Evangelho
de Maria Madalena
Fragmentos
do Evangelho
O
Salvador disse: “Todas as espécies, todas as formações, todas as criaturas
estão unidas; elas dependem umas das outras, e se separarão novamente em sua
própria origem, pois a essência da matéria somente se separará de novo em sua
própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça”.
Pedro
lhe disse: “Já que nos explicaste tudo, dize-nos isso também: o que é o pecado
do mundo?” Jesus disse: “Não há pecados; sois vós que os criais, quando os
fazeis da mesma espécie que o adultério, que é chamado”pecado”. Por isso, Deus
Pai veio para o meio de vós, para a essência de cada espécie, para conduzi-la à
sua origem”.
Em
seguida disse: “Por isso adoeceis e morreis (...). Aquele que compreende minhas
palavras, que as coloque
Quem tem ouvidos para ouvir que ouça”.
Quando
o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: ”A paz esteja convosco.
Recebei minha paz. Tomai cuidado para que ninguém vos afaste do caminho,
dizendo: “Por aqui” ou “por lá”, pois o Filho do Homem está dentro de vós.
Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, e então, pregai o
Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, alem das que vos mostrei, e
não te instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas”. Após dizer
tudo isto partiu.
Mas
eles estavam profundamente tristes, e falavam: “Como vamos pregar aos gentios o
Evangelho do Reino do Filho do Homem? Se eles não O procuraram, vão poupar a
nós?”
Maria Madalena levantou-se, cumprimentou a
todos e disse a seus irmãos: “Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois
Sua graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos Sua
grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens”. Após Maria ter dito isso,
eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as palavras
do Salvador.
Pedro
disse a Maria: “Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do que a qualquer
outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te lembras, aquelas
que só tu sabes e nós nem ouvimos”.
Maria
Madalena respondeu dizendo: “Esclarecerei a vós o que está oculto”. E ela
começou a falar essas palavras: “Eu”, disse ela, “eu tive uma visão do Senhor e
contei a Ele: “Mestre, apareceste-me hoje numa visão”. Ele respondeu e me
disse:”Bem aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me ver, pois onde está
a mente (NOUS) há um tesouro”. Eu lhe disse: “Mestre, aquele que tem uma visão
vê com a alma ou com o espírito?” Jesus respondeu e disse:”Não vê nem com a
alma nem com o espírito, mas com a consciência (NOUS), que está entre ambos
assim é que tem a visão (...)
E o
desejo disse à alma: ´Não te vi descer, mas te vejo subir. Por que falas
mentira, já que pertences a mim? A alma respondeu e disse: ´Eu te vi. Não me
viste, nem me reconheceste. Usaste-me como acessório e não me reconheceste´.
Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria.
“De
novo alcançou a terceira potência, chamada ignorância” A potência inquiriu a
alma dizendo: ´Onde vais? Estás aprisionada à maldade. Estás aprisionada, não
julgues! ´E a alma disse: ´Por que me julgaste apesar de eu não haver julgado?
Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui reconhecida que o
Todo se está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais. “Quando
a alma venceu a terceira potência subiu e viu a quarta potência, que assumiu
sete formas. A primeira forma, trevas; a segunda, desejo; a terceira,
ignorância; a quarta, a comoção da morte; a quinta, é o reino da carne; a
sexta, é a vã sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada. Essas são as
sete formas da potência ira. Elas perguntaram à alma: De onde vens, devoradora
de homens, ou aonde vais, conquistadora do espaço? ´A alma respondeu dizendo:
´O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar foi derrotado..., e
meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. Num mundo fui libertada de
outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial e também dos grilhões
do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante, alcançarei em silêncio
o final do tempo propício, do reino eterno´”.
Depois
de ter dito isso, Maria madalena se calou, pois até aqui o salvador lhe tinha
falado.
Mas
André respondeu e disse aos irmãos: “Dizei o que tendes para dizer sobre o que
ela falou. Eu, de minha parte, não acredito que o salvador tenha dito isso,
pois esses ensinamentos carregam idéias estranhas”. Pedro respondeu e falou
sobre as mesmas coisas. Ele os inquiriu sobre o Salvador: “Será que Ele
realmente conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco?
Devemos mudar de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?” Então Maria
Madalena se lamentou e disse a Pedro: “Pedro, meu irmão, o que estás pensando?
Achas que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o
Salvador?” Levi respondeu a Pedro: “Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te
vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas se o Salvador a fez
merecedora, quem és tu para rejeita-la? Certamente o Salvador a conhece bem.
Daí tê-la amado mais do que a nós. É antes, o caso de nos envergonharmos e
assumirmos o homem perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos
o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos
legou”.
Depois
que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.
Fragmentos do Evangelho de Maria Madalena:
Comentários
“Este
Evangelho foi escrito provavelmente no século II. Foi através de um fragmento
copta, que ele chegou até nós. O destaque fica para a estranha parábola que
Jesus conta para Maria Madalena. Esta passagem ocorreu após sua crucificação”.
Introdução:
Neste artigo faremos uma interpretação de um dos Evangelhos Apócrifos, o atribuído a Maria Madalena, conhecido como “Fragmentos do Evangelho de Maria Madalena”. Foi traduzido de fragmentos encontrados em linguagem copta, o que nos leva a crer que foi escrito possivelmente no século II; sendo a fonte de inspiração a corrente gnóstica e cristã, e por isso, origina-se do grego.
Por muito tempo só tivemos conhecimento dos quatro Evangelhos Sinópticos aprovados pelas igrejas cristãs. A partir de 1947 começaram a ser traduzidos fragmentos de outros Evangelhos como o de Tomé, Felipe, Pedro, de Maria Madalena, e também outros. São os chamados Evangelhos Apócrifos.
Escolhemos o de Maria Madalena, talvez por ser uma figura controvertida dentro dos ensinamentos cristãos. Aceitam sua figura como uma das pessoas convertidas por Jesus, mas apresentam-na como o símbolo da prostituta que se converteu pela graça do Mestre. Era vista como a mais famosa cortesã de Magdala, daí seu nome. Sendo judia não vivia de acordo com as leis deixadas por Moisés, mas não era molestada pelos fariseus por ser de família de grandes posses, e tinha transito livre na corte de Herodes.
Fala-se muito pouco de sua influência no inicio do
cristianismo. É citada pelos evangelistas em algumas passagens onde mostravam
sua dedicação a Jesus e em outra
Foi para ela que Ele apareceu, pela primeira vez após a ressurreição, enviando-a aos apóstolos, para dar a noticia de Sua volta, após os três dias anunciados previamente.
Seu Evangelho mostra uma grande elevação espiritual e o respeito que os apóstolos tinham para com ela, a ponto de ser inquirida sobre as atitudes místicas ensinadas por Jesus e que só ela tinha conhecimento; provavelmente devido ao relacionamento mais profundo entre os dois, como nos mostra a pergunta de Pedro a Maria Madalena sobre alguns ensinamentos do Mestre, e que só ela conhecia; ela absorveu esotericamente tais ensinamentos, como veremos em uma das passagens abaixo.
Comentaremos seu Evangelho dividindo-o em partes para que haja um maior entendimento dos ensinamentos de Jesus e, quem sabe, possamos Compreendê-lo melhor.
Procuraremos interpretá-lo segundo os ensinamentos trazidos pela Psicofilosofia Huna, que nos permitem senti-lo de uma maneira livre e sem regras estabelecidas por qualquer doutrina cristã.
