O LIVRO DERRADEIRO
Cruz e Sousa
CAMPESINAS
Parte 3
Sumário:
AO AR LIVRE
NOS CAMPOS
A BORBOLETA AZUL
RENASCIMENTO
ABELHAS
BESOUROS...
PAPOULA
CAMPESINAS
NA VILA
OS RISONHOS
AO AR LIVRE
A Virgílio Várzea
Tu trazes agora o peito
Como essas urnas sagradas,
Repleto de gargalhadas,
Sonoro, bom, satisfeito.
Por dentro cantam assombros
E causAs esplendorosas
Como latadas de rosas
Dos muros entre os escombros.
Quando o ideal nos alaga,
Embora as lutas do mundo,
Levanta-se um sol fecundo
Do peito em cada uma chaga.
Voltou-se a seiva de outrora,
De outro, mais forte e destro,
Iluminado maestro,
Das harmonias da aurora.
Fulgurem por isso as musas,
As belas musas, por isso...
Voltou-te o passado viço,
Foram-se as mágoas, confusas.
Agora, quando eu dirijo
Meus passos, à tua porta,
Sinto-te um bem que conforta,
Vejo-te alegre e mais rijo.
Porque afinal pela vida
Nem tudo se desmorona
Quando se vaga na zona
Da mocidade florida.
Gostas de ver pelos ramos
Das verdes árvores novas,
A chocalhar umas trovas,
Coleiros e gaturamos.
Já podes bem comer frutas,
Os teus simpáticos jambos,
E ouvir alguns ditirambos
Da natureza nas grutas.
Podes olhar as esferas,
Com ar direito e seguro,
De frente para o futuro,
De lado para as quimeras.
Não tenhas cofres avaros
De santos -- na luz te afoga,
E a alma arremessa e joga
Por esses páramos claros.
Reúne os sonhos dispersos
Como andorinhas vivaces
E o colorido das faces
Ao coberto dos versos.
Como uns lábaros vermelhos,
Contente como os lilazes,
As crenças dos bons rapazes
Tem prismas como os espelhos.
NOS CAMPOS
Por entre campos de seara loura
De alegre sol puríssimo batidos,
Passam carros chiantes de lavoura
E raparigas sãs, de coloridos
Que a luz solar que as ilumina e doura
Lembram pomares e jardins floridos,
Por entre campos de seara loura.
A Natureza inteira reverdece
Pelos montes e vales e colinas;
E o luar que freme, anseia e resplandece,
Movido por aragens vespertinas,
Parece a alma dos tempos que floresce...
Enquanto que por prados e campinas
A Natureza inteira reverdece.
A paz das coisas desce sobre tudo!
E no verde sereno despessuras,
No doce e meigo e cândido veludo,
Tremem cintilações como armaduras
Ou como o aço brunido dum escudo;
Enquanto que das límpidas alturas
A paz das coisas desce sobre tudo!
A casa, a rude tenda construída,
Onde habitam as mães e as crianças
Promiscuamente, nessa mesma vida
De perfume lirial das esperanças,
Como é feliz, dos astros aquecida!
Aquecida do Amor nas asas mansas
A casa, a rude tenda construída.
As bocas impolutas e cheirosas
Das raparigas, pródigas belezas
De finos lábios púrpuros de rosas,
Abrem, cheias de angélicas purezas,
As cristalinas fontes murmurosas
De risos, refrescando em correntezas
As bocas impolutas e cheirosas.
Da vida aurora rica do seu sangue
Flameja a carne em báquicas vertigens!
E quem tiver uma epiderme exangue
Para ficar com essas faces virgens,
Para não ser mais pálida nem langue,
Tem de beber das cálidas origens
Da viva aurora rica do seu sangue.
Lindas ceifeiras percorrendo. searas
Nos campos, ó bizarras raparigas,
Pelas manhãs e pelas tardes claras
Vós desfolhais sorrisos e cantigas
Que deixam ver as pérolas mais raras
Dos dentes brancos, frescos como estrigas...
Lindas ceifeiras percorrendo searas!
A BORBOLETA AZUL
No alegre sol de então
De uma manhã de amor,
A borboleta solta no fulgor
Da luz, lembrava um leve coração.
Ia e vinha e a voar
Gentil e trêfega, azul,
Sonoramente a percorrer pelo ar,
Como um silfo tenuíssimo e taful.
Sobre os frescos rosais
Pousava débil, sutil,
Doirando tudo de um risonho abril
Feito de beijos e de madrigais.
