Nota introdutória
Dos estudos de Max Freedom Long, sobre a Prece-Ação, base de todas as práticas da Psicofilosofia Huna, Dr. Sebastião de Melo, do Grupo Pirâmide de Santos desenvolveu reflexões e estudos de aprofundamento sobre o significado da Prece-Ação, sua prática e o que ela encerra, relacionando todo esse processo com os Princípios Xamânicos. Síntese aplicada dos ensinamentos de Max Freedom Long, Serge K. King e Sebastião de Melo.
A seguir a íntegra do artigo Prece-Ação de Sebastião de Melo.
Descrição da Figura:
1 - Cordões da energia mana-loa[1], irradiados de Po[2].
2 – Aumakua[3] (em amarelo) com sua mana-loa, que é composta de mana[4] transformada, recebida das fontes: unihipili[5] e Po.
3 - Cordão-aka[6] carregado de mana, vinda do unihipili, conduzindo a imagem cristalizada pelo uhane[7] na formulação da Prece-Ação. Essa mana-energia é transformada pelo aumakua em mana-loa; a resposta é uma chuva de bênçãos que cai sobre quem recebe os efeitos da Prece-Ação.
3A - As linhas pontilhadas são memórias vindas do unihipili e que transformadas em pensamentos vão se incorporando ao cordão-aka principal para que se consiga um só pensamento, que é o pedido feito transformado numa imagem-pensamento no agora/aqui.
4 - Unihipili - sobrecarregado de mana vinda pelo cordão-aka principal, como resultado da cristalização da imagem criada pelo pensamento dirigido, na formulação da Prece-Ação.
Através dele, o cordão-aka da Prece-Ação penetra no aumakua, transformando a mana-prece em mana-loa. Uma vez feita essa transformação, o aumakua enviá-la-á ao unihipili do receptor que as grava como um novo conteúdo; a resposta é o resultado do pedido de acordo com o sonho básico de vida do receptor; seus efeitos podem vir para o uhane, através do unihipili ou diretamente do aumakua e a pessoa sente, mental e fisicamente, as sensações em um estado diferente, se a prece foi atendida.
5 – Os vários fios-aka surgidos dos pensamentos, durante a fase preparatória da Prece-Ação, inicialmente são tênues, e às vezes, de pouca intensidade pela falta de focalização da atenção durante o pedido. Vão se concentrando e centralizando, até se transformar em apenas um só e forte cordão-aka. Nesse momento, o uhane encerra sua função diretiva na Prece-Ação, passando ao unihipili, a responsabilidade de exercer contato com o aumakua, a fim de que se realize o desejado.
No início pode ser uma opinião (mana’o), evoluindo para uma atitude (kuana), chegando-se à fé assumida sem dúvida (paulele), que conduz a uma crença inabalável. A intensidade do resultado depende de qual dessas situações é a responsável pela imagem cristalizada no agora/aqui.
6 – Prece-Ação - Está na base do desenho por ser a parte inicial da Prece-Ação, quando a o uhane atua elaborando o pensamento que focalizado sem dúvida, forma a imagem cristalizada no agora/aqui, que será enviada ao unihipili. As condições primordiais para formar a figura acima é a importância que se dá ao pedido e a intenção com que é feito.
A figura pode ser a forma inicial para desenvolver um entendimento sobre o funcionamento dos fundamentos teóricos da Huna[8]; é a oportunidade de desenvolver a criatividade através de uma figura que cada um vai desenvolver de acordo com seu sonho básico de vida e sentir que tudo é possível, desde que realmente se acredite no que está fazendo, e quando coloca seu potencial criativo em ação; isso pode lhe dar respostas surpreendentes, inclusive não sentir nada em relação à figura que estamos descrevendo. Pode dar a quem se dedica à prece-Ação uma visão de que existem várias maneiras de se fazer as coisas, e que orar é uma forte forma de transformação.
De acordo com seu desenvolvimento, divide-se a Prece-Ação em quatro fases:
Nas condições atuais de crescimento do sonho básico é primordial que se faça antes de iniciar propriamente a Prece-Ação, um bom relaxamento usando-se a respiração num ritmo adequado. Isso facilita a realização da primeira fase, principalmente a formação dos fios-aka, que vão surgindo e se dirigindo da periferia para o centro (veja figura acima), o que culmina com a formação do cordão-aka principal, responsável pela condução da imagem cristalizada carregada de mana em forma de energia fluidificada (segundo Max Freedom Long).
