PROJETO:
UM DIA DE ÍNDIOS NA ESCOLA
Adnir Ramos
Adauto Lúcio Cardoso
José Luiz Guizone
Winni Rio Apa
Maria Gabriela de Souza Martiniano
Sheila Zotelli
Adriana
Este projeto, de caráter executivo, propõe uma intervenção discreta
na aldeia Tekoa Marangatu, município de Imarui, Estado de Santa Catarina, acompanhada de um programa
de educação cultural a ser desenvolvido, prioritariamente, entre os índios
Guarani daquela aldeia e os alunos das escolas da Grande Florianópolis.
O projeto é dito executivo
porque, a partir da necessidade de um programa de assistência social àquela comunidade, iremos, em conjunto com as escolas, valorizar e ajudar a preservar a cultura indígena e suprir algumas necessidades
emergentes na aldeia, além de oportunizar aos estudantes o contato com aspectos culturais e artísticos
dos Guaranis. Não configura, pois, um programa de pesquisa ou um programa pedagógico de maior alcance ou duração. Ao contrário, seus
objetivos são pontuais e específicos.
Evidentemente, a concretização
deste projeto poderá abrir caminho para futuros projetos de pesquisa nas aldeias da região que, a priori, parece extremamente
interessante para as Ciências Sociais (Universidades). Ao mesmo tempo, por suas características
éticas e sociais, pode ser facilmente absorvido por empresas que tenham preocupação
com o exercício da responsabilidade social.
Por estas razões, as intervenções
externas serão mínimas. Apenas pretendemos dar continuidade a um projeto solidário que já está em curso e trazê-los até as escolas para que possam apresentar seus atrativos
culturais e, com isso, arrecadar alimentos e recursos para equipar sua oficina
de trabalho e artesanato.
A intervenção em questão se faz necessária devido a dois fatores distintos,
igualmente importantes. De um lado, há o fato de que, por conta de interferências
dos imigrantes europeus nas Américas, a partir do século XV, os quais invadiram
as terras ocupadas primitivamente
pelos povos indígenas e tornaram
escassas suas reservas naturais, um auxílio social mínimo é indispensável. Por outro lado, tendo em vista
a circunstância como tal etnia encontra-se desamparada, considerou-se fundamental
um programa de educação cultural que, ao expandir a conscientização da população
local (e, eventualmente, regional) em relação ao patrimônio cultural, estimule
a preservação das culturas autóctones de Santa Catarina.
Os objetivos aqui apresentados
sucintamente, são os seguintes:
·
Levar um grupo de índios guaranis da aldeia Tekoa Marangatu para passar um dia por semana em um colégio da Grande Florianópolis, a fim de fazer um intercâmbio cultural com os alunos
das escola;
·
A seguir, um grupo de alunos da escola passaria um dia na aldeia, aprendendo, ensinando e prestando
serviços para a comunidade.
Este intercâmbio tem como finalidade arrecadar alimentos e 1(um)
real por aluno participante, com a finalidade de construir na aldeia um espaço cultural, uma casa de reza, uma sala
para instalar um ambulatório odontológico e comprar ferramentas para fazer
artesanatos, hortas e materiais de apoio ao projeto.
HISTÓRICO
DO PROJETO:
Para comemorar o Solstício
de Inverno do corrente ano e apresentar as pesquisas
sobre arqueoastronomia realizadas em Florianópolis, convidamos o coral dos índios Guaranis da aldeia Tekoa
Marangatu de Imaruí. Ao chegarmos na aldeia constatamos que os membros daquela comunidade estavam vivendo uma pobreza gritante, onde a falta de alimentos, agasalhos e assistência médica eram os problemas mais visíveis.
Fizemos uma palestra pública no auditório das Faculdades
Integradas ASSESC e recolhemos dos alunos e participantes alimentos e agasalhos para doar àquela aldeia. Também recebemos o apoio das Faculdades Integradas
- ASSESC, DAUTUR Turismo, Santa Fé Veículoo, Tractebel Energia S.A., Hospital de Caridade e da Fundação de Saúde
dos Servidores Públicos. Com este evento conseguimos, além de agasalho e alimentos,
um consultório odontológico completo e uma equipe de especialista voluntários
que darão assistência odontológica aos índios periodicamente.
Com o início dessas atividades na aldeia, percebemos que as necessidades foram supridas naquele momento, mas que seria necessário dar continuidade a esse
programa, pois eles continuam precisando de nosso apoio, ajuda, carinho,
afeto e amizade.
Sabemos que não podemos criar uma geração de mendigos. Nosso objetivo é torná-los auto-suficientes, dando a eles condições
de estudo, trabalho e saúde, trazendo-os às escolas, para que professores,
pais e alunos possam conviver um pouco com este povo que guarda a história
do Brasil pré-colonial e, ao mesmo tempo, resgatando sua auto-estima e sua cultura.