A figura de Maria Madalena, talvez seja a que mais polêmica
causa e que é interpretada de várias maneiras, desde uma cortesã ou prostituta,
e é também citada como provável esposa de Jesus. Pelo que deixou
Fragmentos do Evangelho, Segundo Maria Madalena
Interpretação:
A seguir passaremos aos Fragmentos do Evangelho. Por uma questão didática serão citadas as passagens e logo em seguida a sua interpretação.
1. O Salvador disse: “Todas as espécies, todas as formações, todas as
criaturas estão unidas; elas dependem umas das outras, e se separarão novamente
em sua própria origem, pois a essência da matéria somente se separará de novo
em sua própria essência. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça”.
A Psicofilosofia Huna nos ensina que existe um Poder Divino
dado pelo Supremo Ser (Teave) e que
denominamos de Mana; ele se torna
energia que vitaliza tudo que existe no universo (mana). Ela se diferencia conforme o reino a que pertence a
manifestação. Assim, temos mana energia própria do reino mineral, vegetal e
animal, além da que sustenta por sua ação aglutinadora, os seres
individualmente, e entre si, dentro de uma grande teia (teia-aka). Tendo a energia vitalizante a mesma origem, toda
manifestação está interligada e interdependente por ser proveniente dela. Na
origem torna-se a quintessência, isto é, a transformação da energia vital (mana)
Na manifestação acontece primeiro a individualização de cada espécie, de cada formação, de cada criatura, apesar de estarem unidas e interdependentes, por terem a mesma origem energética. A individualização existirá até que a matéria se diferencie no sentido da energia criadora purificando-se e atingindo um alto grau de crescimento e evolução. No ser humano, isso acontece através das reencarnações, com a finalidade de unificar harmonicamente pelo crescimento espiritual e a evolução, os três espíritos (unihipili, uhane e aumakua – subconsciente consciente e superconsciente, ou eu básico, eu médio e eu superior), para chegarem à compreensão do Criador. Assim, terão ouvidos para ouvir, isto é, atingirão o grau de evolução máxima que nos liberta do ciclo de vida e morte a que estamos sujeitos. É a volta ao reino de onde se originou, quando foi criado à imagem e semelhança de Deus, como energia divina.
Jesus disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a VIDA e só através de Mim se vai ao Pai”.
Nesse caminho tudo está unido e interdependente, e, com a perda da ignorância e dos outros desafios dos sete Princípios do xamanismo havaiano, vai surgindo a verdade libertadora que vai rarefazendo a matéria e nos aproximando da VIDA, quando tudo torna a ser essência, por só haver nesse estado, a própria essência. Quando atingir a quinta-essência[1] (essência da essência) - estado final de evolução - estará liberto da condensação da energia (mana) que é o que denominamos de matéria, despertando Mana, o Poder Divino, o sopro de Teave .
Em Huna é a volta da Criança de Tane ao Reino do Pai, de onde se originou.
2. Pedro lhe disse: “Já que nos explicaste tudo, dize-nos isso também:
o que é o pecado do mundo? ”Jesus disse: Não há pecados; sois vós que os
criais, quando os fazeis da mesma espécie que o adultério, que é chamado
"pecado". Por isso, Deus Pai veio para o meio de vós, para a essência
de cada espécie, para conduzi-la à sua origem”.
Pedro como bom judeu e pescador não havia entendido ainda, os mistérios que Jesus transmitia em suas palavras, muitas vezes ditas por parábolas. Começa sua pergunta dizendo que Jesus já havia explicado tudo. Isso mostra que ele não havia compreendido o que o Mestre havia dito no trecho (1) citado acima, mas buscava entender pela conserva cultural, as respostas para suas dúvidas, que giravam em torno da tradição religiosa e da Boa Nova ensinada por Jesus.
Jesus simplesmente responde que não há pecado[2]. O que existe são criações humanas que justificam atitudes comportamentais do ser humano, de acordo com sua conserva cultural criada pelos valores morais, costumes e pelas tradições trazidas pelas marcas mnêmicas[3] como memórias genéticas programadas do sonho básico de vida de cada um. Não existe o pecado do mundo; existem pecadores, fruto das criações mentais provenientes de cada sociedade.
Coloca assim o crescimento e a evolução espiritual como uma situação em que somente o indivíduo é o responsável por seus pensamentos, atitudes e ações; a influência que sofre pela educação e criação não é determinante, mas cria facilidades ou dificuldades para o desenvolvimento e crescimento de seu sonho básico de vida, nas experiências do dia a dia.
Como nos ensina a Huna, a intenção é possivelmente a grande responsável pelo desenvolvimento de nosso crescimento no bom ou no mau sentido, nos preparando para um novo ciclo de vida. Assim visto, pecado é uma condição regional e cultural que segue as convenções de cada época, na história das civilizações. Jesus cita o adultério[4], como referência de pecado, possivelmente por ser um dos mais graves entre os judeus, o que facilitaria o entendimento de Pedro e dos outros apóstolos, que ainda não estavam suficientemente desenvolvidos para entender e sentir Seus ensinamentos. O amor é a tônica de suas pregações; é o amor que a Huna tem como Principio: Aloha (amar é compartilhar com...).
Em Aloha o julgamento que mantém os costumes, valores e padrões arraigados nas memórias perde o sentido cultural de julgar, para entrar no compartilhar, que é tão maior quanto menos julgamento houver, em relação a si mesmo e aos outros, o que torna o ser humano mais compreensivo, meta pregada por Jesus.
Um exemplo típico é o da passagem em que os fariseus trazem uma adúltera para enredá-Lo em relação às leis mosaicas e Ele simples e humildemente diz: “Quem não tiver pecado atire a primeira pedra”. Somente Ele e a mulher permaneceram no local. Ele sabia que não há pecado e a ela pediu que seguisse os costumes para não sofrer as conseqüências, dizendo: “Vá e vê se não pecas mais”. A mulher estava se relacionando amorosamente fora dos princípios do judaísmo, o que estava contra a tradição e as normas traçadas por seu Deus.
Coloca a vinda do Verbo Encarnado no meio de todos, falando claramente que cada um, seja de que espécie for, somente será conduzido ao reino dos céus quando estiver desperto, isto é, vivendo de sua essência; só assim, será possível ser conduzido à sua origem, como disse no primeiro trecho desse Evangelho (1 e 2). É a harmonia entre o criado e o Criador.
3. Em seguida disse: “Por isso adoeceis e morreis (...). Aquele que
compreende minhas palavras, que as coloque em prática. A matéria produziu uma
paixão sem igual, que se originou de algo contrário à Natureza Divina. A partir
daí, todo o corpo se desequilibra. Essa é a razão por que vos digo: tende
coragem, e se estiverdes desanimados, procurai força nas diferentes
manifestações da natureza. Quem tem ouvidos para ouvir que ouça”.
Nesse trecho Jesus coloca o pecado como sendo situações criadas pelo próprio homem que passa a ser o causador de seus males, suas doenças e de sua morte. Quanto mais se sente pecador, mais culpado será e a conseqüência será o sofrimento como o redentor das culpas e também da busca da felicidade, situação que o ser humano interioriza trazendo do exterior a ilusão de se livrar da dor e ter prazer. Essa situação mantém o ciclo de vida e morte. Só se liberta das culpas quando não se acredita no pecado como causador das diferenças humanas; quando for capaz de entender que não há certo e errado, mas sim, estados diferentes de ignorância, limitação, confusão, procrastinação, raiva, medo, e dúvida, provocadores dos desejos, os quais conduzem às ações boas ou ruins, em relação a si mesmo e aos outros; isso desenvolve ou retarda o crescimento e a evolução, mantendo o homem como o criador de seus pecados, no ciclo das sucessivas reencarnações, na vivência de diferentes sonhos básicos de vida.