Após o relaxamento, ao iniciar a Prece-Ação segue-se a seguinte ordem:
a - A parte inicial efetuada pelo uhane é a formulação do pedido. Será repetido até se conseguir cristalizar no agora/aqui a imagem desejada. Essa focalização induz a um estado alterado de percepção, do qual, dependerá um resultado eficaz. O pensamento básico invocado continua focalizado durante todo o tempo da formulação da prece.
b - A segunda fase deve ser iniciada após um intervalo em que se faz cerca de quatro respirações profundas, num ritmo pessoal. Caracteriza-se pela predominância do estado alterado de percepção; aos poucos o unihipili passa a comandar a situação e a focalização se transforma de consciente em subconsciente, não mais havendo a interferência do uhane.
A partir desse instante a emissão dos sons vindos de palavras adequadas à situação sustenta a continuidade da Prece-Ação, favorecendo o contato do unihipili com o aumakua.
Pronunciam-se palavras cujos sons impressionem o unihipili, que grava o pedido pelos símbolos que elas representam nas diversas fases da prece.
A focalização, que agora é fruto de uma percepção subconsciente, se mantém pela audição do som transmitido pelas palavras, que são repetidas quatro vezes, num ritual que com o tempo torna-se fácil e acaba com as dúvidas e dispersões.
Algumas palavras requerem respiração adequada, para que se atinja os objetivos desejados, dentre eles, uma maior sobrecarga de mana pelo unihipili, o que ajuda a preparar as energias que conduzirão ao aumakua, a imagem cristalizada.
A palavra Ha[9] sempre é acompanhada de uma respiração profunda e completa tanto na Prece-Ação, como em qualquer outra situação, assim como em outras palavras ou frases que contenham o Ha, como em “Ho’o i Ha i Ha”[10].
Outras palavras são facilitadoras da comunicação entre unihipili e aumakua, na transmissão da energia que circula no cordão-aka de ligação, o prolongamento do kino-aka[11] do unihipili do transmissor para o receptor. Quanto mais intenso for o relaxamento, mais facilidade haverá para que se mantenha um profundo estado alterado de percepção, dificultando a interferência do uhane, que sempre é dispersivo.
Para que tudo aconteça, a imagem cristalizada deverá estar memorizada no unihipili do transmissor, que se encarregará da ligação com aumakua, para se atingir a cura.
Uma vez de posse da imagem, o aumakua a conduzirá; este é o objetivo da Prece-Ação. A segunda fase compõe-se de quatro partes pertencentes ao unihipili, e a última está ligada também ao aumakua.
c - Numa terceira fase, propriedade do aumakua, a ligação com o unihipili permanece, e dá continuidade à prece; estabelece-se contato com o unihipili e o aumakua do receptor, e a imagem cristalizada é conduzida e transformada em fluxo de mana-loa, pelo aumakua.
A fé do transmissor, ao aceitar tudo que acontece sem nenhuma dúvida, propicia sua permanência no estado alterado de percepção, facilitando a ação do aumakua de ambos.
A fé do receptor contribui para que o uhane se conscientize da situação e possa agradecer os bons resultados, sentindo a mudança e a cura, o motivo real da Prece-Ação. Isso também pode se conseguir sem que o receptor tenha fé, e mesmo quando não tem conhecimento do que está sendo feito.
d - Numa quarta fase, os aumakuas do transmissor e do receptor atuam, distribuindo a chuva de bênçãos, com a ajuda de outros aumakuas (Poe aumakua[12] - assembléia de aumakuas). É um estado de Aloha[13], um dos Princípios do xamanismo havaiano.
Termina-se a Prece-Ação com um agradecimento, geralmente usando-se a palavra havaiana amama[14], que significa “assim seja, muito obrigado, etc”.
A Prece-Ação pode ser feita por uma só pessoa ou por um grupo. Após a prece, faz-se uma recarga de mana, voltando-se a respirar lentamente por algumas vezes, como foi feito no início da fase “b”, para se evitar um desgaste físico.
