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O XINTOÍSMO
A única religião que pode ser considerada genuínamente japonesa, com origens que se confundem com a do próprio povo, há pelo menos dois milênios predomina na mística do arquipélago do país do sol nascente. Demorou a receber essa denominação adaptada do chinês xin-tao, “via dos deuses”, por volta do século XI, embora muitos japoneses utilizassem o termo nativo kami-no-michi, com o mesmo significado. Diferente do Budismo, que têm origem indiana e influência chinesa, o Xintoísmo e dominante apenas em seu país de origem, embora sua prática não implique no abandono total ou repúdio a outras formas de crença. Não se trata de uma concepção exclusivista, convivendo pacificamente e até complementarmente com outras práticas religiosas. Na verdade por muitos estudiosos nem chega a ser considerada uma religião devido a ausência de elementos como códigos de leis explícitas, filosofia textualmente definida, profetas ou um livro sagrado mais elaborado. Entretanto a ostensividade da penetração do comportamento xintoísta na vida de seus praticantes, perceptível não só em seus diversos rituais mas em todos os aspectos da vida, bem como sua ampla abrangência em seu país de origem, garante a esta concepção místico-filosófica o estatuto de uma das grandes religiões do mundo. Baseia-se numa mitologia panteísta com inúmeras divindades que atribuem valor sagrado a todos os elementos da natureza. Na verdade tudo no universo é divino para essa concepção, sendo interligado e interdenpendente de forma que não só os seres vivos, mas o vento e a água, as pedras, a montanha, e todos os níveis invisíveis da natureza, coexistem em harmonia tendo se originado da mesma fonte. Nesse ponto se assemelha ao Taoísmo, e também quando diz que tudo é regido por forças de pureza hare, impureza ke, e a fusão de ambos kegare. Isso determina uma das mais importantes características do rituais xintoístas, a purificação de corpo e alma. Outra característica forte é a harmonia com a natureza, o praticante busca se familiarizar e se integrar com a natureza num comportamento simbiótico, de onde ele tira seu sustento mas também deve retribuir. Dessa forma a sobrevivência depende do entendimento do ser humano com toda a estrutura vital a sua volta, considerando-a uma parceira e uma guia. É oposta a muitas concepções ocidentais no qual o homem e adversário da natureza, lutando para dominá-la, subjugá-la. Na concepção Xintoísta, e oriental em geral, mesmo milênios antes de qualquer concepção ecológica, já se considera que o ser humano não pode viver em confronto com a natureza, o que é bastante interessante levando em consideração que as condições geográficas e climáticas do arquipélago japonês são sem dúvida uma das mais implacáveis do mundo, com grande número de vulcões ativos, terremotos intensos e furacões devastadores. O estudo do Xintoísmo é vital para o entendimento da cultura japonesa, sua visão de mundo determina boa parte do comportamento nipônico, como sua capacidade de adaptação e absorção de novas idéias ao mesmo tempo que preserva as antigas, sua boa recepção a novas culturas e idéias, seu comportamento que valoriza a higiene e a saúde e seu sentimento de nacionalismo. Mesmo se fundindo com outras religiões e se subdividindo em vários desdobramentos, o Xintoísmo deixa um legado que com certeza contribui para o receptividade dos japoneses, de forma que o exclusivismo principalmente religioso é pouco praticado no Japão. Alías, é um lenda xintoísta que deu origem ao nome desta nação, que outrora fora chamada Yamato, de o país do sol nascente. AS BASES MITOLÓGICAS Como toda mitologia, o Xintoísmo também explica o
surgimento do universo e assim como a grande maioria, considera que tudo teve
origem de uma amorfia desordenada denominada CAOS. Deste Caos separou-se o céu, duas
forças fundamentais antagônicas, tais como o Ying e o Yang do
Taoísmo, e 5 grandes deuses. As 5 grandes divindades saídas do CAOS são:
Deste último decorrem as 7 gerações divinas, dois
seres completos e mais 5 casais:
IZANAGI & IZANAMI são os
seres criadores do arquipélago do Japão, no caso o mundo, e das inúmeras
entidades secundárias, muitas das quais associadas a cada ilha. Com a orientação dos
deuses mais antigos e em poder da Lança Celeste modelam a massa disforme que
era o mundo e dão origem a 10 filhos que representam elementos da natureza. São
esses:
Após o último parto que levou
IZANAMI a morte, IZANAGI revoltado decapta o Deus do FOGO, e do sangue jorrado
surgem mais 16 deuses. Depois promove a descida aos infernos ou mundo dos mortos
na tentativa de recuperar sua esposa. Com a qual entra em contato não visual. Mas ela já tendo se integrado e
comido da alimentação dos infernos a princípio não pode mais retornar,