Que doce embriaguez
O vôo assim seguir
Da borboleta azul, correndo, a vir
Do espaço pela Etérea candidez!
Fazendo, tal e qual,
O mesmo giro assim,
O mesmo vôo límpido, sem fim,
Nos mundos virgens de qualquer ideal.
Ir como ela também
Em busca das loucas
E tropicais e fulgidas manhãs
Cheias de colibris e sol, além...
Ir com ela na luz
De mundos através,
Sem abrolhos nas mãos, cardos nos pés,
Ó alma, minha, que alegria a flux!...
No alegre sol de então
De uma manhã de amor
A borboleta solta no fulgor
Da luz, lembrava um leve coração.
RENASCIMENTO
Canta ao sol, como as cigarras
A tua nova alegria.
No Azul ressoam fanfarra
Da grande vida sadia.
Alerta, um clarim de alerta
Àquela antiga saúde:
-- À clara janela aberta
Para o mar salgado e rude.
Que volte, ruidosa, agora,
Como um pássaro marinho,
A tua saúde, a aurora
Do teu sangue, estranho vinho.
E como espiga madura
Floresce outra vez a vida,
Resplandece à formosura,
Ó torre de ouro florida!
Quero-te em rosas festivas
A polpa das carnes brancas.
E rindo-te às forças vivas
Com rubras risadas francas.
Formosa, soberba e nua,
Nesse olhar que tudo abrange,
Na fronte um diadema, em lua
Num talhe curvo de alfanje;
Vem! o sol é teu amante!
Ah! vem mergulhar nos braços
Do flavo sultão radiante
Do harém azul dos espaços.
ABELHAS
Gotas de luz e perfume,
Leves, tênues, delicadas,
Acesas no doce lume
De purpúreas alvoradas.
Pingos de ouro cristalinos
Alados na esfera, ondeando,
Dispersos por entre os hinos,
Da natureza vibrando.
Sorrisos aéreos, soltos,
Flavas asas radiantes,
Que levam consigo envoltos
Da aurora os sóis fecundantes.
Da aurora que a primavera
Faz cantar, brota no peito
E floresce em folhas de hera
O coração satisfeito.
Essa aurora produtiva
Do amor soberano e eterno,
Que é nas almas força viva
E nas abelhas falerno.
Nas doudejantes abelhas
Que dentre flores volitam
E do sol entre as centelhas
Resplendem, fulgem, palpitam.
Zumbem, fervem nas colméias
E rumorejam no enxame
Pelas flóridas aléias
Onde um prado se derrame.
Assim mesmo pequeninas
E quase invisíveis, quase,
Com as suas asitas finas,
De etérea de fluida gaze.
Ah! quanto são adoráveis
Os favos que elas fabricam!
Com que graças inefáveis
Se geram, se multiplicam.
Nos afãs industriosos
Que enlevo, que encanto vê-las
Com seus corpos luminosos
D'iriante brilho d'estrelas.
E nas ondas murmurosas
Dos peregrinos adejos
Vão dar ao lábio das rosas
O mel doirado dos beijos.
BESOUROS...
Marche, marche, marche a verve!
Bandeiras, clarins, tambores,
Marchar!
A poncheira ideal, que ferve,
Sons, aromas, chamas, cores!
Cantar!
Que este diabo vem, saudoso,
Das profundezas do arcano,
Viver!
O vinho maravilhoso
Da forma raro e renano,
Beber!
Vem beber o vinho iriado,
O Falerno, claro e quente,
Haurir!
Num paladar requintado,
Todo inflamado e fremente
Sentir!
Que o sangue da verve vibre
Raja, raja, raja, raja,
Taful!
E a alma do sol se equilibre
Para que mais sonhos haja
No azul!...
Mas este diabo tão fino,
Que de tudo dá o acorde
Genial!
Este capróide genuíno,
Verde, verde, morde, morde,
Fatal.
PAPOULA
A Oscar Rosas
Assim loura és mais formosa
Do que se fosses trigueira:
Corpo de eflúvios de rosa
Com esbeltez de palmeira.
Vestida de cor da aurora
Leve dos fluidos da graça,
És uma estrela sonora
Que, em sonhos, pelo éter passe.
Resplandece em teu cabelo
Um fulgor de sol dourado,
Que só de senti-lo e vê-lo
Fica tudo iluminado.
Do teu branco leque aberto
Que lembra uma asa de garça,
Aspiro um perfume incerto,
Talvez a tua alma esparsa.