O pensamento é a grande arma que tem o ser humano para o cumprimento de seu sonho básico de vida (sua vida atual), analisando, reformulando e contribuindo para formação das memórias aprendidas ou experienciais, em busca de mudanças. A desarmonia entre uhane (consciente)e unihipili (subconsciente) é a criadora do pecado (desvio do eixo) que causa as culpas e as doenças. Na busca do crescimento espiritual, as intenções podem conduzir ao entendimento do que disse Jesus, mas a compreensão de suas palavras só virá após a libertação dos desejos causados pelos desafios que estão nos sete princípios do xamanismo havaiano, principalmente no que se refere à ignorância, o primeiro e mais difícil de ser trabalhado. Ignorância como clareamento da visão interior, e não somente como conhecimento intelectual.
Como é complicado colocar suas palavras em prática!!
A matéria, fruto do pensamento produz uma paixão sem igual que
mantém a densidade da energia mana,
a qual, conserva o ser humano preso aos usos e costumes, conseqüência de sua
intelectualização. Isso não permite ao uhane
se concentrar na natureza divina que habita em cada um. Diz Ele que essa é a
razão do desequilíbrio corporal que conduz à desarmonia trazendo o sofrimento.
Criou-se assim, o adultério, o grande pecado, que é o não crer
Pede Ele que se tenha coragem para buscar nas diferentes manifestações da natureza, a força para se acabar com o desânimo provocado pela insatisfação das buscas puramente intelectuais. É interessante o apelo que faz em relação à força da natureza em nossas vidas, onde tudo se realiza de acordo com as leis divinas, e onde devemos buscar realmente as condições que contribuem para que nosso crescimento aconteça com mais facilidade.
Só assim, se poderá enviar ao unihipili dados para reformulação das memórias que conduzirão na direção da natureza divina, criando possibilidades de compreender suas palavras e criar a harmonia, o que nos livrará das doenças causadas pelos pecados criados com as ações desordenadas, causadoras inclusive, das mortes, o grande adultério das convicções que estabelecem a permanência das idéias que criam uma crença imutável. A observação e a vivência com a natureza nos mostram a nossa impermanência e a da natureza, onde tudo se modifica a cada instante vivenciado.
Quem tem ouvidos para ouvir que ouça.
4. Quando o Filho de Deus assim falou, saudou a todos dizendo: ”A paz
esteja convosco. Recebei minha paz. Tomai cuidado para que ninguém vos afaste
do caminho, dizendo: Por aqui ou por lá, pois o Filho do Homem está dentro de
vós. Segui-o. Quem o procurar, o encontrará. Prossegui agora, e então, pregai o
Evangelho do Reino. Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e
não te instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas”. Após dizer
tudo isto partiu.
Após os ensinamentos dados acima (3) sobre pecado, doença, paixão e morte e se intitulando Filho de
Deus, apaziguou os discípulos dando-lhes Sua paz. Para isso adverte que terão
essa paz se não se afastarem do caminho, alertando-os de que a procura tem de
ser interna, isto é, harmonizando os dois espíritos (uhane e unihipili)
responsáveis pela busca da harmonia interior, como também ensina a
Psicofilosofia Huna, por meio das verdades trazidas pelos mestres kahunas, oralmente transmitidas em suas
tradições e lendas, que chegaram até nós pelo Livro da Criação (Tumuripo ou modernamente Kumulipo). Esses ensinamentos são muito
semelhantes aos trazidos por Jesus e, por isso, nos possibilita entendê-los
trazendo um vislumbre da paz que se pode conseguir. Mostra que as coisas vindas
do exterior distanciam o ser humano da busca do aumakua, o Eu Superior que habita em todos e
Assim como seus discípulos, quem dá prosseguimento aos
ensinamentos de Jesus, inicia um novo caminho onde o importante é ter
desenvolvido o máximo possível o sonho básico de vida, criando condições de
entender e sentir o Evangelho; para isso, nada melhor do que se expor criando
coragem para levar publicamente tudo o que aprendeu e sentiu com Ele. Essa
tarefa deve ser a mais difícil de todas, pois ter-se-á que despojar de valores,
renunciar ao poder que se adquire com um status social e mesmo religioso,
tornando-se simplesmente o que Ele disse aos discípulos: “Sede transeuntes!” - “Evangelho
de Thomé passagem
Suas regras são simples e diretas, sem subterfúgios
enganadores, e, por isso, não há necessidade de se criar outras teorias que
provoquem a ilusão do crescimento. Indubitavelmente o que se está criando são
condutas de ação, como legisladores de Suas palavras e são guiados pela vaidade
da falsa humildade própria dos doutrinadores que já se sentem donos da verdade
e proprietários do caminho que conduz ao céu. Essa situação conduz à paixão que
é despertada por crenças e doutrinas guiadas essencialmente pelo intelectualismo
religioso, não permitindo ao ser humano alcançar um grau de desenvolvimento e
crescimento espiritual que conduza à compreensão da consciência divina que habita
“Após dizer tudo isso partiu”.
5. Mas eles estavam profundamente tristes, e falavam: “Como vamos
pregar aos gentios o Evangelho do Reino do Filho do Homem? Se eles não O
procuraram, vão poupar a nós?” Maria Madalena levantou-se, cumprimentou a todos
e disse a seus irmãos: “Não vos lamentais nem sofrais, nem hesiteis, pois Sua
graça estará inteiramente convosco e vos protegerá. Antes, louvemos Sua
grandeza, pois Ele nos preparou e nos fez homens”. Após Maria ter dito isso,
eles entregaram seus corações a Deus e começaram a conversar sobre as palavras
do Salvador.
O afastamento da presença de Jesus provocou nos apóstolos a insegurança gerada pela dúvida que tinham em relação às suas possibilidades de dar prosseguimento ao que aprenderam, mas que não tinham compreendido por ignorância - falta de clareza de uma visão interior -, o que provoca o medo. No caso deles um grande medo de sofrer perseguições. Reagiram mais como judeus, do que como novos discípulos que iriam espalhar o Evangelho entre os gentios, e converter judeus.
Foi necessário que uma voz se levantasse entre eles e mostrasse que quem tem fé sem dúvida nada tem a temer e que não precisavam sofrer, sentindo-se abandonados à sua própria sorte, e que, se não houvesse hesitação seriam merecedores da graça que Ele havia dado a todos, o que era suficiente para sustentar suas ações daí em diante, em relação à pregação do Evangelho.
Quando ela fala, “sua graça estará inteiramente convosco”, ela desligou-se da figura humana de Jesus e passou a compreender seu papel nessa nova missão renovadora. Essa parece ter sido a primeira pregação evangélica feita e foi dirigida aos apóstolos, revigorando-os para cumprirem suas missões.
