Amanhã ela começa
amar. Mas é noite ainda, e está só. Ensimesmada.
Em tons cruzados de
linhas, lãs, fases. Reflexos da vida e dos guardados. Vida sobrada e guardada em
coloridos sobejos, de colchas, xales, cachecóis - amores. Velhos e novos. Usados
e preservados.
Pacientemente separa e
colore vidros. Em iguais porções, diferentes matizes.
Das linhas, das lãs,
das sobras. Que da vida, os tons já nascem mesclados.
Mas separa. Como quem
separa sonhos. Delicada e sutilmente. Absolvida pela cor.
Absorta a noite escura
pára. Repara no trabalho lento e afinado. Canto perdido na escuridão.
A noite ajeita-se.
Espia através da janela com seu olho comprido e boca gulosa.
Enquanto a moça
trabalha, a noite sonha. Curiosa confunde tons. Escurece os vidros. Segura o
dia. Afasta o sol. Prolonga o noturno. Até que exausta se retira.
Sentindo clarear as
cores, a moça boceja a noite. Fecha os vidros e adormece.
Esgotada da noite e
da vida.
Confuso o sol se
anuncia. Invade cortinas, descortina cor.
Rompe pelo quarto e
liberta as cores dos vidros.
E as paredes da moça
que sonha, não sei se em cores... aquece.
É amanhã e ela ainda
demora acordar.
Maria Izabel