JUSTIFICATIVA:
Sabe-se hoje que os índios da tradição Tupi-Guarani são remanescentes de uma importante cultura
que surgiu por volta de 5.000 anos na Amazônia e que adaptou-se perfeitamente
aos ambientes de florestas entrecortadas de cerrado, que ofereciam bons recursos
para a caça e a coleta.
Tal tradição alcançou
considerável complexidade em termos de organização sócio-política e religiosa
(Schmitz, 1991). Pesquisa recente, levada a efeito no litoral sul catarinense, demonstrou como a cultura Tupi-Guarani se estabeleceu nas proximidades de Laguna
– SC, por volta do período neolítico e se integrou a paisagem litorânea (Migliazza
1982).
Por estas razões, os remanescentes
dos índios Guaranis são de fundamental importância para a compreensão das
lendas, ritos e tradições que, encontradas no quotidiano deste povo, prometem
assumir um papel decisivo nos próximos anos, sendo referências raras, mas
essenciais na interpretação dos contextos cerimoniais das sociedades Tupi-Guaranis.
Os poucos sobreviventes
são mestiços incorporados na classe mais baixa de pequenas repúblicas subdesenvolvidas,
ou indígenas dispersos em busca de um projeto que novamente os possa entusiasmar.
(Schmitz 1991).
Um vez que há várias aldeias desamparadas nas proximidades da Grande Florianópolis,
considerou-se que, a priori, devemos prestar assistência social à aldeia
Tekoa Maragattu do município de Imarui e, conforme o sucesso do projeto, estendê-lo às outras aldeias, gradativamente.
Como ali ainda existe
um núcleo cultural homogêneo, considerou-se prioritário a realização de um
projeto de assistência social e educação cultural, capaz de resgatar um pouco da memória Guarani e de suprir
algumas das necessidades emergentes da aldeia, aumentando a qualidade de vida daquela comunidade.
O programa de educação
cultural junto à comunidade é considerado, em si mesmo, essencial e prioritário,
uma vez que se espera ajudar na preservação futura (do que restou) desta
importante nação indígena. Por outro lado, sabe-se que ainda existe uma certa
quantidade de conhecimento dispersos na aldeia e a idéia é, juntamente com os trabalhos de educação
cultural, registrar através da escrita e de áudio visual o saber desse povo,
para produzir livros e documentários de acesso comunitário.
OBJETIVOS
E METAS:
1.
Prestar assistência
social aos índios da aldeia Tekoa Marangatu, atuando para sanar suas necessidades
mais emergentes (alimentos, agasalhos, etc), com recursos captados junto
à sociedade, empresas, instituições de ensino e com os recursos oriundos
da implementação deste projeto;
2.
Valoriza
e resgatar a cultura Guarani, através da construção de benfeitorias na aldeia
(casa de reza, oficina de artesanato, centro cultural, etc) e aquisição de
material para artesanato, agricultura, etc, a fim de criar condições para
um desenvolvimento auto-sustentado daquela comunidade;
3.
Promover
o intercâmbio dos índios com os professores, alunos e pais das escolas da
Grande Florianópolis, através de visitas e atividades desenvolvidas nas escolas
e na aldeia;
4.
Registrar
os cantos, danças, estórias, rituais dos índios Guaranis e disponibilizar
o acervo para pesquisa;
5.
Desenvolver, em paralelo
a estas atividades, um programa de educação cultural principalmente com a
comunidade estudantil, com ênfase dada para palestras, visitas no local da
aldeia e distribuição de material informativo, para a comunidade e escolas;
6.
Ampliação
do programa para outras aldeias.
CRONOGRAMA E EQUIPE
Estima-se que dois dias de atividades com os Índios, em cada escola,
seja o suficiente: um dia de apresentações e oficina
dos índios na escola e outro de prestação de serviço e intercâmbio dos alunos
na aldeia.
Cursos de reciclagem, gravar histórias e fazer hortas de hortaliças e ervas medicinais, aprender algumas palavras do vocábulário Tupi-Guarani, interagindo no quotidiano e boas maneiras de preservar a natureza e a cultura indígena, são algumas das atividades que deverão ser realizadas na aldeia.
Quanto à equipe de trabalho
estima-se que um grupo de 10 pessoas com nível superior
em varias áreas do conhecimento humano possa planejar
e atuar nas atividades do projeto.
Estas pessoas prestarão
serviços voluntários, com exceção de dois estagiários que receberão, como incentivo, bolsas de estudo.