Ela procurou colocar em ordem o seu uhane e o uhane de cada um, harmonizando-os com o unihipili que passou a sentir nessa nova maneira de ser, um grande prazer vindo de uma nova fé criada pela reformulação das memórias, pela modificação dos valores da conserva cultural, perdendo o medo e abrindo seus corações para receberem as novas e as reformuladas memórias para execução de suas ações, despertando a vontade com a mudança para novos padrões de vida, que contribuiriam para o cumprimento de suas missões.
Pedro queixou-se em outra passagem evangélica (“Evangelho de
Thomé, passagem
Ela que em outros evangelhos era um símbolo sexual feminino, nessa passagem mostra que era a mais fervorosa das pessoas a ponto de compreender o significado real de ser homem; passa agora pela fé e a crença de uma nova realidade, a de se considerar homem, abolindo o sentido sexual do ser humano homem/mulher o que não era entendido pelos apóstolos como bons judeus; era a purificação pela compreensão das revelações feitas por Jesus, como dissemos acima.
Foi tão grande a influência provocada pelas palavras de Maria Madalena que eles se acalmaram, perderam o medo e passaram a conversar sobre o que ela lhes havia dito, tendo uma nova percepção momentânea de tudo. Foram acrescentados às suas memórias novos pensamentos, mas seus padrões ainda não tinham mudado como veremos adiante.
Maria teria sido a primeira a pregar o Evangelho preparando-os para o dia de Pentecostes?
6. Pedro disse a Maria: “Irmã, sabemos que o Salvador te amava mais do
que a qualquer outra mulher. Conta-nos as palavras do Salvador, as de que te
lembras, aquelas que só tu sabes e nós nem ouvimos”.
Pedro volta a ter os mesmos pensamentos, teimando
Naquele momento, Pedro era somente um homem de boa vontade, cuja curiosidade despertou seu interesse para saber se Jesus havia dito a ela mais coisas que diminuiria sua insegurança e satisfaria seus desejos para prosseguir no caminho do Senhor, o que minimizava a sensação de perigo.
Jesus plantou a semente em seus discípulos e cada um recebeu de acordo com suas possibilidades. Maria Madalena foi a primeira a regar essa semente que iria desenvolver a árvore do amor evangélico, e deu aos discípulos a força para cultivar essa terra onde estava plantada essa semente. Pedro como conta os Evangelhos passou por várias outras provas para atingir um grau de compreensão dos ensinamentos do Mestre. Sua pergunta é capciosa, pois joga com o amor de Jesus pelas mulheres, diferenciando Maria Madalena como a preferida; mostra sua descrença ou ignorância. Se só a Maria Madalena Ele disse, foi porque achou que só ela naquela ocasião seria capaz de compreender, sentir e mostrar seus ensinamentos. Sabia também de sua capacidade para instruí-los, a fim de que pudessem cumprir suas novas missões em relação à propagação do Evangelho. Pedro não percebeu que o que ela já lhes havia dito eram palavras que só a ela Ele tinha revelado, por razões que só a Ele pertenciam, como vimos acima e veremos depois.
Ele sempre dizia: “Quem tem ouvidos para ouvir ouça”. Pedro até então, ainda não tinha ouvidos para ouvir, daí suas perguntas.
7. Maria Madalena respondeu dizendo: “Esclarecerei a vós o que está
oculto”. E ela começou a falar essas palavras: “Eu”, disse ela, “eu tive uma
visão do Senhor e contei a Ele: ”Mestre, apareceste-me hoje numa visão”. Ele
respondeu e me disse: “Bem aventurada sejas, por não teres fraquejado ao me
ver, pois onde está a mente há um tesouro”. Eu lhe disse: “Mestre, aquele que
tem uma visão vê com a alma ou com o espírito?” Jesus respondeu e disse:”Não vê
nem com a alma nem com o espírito, mas com a consciência, que está entre ambos
assim é que tem a visão (...)
Começou a criar em Pedro e nos outros, condições para iniciar suas missões. Incentiva-os sem valorizar as críticas de Pedro e dos demais; revelou-lhes o que só ela sabia. Estava imbuída pelo espírito de Aloha, pois estava compartilhando e não julgava mais. Sabia como era a percepção dos discípulos quando diz: “Esclarecerei a vós o que está oculto”.
Em sua resposta deixa bem claro que, o que está dizendo foi fruto de uma visão com o Senhor, mostrando ser tudo uma revelação. Revelação requer uma linguagem mística que vem de uma percepção diferente; a visão é clara; não há mais ignorância e, o Primeiro Principio para ela, “o mundo é o que você pensa que ele é”, torna-se luz. Não existem mais dúvidas, pois seu esclarecimento é ilimitado, sua energia segue o fluxo do pensamento por uma focalização única, sabe que seu momento de poder é agora, por estar inteiramente presente no aqui/agora, o que permite compartilhar com os apóstolos a bênção recebida do Mestre; sabe que todo poder vem de dentro por ter permitido que os ensinamentos recebidos aflorem e tome conta de seu ser, quando toma consciência dessa visão que Ele disse estar entre a alma e o espírito. Isso é a eficácia que é a medida da verdade nos que evoluíram a ponto de se tornarem verdadeiros tecelões de sonhos, dos sonhos aprendidos e apreendidos com os ensinamentos de Jesus e do Cristo. Ela percebe claramente o sentido dos Sete Princípios que estão ampliados na Boa Nova.
Chama-a de bem-aventurada por não ter fraquejado ao Vê-lo (o que não aconteceu nas vezes em que apareceu aos apóstolos, depois de Sua morte). Ensina que onde está a mente há um tesouro, referindo-se à atitude de Maria Madalena diante da visão; isso mostra que a visão é uma situação em que o pensamento torna-se co-criador com o mensageiro divino e por isso é capaz não só de entender, mas acima de tudo compreender o sentido da revelação. Uma mente como relata Maria Madalena, tem que ser uma mente aberta e preparada para receber as verdades reveladas que assim, torna-se um tesouro; não é mais a mente que Ele se refere quando diz: “Não se deve dar pérolas aos porcos, para que eles não as conspurquem”. Essa é a mente que não fraqueja, por já estar vivendo diretamente da criatividade de aumakua e a transmissão é direta por não ter mais o unihipili as memórias que fazem com que uhane fraqueje com pensamentos cheios de dúvidas, como estava acontecendo com alguns dos apóstolos citados.
A pergunta de Maria sobre como acontece uma visão mostra seu
interesse e a compreensão que tem do estado da alma e do espírito
Se Maria Madalena não tivesse criado as condições necessárias para essa compreensão, nada lhe seria revelado, e ela não teria o poder de também transmitir aos outros, contribuindo para que este poder penetrasse neles, dentro das condições de cada um, isto é, de acordo com seus sonhos básicos de vida.
Termina dizendo que é assim que se tem a visão.
Infelizmente ela teria dito outras coisas a mais, mas que possivelmente se perderam, por ter desaparecido outros fragmentos ou quem sabe, por não ser ainda hora de ser revelado. Isso fica a critério de cada um, de acordo com sua fé e suas crenças.
8. E o desejo disse à alma: Não te vi descer, mas te vejo subir. Por
que falas mentira, já que pertences a mim? A alma respondeu e disse: “Eu te vi.
Não me viste, nem me reconheceste. Usaste-me como acessório e não me reconheceste”.
Depois de dizer isso, a alma foi embora, exultante de alegria.
“De novo alcançou a terceira potência, chamada ignorância” A potência
inquiriu a alma dizendo: Onde vais? Estás aprisionada à maldade. Estás
aprisionada, não julgues! E a alma disse: Por que me julgaste apesar de eu não
haver julgado? Eu estava aprisionada; no entanto, não aprisionei. Não fui
reconhecida que o Todo se está desfazendo, tanto as coisas terrenas quanto as celestiais.
