OGUM

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Dia: terça-feira
Número: 7
Cor: azul cobalto (ou azul ferreiro, como chamam alguns) A cor exata é o azul da chama do fogo.
Símbolo: espada
Comida: feijoada
Saudação: OGUM Iê!

 

Descrição

 

Filho de Yemanjá ou Oduá com Oxalá. Está ligado ao mistério das árvores, conseqüentemente à Oxalá. Seu "assento" está ao pé de um Igí-uyeuè (cajazeira) no Brasil, onde um adàn, akòko ou Àràbà na Nigéria e no Daomé, e rodeado por uma cerca de peregun. Podendo também ficar ao pé do Igí-òpé cujo tronco simboliza a matéria individualizada dos funfun (orixás do branco, particularmente Oxalá), que as folhas brotadas sobre os ramos ou troncos, simbolizam descendentes e que o màrìwò é a representação mais simbólica de Ogún.
Ogún data de tempos proto-históricos, é pré-histórico, violento e pioneiro; suas armas são primeiro de pedra, depois o ferro. Sua primogenitora converte-o em quase irmão gêmeo de Exú.
            Deus da guerra, imagem arquetípica do soldado, Ogún é também o deus do ferro, da metalurgia. Do ferreiro ao cirurgião, todos os que utilizam instrumentos de ferro (e o aço por conseqüência) em seu trabalho: agricultores, caçadores, açougueiro, barbeiros, marceneiros, carpinteiros, escultores e outros que juntaram-se ao grupo desde o início do século, mecânicos e motoristas; rendem homenagem à Ogún. Nesse sentido ele é o arquétipo da conquista da civilização humana, consolidada na idade do ferro. Orixá de personalidade violenta, obstinada, constante, viril, disciplinada, quando não rígida.
Akóro Ko l'axo Akóro não tem roupas
Màrìwò l'axo Ogún o! Màrìwò veste Ogún
Màrìwò Màrìwò

            Na sua estreita relação, com a natureza humana, na qual é o regente dos "caminhos" no seu sentido de trabalho, oportunidades profissionais, e ao mesmo tempo "guardião" da casa, é expressa em sua cantiga:

Ogún á jó (Ogún dançará) e màrìwò (fronde da palmeira, usada como sua roupa) Ogún Akòró e màrìwò
Iwó a gba 'lé bg'ònà (ele ocupará a casa e o caminho)
Ogun á jó e màrìwò màá tú yeye (fronde da palmeira cresça)
Akóro pa lónìí ó
Pa o jàre pa léle pa
Ogún pa o jàre
Akóro - uma qualidade de Ogún
Nesta cantiga se faz referência à pa lónìí - corta hoje
Pa o jàre - corte-o, por favor
Léle - completamente
            Nesta toada está se pedindo para Ogun abrir os caminhos : vai cortando, desembaraçando o caminho. Uma outra tradução, fala em matar, de quando os orixás vinham a cavalo, na guerra, e que eles brigavam.
            Historicamente, teria sido o filho mais velho de Odùduà, o fundador de Ifé, usando o título de Oniré (Rei de Irê), por se apossar da cidade de Irê, matando seu rei; usava uma diadema, chamada àkòró , e isso lhe valeu ser saudado, até hoje, sob os nomes de Ogún Oniré e Ogún Aláàkòró, inclusive no Brasil, trazidos pelos descendentes dos yorubás.
            Ogún é único, mas, em Irê, diz-se que ele é composto de sete partes. Ogún méjeje lóòde Iré, frase que faz alusão às sete aldeias , hoje desaparecidas, que existiriam em volta de Irê.
            O número sete é associado à Ogún e ele ;e representado nos lugares que lhe são consagrados, por instrumentos de ferro, em número de sete, catorze ou vinte e um, pendurados numa haste horizontal, também de ferro: lança, espada, enxada, torquês, facão, ponta de flecha e enxó, símbolos de suas atividades.
Sua cor é o azul escuro, é o primeiro a ser saudado depois que exu é "despachado" (ritual que antecede os Xirés - ocasião festiva, que as casas de candomblé, cantam para todos os orixás - que este tipo de exú, na sua forma negativa de maldoso, funcionando também como uma espécie de guardião do ritual, contra outros tipos de espíritos "não iluminados", não perturbe e não deixe, perturbarem o culto). É sempre Ogún que desfila na frente, "abrindo caminho" para os outros orixás (mais uma vez, a indicação da sua função de abrir caminhos), quando eles entram no Ilê nos dias de festa, manifestados e vestidos com suas roupas simbólicas.