pedindo que IZANAGI a aguarde enquanto busca um meio entre as divindades
regentes do inferno para que lhe seja permitida a volta. Ela o instruí a não
se aproximar até segunda ordem, mas devido a demora IZANAGI ignora o pedido. Ao
se deparar com o corpo putrefato de sua esposa é tomado de horror, e ela,
revoltada com sua impaciência e sua reação, o persegue junto com espíritos
infernais. Ao retornar ao mundo dos vivos ele
se banha em um rio para se lavar das impurezas dos infernos, realizando a
Purificação, de seus trajes abandonados e das impurezas saídas de seu corpo
nascem muitas divindades muitas das quais maléficas. Depois, de seu olho esquerdo nasce
a deusa solar AMATERASU e o do direito a deusa lunar TSUKI, do nariz surge
SUSANOWO que se torna imperador do oceano. E a participação ativa de
IZANAGI e IZANAMI terminam aqui, assim como a de qualquer outro dos deuses mais
antigos, deixando entretando uma descendência de pelo menos 800 divindades. AMATERASU, a deusa solar, é a
grande mãe do povo japonês, sendo considerada a ancestral primeira de toda a
descendência imperial japonesa. Tal crença será base de um importante
comportamento nipônico que abrange o nacionalismo e a identidade cultural Essa é uma das mais interessantes
peculiaridades desta mitologia, diferente da grega, egípcia, Asteca, etc. O
sol, é uma entidade feminina. Isso demonstra que algumas religiões orientais
apresentam um ponto de vista diverso daquele que atribuí sempre ao Sol uma
característica masculina, o que fecunda lançando seu semêm sobre a Terra, que
possuí característica feminina sendo o óvulo onde germina a vida. Tal concepção
encontra correlação até mesmo científica, uma vez que toda a vida que nasce
na Terra provêm e depende das emissões de energia do sol. No entanto houve épocas em que não
se conhecia o papel masculino na reprodução, nessa antiguidade eram mais
comuns as deusas solares. Mas um fato ainda mais notável é que geralmente o
Sol seja associado a divindades masculinas em locais mais quentes, Egito, Índia
e América Central por exemplo, já em locais mais frios a associação com
divindades feminas é maior. Provavelmente onde o Sol é mais agressivo, sobressái
suas características masculinas, e as femininas predominam onde o Sol é mais
associado a idéia de conforto, calor agradavel. Há exemplos na Escandinávia,
Alemanha e América do Norte. AMATERASU reinava no céu, e na
Terra através de seus descendentes, no caso os imperadores. SUSANOWO, o
masculino impetuoso, ambiciona mais que o reino do oceano e perturba a deusa
solar em sua morada celestial. Entre outras coisas destrói os arrozais
sagrados, bloqueia fontes de irrigação e suja o palácio da deusa. Indulgente,
ela o perdoa até que sua ofensa se torna inaceitável, ele jogara um cavalo
morto entra a deusa e suas serviçais tecelãs ferindo mortalmente muitas delas. Amargurada ela se esconde numa
caverna sagrada e toda a terra mergulha na mais profunda escuridão e catastrófes.
Em desespero os 800 deuses precisam tomar uma providência, elegem o sábio
OMOIKANE-NO-KAMI para convencer a deusa a voltar, uma vez que não se pode trazê-la
a força. Este então ordena a construção
de um espelho místico e um colar de pérolas. Em frente a caverna faz um
fogueira queimando o omoplata de um gamo, o que provoca estalos e fagulhas que
formam desenhos, uma das mais antigas formas de advinhação japonesa praticada
por feiticeiros. Traz um pinheiro do monte Kagu e deposita o espelho e o colar
na parte de cima, na parte de baixo põe oferendas. A deusa AME-NO-UZUME dança em
frente a caverna com os seios a mostra, todos os deuses se reunem e passam a rir
e a gritar como numa festividade. O objetivo era tentar dar a entender a
AMATERASU que tudo estava bem e todos estavam felizes, como se não precisassem
mais dela e tivessem uma nova deusa solar. Intrigada ela sai da caverna para
ver o que está acontecendo, os deuses postam o espelho em frente a seu rosto e
ela pensa estar diante da nova deusa do sol, cada vez mais curiosoa ela sa
afasta da caverna, os deuses então fecham a entrada com um corda de palha trançada,
que até hoje significa a proibição de se entrar em locais sagrados. Dessa forma o sol volta novamente
a brilhar no mundo, SUSANOWO é "multado", tendo que pagar mil
pranchas de oferendas e é banido para a terra na região do IZUMO, o "país
tenebroso" que era um tipo de inferno. Algumas versões da lenda dizem
que ele se tornou um deus do mal em sofrimento, outras dizem que ele se
arrependeu e passou a praticar o bem. Tais divergências são apenas um dos
resultados de uma mitologia que sobreviveu por mais de um milênio sem nenhum
registro escrito. Como em quase todas as mitologias,
ocorre uma "situação" de desavença entre as divindades. Na religiões
bíblicas houve a guerra no céu entre o revoltoso LÚCIFER e o Pai Celestial.