A Prece-Ação está concretizada e seus efeitos são o resultado da fase inicial; se houve na formulação da prece, uma fé sem dúvida (paulele)[15], a prece terá pleno êxito, e, se não houver, o resultado virá de acordo com a intensidade do cordão-aka principal e da imagem cristalizada. A falta de resultado é conseqüência da não formação do cordão-aka principal, quando a crença não foi suficiente para se atingir um pensamento único dirigido, que saísse da dispersão das idéias, para a atenção focalizada, que leva à concentração e ao sentir do Princípio Ike[16].
Essa é uma das razões pela qual se deve fazer sempre a Prece-Ação, visando um único objetivo, isto é, formular um só pedido para cada Prece-Ação, a não ser, nos casos especiais de cura telepática à distância. Deve-se evitar fazer uma segunda prece, logo em seguida à primeira.
Considerações:
O que verdadeiramente se chama de mudança ou transformação é a quebra de conceitos, valores éticos e morais, modificando ou perdendo padrões, o que acontece com a reformulação das memórias que dá a oportunidade de se descobrir uma nova forma de sentir, pensar, agir e sonhar. A mudança é fruto da descoberta de novos padrões, que de agora em diante vão orientar o indivíduo em suas ações, criando novos comportamentos, retirando de sua memória genética programada e aprendida as situações trazidas, as quais, agora, experienciadas de forma diferente, vão desativar ou fazer desaparecer cordões-aka que transportavam lembranças que provocavam as desarmonias, causas de doenças e situações mentais prejudiciais. Cria novos cordões ou acrescenta aos antigos agora reformulados, novos padrões formados de novos valores e lembranças modificadas, interpretadas de modo diferente por uma análise criativa e algumas vezes pela reflexão paralela. Tudo isso é possível, por crermos que a vida atual é um “sonho básico” e que podemos acrescentar novos sonhos a esse sonho básico, a ponto de se ter condições de sonhar através de novos valores e padrões. Pode-se conseguir essa transformação por meio da Prece-Ação contínua, quando ela já é parte integrante de nossas vivências e já se está tão familiarizado com ela, que não mais existe qualquer dúvida sobre seus resultados.
Os padrões comuns que se traz no sonho básico de vida estão dirigidos no sentido do pensar para sentir, o que resulta em analisar criticamente as situações surgidas procurando-se entendê-las sempre com os mesmos conceitos e valores; enriquecendo-se esses padrões, adquire-se mais conhecimentos, os quais são introjetados, através da função intelectual.
Simbolicamente, estamos dizendo que está se preparando um novo sonho básico, para uma outra vida, baseado no acréscimo de conhecimentos, sentimentos e vivências emocionais, dentro dos mesmos padrões da memória genética programada e aprendida; isso não é mudança e sim, a soma de novos pensamentos, idéias, imaginações, conhecimentos e desenvolvimento de valores, que farão crescer os padrões do sonho básico de vida, mantendo e desenvolvendo a conserva cultural, com o enriquecimento intelectual.
O padrão atual estruturado no aqui/agora, Padrão A[17], atende ao sonho básico de vida e pode ser expresso da seguinte maneira: Pensar à sentir à agir à analisar à adquirir conhecimento e memorizar. Para isso, a interpretação é feita por análise crítica, com as pesquisas e julgamentos que tendem a acompanhar a ciência clássica com seus dogmas, e segue os ditames do intelecto.
A mudança de padrão requer reformulação, que surge do fator espontaneidade que promove a criatividade, quando a vontade é impulsionada por uma nova linguagem, a da intuição[18]. Intuição é um processo diferente; é uma percepção inconsciente que começa e termina na alma; é a linguagem que traz a realidade para a imagem manifestada; abrange a situação em sua totalidade, desde o momento em que surge a criatividade, até a resolução, que é o aparecimento do fato de maneira diferente, reformulado num só e instantâneo ato, por ação harmônica dos três eus. A experiência mostra que, aos poucos, vai-se buscando nas memórias do sonho básico de vida, as imagens gravadas que serão conduzidas pelos cordões-aka e transformadas em pensamentos advindos de um sentir harmonizado pela ação do aumakua, que derrama suas bênçãos; cria assim um novo padrão adquirido pelas experiências do aqui/agora e que permite penetrar no agora/aqui e vivenciar as ações, num novo sonhar que desenvolve um novo viver. Isso tudo se dá no presente, único tempo que existe e é na vivência deste aqui/agora e agora/aqui, que acontecem as ações.