ESTRATÉGIA
DE AÇÃO:
Contato com as escolas |
Início de setembro de 2004 |
Autores do projeto e estagiários |
Reunião com cooordenadores e professores para agendar e organizar as atividades na escola e na aldeia. |
A partir da segunda semana de setembro em todas as escolas que apoiarem o projeto |
Autores do projeto, integrantes da equipe, coordenadores e professores |
Dia de atividades na escola: apresentação do coral, ofcina de cestaria. Artesanato, roupas vivas, dança, música e de lingua tupi-guarani. |
A partir da 3ª semana de setembro, todas as sexta-feiras, em escolas diferente da Grande Florianópolis. |
Indios, autores do projeto e integrantes da equipe, professores e estudantes. |
Intercâmbio na aldeia: 12 (doze) alunos selecionados passarão um dia na aldeia prestando serviços, dando cursos, gravando histórias e aprendendo boas maneiras de lidar com a cultura indígena e a natureza. |
A partir da quarta semana de setembro, todas as sexta-feiras, os 12 alunos que irão interagir na aldeia, ao chegarem, serão apresentado ao conselho dos indios e, posteriormente, serão divididos em três grupos de 4 (quatro) pessoas, que prestarão ajuda em três áreas distintas, alternadamente. |
Autores do projeto e estagiários e todos os envolvidos no projeto. |
As atividades na aldeia estão divididas em três categorias, a saber: Ampliação e manutenção de hotas de hortaliças e ervas medicinais, cursos e gravações de historias contadas pelos índios e caminhadas pelas trilhas das reservas para observação da fauna e da flora, registrando o nome de cada espécie em Tupi-guarani. |
Os três grupos terâo oportunidade de participar das atividades da seguinte maneira: o dia será dividido em quatro períodos, das 8h às 9h apresentações, lanche e divisão dos grupos e trarefas, das 9:30h as 12h primeiro periodo de atividades, das 12h as 13h almoço, das 13h as 15:30h segundo periodo de trabalho, das 15:30h as 16h lanche, das 16h as 18:30h terceiro período de trabalho. As 19h |
Membros do projeto, membros do conselho dos índios e alunos dos colégios. |
Transporte dos índios e dos alunos: um consenso entre o conselho da aldeia e o grupo de voluntários do projeto achou ser o melhor dia da semana para desenvolver o programa a sexta-feira. |
Saída de Florianópolis as 6h da manhã com professores, alunos e membros do projeto. Chegada na aldeia as 7:30h. Retorno da aldeia às 8h com os índios. Retorno à aldeia as 17h com os índios e retorno da aldeia as 19h com os voluntários. |
Membros do projeto, membros do conselho dos índios, coral dos ídios e alunos dos colégios |
Elaboração de relatorios. |
A partir de outubro |
Autores do projeto, alunos e professores. |
ORÇAMENTO:
ATIVIDADE |
ESPECIFICAÇÃO |
VALOR |
Serviço de secretaria
e relações públicas |
Bolsa
de estudo para dois estagiários |
1.000.00 MENSAIS |
Materiais de apoio
ao projeto |
Papel, caneta, material
para artesanato, ferramenta e sementes para as hortas, fita K 7 e de vídeo |
400,00 MENSAIS |
Transporte |
Duas
idas e volta uma vez por semana |
1.200,00 MENSAIS |
Construção do centro
de cultura e da casa de reza e alimentação dos envolvidos |
Esta
será realizada com mão de obra voluntária, com recursos naturais (como
madeira e barro) e com verba proveniente das oficinas nas escolas. |
Estima-se 6.000,00 MENSAIS |
O trabalho de coordenação |
Será
contrapartida da ASSESC |
800,00 MENSAIS |
RESUMO DO ORÇAMENTO |
|
ORÇAMENTO TOTAL DO PROJETO |
R$ 13.400,00 |
RECURSOS ORIUNDOS DAS
OFICINAS NOS COLÉGIOS |
R$ 10.00,00 |
VALOR DO INCENTIVO PLEITEADO |
R$ 2.600,00
MENSAIS |
VALOR A SER APOIADO
PELAS FACULDADES INTEGRADAS ASSESC |
R$ 800,00 |
REFERÊNCIAS:
BROCHADO, José Proenza.
1977. Analogia etnográfica na reconstrução da alimentação por
meio de evidências indiretas. A mandioca na Floresta Tropical.
IFCH, UFRGS, caderno nº 2 2. Porto Alegre.
FURLONGS, Guillermo. 1962. Misiones y sus pueblos de Guaranis.
Imp. Balmês. Buenos Aires.
LEITE, Serafim. 1945. História da compainha
de Jesus no Brasil. Imprensa Nacional, vol. V. Rio de Janeiro.
MIGLIAZZA,
Ernest c.1982. Linguististic Préhistory ande de refuge model in Amazônia.
In: Biological Diversification in deb tropics, ed. Ghillean T.
Prance. Columbia
University Press.
SCHMITH, Pedro Inácio
e outros. 1990. Uma aldeia Tupi-guarani. Projeto Candelária, RS. In: Arqueologia do Rio Grande do Sul, Brasil. Documento 04. Instituto Anchietano de Pesquisas / UNISINOS. São Leopoldo.