Num resplendor de madona
E altivez de corça arisca
Surges da luz entre a zona
Com quebrantos de odalisca.
Que venha o duque normando
De castelos escoceses
Com seu ar bizarro e brando
Amar-te os olhos ingleses.
E entre aromas e frescores
E revoadas de abelhas,
Como num campo de flores
Que esse olhar vibre centelhas.
Que cantem na tua boca
As alegrias radiadas,
Numa ideal rajada louca
De vôos de passaradas.
Que como os astros no espaço,
Teu encanto resplandeça...
Com pelúcias no regaço
E asas de ave na cabeça.
E que os teus dois seios puros
Que o amor fecundando beija
Fiquem cheios e maduros
Com dois bicos de cereja.
CAMPESINAS
I
Camponesa, camponesa,
Ah! quem contigo vivesse
Dia e noite e amanhecesse
Ao sol da tua beleza.
Quem livre, na natureza,
Pelos campos se perdesse
E apenas em ti só cresse
E em nada mais, camponesa.
Quem contigo andasse à toa
Nas margens duma lagoa,
Por vergéis e por desertos,
Beijando-te o corpo airoso,
Tão fresco e tão perfumoso,
Cheirando a figos abertos.
II
De cabelos desmanchados,
Tu, teus olhos luminosos
Recordam-me uns saborosos
E raros frutos de prados.
Assim negros e quebrados,
Profundos, grandes, formosos,
Contêm fluidos vaporosos
São como campos mondados.
Quando soltas os cabelos
Repletos de pesadelos
E de perfumes de ervagens;
Teus olhos, flor das violetas,
Lembram certas uvas pretas
Metidas entre folhagens.
III
As papoulas da saúde
Trouxeram-te um ar mais novo,
Ó bela filha do povo,
Rosa aberta de virtude.
Do campo viçoso e rude
Regressas, como um renovo,
E eu ao ver-te, os olhos movo
De um modo que nunca pude.
Bravo ao campo e bravo a seara
Que deram-te a pele clara
São rubores de alvorada.
Que esses teus beijos agora
Tenham sabores de amora
E de romã estalada.
IV
Através das romãzeiras
E dos pomares floridos
Ouvem-se as vezes ruídos
E bater dasas ligeiras.
São as aves forasteiras
Que dos seus ninhos queridos
Vêm dar ali os gemidos
Das ilusões passageiras.
Vêm sonhar leves quimeras,
Idílios de primaveras,
Contar os risos e os males.
Vêm chorar um seio de ave
Perdida pela suave
Carícia verde dos vales.
V
De manhã tu vais ao gado
A cantar entre as giestas,
Com tuas graças modestas,
Correndo e saltando o prado.
E a veiga e o rio e o valado
Que todos dormem as sestas
Acordam-se ante as honestas
Canções desse peito amado.
As aves nos ares gozam,
Entre abraços se desposam,
No mais amoroso enlace.
E as abelhas matutinas
Que regressam das boninas
Voam, te em torno da face.
VI
As uvas pretas em- cachos
Dão agora nas latadas...
Que lindo tom de alvoradas
Na vinha, junto aos riachos.
Este ano arados e sachos
Deixaram terras lavradas,
À espera das inflamadas
Ondas do sol, como fachos.
Veio o sol e fecundou-as,
Deu-lhes vigor, enseivou-as,
Tornou-as férteis de amor.
Eis que as vinhas rebentaram
E as uvas amaduraram,
Sanguíneas, com sol na cor.
VII
Engrinaldada de rosas,
Surge a manhã pitoresca...
Que linda aquarela fresca
Nas veigas deliciosas!
Que bom gosto e perfumosas
Frutas traz, madrigalesca
A rapariga tudesca
Que vem das searas cheirosas!
Como os rios vão cantando,
Em sons de prata, ondulando,
Abaixo pelos marnéis!
Que carícia nas verduras,
Que vigor pelas culturas,
Que de ouro pelos vergéis!
VIII
Orgulho das raparigas,
Encanto ideal dos rapazes,
Acendes crenças vivazes
Com tuas belas cantigas.
No louro ondear das espigas,
Boca cheirosa a lilazes,
Carne em polpa de ananases
Lembras baladas antigas.
Tens uns tons enevoados
De castelos apagados
Nas eras medievais.
Falta-te o pajem na ameia
Dedilhando, a lua cheia,
O bandolim dos seus ais!