Na mitologia grega a guerra do Titãs quando ZEUS destronou CHRONOS, na egípicia
houve a luta entre HÓRUS e SETH e assim prosseguem relatos semelhantes no
MAHABARATA, nas lendas nórdicas, e em muitas religiões indígenas inclusive
amazônicas. O Xintoísmo entretanto tende a
ser mais peculiar, pois nesse caso apesar dos episódios de IZANAGI e o Deus do
FOGO, e de SUSANOWO e AMATERASU, não ocorre entretanto um guerra generalizada,
assim como o Xintoísmo também não prevê detalhadamente um Apocalipse,
Armageddon, Ragnarok, Mahapralaya ou Crepúsculo dos Deuses. A punições aplicadas ao deus do
oceano, são uma garantia dos deuses de que novas catástrofes cósmicas não
mais se abaterão sobre os 3 mundos, o Céu a Terra e os Subterrâneos. Dentre as inúmeras interpretações
possíveis dos mitos, não só xintoístas mas de qualquer outra crença,
torna-se muito interessante destacar pelo menos duas. O ser humano possuí em algum
"momento" de sua psique primária a noção de que os deuses não
possuem uma vida muito diferente da dos mortais. Dessa forma tentam explicar o
universo, a gênese e a natureza em todos os níveis visíveis e invisíveis
atribuindo estórias de caráter humano com personagens de comportamente humano. De certa forma, o homem cria os
deuses a sua imagem e semelhança. Tal concepção só tende a
desaparecer nas crenças mais "evoluídas" intelectualmente,
geralmente absorvendo crenças antigas, aplicando-lhe interpretações mais
racionais e contextualizando-as num plano maior a exemplo do que o Espiritismo
Kardecista faz com o Cristianismo ou o Budismo faz com o próprio Xintoísmo. Uma vez que todos os fatos históricos
marcantes estão associados a períodos perturbados mesmo nas mais primitivas
sociedades, seria natural que um evento de importância tão absoluta tenha se
caracterizado por movimentos agitados. A agitação máxima desse tipo de
visão, a razão primária de todas as coisas é o CAOS. Em quase todas as
religiões ele surge como o princípio ativo criador. Intrigante é o fato de
que muitas vezes o CAOS se confunde com o ÉTER, vazio. Em algumas crenças são
coisas distintas e em outras são complementares e as vezes até a mesma
entidade numa relação paradoxal de Ser e Não-Ser. Muitos teólogos modernos gostam
de ver a crença no princípio caótico do universo associado a teoria do
BIG-BANG. Nesse caso antes da grande explosão teríamos o vazio, o ÉTER, e em
seguida o CAOS, que é exatamente o que teria ocorrido de acordo com a física
contemporânea. Da caótica geração violenta de
matéria que deu origem ao universo viria toda a criação. No Xinto já havia a separação
do céu em relação a terra, mas está estava na forma de CAOS, uma massa
amorfa. IZANAGI e IZANAMI que através da Lança Celeste lograram a organização,
"misturando" porções dessa massa que se tornaram as ilhas e deixando
o restante na forma do mar. A maioria das mitologias segue
esse padrão, baseando-se na sua restrição de visão de universo, que os faz
considerar apenas sua porção de mundo. A noção da esfericidade da Terra está
além de sua visão de mundo inicial, fazendo-as inferir então sobre uma
extensa horizontalidade não relativa, que separa Céu, Terra e se for o caso
Subterrâneos. A maioria das mitologias
atualmente, após todas as descobertas científicas, reconhecem suas cosmogêneses
principalmente numa forma simbólica, ou valorizando-as uma visão de época, não
sofrendo então um choque cultural entre fé e ciência. Outras tentam desesperadamente
reinterpretá-las, buscando novas significâncias para termos que as tornariam
atuais, pretendendo então conformá-las com os conhecimentos modernos ou em