A Prece-Ação é possivelmente, o modo mais prático e rápido de se conseguir essas reformulações e transformações, pois ela desperta a vontade firme de se permanecer num crescimento contínuo, sendo o possível início de um novo caminho que conduz ao crescimento espiritual que é a fase de preparação para a evolução.
Passa-se do critério analítico crítico para o da análise criativa e uma nova avaliação; da solução pelo pensamento, para a solução pela reflexão, fruto da inspiração e da intuição, mãe da compreensão, antítese do julgamento.
A forma de vivência agora é: Sentir à pensar à avaliar à refletir à agir à compreender à adquirir conhecimentos de maneira reformulada e memorizá-los, desativando memórias de fixações e fazendo desaparecer memórias que não mais têm razão de continuar nos futuros sonhos básicos de outras vidas. Assim, está se diferenciando o conteúdo dos valores do atual sonho básico de vida que passa a jorrar com mais facilidade para dentro da viagem desta vida, que está reformulada pelos novos padrões (Padrão A1/A)[19], desenvolvendo e crescendo esse novo ser. O resultado é a possibilidade de se começar a fazer a reflexão paralela, quando se pode retirar do conhecimento do sonho básico atual, dados que permitirão aumentar um novo sonhar, um novo sentir e uma nova imaginação, ideação e pensamentos no aqui/agora; assim cresce em harmonia e tranqüilidade, criando oportunidade para que se sinta e compreenda os Sete Princípios Básicos do Xamanismo Havaiano, parte prática da Psicofilosofia Huna. Passa-se a viver na bênção de Aloha, quando se torna possível a integral comunicação pela Prece-Ação. Agora são preces com um sentido de verdadeiras revelações divinas vindas de um aumakua que está conduzindo de volta ao seio da teia-aka[20], a pessoa que ilusoriamente se sentia afastada dela.
Em princípio, acredita-se que esse padrão básico reformulado que modificará o viver, existe na memória genética programada em estado potencial, razão porque se torna possível seu aparecimento e desenvolvimento. Se “a vida é um sonho”, essa é a oportunidade de começar a sonhar de maneira diferente, desenvolvendo o padrão emergente. O verde na figura da prece-ação simboliza o “Princípio Aloha”, indicando que é uma bênção criada, com condições para receber os benefícios da Prece-Ação, que ajudou a despertar e visualizar esse potencial divino que existe dentro de cada ser.
Geralmente, se tem dificuldade na elaboração e concretização da Prece-Ação por faltarem determinados requisitos, sem os quais, não se consegue o resultado desejado. O resultado depende de como se formula a prece, propriedade do uhane, responsável pelo pensamento elaborado, e pela intensidade do mesmo, de acordo com a atenção focalizada, para a formação da imagem cristalizada que será enviada ao receptor.
Inicialmente, é comum a dispersão do pensamento, não se conseguindo um grau de concentração compatível com as necessidades, por surgirem simultaneamente vários pensamentos, por mais que se esforce para que isso não aconteça. Com a persistência, pode-se atingir um grau de focalização tal, que permita chegar-se a um único pensamento, ocasião em que toda ação do uhane está realmente dirigida para a prece; é o pensamento que conduz à fé assumida (paulele) para o unihipili e que cria uma crença sem dúvida, que nada mais é do que um pensamento único, intenso e focalizado num só sentido. A repetição desta formulação faz com que se firme o pensamento, até se conseguir cristalizar a imagem, que passa a ser uma realidade no agora/aqui. Em tal condição, surge um estado alterado de percepção que permite a prática de um ato de fé.
O que provocaria essa dificuldade, que faz com que não se consiga o resultado esperado, apesar de todos os conhecimentos que se possa ter sobre o assunto?
Em nosso artigo “Aqui/Agora e Agora/Aqui”, procuramos mostrar a diferença existente entre essas duas situações ligadas ao espaço/tempo. Lembrem-se de que o cunho prático do que formulamos no artigo, é a necessidade de reformulações internas, algo que dê condições de realmente se crer no que se está pensando e falando, quando se elabora a Prece-Ação.
