Entrevista n.12
Sobre Homossexualidade e Cristianismo

1.Na sua opinião, o cristianismo e o homossexualismo são compatíveis? O senhor pode fundamentar sua opinião com base em textos bíblicos?
Mott - O que distingue a mensagem de Cristo, tanto do judaísmo como de outras religiões, é o primado do amor: amai-vos uns aos outros. Homossexualidade é amor, amor ágape, amor eros, amor filos. Onde há amor, Deus aí está, disse João, o discípulo que Jesus amava. Portanto, quando dois homens ou duas mulheres se amam, estão cumprindo a regra áurea do cristianismo. Todos os textos bíblicos - e são pouquíssimos! que costumam ser usados para justificar a homofobia (ódio à homossexualidade) por parte de cristão fundamentalistas, a moderna exegese comprova que foram ou mal traduzidos, ou mal interpretados. De Sodoma e Gomorra, às epístolas paulinas. Se Jesus condenasse os homossexuais, não teria curado o escravo/amante (gay) do centurião. Se o Filho de Deus abominasse o amor unissexual, teria dito ao menos uma palavra contra os "sodomitas" e no entanto, condenou sim os hipócritas e duros de coração, prevendo que os eunucos, prostitutas e publicanos vos precederão no reino dos céus.

2.O crescimento do homossexualismo e sua maior aceitação por parte da sociedade tendem a alterar a visão evangélica mais ortodoxa, segundo a qual o comportamento gay é pecado e abominação contra Deus?
Mott - Sim, os cristãos, devem acatar o ensinamento de Jesus de que há eunucos que assim nasceram do ventre de suas mães. Eunuco é um eufemismo usado por Cristo para se referir aos amantes do mesmo sexo, posto que o termo "homossexual" só foi cunhado em 1869. Hoje a genética comprova cada vez mais a naturalidade da orientação sexual: portanto, faz parte dos planos do Criador também a existência de seres humanos com orientação homossexual. Isto a própria teologia moral católica oficial do Vaticano já reconhece, que orientação sexual não é pecado, mas continua defendendo que sua prática, sim, é imoral. Considera também imoral o uso do preservativo, da pílula anti-concpcional, o divórcio. E muitas denominações evangélicas aceitam tais "abominações". Abominação é o desamor, é não escutar a voz do Espírito Santo, que através da exegese, da genética, da antropologia, garantem a normalidade e universalidade do amor homossexual. Homossexualidade é amor, tão puro e verdadeiro como o que o Rei Davi sentiu por Jonas: "teu amor me era mais delicioso que o amor das mulheres!"

3.O que o senhor pensa do axioma evangélico de que os homossexuais precisam ser convertidos e "libertos" desta prática? Este discurso reflete um genuíno proselitismo ou esconde sentimentos homofóbicos?
Mott - Homofobia é o anti-semitismo do mundo moderno: exatamente quando respondia a estas perguntas, 52 gays egípcios estavam sendo processados por terem sido flagrados cometendo um crime hediondo: dançavam numa boite gay num iate no rio Nilo - o mesmo rio onde Moisés foi salvo das águas. Homofobia é ódio, intolerância, diabolismo, violação dos direitos humanos. E porque os "crentes" são mais homofóbicos que os demais brasileiros? Resposta: os evangélicos homófobos querem comprovar para a sociedade machista/hedonista que apesar de serem "certinhos", não participarem da cultura machista/falocrática dominante, nem por isto são "efeminados". Freud explica!

4.O Grupo Gay da Bahia e outras entidades que o senhor representa têm sido discriminados e hostilizados por pastores, líderes e fiéis evangélicos? E o senhor, particularmente, já foi vítima de situações do gênero?
Mott - Certa vez, no Campo Grande, em Salvador, um jovem batista me deu um tapa na cara, quando protestei contra sua pregação homofóbica. A revista Ultimato e o grupo Moses, ambos violadores dos direitos humanos, posto que lutam para "curar" os homossexuais, têm respondido de forma primária a minhas críticas, inspirados em fundamentalismo bíblico incompatível com a moderna exegese. Estes infelizes que consideram os homossexuais pecadores e presas do diabo, estão condenados à geena, pois tendo olhos não vêem e ouvidos mas não ouvem a mensagem do Filho de Deus: Sodoma e Gomorra serão tratadas com menos rigor do que Jerusalém, por esta última não ter aceitado a mensagem do Mestre do divino amor.

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