casos mais extremos até declará-los superiores. O Xintoísmo opta pela primeira opção,
nunca se defrontando então com o racionalismo ou cientificismo, reconhece tudo
em sua visão de interdepêndencia usando-a como uma noção mais abrangente e
se eximindo então de maiores contradições. CARACTERÍSTICAS OS KAMI O termo japonês kami
significa "algo elevado", "divino", "superior". Não
existe tradução precisa mas o termo é atribuído aos espíritos sagrados,
deuses e divindades em geral. Todos os elementos da natureza, seres vivos ou
mesmo minerais possuem seus kami. Deve-se tomar cuidado por que o termo kami
em japonês também pode siginificar "cabelo"ou "papel". Por ser a mãe de toda a família
japonesa e fundadora do Japão, AMATERASU é considerada como a mais elevada dos
kami, deusa não só do Sol mas de toda a luz, claridade física e
espiritual. O xintoísmo destaca como uma de suas máximas, a busca espiritual
para a claridade, a pureza da luz. Além das divindades mitológicas,
muitos "ícones" também podem ser atribuídos a "kamis",
como por exemplo um objeto sagrado, usado em ritos, ou o tesouro de determinada
comunidade. Pesonagens humanos que realizem
grandes feitos, heróis, e o próprio imperador, descendente direto de AMATERASU,
recebem veneração comparável a dos kami. No caso dos hérois o feito
pode ser de qualquer ordem, militar, social ou artístico, podendo esta
celebridade receber santuários. Mas lembremos que isso não significava
torna-lo equivalente a um kami original, pois não se perde a noção do
limite que o separa de um ser humano. Apesar disso na verdade o que se admira não
é o personagem humano em si, mas sim a sua parte divina que o permitiu realizar
o que quer que tenha feito. Para o Xintô um deus pode soltar
partes de sua própria essência que dará origem a novas entidades
independentes, e muitas das "encarnações" dos deuses podem morrer,
diferente por exemplo da maior parte das mitologias ocidentais. IZANAMI, o Deus do FOGO e SUSANOWO
são exemplos disso, mas isso não siginifica que estejam de fora do panteísmo,
pois passam então a integrar exclusivamente o mundo espiritual. Muitos deuses
tem túmulos identificados, onde se presta reverências. O SER HUMANO Descendentes dos deuses, os
humanos são pela visão xintoísta, seres a princípio puros e bons tal como
seus ancestrais. Não existe como no Cristianismo, o Pecado Original, que
impregna todo o ser humano desde que nasce tendo que ser purificado pelo batismo
da igreja. Ou a decadência de um estado superior, como foram as idades de Ouro,
Prata, Bronze até chegar a idade do Ferro, como há na mitologia grega, seu
correlativo Hindu e seus equivalentes Gnósticos, ou o estigma de um sofredor
por natureza, como no caso do Budismo. Quando um ser humano pratica o
mal, ele está sobre influência do Yomi, a essência negativa do
universo, através de suas entidades malignas e energias impuras. A ele resta
então praticar a purificação e o reencamihamento a luz. Para o Xintô, todo o pecado não
passa de um sujeira temporária acumulada posteriormente, entretanto os que se
entregam a maldade, cultivando-a e abnegando-se da purificação,
invariavelmente serão punidos pelos Kamis. Aquele que insiste na maldade
acabará tendo por resultado o destino do mundo subterrâneo, os infernos, e
talvez a incorporação ao Yomi. Mas no Xintoísmo não existe também o
estigma da danação eterna, mesmo além do mundo físico a vida continuará,
assim como foi com os deuses antigos, deixando sempre uma possibilidade de redenção. A PUREZA Quando o kami IZANAGI
se banhou em um rio para se limpar das impurezas, deu origem ao mito da purificação.
