Concepções Místico-Religiosas
As doutrinas místicas, esotéricas e religiosas vêm conceituando seus dogmas e valores dentro de padrões diversos de acordo com as diferentes épocas e regiões, o que deu origem a milhares de filosofias e doutrinas religiosas em torno das quais, vem girando a humanidade, sempre levada pelos luminares de cada uma delas, que raramente se unem no sentido do encontro do homem com o que defendem sempre: DEUS.
Foram tantas as idéias, quantos são os deuses existentes em cada uma delas. Isso gerou confusões que provocaram e continuam provocando o desentendimento dos homens entre si, baseados nos deuses citados por cada facção, o que mantém essa separação, não deixando que o ser humano chegue a um denominador comum que possa uní-lo em torno de algo real e divino.
As escolas separaram as doutrinas em monoteístas, as de um deus único e soberano, o dono do poder absoluto assemelhando-se muito aos padrões gerados nas sociedades em torno de seus dirigentes, na formação de cada civilização, nas diferentes épocas da história.
É o deus dominante, absoluto e que exige uma rígida e imutável disciplina que muitas vezes supera alguns dos atributos que são dados a ele, como por exemplo, a bondade, em prol das necessidades sociais criadas no desenvolvimento de cada povo.
O exemplo clássico desse deus é o deus judaico-cristão, senhor absoluto do ser humano e que separou os homens em soldados fieis de um exercito bom, e de um exercito mau, possivelmente pelas necessidades humanas de viver sempre dentro de uma polaridade em que a violência ainda é a constante que denomina e dá poder. Esse é o deus causador de tantas e sangrentas guerras, sempre abençoadas pelos brilhantes e às vezes até divinizados dirigentes que estimulam a dizimação dos inimigos como a resolução de tudo para a humanidade.
Em todas as regiões em que predomina esse deus poderoso dos exércitos, o derramamento de sangue dos inocentes seguidores é a constante do comportamento social.
Prega-se nos templos, sejam de que religiões forem, a paz, a harmonia, a compreensão, a justiça e principalmente o amor, desde que se professe o que ordena seus mandamentos e regras guiadas por tradições que são essencialmente humanas, mas atribuídas a um deus onipotente.
Por outro lado, possivelmente pela formação de castas sociais em várias civilizações no decorrer de toda a historia, formaram-se doutrinas que defendem a existência de vários deuses, cada um com suas atribuições e exigências, recrutando para suas hostes adeptos na maioria das vezes incautos e que ficam a mercê de rituais criados para manter a hierarquia de seus panteões divinizados pelo próprio homem, geralmente pela palavra de um profeta ou iluminado, de cujas visões formam se as leis e regras que, para serem mantidas instruem os mais sensíveis às idéias pregadas transformando-os por iniciações, em luminares e defensores intransigentes das doutrinas. A pregação comum é a tolerância que tem de ser adquirida dentro de uma situação constante de total intolerância, onde impera o amor apregoado e atribuído a um fator divino, mas que não passa de sentimentalismo sublimado em beneficio da conservação das regras.
A última das grandes e dogmáticas religiões, a mais moderna delas, é a ciência que desenvolveu uma tecnologia extraordinária que cada dia mais subordina o ser humano a uma vivência quase escravizada pelos desejos do conforto e do consumismo, mas que tem mostrado transformar o homem cada vez mais num ser agressivo e por isso, infeliz; o homem está cada vez mais distante de seus potenciais interiores, fazendo-o esquecer pela desilusão das promessas divinas das doutrinas, o que tem realmente de bom dentro de si e que poderia ser seu guia, para o real compartilhar que desperta novos sentimentos de perdão e solidariedade.
Sendo assim, acreditar em quem? Em que? Por que lutar tanto e ficar sempre na incerteza do amanhã que a cada dia que passa, se torna mais angustiante? A insegurança gerada pelo desatino dos poderosos aproximou a humanidade no sentido da comunicação, mostrando os segundos de cada local no planeta, mas sempre no sentido da demonstração de um poderio destruidor numa nova jornada que chega a ser até vista por um prisma religioso que dá poderes incríveis aos que possuem maior potencial destruidor, não dando nenhum valor real ao ser humano seja ele de que país ou região for.
Até onde vai essa situação? Será esse o destino da humanidade, estar sempre escravizada por um poderio imperial que na maioria das vezes foi feito em nome de uma religião e que agora se faz em nome de uma suposta liberdade a que dão o nome de democracia? Não percebem que o que há sempre é uma ditadura, quer seja ditada por um homem ou uma monarquia e, mais modernamente por partidos políticos?
Por que estou escrevendo tudo isso? Estarei defendendo alguma coisa que me incomoda como pessoa ou extravasando algo que me faz sofrer por não conseguir enxergar um caminho dentro de tudo que se defende de maneira tenaz, mas violenta, em todas as regiões em que existe o ser humano?
Tudo leva a crer que a própria natureza começa a sentir os resultados dos tamanhos e prolongados desatinos humanos, começando a reagir de forma a corrigir o rumo que as coisas tomam em nosso universo.
Com a curiosidade de conhecer alguns pontos básicos que sustentam várias das doutrinas esotéricas, místicas e religiosas concluímos que, realmente tudo gira em torno de princípios que conduzem à divindade, seja qual for. Sentimos também a necessidade de conceituar o que para nós seria uma divindade que abrangesse tudo que existe na natureza, inclusive o fabuloso ser humano.
