DEVIRES
Paola Caumo

 

CRÔNICA DE UM CASAMENTO (QUE, POR ACASO, FOI O MEU)
Paola Caumo

 

Muita gente achou que eu iria mesmo ficar para titia. Até eu já me acostumava com a idéia, devido a profusão de sobrinhos.
Rebelde desde a pré-adolescência, às vezes com, às vezes sem causa; eu sempre dizia: - Casar eu? Para que colocar no papel o que se sente no coração?
Quis o destino (essa sempre é uma ótima desculpa) que o dito cujo papel fosse necessário, quase que imprescindível. Explico: Eu resolvi me apaixonar por um estrangeiro e, para ele poder "existir" no Brasil, só casando.
Então pensei: vou casar no civil, só com os padrinhos. E era isso. Mas sabem como é. Casar sem nenhuma festinha não tem graça; afinal é um casamento.
Todavia, eu fiquei dividida demais. Metade de mim queria se esconder bem lá num cantinho e ficar invisível. E... a outra metade... queria um pouco de badalação, glamour de noiva e coisa e tal.
E assim foram os preparativos. Ora me escondia, ora me entusiasmava. Fizemos muitos convites e, claro, não entregamos nem a metade. O tal freio de mão puxadíssimo.
Para vocês terem uma noção, só convidamos a minha família uma semana antes do casamento. Sem muito tempo para preparativos.
A partir do quinto dia que antecedeu o casamento, comecei a ficar muitíssimo nervosa. Não queria nem falar no assunto. Fugia de telefonemas. Deixei todos os detalhes para o penúltimo dia.
No grande dia, lá fomos nós, dois noivos nervosos. Sem limusine e ainda tive que dirigir. Que falta de pompa - Francamente. Mas também, quem mandou casar numa sexta-feira? As pessoas trabalham.
Chegamos ao cartório no horário e ficamos conversando com os convidados. E como não podia deixar de ser, até para casar tem fila! E adivinhem? Nós fomos os últimos. Só não comi as unhas porque estavam pintadas (outro milagre).
Tam..tam...tam...tam...tam...tam...(não é a empresa aérea)...mentira minha: não tem música no cartório.
A juíza começou a cerimônia: Paola (Paola?) Caumo (Caumo?) [o que tem de tão estranho o meu nome?] é por livre e espontânea vontade que aceitas Jorge Humberto como teu legítimo esposo? SIM (Será que tem alguém que diz não??) Jorge Humberto......SIM. Então a auxiliar da Juíza foi ler a certidão e engasgou.
-Desculpa, disse ela, e não saia mais nada. Que silêncio constrangedor. A juíza: -Já leu que ele é português? Graças a Deus ela conseguiu achar a frase e terminar a leitura. (Meus colegas riam a valer dizendo que só podia ser uma estagiária) Cumpriu-se o ritual. Assinamos o livro. Trocamos as alianças (estávamos tão trêmulos que elas quase caíram no chão). Depois tudo foi festa: Muitos beijos e abraços, chuva de arroz e fomos comemorar no Café da Casa de Cultura Mário Quintana.
Tive também, direito a um chilique de noiva. Quase ao final da festa, descobrimos que não tinha saído nenhuma foto. As amigas rapidamente localizaram um fotógrafo e, enquanto ele não chegava, me consolavam contando piadas (que eu não achava graça nenhuma).
Após esses momentos de tensão e aflição, o fotógrafo chega, eu ensaio aquele sorriso e lá vamos nós para mais uma rodada de fotos.
Um final feliz com dois noivos louquinhos para sumir da festa e dizer: -Enfim sós!
O casamento foi lindo, com dois noivos belos e felizes, mas só tenho uma coisa a dizer: -Nunca mais me caso!!!
 
16/04/05

 

Paola e Jorge

um amor pela Internet

 

 

Um início muito longe do paraíso

 

Foi em janeiro, 04 de janeiro de 2003. Para Paola (Porto Alegre/RS - Brasil) o tempo era quente: verão e férias. Para Jorge (Santa Iria de Azóia - Portugal) o frio já havia chegado e o inverno se fazia sentir.

Um oceano nos separava e o gosto pela poesia,

foi o que nos aproximou, pelas redes invisíveis de bytes, conexão telefônica, etc e tal.

 

Tudo começa com Paola mandando um convite a Jorge para se falarem no MSN. Eis a resposta

"Olá, Paola, do Rio Grande do Sul!

Vejo que tem (ns?) bom gosto, pois não se gosta de poesia, antes aprende-se a gostar, e como tal o mesmo implica escolha, daí o bom gosto. Sim, vamos conversar. (Se esta mensagem tiver sucesso escreva(e?)-me).

Até já. Jorge(the poet)..."