Segundo o Xintô, tudo na natureza é influenciado pela pureza e a impureza,
principalmente o ser humano. Este deve então buscar a constante purificação
com o objetivo da elevação espiritual, única maneria de se tornar merecedor
da ajuda dos deuses. Muitas atitudes da vida mundana
mesmo as necessárias, implicam em impurezas, principalmente as associadas com o
sangue. Matar animais ou outros seres humanos torna a pessoa impura,
necessitando de um ritual de purificação. Até mesmo o parto e a mestruação
feminina são períodos de impureza que faz necessária a prática constante da
purificação. Segundo o Xintô, todo o valor
decorre da pureza, o ser humano só encontrará a verdadeira iluminação em seu
estado puro. A vida na impureza conduz a desgraça e ao sofrimento, gera manchas
que atraem espíritos malignos e desperta o repúdio e a ira dos deuses. Existem basicamente 3 tipos de
impurezas, "pecados", que podem envolver o ser humano: Os WAZANAI são as desgraças, os
infortúnios que se abatem sem culpa do indivíduo, mas os quais também
precisam ser lavados. Os KEGARI são as manchas em geral
do dia a dia, a manipulação de cadáveres inclusive de animais, a sujeira pelo
sangue, condutas levianas ou imprudentes. Os TSUMI são os
"pecados" propriamente ditos, as maldades cometidas deliberadamente. Sendo assim, há 3 principais
ritos de purificação: O HARAI promove a purificação do
"pecados", TSUMI. O rito do HARAI se baseia na punição de SUSANOWO,
com o qual guarda semelhanças como a oferta de oferendas. O MISOGI faz a limpeza das
impurezas obtidas não intencionalmente, manchas, os KEGARI. Também usado para
purificar o ser humano das desgraças das quais ele pode ser vítima, WAZANAI,
sendo esse ritual baseado no mito do banho de rio de IZANAGI. O IMI é basicamente a abstinência
de certas atitudes impuras, alimentos, bebidas, ou atividades que resultem em
impurezas pelo menos por algum tempo. De caráter poderia-se dizer mais
preventivo, é aplicado principalmente ao KEGARI. O NATURALISMO Sendo que toda a natureza descende
de "kamis" assim como a humanidade, fica claro que tudo está
interligado tendo como origem em comum um ancestral divino. Assim sendo o ser
humano e a natureza, seus elementos, minerais, vegetais e animais, são irmãos. A vida dessassociada da natureza
é incompatível com o Xintô, o ser humano não deve combatê-la ou transformá-la
sem necessidade vital. É comum aos praticantes xintoístas o retiro para
ambientes onde possam promover a integração com a natureza, uma forma de
purificação, elevação espiritual, e oportunidade para reflexão e meditação. Como já foi dito na introdução,
o Xintô e a própria cultura japonesa pregam que sendo a natureza sagrada, sua
destruição é indesejável, e não existe o sentimento de hostilidade inerente
recíproca imperante no ocidente, que econtra raízes até mesmo teológicas uma
vez que após a explusão do paraíso, era evidente que a natureza do mundo
diferente da do Éden, não seria amigável. Outra prática bastante
disseminada é a deificação de determinados elementos naturais em especial.
Como por exemplo a árvore que representa um família ou um rocha que ocupa
lugar de destaque em determinada cidade. Principalmente na antiguidade, era
tradicional em muitas aldeias a veneração de algum "ícone" que
representasse bem seu povoado ou dinastia. O comportamento xintoísta é tão
avesso a interferência no cenário natural, para ele é sagrado e perfeito, que
qualquer atividade que implique em utilização ostensiva dos recursos naturais
deve ser recompensada no mínimo com a construção de um templo dedicado a
natureza. AS MONTANHAS As montanhas no Japão são muito
numerosas e estão envolvidas nos aspectos da vida diária, é delas que brotam
os rios, e são consideradas sagradas. Não são kami em si, mas sim
moradias de kami. O território montanhoso é tão respeitado que mesmo
hoje em dia, o alpinismo não é uma atividade muito difundida pelo povo japonês,
e isso num país onde é difícil ver todo um horizonte livre da presença de
montanhas. É muito comum a contrução de
templos nessas regiões, assim como cerimônias de deificação e requisição
de boas colheitas à "deusa do arrozal" que vive nas montanhas. Nas
lendas japonesas as montanhas ocupam lugar de destaque na associação com
grandes desafios, buscas e peregrinações. SACERDOTES Os sacerdotes Xintoístas podem
ser homens ou mulheres e deles não se exige o celibato. Muitas vezes são líderes
familiares locais que devido ao seu grau de serviço em relação a religião