Quando se faz um pedido nas preces, ele sempre é fruto de uma necessidade, quer esteja diretamente ligada a nós ou a quem se deseja um bem e que seja importante para nós; se assim não for é difícil uma motivação para se conseguir um grau de focalização da atenção, que leve à cristalização do pensamento e formação de imagens no agora/aqui. Se o pedido se refere à cura de uma doença, é verdadeiramente difícil de pensar no portador da doença como uma pessoa que esteja bem, física, mental e espiritualmente, no mesmo instante em que se está pedindo sua cura, por ele estar doente.
Isso parece ser uma situação paradoxal: É pensar desejando-se algo positivamente, ao mesmo tempo em que se afirma que esse desejo já é um ato consumado; isto é, a pessoa por quem se está orando, já está curada. Como podem duas situações estar acontecendo, ao mesmo tempo e no mesmo espaço/tempo? Como pode alguém estar doente e ao mesmo tempo, afirmar-se que está sadio? Parece contraditória a situação, quando se usa a maneira comum de raciocinar e pensar; em relação a tempo e espaço. Em Huna só se pensa no presente e o aqui/agora e o agora/aqui formam o presente, por estar no mesmo espaço/tempo. Fazemos essa separação por pensar geralmente que o passado é uma realidade, assim como o futuro, quando o passado não passa de uma simples lembrança e o futuro uma possibilidade, não sendo assim, realidades. Contradição existe por se estar no primeiro nível do pensamento humano, onde se atua com o sonho básico de vida (definição Huna para vida), que é o sonho responsável pela vida atual geneticamente programada. Muitas vezes, conseguem-se bons resultados nas preces, mesmo sem a fé sem dúvidas (paulele) e a convicção de só existir o presente, principalmente, quando é o sofrimento que leva à prece, quando a situação é muito intensa e sumamente angustiante o que forçosamente provoca uma fé que desperta uma crença.
Nessas situações, o sentimento e a sensação de dor falam mais alto que qualquer raciocínio ou teoria, até que se consiga ficar livre daquilo que está molestando. Quando se volta à rotina da vida, desvaloriza-se o acontecido e busca-se novos pensamentos que justifiquem o que se conseguiu na Prece-Ação, com explicações racionais ou pelas buscas científicas. Tudo é muito lógico e explicável, até que outra nova e semelhante situação surja; aí, apela-se novamente para qualquer tipo de fé, mas geralmente, não mais se consegue resultados semelhantes ao anterior, por já estar gravado na memória, dúvidas, que muitas vezes, reforçam os comportamentos antigos, conservando princípios, valores, conceitos éticos, religiosos e morais, que não permitem as mudanças necessárias para a cura. Busca-se então, na adaptação social, na conformação com o sofrimento, uma tranqüilidade para as vivências, enriquecendo os antigos padrões, que são os modelos vigentes nessa viagem da vida, impedindo assim, as transformações reais que conduzem às perdas das ilusões transitórias das manifestações da vida.
Nessas situações é comum filiar-se a alguma doutrina religiosa, que não exija realmente mudanças internas profundas, mas ações filantrópicas constantes, na tentativa de diminuir as culpas e medos, o que se faz como agradecimento pelo milagre conseguido ou a se conseguir. Isso é crescimento, mas não mudança.
O amor, no sentido do Princípio Aloha é o desapego, tônica das mudanças, que não só age no comportamento, como ainda conduz para o caminho da interiorização, modificando o pensar, percebendo os defeitos e mostrando as culpas e medos que bloqueiam as ações para os atos reais da vida. Essa percepção favorece a Prece-Ação, proporcionando resultados efetivos, aumentando a crença e contribuindo para o desenvolvimento das práticas ensinadas pelos “princípios xamânicos havaianos”.
