ILHA GRANDE:
Caminhando de madrugada, à luz da lua cheia na Praia do Leste, ouço os longínquos guinchos dos bugios vindos das
matas de Parnaióca. Horas depois, no Aventureiro, um pescador assustado me conta que, dois anos atrás, um “gringo”
soltou uma onça nas matas. Enquanto ele pensa em se mudar para o continente, eu penso nas artimanhas da especulação
imobiliária.
Em Provetá meninos brincam de bola de gude e pião, a maria farinha brinca de esconde-esconde comigo
quando tento retê-la na máquina fotográfica, enquanto as meninas tomam banho de mar vestidas da cabeça aos pés,
e brincam de fazer bolas de areia que viram e reviram de uma mão para a outra, embalando-as feito bebês.
Tudo ao som de músicas evangélicas que penetram todos os espaços da pequena vila. Dona Luzia, da Gruta do Acaiá,
fala-me de tesouros de piratas que lá eram escondidos e do mergulhador que ficou milionário resgatando-os.
Desço ao fundo da gruta e diviso a luz do sol coada pela água do mar formando uma linha néon azulada,
quase irreal: os mergulhadores deixaram o maior tesouro.
Dias depois, em Araçatiba, alternando meu olhar entre o nascer
do sol púrpura e a costa ao longe, penso se regresso ou fico para sempre na ilha. Meus olhos indecisos
batem no nome da traineira ancorada na baía: “Você decide”.
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