galgam graus de hierarquia... ( A ser complementado) TEOLOGIA Outra constante nas maioria das
concepções místico-filosóficas é a presença de um tipo de relação cíclica
de causa e efeito muitas vezes resultante numa trindade. O grande Kami-natureza é
de certa forma o CAOS, o ABSOLUTO, a fonte e origem de tudo, ou o Não-Ser, o
princípio fundamental. Deles saiu os Kami, que são a "via", a
luz. E existe também o ser humano. O ser humano é dotado com a
capacidade de incorporar o grande Kami-natureza e atingir a
"via", então essas 3 entidades, o ser Humano, a "via" e o
Absoluto tornam-se um só. A correlação também pode ser
entendida como uma forma de santíssima trindade, Pai, Filho e Espírito Santo,
sendo respectivamente Kami, ser humano e o Absoluto, ainda que numa
interpretação filosoficamente diferente da tradicional que em se tratando de
teologia jamais poderia ser considerada a única "correta". Trindades como essa estão
presentes em várias doutrinas, o Ying-Yang e a união no TAO. A
força masculina a feminina e a união, CAOS, EROS e ÉTER. Nas místicas que dão mais ênfase
a questão psicológica é comum vermos o conceito de Consciência numa
interpretação mais elevada e geralmente paradoxa, como "a consciência
sabe sem saber", ou "é tudo e ao mesmo tempo é nada". O oriental têm muito mais
facilidade de aceitar tais paradoxos que os ocidentais, talvez por não terem
sido diretamente submetidos ao ponto de vista mais cientificista de procedência
européia, principalmente a lógica cartesiana, o materialismo dialético e o
dualismo exclusivista. Conta-se que na Segunda Guerra
Mundial, um certo piloto após uma missão de reconhecimento aéreo pousou seu
avião, e fez um relatório onde apresentou informações de vital importância
e logo em seguida caiu sem vida. Ao se checar o corpo do piloto, seus
companheiros constataram que este já estava frio, morto há várias horas. O que para os ocidentais já nessa
época seria motivo de assombro, investigação científica intesiva, sigilo e
sobretudo medo, para os ocidentais a explicação é simples e espontânea.
Devido a importância de sua missão o espírito conduziu o corpo mesmo após
sua morte, em honra e dedicação sagrada a seu país e o imperador. Acontecimentos sobrenaturais
tendem a ser aceitos pelo povo tradicional japonês sem grandes resistências
tanto de cunho ceticista quanto de postura "herética". EVOLUÇÃO HISTÓRICA O desenvolvimento do Xintoísmo
obedeçe principalmente a 3 períodos distintos. O Xinto primitivo perdura de períodos
indefinidos até cerca do século VI dC. Representava a união das crenças indígenas
predominantes no arquipélago do país cujo primeiro nome fora Yamato, devido a
liderança desta província sobre as demais. O isolamento natural com certeza
garantiu a consolidação e hegemonia necessárias para que mesmo na ausência
de qualquer regulamentação teórica, aliás até mesmo de escrita, os mitos
populares se cristalizassem na cultura. A grande maioria dos contos mitológicos
provêm dessa fase e obviamente não se pode ter certeza de sua regularidade
através dos tempos. Mas como toda e qualquer mitologia, o inconsciente humano
garante pelo menos a linhagem básica do mito, variando principalmente na sua
manifestação icônica. Apresenta nessa fase todas as
características comuns a qualquer mitologia primitiva, panteísmo, gênese
figurativa, com elementos reconhecíveis da própria cultura representando
conceitos místicos, e explicações sobre a origem e destino das coisas. Nessa fase o Xinto sequer tinha
nome definido, sua designação mais comum seria kami-no-michi, "a
via dos deuses", mas como era praticamente a única, tal distinção não
se fazia necessária. Com a entrada da cultura
continental especialmente chinesa no Japão, a partir do século VI dC, houve
entre outras coisas a importação de uma filosofia específica, o
Confucionismo, e uma nova religião, o Budismo. Obviamente assim como qualquer
sociedade primitiva não havia filosofia pura, aquela desassociada da mística,
na terra de Yamato. Mas o Confucionismo caiu como um luva para o modo de vida
daquela sociedade, se adaptando facilmente a seus hábitos e justificando muitos
de seus costumes. O Budismo também não representou
nenhum choque cultural grave. Primeiro por que trata-se de uma concepção místico-filosófica,
que não reclama o status de religião, não têm caráter exclusivista,
e não condena necessriamente aquele que não a pratica. Salvo pequenas exceções o