 

Qualidades

Onire
Alagbede
Omini
Wari
Eroto ndo
Akoro Onigbe

 

Arquétipos

            São pessoas que nada temem, atléticos, agressivos, e de mau humor, como marido são brutos, viris e conquistadores, costumam separar e juntar, são rápidos agem sem pensar, ofende-se facilmente, são insistentes naquilo que desejam, geralmente emotivos, impacientes e brigões, arrepende-se facilmente, gostam de comer bem, e de beber, temperamento difícil, mas de muita iniciativa.

Ervas

 
Açoita-cavalo – Ivitinga: Erva de extraordinários efeitos nas obrigações, nos banhos de descarrego e sacudimentos pessoais ou domiciliares. Muito usada na medicina caseira para debelar diarréias ou disenterias, e usada também no reumatismo, feridas e úlceras.

 

Açucena-rajada – Cebola-cencém: Sua aplicação nas obrigações é somente do bulbo.Esta cebola somente é usada nos sacudimentos domiciliares. A medicina caseira utiliza as folhas como emoliente.

 

Agrião: excelente alimento. Sem uso ritualístico. Tem um enorme prestígio no tratamento das doenças respiratórias. Usado como xarope põe fim às tosses e bronquites, é expectorante de ação ligeira.

 

Arnica-erca lanceta: É empregada em qualquer obrigação de cabeça, nos abô de purificação dos filhos do orixá Ogum. Excelente remédio na medicina caseira, tanto interna como externamente, usado nas contusões, tombos, cortes e lesões, para recomposição dos tecidos.

 

Aroeira: É aplicada nas obrigações de cabeça, e nos sacudimentos, nos banhos fortes de descarrego e nas purificações de pedras. Usada como adstringente na medicina caseira, apressa a cura de feridas e úlceras, e resolve casos de inflamações do aparelho genital.

 

Cabeluda-bacuica : Tem aplicações em vários atos ritualísticos, tais como ebori, simples ou completo, e é parte dos abô. Usado igualmente nos banhos de purificação.

 

Cana-de-macaco : Usada nos abô de filhos, que estão recolhidos para feitura de santo. Esses filhos tomam duas doses diárias. Meio copo sobre o almoço e meio sobre o jantar.

 

Cana-de Brejo – Ubacaia: Seu uso se restringe nos abô e também nos banhos de limpeza dos filhos do orixá do ferro e das artes manuais. Na medicina caseira é usado para combater afecções renais com bastante sucesso. Combate a anuria, inflamações da uretra e na leucorréia. Seu princípio ativo é o estrifno. Há bastante fama referente ao seu emprego anti-sifilítico.

 

Canjerana – Pau-santo: Em rituais é usada a casca, para constituir pó, que funcionará como afugentador de eguns e para anular ondas negativas. Seu chá atua como antifebril, contra as diarréias e para debelar dispepsias. O cozimento das cascas também é cicatrizador de feridas.

 

Carqueja: Sem uso ritualísticos. A medicina caseira aponta esta erva como cura decisiva nos males do estômago e do fígado. Também tem apresentado resultado positivo no tratamento da diabetes e no emagrecimento.

 

Crista-de-galo – Pluma-de-princípe: Não tem emprego nas obrigações do ritual. A medicina caseira a indica para curar diarréias.

 

Dragoeiro – Sangue-de-dragão: Abrange aplicações nas obrigações de cabeça, abô geral e banhos de purificação. Usa-se o suco como corante, e toda a planta, pilada, como adstringente.

 

Erva-tostão: Aplicada apenas em banhos de descarrego, usando-se as folhas. A medicina popular a utiliza contra os males do fígado, beneficiando o aparelho renal.

 

Grumixameira: Aplicado em quaisquer obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de purificação dos filhos do orixá. A arte de curar usada pelo povo indica o cozimento das folhas em banhos aromáticos e na cura do reumatismo. Banhos demorados eliminam a fadiga nas pernas.