“Quando a alma venceu a terceira potência subiu e viu a quarta potência, que
assumiu sete formas. A primeira forma, trevas; a segunda, desejo; a terceira,
ignorância; a quarta, a comoção da morte; a quinta é o reino da carne; a sexta é
a vã sabedoria da carne; a sétima, a sabedoria irada”.
Essas são as sete formas da potência ira. Elas perguntaram à alma: De
onde vens, devoradora de homens, ou aonde vais, conquistadora do espaço? A alma
respondeu dizendo: “O que me subjugava foi eliminado e o que me fazia voltar
foi derrotado..., E meu desejo foi consumido e a ignorância morreu. Num mundo
fui libertada de outro mundo; num tipo fui libertada de um tipo celestial e
também dos grilhões do esquecimento, que são transitórios. Daqui em diante,
alcançarei em silêncio o final do tempo propício, do reino eterno”.
Na própria seqüência da narrativa parece ter faltado alguma coisa, mas o essencial para nossa compreensão foi relatado.
A narrativa da visão de Maria Madalena continua trazendo novos conhecimentos de cunho filosófico, místico e ético que nos parece só ter sido dito por ela.
Maria Madalena fala em quarta potência, mas começa com o desejo e a seguir entra na terceira potência.
Começa com um diálogo entre o desejo - a quem chama de potência - e a alma. São situações relacionadas com os problemas defrontados pelo ser humano diante das diversas situações criadas durante o sonho básico de vida e, com os quais, terá que agir e interagir para se libertar e alcançar um grau de crescimento e evolução em que todas essas potências, que são memórias adquiridas nas várias reencarnações, vão se lapidando até chegar à compreensão de si mesmo, diante do todo. São os desafios a serem vencidos para a compreensão dos talentos e dos princípios do xamanismo havaiano, tão bem colocados por ela como ensinamentos de Jesus.
O desejo vem implícito nas memórias genéticas programadas do sonho básico de vida, e vai surgindo conforme vai atuando o uhane, que aproveitando as memórias genéticas, vai criando - pelas vivências e experiências do dia a dia, as memórias aprendidas ou experienciais que são memórias de ação, e, por isso, provocam desejos que traduzidos pelos pensamentos, formulam novos e mais intensos desejos. O desejo não viu a alma descer, isto é, reencarnar, por estar a primeira fase do sonho básico de vida sujeito às memórias genéticas programadas, próprias de cada espécie; seu desenvolvimento é anatomofisiológico, inicialmente dentro de um desejo traçado somente para o desenvolvimento na vida fetal - para que possa ao nascer iniciar seu novo ciclo de vida -, daí necessitar da proteção e ajuda das pessoas para sua sobrevivência.
Não há manifestação do desejo sem um pensamento que o propicie; assim, só surgem conforme vão se formando as formas-pensamentos desenvolvidas pelo uhane, indutor da pergunta: ”Não te vi descer, mas agora te vejo subir”. Não tendo conscientizado seu estado espiritual e divino, pensa ser dono de tudo que deseja, sejam manifestações de fato ou pensamentos ilusórios, que desenvolvem o poder pelo intelecto, dentro de um comportamento próprio de cada indivíduo. Tudo que o desejo não percebe lhe parece uma mentira e, o que deseja, parece lhe pertencer; é o desenvolvimento do apego que leva ao determinismo da posse.
A alma ciente de suas atribuições, responde não ter sido vista nem reconhecida, mas que ela tudo viu. Começa a dar ao desejo representado pelas memórias do unihipili e a imaginação do uhane - a primeira lição de sua existência -, mesmo não sendo reconhecida; no entanto diz que foi usada pelo desejo, sem que ele o soubesse. Estava plantada a primeira semente do crescimento espiritual, o que causou grande alegria a essa alma que viu os espíritos darem o primeiro passo na sua longa escalada rumo à realidade divina. É a grande devoradora de homens através das sucessivas reencarnações.
Num escalar incessante e progressivo a alma agora procura outra potência sabendo que enquanto houver a ignorância, a liberdade de ação não existirá em realidade, mas somente a ilusão dos fatos. Não há clareza de visão e as ações estão a mercê da ignorância espiritual.
Diz-se que “a ignorância é a mãe de todos os vícios”. Na ignorância a visão é nula ou sem clareza. Assim sendo, tudo está aprisionado à maldade, que são ações provocadas pelo desvio do eixo principal do sonho básico de vida. Começa-se a perceber que existe um julgamento, mas que ele vem de fora e atribui à alma essa função julgadora; não há o entendimento entre o desenvolvimento das memórias do unihipili e as decisões do uhane, em relação às experiências vividas dentro da ignorância, o que mostra uma desarmonia muito grande que leva à insatisfação e sofrimento que lhe são próprios, mas vistos de fora para dentro, o que causa as limitações.
A alma que estava indo embora, no entendimento da ignorância simboliza os primeiros sinais de uma percepção que à sua maneira já pede socorro, mas sem aceitar as condições existentes. A alma se deixa aprisionar por saber que só assim é possível despertar uma percepção - mesmo que distorcida - que poderá trazer modificações no julgamento, por perder a ignorância seu apoio exterior: a limitação, a confusão, a procrastinação, a raiva, o medo e a dúvida, que estão arraigadas às ações provocadas pela ignorância. A ignorância quer reter a alma, sem perceber que iniciou um novo caminho, quando inicia o clarear da visão. Interessante notar o que adverte a alma à ignorância, dizendo que “tudo está se desfazendo”, só que ela não percebeu. Está plantada uma outra semente; está formado um novo viver no aqui/agora.
Sentiu-se vitoriosa e seguiu seu caminho chegando à quarta potência, possivelmente a limitação que trava todo desenvolvimento e crescimento.
Com os dados acima mencionados por Maria Madalena - quando disse que – “se desfez o todo das coisas terrenas e celestiais” -, estava aberto o caminho para o reconhecimento de todas as mazelas criadas pelo desejo e a ignorância, apresentando à quarta potência sete formas a serem vencidas para o crescimento e a evolução espiritual e compreensão da alma.
Dentro da mitologia havaiana, essas sete formas pertencem ao reino do deus MIRU, o reino dos mortos para onde dizem os Evangelhos, Jesus desceu após a morte. É o plano espiritual dos seres reencarnantes.
Este reino simboliza o plano das almas em crescimento desde as que pertencem às trevas e que são conduzidas pelo desejo à ignorância, até as que possuem grandes desejos e que cresceram enriquecendo o unihipili e uhane de conhecimentos intelectuais em todos os sentidos da vida. Nota-se uma seqüência iniciando pela treva total – ausência de visão - e a ignorância surgida pelo desejo; ambos caminham juntos no aprendizado da vida, chegando à comoção da morte, situação que mais impressiona e causa medo ao ser humano, por significar a perda total do apego e da posse em relação ao corpo humano, em cada sonho básico de vida, onde o reino da carne impera como senhor absoluto e cria poderes ilusórios de permanência com o aprendizado intelectual. O intelecto cria a vã sabedoria da carne, onde estão gravadas todas as memórias do sonho básico de vida, até a comoção da morte que traz a sabedoria irada, provocada pela sensação da perda do todo adquirido, sem perceber que nada se perde, mas tudo se transforma. A percepção da perda do conhecimento, da riqueza, do poder, devido à comoção da morte, cria o que Maria Madalena em sua visão chamou de sabedoria irada. Essa é a roda viva dos desafios por onde teremos de passar até que a alma possa subir livre do desejo e das potências, inclusive com a quarta potência e suas sete formas, que nos retém no ciclo de vida e morte sucessivas; são as sete formas da quarta potência ira.