Budismo e o Xintoísmo apresentaram uma convivência pacífica e muitas vezes
complementar, muitas idéias do Budismo passaram a ser usadas para explicar
mitos xintoístas e muitos kami foram renomeados Budas. Entretando as diferenças naturais
entre elas exigiram que uma distinção fosse feita e só então a crença kami-no-michi
ganhou finalmente no século XI d.C. o nome que perdura até hoje. Somente em 712 d.C. é que surge
graças ao esforços de estudiosos, o Kojiki, História das Coisas
Antigas, sobre a antiguidade japonesa e mais posteriormente o Nihongi, Crônicas
do Japão, em 720 e o Engishiki, já no início do século X. Nesses
ecritos antigos têm-se os primeiros registros da história antiga do Japão e
das bases mitológicas Xintoístas. Entretanto sua imprecisão é grande, mesmo
em fatos históricos como o do provável primeiro imperador Jimmu-Tenno,
são cercados de muitas dúvidas quanto as datas em que viveram e o conteúdo
exato de seus feitos. Tendo sido produzidos por decreto
imperial, esses registros obedeciam além de interesses de reconstituíção
cultural, objetivos "doutrinários", resgatando os elementos
primitivos que pudessem embasar a descendência divina imperial e a legitimação
sagrada do estado. Dessa forma é evidente que não se pode esperar fidelidade
absoluta apenas ao mito primitivo em si, pois os interesses da época com
certeza o influenciaram em grau indefinido. Os mitos recuperados e conservados
nesses livros então não têm como representar com total fidelidade o conteúdo
mais primitivo do Xintoísmo, e refletem mais a forma como a sociedade da época
lidava com a crença. De qualquer forma o Xinto mesmo não
possuindo livro sagrado, começou a ser melhor identificado e regulamentado, mas
passou a ser relegado cada vez mais a segundo plano devido a predominância do
Budismo, principalmente devido ao total apoio que o princípe Shotoku
(573-621) dava a sua disseminação e a da cultura chinesa em geral. O Budismo passou a ser quase uma
espécie de religião oficial, praticado nas côrtes reais, mas o Xintoísmo não
foi totalmente esquecido, tendo sempre algum lugar ao lado da predominante
religião de procedência chinesa, que durou até o século XVIII. Nessa fase também surge um
aspecto notável, o Ryobu-Xinto, ou Xinto de duas faces. É mais que uma
convivência pacífica com o Budismo mas quase um fusão destes. Havia casos de
sacerdotes que comungavam nas duas religiões, assim como fiéis Xinto que
recorriam ao monges Budistas para obter recursos para seus templos. Havia rituais duplos tanto em
santuários budistas quanto xintoístas mas o mais interessante foi a forma como
a filosofia budista explicou a mitologia xintoísta. Entre outras coisas
classificou os Kami como encarnações temporárias de Buda, assim como
enquadrou toda a mitologia Xinto dentro de um mais abrangente plano universal
visto pela ótica budista. Dessa forma o Budismo não desmereceu o Xinto, apenas
o reinterpretou extendendo a importâncias do Kami também ao Budismo,
que em alguns templos passou a venerá-los tal qual entidades da religião dos
Buda. A própria deusa solar AMATERASU
recebeu um nome budista Dai-michi-nyorai, um encarnação da divindade
Birshana. Isso prova que o Xintoísmo não só
e compatível com o Budismo como na verdade pode ser até mesmo uma diferente
interpretação de alguns de seus aspectos, sendo o Budismo uma crença
reencarnacionista, o Xinto que apesar de não explicitar o mesmo ponto de vista
também não o condena, podendo ser considerado pelo menos subjetivamente
reencarnacionista como praticamente todas as místicas primitivas. Apesar disso no século XVI, houve
a entrada de uma religião totalmente incompatível com o próprio ou com o
Budismo. O Cristianismo europeu penetrou no Japão e embora não tenha sido
expressivo demograficamente, constituí um fato notável. Totalmente intolerante com
qualquer outro tipo de crença, não plenamente por essência e mais por postura
política, o Cristianismo no Japão obviamente não pode contar com a violência
das Cruzadas ou da Santa Inquisição, tendo que se valer unicamente de seu
apelo emocional e argumentação, o que numa cultura tão diferente, não
conseguiu lograr-lhe uma disseminação ampla. E importante lembrar também que o
Japão nunca sofreu uma invasão cultural, mesmo após o fim da Segunda Guerra
Mundial a cultura japonesa sobreviveu e se forteleceu de forma homérica. Uma especialidade do povo japonês
é a capacidade de absorver novas idéias ao mesmo tempo que conserva as
