palavras possam passar e denominar o neoplatonismo como religião salvacionistas, típicas do período do III e IV séculos, em que o império romano em crise, vê o enfraquecimento da religião tradicional, visto que eus ritos já não traduziam um plano comunitário que permitisse, "uma visão global do mundo", os tempos são do individualismo e da correria do povo aos cultos vindos do oriente, como o mitraismo e o cristianismo. A tradição neoplatônica e pitagórica praticada neste período, seria apenas mais um reflexo deste momento conturbado. Não percebendo que na verdade são fenômenos de interações culturais, que é , no dizer de Paul Veyne: "Um fenômeno incessante e universal" (Veyne, 1983:106).

Este processo não era indiscriminado, quando Jâmblico, insere em sua abordagem elementos da religião dos caldeus , elaborando a sua teurgia, seu fim, no entanto, como ele mesmo diz, não é de modificar a idéia dos deuses, ou evocar entidades espirituais, mas sim elaborar seu espaço sagrado, para que o trabalho dos deuses(Theurgia), libere o que há de imortal no homem ao uno, elaborando assim um espaço sagrado, retoma antigos valores politeístas, que estão caindo em desgraça.

Porém tais anexações não podem ser consideradas como diz E. R. Dodds, idéias de um pensador superficial, preso a superstições irracionais, refúgio dos desesperados, hipótese desriminatória e por isso incapaz de analisar a complexidade das sociedades antigas.

Acreditamos que utilizando do conceito de interações sociais, tal qual o descreve Marshall Sahlins (Sahlins: 1990), "que a cultura é historicamente feita na ação"; que Jâmblico não se limita a ser apenas reprodutor das idéias de Platão, Pitágoras ou Plotino, ele utiliza todo o material de anos de reflexão e estudo na academia, elabora sua própria cosmogonia, anexando elementos novos de diversos pontos.

Contudo, assim como ocorre com Plotino, o processo não é mera reprodução, há escolhas do que se quer anexar de cada cultura. Tudo o que possibilita expandir melhor suas idéias será utilizado, podendo perder mesmo o sentido original que era utilizado pela cultura da qual seja originário o rito ou a prática.

São interações culturais, não um processo acapachante, em que uma sociedade sufoca ou inunda outra, há trocas, escolhas e adaptações. não sendo sua cosmogonia um mero pastiche, pois sofrem estas escolhas readaptações quando reproduzidas.

Não é assim um fenômeno de sincretismo desordenado, mas ela interage, recolhe elementos que julga interessantes, para que continue existindo, é assim que em meados do século VI, o acirramento das diferenças entre filósofos politeístas e o Império, já cristão, encerra as atividades da última escola politeísta, sendo que muitos elementos de Plotino conseguem sobreviver influenciando o cristianismo, e o pensadores da idade média e contemporânea, enquanto o seguimento representado pelos ensinamentos com mais acentuado elementos pitagóricos e teurgicos, desaparece como os templos politeístas próprio politeísmo, pelo menos em termos acadêmicos oficiais, pois com o renascimento e mesmo na idade média muitas destas questões, como Phênix, ganharam nos bastidores das circularidades culturais populares muita atenção.

Anderson Fernando dos Santos


DOCUMENTAÇÃO TEXTUAL:

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