A Igreja Melquita tem consciência de ser a mais
antiga do mundo, sucessora direta e imediata dos Apóstolos. Nosso
Patriarca, Gregório III, porta o titulo de “Patriarca de Antioquia
e todo o Oriente, de Alexandria e de Jerusalém".
Jerusalém é a Cidade Santa por excelência,
onde Pedro, chefe dos Apóstolos, pronunciou seus primeiros discursos,
realizou seus primeiros milagres, presidiu o primeiro Concílio da
nascente Igreja. E para Jerusalém que Paulo se dirigiu mais de uma
vez, especialmente para encontrar Pedro e tomar parte no Concílio
dos Apóstolos.
Antioquia é a “Cidade de Deus". É em Antioquia
que fomos pela primeira vez chamados “cristãos” (At 11,26). Em Antioquia
Pedro estabeleceu sua primeira sede, antes de se fixar em Roma e encontrar
o martírio. Em Antioquia Paulo estabeleceu seu centro de missões
para a Ásia Menor, Chipre, Grécia, Roma.
Alexandria foi evangelizada por Marcos, discípulo
de Pedro. O helenismo da cidade serviu enormemente à expansão
do Evangelho em todo o mundo greco-romano, e daí para todo o Ocidente.
Os melquitas de hoje somos os descendentes destes primeiros
centros de cristandade. Durante vinte séculos, os melquitas fomos,
quase sempre ao preço de nosso sangue, os testemunhos fiéis,
ou seja, os mártires, da verdadeira fé de Pedro, Paulo e
os apóstolos.
Nome
O nome “melquita" nos foi dado em uma relativamente tardia,
depois do quarto Concílio Ecumênico, de Calcedônia,
no ano 451. As definições cristológicas e dogmáticas
do Concílio foram aprovadas pelos delegados do Papa Leão
I. "Pedro falou pela boca de Leão", aclamaram Os padres do Concílio.
Estas definições foram fortemente apoiadas por Marciano,
Basileu (ou o equivalente a imperador) bizantino de Constantinopla. Porem,
mais por motivos políticos que por razoes teológicas, as
nações que já não suportavam a colonização
bizantina (siríacos, coptas, armênios), e que procuravam se
separar do império, recusaram aquelas definições.
A nós, que cristãmente aceitamos as definições
do Concílio, deram o nome de "melquitas-realistas" (da raiz semítica
“melek" = rei, imperador). Conscientes de que éramos mais fiéis
a Cristo e ao futuro da Igreja que ao Imperador, aceitamos humildemente
o apodo. O Papa foi chamado "Chefe dos Melquitas".
O nome "greco" (abreviatura de gregos) na realidade trata-se
de uma tradução imprópria. Quando a capital do Império
Romano transferiu-se de Roma para Bizâncio (atual Istambul, Turquia),
a língua oficial da capital do Império gradualmente passou
a ser o Grego. Os muçulmanos, ao enfrentarem o Império Romano
de então, chamaram os cristãos bizantinos de “rumi”, que
em sentido literal quer dizer “romano”, mas que era sinônimo de gregos,
porque estes cristãos orientais falavam o grego. Em suma o que se
queria dizer com "romano" (cristão bizantino) passou a ser traduzido
por "grego". Vê-se aí que desde a Origem, sempre houve uma
profunda relação da Igreja Greco-Melquita com a Romana.
O uso atual da palavra
“cató1ico” significa “em comunhão com o Papa ou com a Igreja
de Roma". No Oriente, para indicar as outras Igrejas Orientais católicas,
sempre se usa conjuntamente uma outra denominação (étnica):
Armênia, Siríaca, Copta... Católica. Quando o titulo
"Katulik" (católico) é usado sem outro qualificativo, sempre
e somente significa a Igreja greco-melquita católica.