Com a percepção da quarta potência o ser humano começa a se preparar para receber ensinamentos, que poderão lhe mostrar haver novos caminhos nas futuras reencarnações.
Ensina a psicofilosofia Huna, através de sua mitologia, conhecimentos que podem ser enquadrados dentro do que trouxe Maria Madalena.
Pelos ensinamentos Huna, acredita-se que as trevas são a primeira potência (caos de Po – planos invisíveis-). Delas tudo se originou em termos de manifestação, pela vontade do Supremo (Teave) que com Seu sopro Divino (Mana), criou Tane, seu Filho dileto, o Deus que existe, e sua filha a deusa Na’Vahine, a companheira de Tane.
A partir daí, sob orientação de Tane (o gerador masculino da criação) tudo se organizou, juntamente com Na’Vahine (a geradora feminina da divindade manifestada), surgindo o Deus Pai/Mãe.
Tane/Na’Vahine criou seus três primeiros filhos (Tanaroa, Rono e Tu), distribuindo o universo entre os quatro, para que as manifestações pudessem aos poucos ser criadas e organizadas em Po e depois em Ao (plano das manifestações). Os quatro deuses são os quatro geradores masculinos da criação. A cada um deles uniu-se uma deusa criada por Tane e Na’Vahine, sua Companheira divina. As filhas eram (Tapo, Rata e Hina). Estava formada a polaridade divina que produziria as manifestações.
Estamos estendendo nossos comentários mostrando parte da mitologia havaiana, com a intenção de mostrar a importância da missão de Maria Madalena junto a Jesus; não há nenhuma intenção de buscar novas formas religiosas, nem legislar sobre o tema, mas mostrar que os caminhos são vários e o importante é que se esteja ligado aos ensinamentos que geram paz, alegria e tranqüilidade espiritual e que não firam, como os trazidos por Maria Madalena, através de Jesus.
As trevas foram se organizando sob a regência de Tanaroa, o Senhor do Pacifico Sul e da noite, de onde tudo surgiu, migrando parte dessas criações para a terra, sob as diferentes formas de vida, manifestando-se como minerais, vegetais e animais.
Durante algumas eras as diferenciações foram acontecendo e as coisas se organizando conforme as necessidades de cada criatura.
Das trevas surgiu o desejo como segunda potência. O desejo passou a fazer parte da criação com manifestações de tendências primitivas fazendo crescer o que havia na terra e sob encargo de Tu, o deus da Natureza, das colheitas e membro do Tribunal Divino, juntamente com sua companheira Hina. As criaturas cresceram e evoluíram nas trevas, impulsionadas por um desejo de crescimento natural e foram se aperfeiçoando conforme as necessidades de sobrevivência que a terra propiciava, sob a orientação de Tu, o senhor do Norte.
Para esse crescimento havia necessidade de que as trevas se dissipassem e para isso, Tu em concordância com Rono o deus do Sol, senhor do Leste, criaram através dos raios solares e do calor da terra, a luz solar que passou a ser o fator primordial de vida terrena. Da luz de Rono surgiram as plantas medicinais que curariam os seres no futuro, sob a benevolência de Tu, o deus das colheitas.
Saindo das trevas com um desejo natural de crescimento, mas numa total ignorância sobre o que era crescer no sentido divino, por falta de uma clareza de visão, foram se diferenciando em sua natural ignorância e surgiram as espécies que cresciam e tomavam conhecimento para sua sobrevivência. Acontecendo assim, a seleção natural por transmutações e o desaparecimento daquelas espécies, que não eram mais necessárias para o desenvolvimento da terra.
No início havia uma ira instintiva de sobrevivência que foi se aperfeiçoando, até atingir esse ser criado de forma diferente por possuir algo mais, que o diferenciava do restante da criação manifestada; surgiu o ser humano com o uhane. Com isso, adquiriu condições diferentes de manifestação: é o ser pensante com raciocínio dedutivo e indutivo, o que o diferencia de todos os seres da natureza terrestre. Conseguiu se sobrepor às demais criaturas, delas absorvendo as potências. Possuía as trevas por ignorar seu estado diferente e natural de criatura com uma qualidade pensante, induzindo-a às ações, que usou e ainda usa com a sétima potência (sabedoria irada), com todas suas formas, apesar de já possuir o discernimento para crescer e evoluir no sentido divino que é sua razão de ser.
Tane reservou para Si o reino do Oeste, por onde saem as almas dos que morrem e que, enquanto estão sob a influência das quatro potências, irão para o reino de Miru, o reino dos mortos, para um novo aprendizado. Regressam nas novas manifestações corporais até que se purifiquem e não mais tenham necessidade do ciclo de vida e morte nessa morada da casa do Pai. Esse é o grande sinal da impermanência a que estamos submetidos nas reencarnações.
Creio que por isso Jesus enfatizou tanto nessa visão de Maria Madalena, essas quatro potências, mostrando que quando estamos sob a influência da ira, passamos por essas sete formas de ação. É um aprendizado difícil e doloroso próprio do ser humano, até que perceba outras formas de ação e de pensar, onde predominará a ética da fraternidade.
A explanação Huna sobre essa passagem tem como finalidade ligar os ensinamentos de Jesus com os ensinamentos Huna. Ele deu novo impulso ao conhecimento Huna pregando o amor de Aloha e o não ferir e falando de um Pai que está nos céus.
Tane/Na’Vahine é o Deus que existe, o Filho do Pai, o Cristo; é o Verbo que se fez carne e habitou entre nós, sob a forma de Jesus, o Grande Aumakua da humanidade e de tudo que foi criado. Juntas, as sete formas da quarta potência perguntaram à alma, - segundo a narração - , de forma irada e já demonstrando alguma sabedoria - possivelmente com a curiosidade própria do intelecto que cresceu e não teve as respostas desejadas -, o que traz frustração e começa a duvidar de sua ilusória sabedoria, mas que bem no fundo, já pressente que há algo mais que não foi decifrado e que incomoda muito. Quer saber, mas pergunta agressivamente, mostrando que o invisível sob a forma de espíritos, vislumbrava que a alma vinha, devorava os homens através da morte e sucessivas reencarnações, percebendo que, apesar de devoradora de homens, deveria ir para algum plano conquistando o espaço. Essa interrogação mostra que o homem é devorado para conquistar novos espaços numa situação invisível, de onde retorna acrescido de novas memórias preparadas depois da comoção da morte.
Assim, se cria uma nova possibilidade de, em um novo sonho básico de vida, crescer e apagar aos poucos dos espíritos (uhane e unihipili), as sete formas da ira; essa é a luta que o homem trava consigo mesmo até sentir que não precisa lutar para fazer as coisas, mas procurar entender melhor seus pensamentos, sentimentos e desenvolver o desapego, livrando-se das posses dadas pelos desejos e a ignorância, ambas vindas das trevas.