A análise leva ao sentimento de se estar livre das “tentações e dos demônios”, mas as ações mostram que continuar cometendo erros semelhantes aos anteriormente praticados, conduz à dúvida, com a sensação de que nada melhorou e que não houve crescimento. Isso, no entanto, não quer dizer que as reformulações não estejam ocorrendo e não deve servir de motivo para o desânimo e a inércia que nos faz permanecer nos padrões vigentes. Deve ser um incentivo para a prática de mais ações que ajudem a continuar caminhando rumo à meta principal da vida, até se conseguir a reflexão que conduz à aquisição da fé sem dúvida, que auxilia na mudança do pensar, agir e sentir. Apesar de persistirem falhas, devemos insistir no desejo de reformulações, praticando ações, memorizando novas lembranças e modificando outras, atuando com julgamentos menos severos, diminuindo culpas, fugindo das preocupações do imediatismo de nossa cultura, que busca resultados no aqui/agora e neste instante. Esse é um dos pontos que parece tornar contraditória e difícil a realização da Prece-Ação.
O que fazer para não se ficar sem ação e longe das mudanças interiores? Deve-se procurar algum sistema de ensino que mostre como se pode mudar e que satisfaça com explicações os novos conhecimentos? Isso facilita as transformações pelas ações, perdendo-se as fixações, que se traz geneticamente e as que se cria no aprendizado da vida, impedindo o crescimento? É possível que se consiga dessa forma, um conhecimento que conduza a uma crença que contribua para o desenvolvimento e faça sentir o valor da oração, como fator de transformação interior, facilitando o crescimento e posteriormente a evolução?
A explicação que encontramos para a Prece-Ação está na crença de existir um agora/aqui, onde e quando tudo acontece simultaneamente com o aqui/agora, usando-se os conceitos Huna de tempo e espaço simultâneos, para se conseguir situar no presente, onde tudo o que acontece é fruto das ações. Não é um jogo de palavras, mas algo para se pensar com mais profundidade.
O agora/aqui está fora da percepção sensorial, que capta as sensações e estímulos do tempo presente, dando a percepção consciente, mas não a do futuro próximo, que é simultâneo com o presente; no entanto, depende de uma outra percepção, a intuição; ela faz parte do subconsciente; é outro tipo de percepção que desperta novas maneiras de pensar e sentir; é uma outra linguagem que procede do aumakua mostrando em frações de segundos, às vezes, situações vividas ou que podem ser vividas, o que provoca mudanças de valores e padrões. Está numa freqüência vibratória temporal de outro teor, que só se consegue perceber nos estados alterados de percepção e às vezes, de consciência, ou pela intuição (percepção subconsciente), quando entra em ação a essência do unihipili e não sua imagem corporal – kino -, seu modelo físico, projetado geneticamente para essa viagem como um sonho básico de vida.
O agora/aqui está em Po, fazendo parte do invisível que há em nós e no todo. Está em Po a essência dos três espíritos o que permite o acesso direto às informações gravadas nas memórias genéticas programadas e aprendidas[21].
Quando se ouve uma música, inicialmente concentra-se na melodia e/ou na letra ou no som dos instrumentos, com seus tons característicos. O pensamento vai tomando formas que penetram em nós, até que em determinado instante, perde-se a concentração na música e passa-se a um estado em que se sente mais do que observa, quando está envolvido e enlevado pela “situação musical”; ela conduz à essência da música, por já estar em um estado alterado de percepção; isso permite até sentir-se como sendo a própria música. Nesse estado, a percepção sensorial é acrescida e envolvida por outra extra-sensorial (no sentido de maior profundidade interior), quando surgem as imagens que vão se desenvolvendo, cristalizando e elevando as vibrações para espaços/tempos diferentes dos comumente percebidos pelos sentidos corporais. Essa situação traz paz, aquietação e tranqüilidade, ou emoções outras, bem diferentes, de acordo com a música que se está ouvindo e sendo penetrado por ela, o que conduz às mais variadas e diversas sensações, emoções e novos comportamentos, tanto individuais como coletivos.
Enlevado pela música, pode-se penetrar no agora/aqui, transformando-o em um aqui/agora diferente e modificado pelas sensações sentidas por rápidos instantes, que são verdadeiras revelações que transformam e curam ou fazem surgir novas sensações e emoções, aumentando seu valor no aqui/agora. As sensações, no primeiro caso, são feitas de fé com Mana pura, vinda do Poder Divino, que está em cada um e pode ser despertado a qualquer instante, desde que se determine com certeza (paulele) que acontecerão, pois sente e presencia um “momento” (insight). Essa percepção pode ser conseguida com treino e persistência através da Prece-Ação; são ações harmônicas do ser em estado de Aloha, em Manawa[22] dando a medida da eficácia de Pono.
