Os Desafios dos Sete Princípios: Ignorância

 

Para se falar dos desafios dos sete Princípios do xamanismo havaiano, mister se faz conhecer teoricamente pelo menos, o que é Sonho básico de vida.

Falamos e nos preocupamos sempre em estudar e conhecer os Sete Princípios; é natural, pois se não o fizermos, não teremos como chegar ao principal que é o conhecimento de seus sete desafios, e, não tendo esse conhecimento estaremos  nadando na superfície das águas sem saber a profundidade em que podemos mergulhar, e nos perigos do mergulho.

Compararemos o sonho básico de vida com a Parábola dos Talentos do Evangelho.

Podemos ter um sonho básico de vida de um Talento, de dois, de cinco, de acordo com as condições espirituais que trazemos em nosso interior e que são dadas pelas marcas mnêmicas transformadas corporalmente em memórias genéticas programadas, produzidas em Po, quando da preparação do atual sonho básico de vida; lá, as coisas são feitas nos dando as possibilidades, de acordo com o livre arbítrio, de sabermos quais são as potencialidades que levaremos para a nova reencarnação.

Em Po usando-se a essência dos três espíritos que somos, trabalhamos vagarosa e realmente o que viveremos e nunca incorporaremos no SBV, memórias que não estejam de acordo com nossas futuras possibilidades de crescimento espiritual. Apesar de na essência que é divina, sabermos dos sete princípios, também sabemos dos sete desafios e, com a nossa consciência e a ajuda de poe aumakua, aprenderemos a trazer para a nova vida o que poderemos fazer dentro das possibilidades de cada sbv, sendo o livre arbítrio nosso guia; não existe erros na preparação do sbv o que nos faz tomar um conhecimento real das qualidades e defeitos de que seremos possuidores. Não há nisso predestinação, mas a possibilidade de que usando a VONTADE possamos passar pelas experiências que a própria vida nos oferece, isto é, somos os únicos responsáveis por nós mesmos, ainda que estejamos na situação de só possuirmos um Talento de acordo com a parábola evangélica.

Precisamos entender que os talentos dos sete princípios serão nossos guias interiores de acordo com o sbv, sendo eles os dinamizadores de nossas experiências nas contínuas ações do dia a dia.

Nesta situação, chegaremos à conclusão de que tudo se inicia com o primeiro desafio: IGNORÂNCIA, que é dinamizado pelo talento VISÃO, que nos dá os inumeráveis IKES, que são as vivências de cada instante em toda nossa vida atual. Muito já se falou sobre esse assunto, mas sempre é bom lembrar do que ele nos propicia dentro de nosso sbv.

A ignorância segundo pensamos ( tudo é arbitrário), tem como causas básicas que a mantém o APEGO e a MORTE.

Nossa ignorância não nos permite perceber essencialmente que a vivência de nosso sbv está inteiramente voltada para o meio externo e que somos não a causa, mas uma conseqüência do que este meio nos propicia. Nossos valores e padrões interiores estão embotados para a realidade e vivemos das imagens dos fatos apresentados no dia a dia. Se buscarmos no exterior as bases de nosso viver, as conseqüências naturalmente serão as de trazermos para dentro de nós mesmos, as imagens do que aprendemos pelas ações que estão dirigidas para o meio em que vivemos. Temos então, a ilusão de que somos frutos do ambiente de acordo com nossa criação e educação; leso engano, pois isso não passa da absorção de imagens como realidades, quando são simplesmente situações que facilitam ou dificultam nosso desenvolvimento e crescimento espiritual. O que realmente desenvolveremos serão as experiências tiradas das memórias genéticas programadas com a formação de um corpo de acordo com nossas necessidades de um aprendizado que promova o crescimento do sbv. Assim, aos poucos, pelas experiências físicas e mentais vivenciadas no dia a dia vão se formando as memórias aprendidas que movimentarão nosso corpo e nossa mente, dirigindo-nos para as vivências que formarão a cada instante um Ike(o mundo é o que eu penso que ele é), o que nos mostra a impermanência de nossa vida. Somos a soma de todos os ikes vivenciados, transformados em memórias que nos guiam no viver diário.

