Quebra-Cabeça

 

 

A Huna é um quebra-cabeça muito bem feito por mestres de grande compreensão espiritual. Quando se adquire um quebra-cabeça aparece na capa ou nas instruções uma figura do que tem de ser montado. Uma vez fixada a figura, distribui-se aleatoriamente as peças para que aos poucos vá se encontrando o lugar de cada uma.

O primeiro passo na Huna é desmontar a figura do jogo, espalhar tudo e começar a reconstituir com a imagem gravada em sua memória. Isso requer pensar de várias maneiras tentando encontrar o local de cada peça. Quando se consegue montar e forma-se a figura tem-se uma emoção grande por ter sido capaz de conseguir juntar pedaços e formar o todo. Para se fazer tudo isso o que mudou na pessoa? Houve somente a repetição de algo pré-fabricado para desenvolver a memória. No final, não se cria nada, mas absorve-se um novo conhecimento que vai enriquecer nossos conhecimentos. A vontade é de dizer a muita gente que deveriam também montar o quebra-cabeça porque isso traz muita satisfação.

  O que a Huna pede é que após montar inúmeros quebra-cabeças, um dia se tenha um lampejo, e que se pense que o que se aprendeu não mudou realmente nada na maneira de ser, mas serviu para que se aprendesse que há outras maneiras de se fazer as coisas, sem serem copiadas dos padrões vigentes, responsáveis pela conservação dos costumes e hábitos. São estes lampejos que provocam reações internas e promovem ações diferentes que mudam os valores, os quais, eram a causa de respostas que satisfaziam essencialmente o ego.

A Huna nos ensina que tudo vem através das ações diárias que vão aos poucos ensinando como reformular memórias que estão mantendo os velhos padrões. Sempre se quer ver o resultado do que se aprende, para se aplicar nas inúmeras necessidades, sejam de que teor for; no entanto, não se pensa que só é verdadeiro em termos de crescimento, aquilo que provocou mudanças na maneira de se pensar e sentir, o que dá a percepção de novas dimensões no viver. O que sempre se quer é que se possa transformar em fatos o que se lê e aprende intelectualmente, como se isso fosse a resolução para um desenvolvimento espiritual.

A Huna tem como maior princípio, não ferir a si mesmo e aos outros. Quando não existe realmente uma mudança nos valores e padrões, está se ferindo princípios que são geralmente as colunas de sustentação do comportamento individual no social, o que pode causar transtornos. O difícil é aliar o intelectualizado com a prática. A dificuldade reside essencialmente na falta de reformulação das memórias. Isso leva a pensar e a sentir que não há necessidade urgente de um entendimento novo que leve a resultados positivos; a fé adquirida ainda é muito pequena para essa percepção.

Creio que a verdadeira prática é conseqüência da percepção de uma nova e diferente crença onde não há mais dúvidas, e, por isso, não existe mais porquês a serem respondidos, o que se percebe após longa vivência com o aprendizado Huna.

Quem é tocado pela Huna percebe o início de uma diferenciação no sentir, pensar e agir; é uma condição que surge natural e espontaneamente pela aquisição da fé sem dúvida. Essa fé não depende de malabarismos intelectuais feitos com base no que se tinha como verdade, mas sim na vontade inabalável de querer crescer entendendo que, para isso têm as ações de ser provocadas por pensamentos vindos de memórias reformuladas que promovem novos pensamentos numa forma diferente de pensar daquela que se estava acostumado; é como pegar peça por peça e procurar encaixar em seus devidos lugares, mas com um novo quebra-cabeça feito com as memórias reformuladas criando peças diferentes das que já conhecíamos.

Como iniciar todo este aprendizado? Estudando e aprendendo a esperar os momentos que propiciam um novo despertar. Até lá, procure ter a paciência de adquirir um novo aprendizado que irá mudar lentamente as crenças, sem mudar com rapidez o que até então eram verdades imutáveis, mas que agora podem não mais ser.

Cada peça é um aprendizado e cada quebra-cabeça um sonho básico. Quantos quebra-cabeças têm que se montar para se ter a percepção da dimensão dos desafios dos sete princípios do xamanismo havaiano, base para o crescimento espiritual?

A prática que os ensinamentos Huna proporcionam ao ser humano está na dependência da visão adquirida nos diversos e variados ikes que se experiencia durante toda a vida. A vivência é a perda lenta do desafio ignorância que clareia o talento visão começando o giro da roda da vida em seu desenvolvimento. No início o quebra-cabeça é formado de poucas e simples peças, para que as ações correspondam às possibilidades do sonho básico. Nessa fase a prática é rudimentar e os ikes têm maior permanência pela dificuldade de uma visão clara. Os quebra-cabeças são simples e semelhantes para que a comunidade possa se manter e dar condições de crescimento espiritual (é o homem de um só talento do Evangelho).

Nós aprendizes da Huna estamos tateando na vida com elementos formados por sonhos básicos que não vão além do quebra-cabeça formado por nossas memórias genéticas, peças escondidas nos recônditos de nossos anteriores sonhos básicos.

A prática dos ensinamentos Huna na grande maioria das pessoas ainda está ligada a valores religiosos, morais e sociais arraigados às crenças anteriores e que não foram perdidos, por não haver ainda reformulação de memórias, fruto dos ensinamentos que irão contribuir para um novo entendimento, de onde origina uma fé que leva a novas crenças que são responsáveis pelo bom êxito da prática das técnicas da psicofilosofia Huna.

Aceite o tamanho, a simplicidade ou a complexidade de seu quebra-cabeça; não lute com ele, mas informe-se cada vez mais, para adquirir condições de realmente se beneficiar da paz, harmonia e solidariedade que desperta em cada um esse antigo conhecimento dos kahunas. Com a prática dada naturalmente pela colocação das peças, um dia conseguirá montá-lo, quando sentirá como viver realmente seu sonho básico de vida.

 

Sebastião de Melo

 

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