Pensando sobre os conhecimentos adquiridos chegamos a conjecturas como as que descreveremos:
A preocupação do ser humano sempre foi a de desenvolver algo que facilitasse sua sobrevivência em primeiro lugar, e depois, que essa sobrevivência se tornasse o mais suave e confortável possível, mas conciliando o que está no ambiente e o que está dentro de si; continua sendo somente preocupação. Talvez por isso tenha buscado e criado tantos deuses que fossem responsáveis por suas doutrinas e seus comportamentos, diante de si mesmo e da sociedade a que pertence.
Nessa busca a figura de deus sempre aparece e se torna primordial, mesmo na obsessiva compulsão cientifica da comprovação dos fatos, onde o conhecimento tornou-se um deus.
De qualquer forma a busca gira em torno de uma ou mais divindades que tanto protegem como castigam, tal e qual se comporta o homem consigo e com os outros. Isso sempre fez que buscasse uma divindade antropomórfica, pois só assim poderia se tornar seu herdeiro e os acontecimentos seriam responsabilidade dele, que é o senhor e não diretamente do individuo que é sua criação. Nós simplesmente compartilhamos e damos satisfação aos bons e maus deuses, muitas vezes caracterizados como anjos, santos ou demônios, dividindo com eles a razão de nossas ações.
Fala-se comumente em uma energia como fator primordial de tudo no universo e que pode ser a causa de todas as existências, citada também pela ciência, mas sempre acaba com um sentido religioso, que lhe dá em última instância, uma condição antropomórfica ou laboratorial.
Deixando-nos levar pela imaginação, procurando sair dos conceitos básicos de nossos pensamentos e criar uma situação interior que nos proporcione um dimensionamento diferente do que percebemos comumente em todas nossas atitudes e ações, fomos conduzidos por um sentir em que o pensamento lógico foi ultrapassado por novas sensações para mim inexplicáveis e que, no entanto, trazem uma paz sentida não interiormente, mas de uma maneira global, indo além do que o pensamento guiado por nossos padrões culturais pode nos levar.
É um estado diferente de percepção, possivelmente percebida por sentidos que extrapolam nosso entendimento, mas que nos conduz a situações que passamos a crer fazer parte da nossa verdade. Talvez pudéssemos chamá-lo de estado alterado da percepção comum, onde o espaço e o tempo tomam novas formas e possivelmente, com outros conceitos.
A primeira e primordial inquirição, como não poderia deixar de ser, por em parte estarmos subordinados a determinados padrões que nos mantêm vivos, é com essa divindade que todos procuram, cada um a sua maneira.
Os conceitos ditados por nossos padrões vigentes já vimos; qual seria a diferença, se houver uma outra verdade que nos aproxime mais da realidade e que, possivelmente um dia nos conduzirá a ela?
Será o sentir com um pensar diferente, guiado por valores reformulados que perdem sua importância diante dessa nova percepção, o que nos conduzirá a uma nova verdade, à compreensão de uma divindade real?.
Essa realidade é um Poder Divino. Simplesmente É. Não há em nosso finito raciocínio e, em nossa ignorância, uma explicação, pois estaríamos dando à Divindade condições que seriam conceitos por nós formulados e cairíamos no mesmo engano de sempre, criando mais um deus para figurar na biblioteca de tantos outros.
Se Ela é, é única em Si mesma e assim sendo, é em tudo que está manifestado sob forma de energia guiada para os determinados fins a que foi conduzida, tornando–se leis como manifestação e verdades como individualidades.
Desse modo, não existiria deus nem deuses, mas simplesmente manifestações desse Poder que nos permite ser co-criadores de nós mesmos, sendo essa divindade ou divindades uma forma particularizada, que ainda é a maneira que possuímos de dar manifestação a esse Poder Único.
Assim sendo, não há deus ou deuses em realidade, mas simples formas de manifestação que satisfazem os seres humanos em sua múltipla diversidade.
Cremos que vivemos com nossos deuses, sejam de que origem for e com que finalidades existam, simplesmente por não conseguirmos alcançar a causa primeira que É, fora do que sentimos como manifestações no existir e no estar.
A conclusão é de que as guerras continuarão até que a percepção em geral mude para novos padrões e que, uma das maneiras de iniciar as mudanças é começar primeiro a buscar novos valores pessoais que se adeqüem a novas verdades e que nossa vontade nos guie no sentido da harmonia interior, condição para buscarmos adequação no meio e ajudar a sociedade de que fazemos parte, a buscar as mudanças necessárias, conduzindo tudo e todos para uma vida mais simples e cooperativa, no sentido de um desenvolvimento com novos valores e padrões.
É natural que nos sintamos inicialmente apoiados em ensinamentos que nos ajudem a sair da ignorância e nos dêm liberdade de começar a voar sozinhos, no sentido da compreensão individual e posteriormente coletiva, quando também seremos um só. Nosso caminho tem sido os dados pelos ensinamentos Huna, possivelmente os mais antigos, os mais bem guardados e o gerador dos tradicionais ensinamentos místico/ religiosos da humanidade.
Pacientemente cresceremos desenvolvendo intelectualmente nossos valores e padrões, até a ponto de adquirirmos uma percepção diferente, não mais guiada pelos sentidos sensoriais e o intelecto, mas recebendo por uma nova linguagem vinda do invisível subconsciente, as condições necessárias para questionar os conhecimentos adquiridos e deixar que essa nova percepção que não mais depende dos sentidos, mas que faz parte de uma linguagem intuitiva, nos conduza a descobrir o que disse Jesus e nos ensina a Huna: “Tudo que é desconhecido será revelado e o desconhecido desaparecerá”.
Este é o caminho da evolução, a libertadora das agruras dos sofrimentos e da ignorância.
Haverá um momento em que seremos lá.
Sebastião de Melo