Aqui entra a parábola dos Talentos; se temos um sonho básico de vida de um só talento, não iremos em tudo que praticarmos, além desse talento e nosso crescimento interior não irá além da ignorância. Nossa sustentação fica na dependência de nossas possibilidades do apego e viveremos para o exterior onde cremos estar nossas possibilidades de desenvolvimento; essa situação é mantida pela ambição e às vezes, à avareza de possuir cada vez mais em todos os sentidos, pois isso nos levará a adquirir numa segunda fase, o poder, que é importante, não para o crescimento interior, mas como uma condição de pensar e sentir que dominamos tudo, pelo que possuímos e pelo que pensamos ser. Essa situação causa a limitação, confusão, procrastinação raiva, medo e dúvida provocada pelo desafio ignorância. O apego geralmente voltado para as posses em qualquer sentido, ainda não nos permite ter uma visão que mostre existir, além da ignorância, outros desafios a serem vivenciados, após um clarear da visão,o que nos permita perceber a situação verdadeira do pouco crescimento espiritual, isto é, a busca interior com um certo desapego das posses adquiridas mental e materialmente. Este sentir nos leva à ilusão de cuidarmos cada vez mais de nossa estética corporal, porque é pela aparência que aparecemos para o mundo que pensamos dominar. A cada dia que passa, mais nos perturba pensar na morte e fugimos dela praticando ações filantrópicas ou doando quantias para a ciência, que contribuam para a descoberta de produtos que possam prolongar a vida; isso nos fazer esquecer de analisar o final do sbv como uma coisa natural; não conseguimos pensar que a morte não é o fim, mas que ao contrario, ela é parte integrante da vida; é um prolongamento para o crescimento espiritual e posteriormente a evolução..

O Talento que corresponde ao desafio ignorância é a VISÂO. Esse talento vai dinamizar o sbv durante toda nossa atual existência. Trabalhar a ignorância significa clarear a visão interior; não é só adquirir conhecimento e se tornar um intelectual poderoso, ou um homem de grandes posses monetárias. É perceber de acordo com nossas possibilidades, que a ambição gerada pelo apego traz memórias que devem passar pelo pensamento, induzindo-nos a um pensar que conduza a um sentir diferente. num aprendizado formador de memórias provocadoras de vivências, mostrando que enterrar o talento da parábola na aquisição de bens exteriores, não nos conduzirá a um novo sbv com condições de um crescimento espiritual que desperte valores modificadores de padrões. Isso não conduzirá à reformulação de memórias necessárias para as mudanças, mas sim, ao reforço das mesmas, as quais levaremos conosco após a vivência dessa reencarnação.

No tramitar da vida, tendo a ignorância como desafio, seremos conduzidos pelo apego e pela morte, as duas grandes causas da falta de visão. Pela ignorância somos conduzidos às limitações, confusões, procrastinações, raivas, medos e dúvidas que podem nos seguir por todo o tempo; a posse é o fruto que nos faz chegar até à negação de qualquer referência espiritual, inclusive crenças que conduzem a uma existência após a morte. Esse tipo de pensar justifica as nossas ações de ambição, avareza, posse, poder econômico e intelectual, por falta de uma maior clareza de visão interior. Isso causa as grandes conseqüências provocadas pelo apego, mas também desviam nossa atenção da morte, dando a sensação de que somos possuidores da vida. O medo da morte se torna muitas vezes tão grande, que necessitamos ser “emplacados” em atos sociais que julgamos importantes e perpétuos; são como uma esperança de não morrermos. Isso é tão forte em uma grande maioria das pessoas, que até se criou nos cemitérios as campas perpétuas.

Se não trabalharmos com afinco todas as condições geradas pela ignorância não passaremos a viver num segundo desafio: LIMITAÇÃO. Este desafio traz outras conseqüências que são diferentes da limitação pela ignorância. Agora, como desafio tem conotações diferentes e a pessoa traz um sbv modificado, por ter se preparado com novos valores, mas conservando os mesmos padrões. Seria um homem de um talento que não o enterrará mais e que, agora, tem a possibilidades de produzir frutos diferentes?

Em qualquer situação que esteja o sbv, a visão continua sendo o indicador de qualquer entendimento intelectual, de qualquer desenvolvimento; isso pode acontecer com um  ignorante ou com um individuo genial, com um analfabeto ou com um grande intelectual.

É a dinamização do talento visão que faz girar a roda do crescimento espiritual.

Seguindo a seqüência dos desafios, concluiremos que o sbv é fruto dos quatro primeiros deles (ignorância, limitação, confusão e procrastinação), em havaiano (Pouli, Haiki, Hokai e Napa); são os responsáveis pela manutenção do ciclo de vida e morte.