A Prece-Ação é um estado de graça obtido pela harmonia e alinhamento dos três eus, no ser trino futuro, despertado no momento da percepção do agora/aqui.
São às vezes, milésimos de segundos, cujas situações e condições de vivência provocam mudanças, com a “permissão” do Princípio Mana. São as ocasiões em que se cura os outros e conseqüentemente se auto-cura e juntos, curam o mundo.
Nesse novo aqui/agora surgido, houve regeneração, seja no sentido físico, econômico, mental, afetivo e principalmente religioso, o que dá uma percepção diferente das anteriores, facilitando Makia (a energia segue o fluxo do pensamento).
A experiência da percepção do agora/aqui é pessoal e suas conseqüências só podem ser medidas por aquele que as vivenciou. Ela forma seu mais novo aqui/agora e pode propiciar mudanças profundas e duradouras no indivíduo.
A fé sem dúvidas (paulele), produz a crença com pensamento que é a porta de entrada do agora/aqui, por ser energia e poder divinos canalizados numa ação transformadora e benéfica. Como se é penetrado pela música que leva ao agora/aqui, assim também, pode-se ser penetrado pelo pensamento formulado na Prece-Ação, quando se deixa conduzir para o agora/aqui da prece. Isso é ação divina dentro de cada um; é o que Jesus possivelmente quis dizer na frase: - “Eu e o Pai somos Um, assim como vocês e Eu também poderemos ser um”. É a permissão para visão clara, talento de Ike, na presença, talento de Manawa, que é esclarecimento[23], talento de Kala[24].
É na compreensão da mitologia, que se consegue perceber com mais facilidade como penetrar no agora/aqui, dando a oportunidade de se viver em Po, estando no aqui/agora que é Ao[25], desde que se permita ser conduzido para estados alterados de percepção e consciência, onde o pensamento não é mais ideação e raciocínio colhidos da percepção dos sentidos corporais, mas percepção intuitiva, vinda da essência do unihipili e aumakua que estão em Po. Na Prece-Ação só se consegue a satisfação de um desejo formulado, quando o pensamento dirigido que engloba esse desejo, não estiver mais sendo pensado no aqui/agora.
O presente do aqui/agora é concreto e formado pela “conserva cultural”[26] (todo o conhecimento do passado até o presente), que impede muitas vezes as mudanças necessárias para o crescimento individual, dentro de um novo contexto social e atrapalha o desenvolvimento da Prece-Ação; bloqueia intelectualmente a espontaneidade que estimula a focalização, fator criador da imagem desejada. O ser humano é mantido em Ao no aqui/agora, pela conserva cultural, impedindo que se vivencie naturalmente estados alterados de percepção que conduzam a novas vivências de uma realidade diferente, no invisível Po, onde está realmente o centro da consciência.
O presente do agora/aqui é sonho de uma situação invisível e conduz a uma nova vida, reformulada por pensamentos vindos de sensações captadas por percepções intuitivas; estão fora dos sentidos corporais e recebemos e sentimos, quando nos entregamos integralmente ao formulado como desejo, o qual está carregado de mana, que o cristaliza e transforma em realidade, como fruto da Prece-Ação. São captadas pela percepção da essência do unihipili e aumakua, que estão em Po, como dissemos acima.
Quando se consegue sentir e pensar, focalizado no agora/aqui, já se está pronto para receber as bênçãos da Prece-Ação, num estado de Aloha e haverá a transmissão ao receptor. Nessa situação, deixa de haver condição paradoxal na formulação da prece-ação, pois se está focalizado no agora/aqui do pedido, que é um fato novo acontecendo no agora/aqui, sob os auspícios do aumakua, que transforma a situação existente em aqui/agora nascente.
É como pensar que o futuro “agora” está acontecendo sobre um presente “aqui” que deixou de ser realidade, por já pertencer ao “passado” que é uma lembrança e por isso, não tem mais ação, sendo o mais novo fato da conserva cultural e o mais recente aqui/agora da pessoa; é um novo Ike. A inclusão dessa descrição nesse artigo tem a finalidade de provocar pensamentos novos que possam conduzir à reavaliação de valores e conceitos, adquirindo-se novos padrões que ajudem a chegar a uma maior compreensão de si mesmo, trazendo mais tranqüilidade e paz à vida de cada um; essa é a razão de repetirmos alguns conceitos e sugestões neste artigo.