 

Guarabu – Pau-roxo: Aplicado em todas as obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de purificação dos filhos de Ogum. Usa-se somente as folhas que são aromáticas. A medicina caseira indica o chá das folhas, pois este possui efeito balsâmico e fortificante.

 

Helicônia: Utilizada nos banhos de limpeza e descarrego e nos abô de ori, na feitura de santo e nos banhos de purificação dos filhos do orixá Ogum. A medicina caseira a indica como debelador de reumatismo, aplicando-se o cozimento de todas a planta em banhos quentes. O resultado é positivo.

 

Jabuticaba: Usada nos banhos de limpeza e descarrego, os banhos devem ser tomados pelo menos quinzenalmente, para haurir forças para a luta indica o cozimento da entrecasca na cura da asma e hemoptises.

 

Jambo-amarelo: Usado em quaisquer as obrigações de cabeça e nos abô. São aplicadas as folhas, nos banhos de purificação dos filhos do orixá do ferro. A medicina caseira usa como chá, para emagrecimento.

 

Jambo-encarnado: Aplicam-se as folhas nos abô, nas obrigações de cabeça e nos banhos de limpeza dos filhos do orixá do ferro. Tem uso no ariaxé (banho lustral).

 

Japecanga: Não tem aplicação nas obrigações de cabeça, nem nos abô relacionados com o orixá. A medicina caseira aconselha seu uso como depurativo do sangue, no reumatismo e moléstias de pele.

 

Jatobá – Jataí: Erva poderosa, porém sem aplicação nas cerimônias do ritual. Somente é usada como remédio que se emprega aos filhos recolhidos para obrigações de longo prazo. Ótimo fortificante. Não possui uso na medicina popular.

 

Jucá: Não tem emprego nas obrigações de ritual. No uso popular há um cozimento demorado, das cascas e sementes, coando e reservando em uma garrafa, quando houver ferimentos, talhos e feridas.

 

Limão-bravo: Tem emprego nas obrigações de ori e nos abô e, ainda nos banhos de limpeza dos filhos do orixá. O limão-bravo juntamente com o xarope de bromofórmio, beneficia brônquios e pulmões, pondo fim às tosses rebeldes e crônicas.

 

Losna: Emprega-se nos abô e nos banhos de descarrego ou limpeza dos filhos do orixá a que pertence. É usada pela medicina caseira como poderoso vermífugo, mais particularmente usada na destruição das solitárias, usando-se o chá. É energético tônico e debeladora de febres.
Óleo-pardo: Planta utilizada apenas em banhos de descarrego. De muito prestígio na medicina caseira. Cozimento da raiz é indicado para curar úlceras e para matar bernes de animais.

 

Piri-piri: A única aplicação litúrgica é nos banhos de descarrego. É extraordinário anti- hemorrágico. Para tanto, os caules secos e reduzidos a pó, depois de queimados, estancam hemorragias. O mesmo pó, de mistura com água e açúcar extermina a disenteria.

 

Poincétia: Emprega-se em qualquer obrigação de ori, nos abô de uso externo, da mesma sorte nos banhos de limpeza e purificação dos filhos do orixá. A medicina caseira só o aponta para exterminar dores nas pernas, usando em banhos.

 

Porangaba: Entra em quaisquer obrigações e, igualmente, nos abô. No tratamento popular é usada como tônico e importante diurético.
Sangue-de-dragão : Tem aplicações de cabeça, nos banhos de descarrego e nos abô. Não possui uso na medicina popular.

 

São-gonçalinho: É uma erva santa, pelas múltiplas aplicações ritualísticas a que está sujeita. Na medicina caseira usa-se como antitérmico e para combater febres malignas, em chá.

 

Tanchagem: Participa de todas as obrigações de cabeça, nos abô e nos banhos de purificação de filhos recolhidos ao ariaxé. É axé para os assentamentos do orixá do ferro e das guerras. Muito aplicada no abô de ori. A medicina popular ou caseira afirma que a raiz e as folhas são tônicas, antifebris e adstringentes. Excelente na cura da angina e da cachumba.
Vassourinha-de-igreja: Entra nos sacudimentos de domicílio, de local onde o homem exerce atividades profissionais . não possui uso na medicina popular.
 