Até aqui, o desejo é a mola que impulsiona o ser humano no sentido de perceber o outro, mas separado dele; é o desejo de fusão com o outro, como se procurasse sua outra metade, para se completar no amor; ainda está embriagado pelas coisas manifestadas. No entanto, já vislumbra que existe algo que o conduz a um amor diferente, que propicia um desejo de aliança, um desejo de unidade. Percebe agora, que não há mais união de metades, mas sim, pessoas inteiras que se relacionam e que não mais buscam se diluírem no todo; agora busca em sua inteireza atingir o todo, sentindo ser parte dele, sem ter se fundido, sem perder sua identidade.
Cremos que essa foi a situação que alcançou Maria Madalena no convívio com Jesus. Parece que só ela desfrutou dessa situação, a ponto de se dizer homem, isto é, chegou à condição do ser trino, o ser ideal que compreende a religiosidade que há dentro de si, despertada pelos ensinamentos dados pelo Mestre, no convívio do dia a dia; não necessitava mais de outras crenças religiosas, o que não aconteceu com os discípulos, até então. Em Huna seria o despertar de Aloha: É a bênção divina.
Cremos que é fruto da reformulação constante das memórias do unihipili em cada sonho básico de vida, e a perda da dispersão do uhane; assim, se consegue focalizar a realidade dada pela verdade pregada por Jesus, num sentir puro e sem maiores conceituações, senão as por Ele deixadas nos Evangelhos, que traduz o antigo conhecimento deixado pelos antigos mestres (naacals) do desaparecido Continente de Mu, possíveis criadores da psicofilosofia Huna, conservada pelos kahunas através dos milênios, e mostrada por Jesus na pregação do amor.
A alma responde mostrando claramente que o que a subjugava e a afastava da teia-aka (o todo) promovendo as reencarnações, tinha sido eliminado pela perda das memórias que provocavam os desejos de fusão e da sabedoria irada em suas sete formas; terminava assim, com a ignorância que a fazia continuar no ciclo de vida e morte, isto é, nas trevas. O Homo sapiens morreu e dele ressurgiu a alma com toda sua potência celestial, de acordo com a passagem evangélica, quando Jesus fala: “muitas são as moradas na casa do Pai”. Está dizendo que um mundo de crescimento e evolução libertou-a de outros mundos por onde passou em sua trajetória evolutiva. Era uma alma que atingiu a percepção celestial de acordo com suas necessidades de crescimento, atingindo um grau evolutivo que a libertou de um tipo celestial intelectualizado - criado pelo próprio homem -, até não necessitar mais de liberdade, por ter perdido as memórias que provocavam sentimentos advindos de passados remotos e que pareciam estar esquecidos; eram verdadeiros grilhões que a aprisionavam ao ciclo do crescimento espiritual. Diz que essa situação deve ser vivenciada, mas é impermanente, como tudo que é manifestado no invisível ou nas imagens concretizadas pelo pensamento em Ao, onde se cria as formas-pensamentos de duração transitória, próprias dos espíritos em crescimento e evolução.
A alma atingiu o estado de graça e, como “criança de Tane”, regressou ao lar no seio do Pai Celestial.
Daí em diante é o silêncio, com o fim do tempo criado desde a primeira descida, até a volta para o reino eterno quando tudo é e nada existe.
9. Depois de ter dito isso,
Maria Madalena se calou, pois até aqui o salvador lhe tinha falado.
Obedece o que Ele disse anteriormente::”Não estabeleçais outras regras, além das que vos mostrei, e não instituais como legislador, senão sereis cerceados por elas”.
Termina alertando que não é necessário criar regras e legislar através de doutrinas religiosas, mas que o amor, a base de Seus ensinamentos, é o suficiente para o crescimento e evolução espiritual do ser humano e que, se fugirmos disso, nos tornaremos reféns de doutrinas que nos torna legisladores e não seguidores verdadeiros; elas por si, nos cerceiam conservando os desafios – ignorância, limitações, confusão, procrastinação, raiva, medo e dúvida -, por permanecermos somente com uma visão intelectual que nos mostra as partes, mas nunca o todo que só o amor de Aloha pode nos dar. Este é o ágape em se falando de amor
Ai termina a visão de Maria Madalena que se calou; isso mostra que ela estava falando através do salvador; ela estava revelando verdades que eram pelos apóstolos desconhecidas e que só ela pelo estado de evolução adquirido, seria capaz de transmitir. Até aqui falou o Salvador!
10. Mas André respondeu e disse
aos irmãos: “Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha
parte, não acredito que o salvador tenha dito isso, pois esses ensinamentos
carregam idéias estranhas”. Pedro respondeu e falou sobre as mesmas coisas. Ele
os inquiriu sobre o Salvador. “Será que Ele realmente conversou em particular
com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar de opinião e ouvirmos
ela? Ele a preferiu a nós?”.
Esses ensinamentos da visão de Maria Madalena eram muito profundos para aqueles homens fieis à figura humana de Jesus. Eles ainda não conseguiam compreender como o Mestre iria falar tudo isso através de uma mulher – apesar dela ter dito também ser homem -, estando eles ali, esperando que Ele lhes transmitisse como iriam proceder para ensinar e pregar o Evangelho. Era uma tarefa que estava além de suas possibilidades atuais e como bons judeus, não poderia ser uma mulher a revelar tudo que ela disse, o que eles nunca tinham ouvido do Mestre. Como judeus conheciam as regras de suas leis e da tradição que proibiam as mulheres de participar da leitura e dos ensinamentos bíblicos. Não importava nesse momento a ignorância deles; Jesus sabia que a impressão deixada pelas palavras de Maria madalena ficariam gravadas em suas memórias para uma posterior ocasião.
De todos, Pedro continuava sendo praticamente o mesmo de antes; fez as mesmas perguntas e levantou as mesmas dúvidas, demonstrando um grande ciúme do Mestre, por tê-lo relegado a um plano tão baixo, confiando mais numa mulher do que neles. Não tinham percebido que ela não mais era a mulher judia que falava, mas um ser transformado em uma situação em que não mais existe o masculino e o feminino, mas uma unidade. No início de seu Evangelho ela diz claramente que “nós homens”, no entanto, e principalmente Pedro, não tinha condições de entender tal ensinamento que só um ser humano já evoluído poderia compreender.
11. Então Maria Madalena se lamentou e disse a Pedro: “Pedro, meu
irmão, o que estás pensando? Achas que inventei tudo isso no
mau coração ou que estou mentindo sobre o Salvador?” Levi respondeu a Pedro:
“Pedro, sempre fostes exaltado. Agora te vejo competindo com uma mulher como
adversário. Mas se o Salvador a fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la?
Certamente o Salvador a conhece bem. Daí tê-la amado mais do que a nós. É
antes, o caso de nos envergonharmos e assumirmos o homem perfeito e nos
separaremos, como Ele nos mandou, e pregaremos o Evangelho, não criando nenhuma
regra ou lei, além das que o Salvador nos legou”.
Maria Madalena falando agora como pessoa, lamenta a incompreensão de Pedro por suas dúvidas e reclamações, não aceitando que eles fossem capazes de pensar que ela inventara ou estaria mentindo sobre o Mestre.
Foi socorrida por Levi que admoestou Pedro falando sobre seu
temperamento exaltado, chegando a ponto de querer competir com uma mulher. Em
sua fala ele ainda considera Maria Madalena como uma mulher, o que faz pensar
que ele ainda não tinha atingido a compreensão do ensinamento que ela trouxe como
verdadeira discípula do Mestre, mas já aceitava que por ter sido tão querida do
Mestre e
12. Depois que Levi disse essas
palavras, eles começaram a sair para anunciar e pregar.