04/01/2003

 

*

 

A primeira poesia de Paola para Jorge:

 

"QUEM DERA

 

Quem dera eu pudesse

estar ao teu lado agora

para ensinar-te as tecnologias da vida

e penetrar em teu coração

sem tantos espaços de tempo

 

Quem dera eu pudesse

ser apenas uma pluma

voar pelo oceano

atravessar os mares

ver-te em segundos

 

Quem dera eu pudesse

não ser apenas poeta

ser uma moça discreta

não ter tanta impaciência de saber

 

Quem dera eu pudesse

juntar meus alfarrapos

fazer minha trouxa

arrumar minha mala

arrumar meu porão

limpar meu sótão

chorar minhas dores

 

Quem dera eu pudesse

mostrar-te meu sorriso

afetar-te na alma

soar-te como música

 

Quem dera eu pudesse

...sentir apenas tua doce presença...

trazer-te na lembrança

um pouco de poesia

sempre profunda e bela

 

Paola Caumo

04/01/2003"

 

*

 

O primeiro soneto de Jorge para Paola

 

"COMO

 

Como ter-te sem te saber aqui

Como saber-te sem te respirar

Como te olhar vendo-me a mim

Como sozinho e ver-te chegar;

 

Como aqui se te suponho a ti

Como alguém a quem esperar

Como perto o que longe está assim

Como um espelho a quebrar;

 

Como cego e testemunhar

Que há silêncio nisto tudo

Tão audível como o calar

 

Como quando nesse instante

Fora aqui o imenso Mundo

E achar-lhe o Levante."

 

Dias compartilhados através de uma tela de computador

 

Foi assim que aprendemos a nos conhecer, pela palavra escrita, através da qual compartilhamos sentimentos, dores, alegrias.

Desvendamos nossa existência, pelas lembranças

do que fomos e somos.

E assim nos apaixonamos e nos amamos,

namoramos, brigamos, voltamos...

até acreditarmos que era possível sim, concretizarmos esse amor.

 

*

 

A nossa entrega

 

Nessa noite em que foste minha,

entrega sem pudor, corpo oferecido,

com leves torpores e suaves cadências,

eu fui feliz a teu lado,

e nem houve sequer pecado

só tu e eu enquanto nos amávamos,

e no chão que era só nosso

deitamos doces inocências

e as aparências

no nós não acharam lugar,

já que bem julgamos

o que soubemos amar.

 

E eu chorei, e eu fui teu.

E o meu corpo por ti apossado

deixou algo de seu,

o muito que era dele

no amor que te deu.

 

Ai amor, como te amei,

teu corpo perfeito,

o teu olhar com trejeito,

que encanto só de olhar.

 

Mesmo parecendo eles chorar,

era choro sem doer,

tudo em nós foi só prazer,

tudo em nós foi esta realidade,

pois que nessa noite em que fui teu,

a estrela que tu me deste

aceitei-a em beijo meu.

 

Jorge Humberto

(13/Abril/2003)

 

*

 

Nós

 

Se na ternura de tua presença,

Me sinto como um pássaro livre com ninho de amor,

Se posso ter-te apesar de toda a distância,

Se posso querer-te e amar-te com toda a paixão e loucura,

Então te digo amor meu

Isso me basta

 

Porque teu amor não aprisiona, liberta

Teu tesão não me deixa só, me faz plena

Teu carinho vem como brisa e volta como vento

Meu amor, minha paixão “platônica”

Quem dera todos pudessem sentir

Um amor assim tão inocente

E tão fortemente presente

Pela palavra e pelo sentir

 

Sim, desejo teus beijos, desejo teu corpo

Desejo o teu desejo, desejo a tua ternura,

Mas antes de tudo,  depois de nada

Apenas nós dois de madrugada

Quem poderá dizer que não nos temos?

 

Almas... almas...

Corações doloridos e preenchidos

Corpos sedentos e saciados

Pensamentos tormentos e apaziguados

Sim, somos tudo, somos nada

Somos amor na caminhada

E basta que nos sintamos, basta que nos gostemos

Ademais, mais nada

 

Paola Caumo

15/abril/2003

 

Enfim, o encontro

 

Depois de muita espera, em 30 de setembro de 2004, Jorge chega a Porto Alegre para a concretização de um sonho a muito acalentado:

A nossa união!

 

“Quisera saber antes ainda do após, a consciência, ter-lhe o sentido e o devido tino, não teria por certo nem metade do prazer, que é descobrir, como num espasmo, o momento inolvidável e preciso...

De quando tudo acontece, fica a certeza do que foi, porque se fez a si próprio, sem restrição nem imposição...

Não voltará jamais, porém restará ao dia, o dia que restou."

 

Jorge Humberto

(03/09/04)

 

*

 

ENFIM JUNTOS

Paola Caumo

 

Da espera

          a recompensa

Do desejo

          o toque, o calor, o beijo

Do amor

          a plena realização.

 

Adeus

          saudade

Bem-Vinda

          felicidade!

 

03/09/2004

*

 

Muitos e muitos poemas nasceram inspirados no nosso amor. Mas isso já dá outra história.

 

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