Tudo se resume em aceitar que “o mundo é aquilo que você pensa que ele é” – Ike -, com a fé de que seu poder é ilimitado – Kala -, sabendo-se que o fluxo da energia segue o curso do pensamento - Makia (3º Princípio: A energia segue o fluxo do pensamento) -, por ser o seu momento de poder aqui/agora – Manawa -, o que contribui para o despertar de – Aloha -, bênção da vivê;ncia do amor compartilhado, o que se tornou possível pela permissão (atributo ou talento do Princípio Mana) que é dada pelo Princípio – Mana (6º Princípio:Todo poder vem de dentro), - que com sua energia divina conscientiza a realidade pela percepção intuitiva, que pode transformar todos os seres humanos em tecelões de sonhos de novos sonhares, com a capacidade de buscar e realizar ações, compreendendo que só a medida da verdade pela eficácia, Princípio Pono, oferece mudanças verdadeiras, conscientizando a todos de que não há mais separação nem individualidade, mas integração na rede universal, a teia-aka da Psicofilosofia Huna, no retorno à condição de Crianças de Tane, agora repletas de experiências.
Sebastião de Melo
[1] Mana-loa - Energia do Aumakua.
[2] Po – mundo invisível celestial e espiritual.
[3] Aumakua – Eu Superior, assemelha-se ao superconsciente da Psicologia.
[4] Mana – Energia vital.
[5] Unihipili – Eu básico, assemelha-se ao subconsciente da Psicologia.
[6] Cordão-aka – Condutor de mana.
[7] Uhane – Eu médio; o espírito que pensa e fala; assemelha-se ao consciente da Psicologia.
[8] Huna – Psicofilosofia transmitida pelos mestres kahunas. Significa “o segredo”.
[9] Ha – Respiração, vida pela respiração, nº 4 em havaiano. Quatro também é o símbolo daTerra. Nba Prece-Ação é a sobrecarga de mana para o transmissor.
[10] Ho’o i Ha i Ha – Na Prece-Ação é o envio de Cordões-aka pelo unihipili para o Aumakua.
[11] Kino-Aka – Corpo etérico, invisível de cada espírito do ser humano.
[12] Poe Aumakua – Assembléia de Aumakuas.
[13] Aloha – 5º Princípio do Xamanismo Havaiano: “AMAR É COMPORTILHAR COM....”. Saudação de boas vindas.
[14] Amama – Agradecimento: Muito obrigado, assim seja, etc....
[15] Paulele - Fé sem dúvida.
[16] Ike – 1º Princípio do Xamanismo Havaiano: “O mundo é o que eu penso que ele é”. Cada instante vivido é um ike.
[17] Padrão A – Primeiro padrão do sonho básico de vida que tem como linguagem a análise crítica. Vide artigo “Padrões e seu desenvolvimento” do mesmo autor
[18] Intuição – Linguagem inconsciente e real que começa e termina na alma no momento que surgiu. É o que em psicologia poderíamos chamar de “insight”.
[19] Padrão A1/A – Segundo padrão do sonho básico de vida após seu desenvolvimento pelas experiências, o que contribui para seu crescimento espiritual. A linguagem passa de análise crítica, para análise criativa.
[20] Teia-Aka – O universo em seu todo, sem separações.
[21]Memórias genéticas programadas – Formam-se em Po constituindo o sonho básico de vida da próxima reencarnação.
Memórias aprendidas ou experienciais - Memórias formadas pelas ações físicas e mentais do dia a dia na atual vida.
[22] Manawa – 4º Princípio do Xamanismo Havaiano: “Seu momento de poder é agora”.
[23] Esclarecimento – Atributo ou talento do segundo Princípio do Xamanismo Havaiano.
[24] Kala – 2º Princípio - Não há limites.
[25] Ao – O mundo terrestre; mundo das manifestações.
[26] Conserva cultural – Todo conhecimento humano até o aqui/agora atual. Termo empregado por Moreno em Psicodrama e sociometria.