Algumas das Enrascadas de Lóqui

Uma se refere à um mito que a deusa Idun, guardiã dos pombos de ouro que conferiam aos deuses a eterna juventude, foi dada como penhor ao Gigante Thiasi por Lóqui, que caíra em poder daquele;

De outra feita Lóqui cortou sub-repticiamente os formosos cabelos louros de Sif; esposa de Tor. Numa aposta que fez com os irmãos Brokk e Sindri, duvidando de que estes pudessem fazer objetos tão maravilhosos como os filhos de Ivaldir haviam feito; Brokk e Sindri logo se puseram a fazer a obra; a fim de perturba-los, Lóqui se transformou num pavão e os picava sem cessar; mas os anões conseguiram finalizar a tarefa e fabricaram objetos espantosos: o anel Draupnir, o javali de ouro e o famoso martelo de Tor; tomados como juízes, os deuses confessaram que jamais tinham visto coisa igual; Lóqui, portanto, tinha perdido a parada e sua cabeça pertencia aos anões e quando estes o quiseram prender, ele se sumiu, pois possuía umas sandálias mágicas que o transportavam num ápice além do mundo e dos abismos das águas; os anões foram queixar-se a Tor, que prendeu Lóqui e o entregou aos vencedores: Brokk avisa-lhe que lhe vai cortar a cabeça; mas a eloquëncia do diabólico Lóqui é tal que, por fim, os anões lhe costuram os lábios, a fim de que não pudesse mais falar; mas Lóqui, não obstante a dor, tira os fios que prendiam sua boca e escapa são e salvo.

Outra vez, durante um banquete no palácio de Aegir, reuniram-se todos os deuses e deusas, exceto Tor, que percorria os países do Este. Lóqui, que fora afastado do festim por causa da sua língua venenosa, de súbito entra na sala; todos se calam ao vê-lo; humildemente pede que lhe concedam o copo que não se nega jamais ao viajar cansado; ninguém responde; Lóqui, sempre cortês, solicita o favor de sentar-se, como mandam as leis da hospitalidade; consultam-se os deuses, e, desejosos de respeitar o costume, dão-lhe lugar à mesa; logo que se assentou, com precisão admirável, começa a lembrar a cada um os episódios mais escandalosos da sua vida; às deusas, recorda os adultérios que tinham cometido, com particularidades e minúcias, e, logo a seguir, se gloria de ter possuído a todas. Sif, então, avança para ele e lhe estende um copo de hidromel, pedindo-lhe que ponha fim àquela catapulta de informações escandalosas; mas ele, zombador, lembra-lhe os momentos que ela, feliz e uivando de prazer, passara nos seus braços, ela, a esposa do todo-poderoso Tor. Mal este nome fora pronunciado, Tor aparece na sala do banquete, terrível, chispando fogo e, com o martelo erguido quis esmigalhar o crânio do atrevido insolente. Mas Lóqui já estava longe, sempre insultando e ofendendo. Semelhante audácia, porém, não podia ficar impune; os deuses conseguem apoderar-se dele, que se transformara num salmão, e o amarram com as tripas do próprio filho, Nari; e Lóqui permanecerá prisioneiro dos deuses até o fim do mundo, dia da sua grande vitória; ele, então, aparecerá na primeira linha, mobilizando todas as potências do Mal e da Destruição.