Parece que entenderam melhor as palavras de Levi do que as de Maria Madalena; não conseguiram perceber que ela ensinou através de sua visão do Salvador.
As palavras de Maria Madalena ficaram gravadas nas memórias deles, possivelmente como um preparo para facilitar a compreensão de todos, o que veio acontecer no dia de Petencostes, quando se tornaram pessoas diferentes e prontas a seguir o caminho ensinado por Jesus.
Assim terminam esses Fragmentos Evangélicos atribuídos a Maria Madalena, os quais, fazem parte dos Evangelhos Apócrifos.
Sendo a única a ter a percepção e a conscientização da
realidade divina de Jesus, ela deixou de ser a judia, a mulher comum vista
pelos discípulos, o que nos mostra o Evangelho segundo Tomé, passagem 22: “Jesus
viu crianças de peito a mamarem. Ele disse a seus discípulos: Essas crianças de
peito se parecem com aqueles que entram no Reino. Perguntaram os discípulos: Se
formos pequenos entraremos no Reino? Respondeu-lhes Jesus: Se reduzirdes dois a
um, se fizerdes o de cima como o de baixo, e o exterior do interior, se
fizerdes um do masculino e do feminino, de maneira que O MASCULINO NÃO SEJA
MAIS MASCULINO E O FEMININO NÃO SEJA MAIS FEMININO, ENTÃO ENTRAREIS NO REINO. Passagem
114:
“Simão Pedro disse: Seja Maria afastada de nós, porque as mulheres não são
dignas da vida (espiritual).
Respondeu Jesus: Eis que eu a atrairei, para que ELA SE TORNE UM HOMEM,
de modo que também ela venha a ser um espírito vivente, semelhante a vós,
homens. Porque toda mulher que se fizer homem entrará no Reino dos Céus.
Com esses dois ensinamentos, Jesus mostra o que era Maria Madalena quando pregava por sua boca, o que causou tanta dúvida nos discípulos. Como suas palavras estavam nas memórias dos discípulos, foi mais fácil para Levi convencê-los do que deveriam fazer a partir daí.
Assim termina os fragmentos do Evangelho segundo Maria Madalena; espero que um dia possamos também sentir o que ela pregou e para um melhor entendimento, temos os ensinamentos Huna com seus princípios que foram muito bem relembrados e desenvolvidos por Jesus, o Verbo que se fez carne e habitou entre nós.
A existência de uma mitologia havaiana com vários deuses não torna a Huna um conhecimento politeísta como geralmente as filosofias religiosas entendem, mas ao contrario, mostra a certeza de um Ser Supremo de tamanha importância e grandeza, que foge ao nosso entendimento como “finitos mortais”, em busca de uma compreensão maior da grandeza desse infinito e fabuloso universo, que chamamos de teia-aka.
Cremos que Maria Madalena, por ter alcançado essa compreensão e dela viver, foi vilipendiada e relegada a uma situação deprimente como é mostrada nos Evangelhos Sinópticos. Ela é o símbolo da prostituta convertida, quando na realidade parece ser a Noiva/Completude do Noivo/Rei gozando de todas as prerrogativas de tal estado espiritual, como a companheira divina do Messias prometido. Na realidade o termo prostituta tem uma conotação diferente da que entendemos, em relação a uma mulher. Ela é a que tem capacidade de entrar na sala nupcial onde a espera o noivo divino, de acordo com relatos evangélicos.
Saindo do signo de Peixes, o signo atribuído a Jesus, estamos entrando no de Maria Madalena, quando a espada dará lugar ao cálice na busca da compreensão e paz universal.
Coincidentemente entramos no segundo milênio e dois mil em algarismo romano escreve-se MM, que são as iniciais de Maria Madalena.
Margaret Starbird em seu livro “Maria Madalena e O Santo Graal ( A mulher do vaso de alabastro)”, faz uma observação sobre o signo de Peixes que é representado por dois peixes nadando em sentido contrário. Nas referências feitas a Jesus e este signo, só aparece um peixe que é Ele. Onde estaria o outro? Será que foi propositadamente ocultado para justificar as teorias desenvolvidas pela Igreja Católica Romana que se viu impossibilitada de explicar o que representa o outro peixe?
Muito parecido com o signo de Peixes é também o símbolo do Taoismo, o Yang/Yin, símbolos do masculino e feminino, unidos numa só figura. Em cada símbolo está incrustado um pequeno círculo como o oposto que existe dentro de cada um.
Cremos que as coisas começam a ser desvendadas, e a importância de Maria Madalena começa a surgir. Em nossa civilização cristã, estão tão arraigados os conceitos sobre Maria Madalena – a prostituta redimida – que será difícil aceitá-la como a companheira de Jesus que teve a sagrada missão de ser Sua escolhida para dar continuidade aos seus ensinamentos. É possível que sua redenção social marque uma renovação nos valores e padrões, primeiro livrando o feminino dos grilhões colocados pelo masculino e pelas doutrinas religiosas, na tentativa da supremacia masculina que reinou até agora; é o reinado da espada. Esperamos que o caminho a ser trilhado pela mulher seja o de uma maternidade sadia dada pela sabedoria, apanágio da situação feminina, a mantenedora de toda a natureza terrestre, criando o reinada do cálice...
É a chegada do reinado do cálice; que ele traga a paz e a harmonia e não o preencha do sangue gerado pela espada, que corta e dilacera os corações, razão da separação entre os seres humanos. O símbolo de Maria Madalena é o da noiva divina unida ao noivo/Rei que lhe deu a visão clara do caminho a ser seguido, para que um dia todos possam penetrar na sala nupcial em comunhão com o Cristo, o Pai Celestial Tane/Na’Vahine.
Este caminho será árduo, mas já iniciou; que a feminilidade prevaleça sobre outros valores e não a mulher, mas que o homem possa enxergar com olhos de parceiro o valor da renovação e a igualdade divina entre ambos.
Que as mudanças possam despertar no ser humano, o que de divino existe dentro dele e fazer do mundo um lugar de paz, amor e fraternidade, transformando o masculino e o feminino numa só e única coisa, até que não haja mais masculino e feminino, eliminando o julgamento e dando lugar ao amor verdadeiro, o que conduz o ser humano, como um ser inteiro, de volta ao jardim ensolarado criado por Tane/Na’Vahine para Ra’i Ra’i, sua filha, a mãe da humanidade, em suas passagens em Ao, através das vidas sucessivas.
Santos, 4 de fevereiro de 2003
Sebastião de Melo
[1] Ä força da vida não se origina do fogo, da terra, do
ar ou da água. Essa força da vida é essência à parte que preenche o universo. Essa
essência ou quinta-essência é o objetivo verdadeiramente importante que
queremos atingir”.
[2] Pecar é desviar-se do eixo, isto é, estar em desarmonia
consigo mesmo, estar se desviando de seu sonho básico de vida.
[3] Marcas mnêmicas.- São memórias advindas de gerações
passadas, aqui/agora transformadas em memórias genéticas programadas para cada
sonho básico de vida.
MNÊMICO.- Diz-se da teoria que atribui os fenômenos hereditários à memória latente de passadas gerações.
[4] Adúltero/a é uma condição atribuída aos judeus que negavam a existência do Deus bíblico ou O trocava por outro Deus.