Histórico
Para os historiadores muçulmanos, até o
século XV, “me1quita" era sinônimo de "católico". O
Patriarca de Roma, isto é, o Papa, era chamado chefe da religião
melquita. Após a invasão dos três patriarcados pelo
Islã, foram os melquitas, com os bizantinos, os únicos no
Oriente a estar em comunhão com o Papa e a Sede de Roma. Basta verificar
que durante os séculos VII e VIII bom número de Papas que
tivemos eram de origem melquita. Em vão Pedro III, Patriarca de
Antioquia, tentou uma reconci1ição após o Grande Cisma
entre Roma e Constantinopla,. Com a queda de Constantinopla em 1453 em
mãos dos Otomanos e a posterior invasão dos três Patriarcados
Melquitas, até o fim da Primeira Guerra Mundial, as perseguicões
foram tantas e tão intensas que podemos considerar um milagre a
sobrevivência das Igrejas Orientais.
Graças aos missionários europeus (Jesuítas,
Franciscanos, Capuchinhos e Carmelitas), um movimento de “despertar" cristão
se manifestou no século XVII no Oriente. Este movimento ajudou os
cristãos a retomarem a confiança em sua Igreja, sua história
e sua tradição. Este "despertar" lhes permitiu se orientar
em direção a Roma e ao Catolicismo pelo qual estes missionários
trabalharam, apesar das dificuldades criadas pelos Patriarcas de Cosntantinopla,
que eram apoiados pelos sultões otomanos. Este apoio concedia aos
Patriarcas de Constantinopla um domiínio sobre todos os cristãos
do Império que governavam, sem levar em conta sua individualidade
ou sua identidade particular. Foi este mesmo apoio que incentivou um grande
numero de melquitas a se liberarem da autoridade de Constantinopla e a
declararem oficialmente a união com a Sé Romana.
Com o falecimento do Patriarca de Antioquia, Atanásio
III Dabbas, em 1724, foi eleito para esta Sé Cirilo Tanas (pró-romano).
Em oposição a este fato o Patriarca de Constantinopla nomeou
um patriarca anti-unionista, Silvestre, originando assim duas linhas paralelas
de sucessão: a Católica e a Ortodoxa.
Missão
A Igreja Melquita, ao contrário das outras Igrejas
Orientais, a única Igreja não nacional, a única sopra
nacional. Ela é espalhada por todo o Oriente Médio árabe,
herdeira legítima das três Sedes Apostólicas, Alexandria,
Antioquia e Jerusalém, e a maior beneficiária de todo o patrimônio
teológico e espiritual do oriente, O que a toma obrigada literalmente
a desempenhar um papel ecumênico sui generis, onde podemos destacar
três aspectos:
· Sua dupla raiz, antioquena e bizantina em Antioquia
e Jerusalem, alexandrina e bizantina em Alexandria, a toma a maior beneficiária
do imenso patrimônio teológico e espiritual dos quatro patriarcados
do oriente.
· Seu papel ecumênico sem par, por pertencer
à grande família bizantina da Ortodoxia Oriental e à
comunhão romana do Catolicismo Ocidental, o que a faz autenticamente
católica e autenticamente oriental, mostrando à Igreja toda
que catolicismo não é necessariamente sinônimo de latinismo
e que ortodoxia não representa ruptura com Roma.
· Pela sua inserção no mundo árabe,
pela arabização completa de sua liturgia, pelo seu pensamento
literário e religioso, a Igreja Melquita é pois a testemunha
de Cristo diante do Islã, demonstrando que arabismo não é
islamismo e que há cristãos árabes, autenticamente
cristãos e autenticamennte árabes.
Pela tríplice vocação, vocação
esta muito exigente, dir-se-ia até às vezes crucificante,
a Igreja Melquita dispõe-se a trabalhar para a unidade da igreja
e para o diálogo inter-religioso, lembrando à Igreja Romana
o tempo do primeiro milênio, tempo da Igreja Indivisa, tendo como
corolário a chamada que o Papa tem feito, exortando toda a igreja
a voltar-se para as tradições do Oriente.