Trabalhar as causas de cada desafio é perceber nossa situação interior e criar condições para um desenvolvimento mais harmonioso entre unihipili e uhane que, em última instância é a finalidade de aqui estarmos.

É buscar cada vez mais o entendimento de uma verdade que está em nós mesmos, mas que se não for trabalhada perderemos a oportunidade de caminhar no sentido do desenvolvimento e crescimento do sbv. Essa busca cria em nós a possibilidade de reformulação de memórias, de acordo com o sbv preparado para essa reencarnação. Temos assim, a possibilidade, não só de crescer o sbv, mas de chegar a uma percepção que provoca por instantes de inspiração, modificações no sbv, favorecendo a criação em Po, de novos sonhos básicos de vida com possibilidades de mais crescimento espiritual, se houver mais harmonia entre os espíritos que somos.

É natural tudo isso depender de atingirmos em cada sbv vivido, através de nossas ações guiadas pelas memórias, o início de uma percepção interior; elas formam pensamentos que ordenam e decidem sobre cada experiência vivenciada, situações propiciadoras de um desenvolvimento intelectual próprio de cada sbv que, em qualquer circunstância alivie a carga inicialmente causada pela ignorância e, sucessivamente pelos outros desafios. Tudo é fruto do trabalho constante que praticamos, buscando passar do exterior para o interior, nossas vivências, através das sucessivas reencarnações.

A busca da percepção de nós mesmos é de suma importância, pois sem ela não conseguimos uma visão que nos dê condições de prosseguir na busca incessante de nossas verdades. Só assim conseguiremos perceber nossa ignorância e descobrir que sendo suas causas o apego e a morte, reconhecermos nossas limitações provocadas por ela.

É a fase do certo e errado de nossa conserva cultural, a qual, sempre conduz ao julgamento que fazemos de tudo que é percebido, de acordo com as condições dadas pelo nosso sonho básico de vida.

A vontade, mola propulsora de todas nossas ações, na fase dependente do primeiro desafio, quase sempre nos conduz a atos que não causam harmonia entre unihipili e uhane, provocando dificuldades e sofrimentos, tirando nossa capacidade de aceitação, o que nos “desvia de nosso eixo”. Essa desarmonia é falta de uma visão clara das coisas, o que nos impele para situações que geralmente causam doenças. Muitas vezes, as doenças são um breque nas vivências desarmônicas que estamos experienciando, e que não iriam nos levar de volta ao caminho do crescimento espiritual.

Creio que com o já dito até agora, nossa visão se tornou mais clara, dando-nos possibilidade de  perceber o que nos causa o apego e o medo da morte, cujos frutos nos conduzem às posses e suas conseqüências.

Agora, podemos pelo intelecto perceber o sentido de visão e que a palavra Ike tem um significado verdadeiro para nós, por sentirmos através dela o significado de  “o meu mundo é o que eu penso que ele é”. É como  uma sacralização intelectual de uma palavra que nos orienta na criação de uma conserva cultural enriquecida pelo conhecimento que é ainda a intelectualização de tudo que aprendemos e praticamos, graças à dinâmica do Talento Visão, do qual, só somos capazes de ter uma percepção  pelos efeitos do desenvolvimento do sonho básico de vida. atingindo este estado de vivência somos capazes entender que não mais poderemos enterrar o talento que nos foi dado, mas sim guarda-lo e devolver ao Senhor reconhecendo nossa ignorância e dizendo que graças às lições aprendidas por Ele na próxima reencarnação formaremos um sbv que nos conduza à possibilidade de mudança de valores, pelo entendimento do desafio ignorância e suas conseqüências.

Essa clareza permite ao aumakua nos dar instantes que são despertados por memórias criadoras de novos pensamentos, com um pensar de um novo ike que nos impulsiona para novas vivências, as quais, nos faz sentir que a roda dos princípios, pelo talento visão criou uma possibilidade de crescer para um novo ciclo de desenvolvimento nos conduzindo para uma nova fase, onde esbarramos com um novo desafio a vencer neste sbv ou em outro, numa nova reencarnação. Essa percepção nos faz sentir que agora estamos vivenciando o ciclo da LIMITAÇÃO, não como fruto do desafio IGNORÂNCIA, mas como fruto de um crescimento, para a vivência do segundo desafio do Princípio KALA do xamanismo havaiano, ensinado pela psicofilosofia Huna

Sebastião de Melo