 

Oferenda

Feijão para Ogum

Ingredientes:
500g. de feijão cavalo
1 cebola
1 vidro de dendê
7 camarões grandes
Modo de preparo:
Cozinhe o feijão e tempere-o com cebola refogada no dendê, coloque em um alguidar e enfeite com os camarões fritos no dendê. Faça seus pedidos e ofereça a Ogum.

 

Lendas

 

Sem Título 1

 Oyá era a companheira de Ogum antes de se tornar a mulher de Xangô. Ela ajudava o deus dos ferreiros no seu trabalho; carregava docilmente seus instrumentos, da casa à oficina, e aí ela manejava o fole para ativar o fogo da forja. Um dia, Ogum ofereceu à Oyá uma vara de ferro, semelhante a uma de sua propriedade, e que tinha o dom de dividir em sete partes os homens e em nove as mulheres que por ela fossem tocados no decorrer de uma briga.

 

Sem Título 2

 Xangô gostava de vir sentar-se à forja a fim de apreciar Ogum bater o ferro e, frequentemente, lançava olhares a Oyá; esta, por seu lado, também o olhava furtivamente. Xangô era muito elegante, seus cabelos eram trançados e usava brincos, colares e pulseiras. Sua imponência e seu poder impressionaram Oyá. Aconteceu, então, o que era de esperar: um belo dia, ela fugiu com ele. Ogum lançou-se à sua perseguição, encontrou os fugitivos e brandiu sua vara mágica. Oyá fez o mesmo e eles se tocaram ao mesmo tempo. E, assim, Ogum foi dividido em sete partes e Oyá, em nove, recebendo ele o nome de Ogum Mejé e ela o de Yansã, cuja origem vem de Iyámésan - "a mãe (transformada em) nove".

 

Sem Título 3

Ogum e Xangô nunca se reconciliaram e, vez por outra, se degladiavam nas mais absurdas disputas. Certa vez Ogum propôs a Xangô que dessem uma trégua em suas lutas, pelo menos até a próxima lua que chegaria. Xangô fez alguns gracejos ao quais Ogum revidou, mas decidiram por uma aposta, continuando assim a disputa.
 Ogum propôs que ambos fossem à praia e recolhessem o maior número de búzios que conseguissem e quem vencesse daria ao perdedor o fruto da coleta.
 Deixando Xangô , Ogum seguiu para a casa de Oyá e solicitou-lhe que pedisse à Ikú (a morte) que fosse à praia no horário em que ele havia combinado com Xangô . Oyá exigiu uma quantia em ouro, o que prontamente recebeu de Ogum. Na manhã seguinte, Ogum e Xangô se apresentaram na praia, iniciando a disputa.
 Vez por outra se entreolhavam e Xangô cantarolava sotaques jocosos contra Ogum. O que Xangô não percebeu é que Ikú havia se aproximado dele. Xangô levantou os olhos e se deparou com Ikú que riu de seu espanto. Xangô largou sua sacola com os búzios colhidos e desesperado se escondeu de Ikú. À noite Ogum procurou Xangô mostrando seu espólio. Xangô, envergonhado, abaixou a cabeça e entregou ao guerreiro o fruto de sua coleta.

 

A Quizila de Ogum com o Quiabo

Xangô era muito ambicioso por status, principalmente pelo título de rei, por se sentar no trono de um reinado. Foi o que aconteceu com a cidade de Oyó.
 Xangô estava para entrar em Oyó, com a sua comitiva, quando avisaram Ogum. O povo pediu a sua ajuda pois ele era um grande guerreiro, e Ogum não se negou. Mas, como em tudo existe falsidade, a notícia de que Ogum estava contra Xangô vazou. Xangô, sabendo, tomou as suas atitudes. Ele tramou uma cilada para Ogum. Mandou comprar muito quiabo em todas as aldeias e mandou picar. Fez uma pasta com o quiabo. Pelo lado em que ele ia atacar a cidade tinha uma ladeira. O que ele fez? Mandou espalhar que o ataque era naquele dia. Aí mandou espalhar o quiabo ladeira abaixo. Já viu como ficou né? Ninguém se segurava. Escorregavam todos ladeira abaixo. Foi assim que, quando Ogum apareceu no caminho, pensando que ia vencer Xangô, todos os seus cavaleiros, até mesmo ele, desceram ladeira baixo e os seus cavalos quebravam as pernas. Assim Xangô tomou posse a cidade de Oyó e a comandou pôr todo um século.