antigas, e cria coisas novas e próprias enquanto transforma as alheias em seu
benefício. Tal comportamento já era de certa forma presente no Xintoísmo e no
Budismo e perdura até hoje, dando ao país do Sol Nascente um incrível
capacidade de adaptação que lhe permitiu ser uma das nações tecnicamente
mais avançadas do mundo e ao mesmo tempo uma das mais conservadoras. Se tomarmos por exemplo as américas,
veremos que as culturas originais foram praticamente dizimadas pela cultura
européia, principalmente no caráter místico através de uma religião dogmática
de comportamento muito mais prático e mundano do que trascendente. O Japão então foi beneficiado não
só pelas condições histórico e geográficas como também pelo fato da religião
predominante a ser importada, o Budismo, não praticar a dominação filosófica
cultural explícita e muito menos teologicamente defendida. O "Renascimento", a
terceira fase do Xintoísmo ao contrário dos períodos anteriores têm data
precisa de início, 1868. Até este ano o Japão encontrava-se sob o Xogunato, o
regime dos samurais, mas este dando lugar a uma nova ascenção imperial exigiu
do imperador instrumentos psicológicos convincentes para manifestar seu poder
perante o povo. Um desses intrumentos foi a
reafirmação da crença xintoísta que dava à família real um caratér
divino, descendentes diretos de AMATERASU, deixando esta numa posição bem mais
apropriada perante seus súditos. Nessa época acompanhou também um
movimento de reafirmação nacionalista e sendo o Xinto a religião tradicional
do Japão, este ganhou um caráter patriótico e de identificação cultural. Têm início a era Meiji,
que modernizou o Japão num ritmo inigualável por qualquer outra nação no
mundo, houve também um certa reação ao Budismo e muito maior ao Cristianismo,
teologicamente incompatível com o Xinto. Nessa época surgiu o Xinto de
Estado, Jinja-Xinto, que assume o caráter de religião oficial
declarada. e outras divisões como o Xinto-Popular, Minkan-Xinto, mais
espontâneo, o Xinto-Acadêmico, Fukko-Xinto, o Xinto da Casa Imperial, Koxitsu-Xinto,
e o Xinto das Seitas, Kyoha-Xinto, que chegou a abranger 160 seitas. O Xinto de Estado só vêm a cair
em 1946, com a derrota do Japão para os E.U.A. na guerra do pacífico, o
imperador então perde seu poder político mantendo apenas o simbólico mas o
Xintoísmo não enfraquece, pelo contrário, assume um caráter ainda mais forte
de nacionalismo num sentimento patriótico de auto defesa psicológica. Apesar da reconstrução do Japão,
assim como sua modernização de certa forma agredir um princípio básico do
Xintoísmo de respeito pela natureza, o Xinto sobrevive dando provas de sua
flexibilidade diante da calamidade que se abateu sobre seu povo, que precisou
lançar mão entre outras coisas de grande parte dos recursos naturais para se
reerguer. XINTOÍSMO MODERNO Hoje em dia o Xintoísmo não
tendo mais o caráter de religião oficial e nem sendo mais regulamentado
politicamente, assume desdobramentos mais espontâneos, e sua convivência com o
Budismo, ainda a segunda maior religião do Japão, e outras religiões como o
Cristianismo, têm se dado de forma pacífica e harmônica. O povo nipônico não aceita
facilmente o exclusivismo religioso radical, sendo perfeitamente normal a
congregação em mais de uma religião. É comum casos de famílias que fazem
seus rituais ora num templo ora numa igreja. Isso praticamente inviabiliza o
crescimento de religiões fundamentalistas como O Islamismo, o Shikismo e certas
Religiões Protestantes. Ainda assim, todas podem ser encontradas no Japão. Diversas seitas novas de características
Xintoístas têm surgido recentemente sendo muito comumente iniciadas por líderes
locais que obtêm "revelações" através de experiências
transcendentes. Muitos desses novos messias são, diferente da maioria
esmagadora das religiões do mundo, mulheres. Algumas dessas "novas"
religiões, chamadas shinko shukyo, são ainda do período Tokugawa
(1603-1868) como a Tenrikyo que tem Nakayama Miki(1798-1887) como
fundadora, e cujo nome significa "Religião da Divina Sabedoria". Outras de 1868 a 1945 como a Omoto,
a Hito no Michi e a Soka Gakkai, esta última de características
budistas antigas influenciadas pelo budismo Nichiren, e com muito
seguidores ocidentais. A famosa Seich-no-Ie é de 1930, fundada por Masaharu
Taniguchi. As surgidas após 1945 são consideradas "novas religiões", como a Aum Shinrikyo. Ref: Fórum de Aikido |
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