Além de pancadaria, A Outra Face
tem criatividade e ótimos atores
Celso Masson
A Outra Face (Face/Off, Estados Unidos, 1997), filme de John Woo, que estréia nesta semana no Brasil, tem uma história tão implausível quanto a de Frankenstein, e talvez por isso mesmo seja fascinante. O chinês Woo é um dos responsáveis pela renovação dos filmes de ação desde que aportou em Hollywood cacifado por bilheterias vultosas em Hong Kong. Para ele, uma produção do gênero precisa ter mais do que tiros, pancadaria, explosões e mortes monumentais. Deve também contar uma história. De preferência tão criativa que chegue às raias do inverossímil. Isso obriga o diretor a caprichar naquilo que é sua especialidade. Com truques cinematográficos, tem de convencer o espectador de que é possível, por exemplo, escapar de uma prisão de segurança máxima, instalada numa antiga plataforma de petróleo, em alto-mar, e chegar nadando à praia, à luz do dia, sob um bombardeio aéreo comandado pelo FBI. Ou mostrar que dá para trocar de identidade com outra pessoa pela simples remoção, num consultório médico, da máscara facial. Coisas como essas acontecem em A Outra Face.
Dois bons atores, John Travolta e Nicolas Cage, ajudam o espectador a acreditar nos delírios de Woo. Travolta vive o agente do FBI Sean Archer. Cage é seu maior inimigo, o cruel bandido Castor Troy. São eles que têm suas identidades trocadas. Assim, o brilhante policial Archer vai para a cadeia, enquanto o bandidaço Troy assume a direção do FBI. Não só a cara, mas a vida de um é trocada pela do outro. Para o fã de cinema, é uma atração à parte ver John Travolta brincando de ser Nicolas Cage e vice-versa.
A cor do dinheiro -- Já John Woo, o diretor, vem reafirmar que não está em Hollywood para brincadeira. Nascido em 1946, na China, viveu em Hong Kong a partir dos 4 anos. Começou no cinema na adolescência. Na América, viu a cor do dinheiro. Orçado em 80 milhões de dólares, A Outra Face é seu filme mais esperto. Com a brincadeira dos dois atores e um argumento que parece tirado de uma novela de ficção científica, Woo injeta sangue novo num gênero que não mudou muito desde que Sylvester Stallone disparou, como Rambo, o primeiro tiro de sua metralhadora.
http://www2.uol.com.br/veja/300797/p_101a.html