IX
NO CAMPO SANTO
Morreste no campo um dia,
Como uma flor desprezada.
Clareava a madrugada
Azul, vaporosa e fria.
Sobre a agreste serrania,
Numa ermida branqueada
Por uma manhã doirada
Um sino repercutia.
Teu caixão, de camponesas
E camponeses seguido,
Desceu abaixo às devesas.
Ganhou o atalho comprido
De casas em correntezas
E entrou num campo florido.
NA VILA
Nos ervaçais vibrou o sol agora,
Nas fitas verdes dos canaviais...
Como rompesse loura e fresca a aurora
Agora o sol vibrou nos ervaçais.
Murmurejam de alegres os caminhos
Que até parecem, límpidos, cantar
Na música melódica dos ninhos
Que vai nos ares se cristalizar.
Floresce tudo, em toda parte flores
Neste maio feliz, e tão feliz
Que as plantas exuberam de vigores
Desde a profunda, pródiga raiz.
Noivam as aves junto dos riachos
No seu alado alvorecer de amor;
E o coqueiral, com os amarelos cachos,
Pompeia de riquíssimo verdor.
Fluem na sombra meigas fontes claras
Sob o frondente e vasto laranjal
E para além magníficas searas
Se estendem como um leito virginal.
Na serena paz vegetativa
Faz docemente tudo adormecer
Mas num sono de luz doirada e viva,
Quase a dormência de quem vai morrer...
Ah! que o silêncio, a solidão dos ermos,
Das agrestes paragens do sertão
Se dão saúdes a espíritos enfermos
Também supremas nostalgias dão!
A volúpia letal do meio-dia,
Nas horas encalmadas, sob a luz,
Dá duma campa a atroz melancolia
Assinalada numa simples cruz.
Depois o campo na mudez da vila,
Aquela eterna e soberana paz
Da imensa vastidão sempre tranqüila
Como que punge e que entristece mais!
OS RISONHOS
Pastores e camponesas
De rudes almas esquivas
Passam entre as candidezas
Das estrelas fugitivas.
Parece que nada os punge,
Nada os punge e sobressalta.
A lua que os campos unge
No firmamento vai alta.
E eles passam sob a lua,
De queixas desafogados,
A cabeça livre e nua,
Na florescência dos prados.
Seres meigos e singelos,
Mulheres de lindo rosto,
Lábios cálidos e belos,
Do quente sabor do mosto.
Pastores de tez morena,
Queimados ao sol adusto:
Claridade bem serena
No fundo do olhar bem justo.
Neles tudo é riso e festa,
Neles tudo é festa e riso,
Frescuras brandas de giesta
E graças de Paraíso.
Simples, toscas e felizes,
Sem ter um laivo de mágoa:
Almas das verdes raízes,
Limpidez de gota d'água.
Neles tudo é paz de aldeia
E ri com os risos mais frescos...
O céu inteiro gorjeia
Idílios madrigalescos.
Seduzido por miragens
Caminha o bando risonho
Dessas virentes paragens,
Levado na asa de um sonho.
Nele tudo ri sem ânsia
E com doçura secreta;
E como uma nova infância
Cantantemente irrequieta.
Encantos de mocidade,
Saúde, fulgor, vigores,
Dão-lhe a doce suavidade
Maravilhosa das flores.
Os corações, florescentes,
Vão nesses peitos cantando
E rindo em festins ardentes
E dentre os risos sonhando.
Ri na boca, ri nos olhos,
Nas faces o bando, rindo
O bom riso sem abrolhos,
Que lembra um campo florindo.
Rindo em sonoras risadas,
Rindo em frêmitos vivazes,
Rindo em risos de alvoradas,
Rindo em risos de lilazes.
Os campos entontecidos
Nos vinhos da lua clara
Ficam bizarros, garridos,
De vitalidade rara.
As águas claras das fontes
Vibram lânguidas sonatas
E as nuvens vestem os montes
Das visões mais timoratas.
Na copa dos árvoredos,
Nas orvalhadas verduras
Há sonâmbulos segredos
E murmuradas ternuras.
E o bando festivo passa
Rindo, alegre, casto e suave,
Iluminado de graça,
Mais leve que um vôo de ave.
Podeis rir, almas ditosas,
Almas novas como frutos
De vinhas miraculosas
De pomares impolutos.
Podeis rir, almas eleitas
Que os anjos percebem tanto
Lá das esferas perfeitas
Nas harmonias do Encanto.
Almas brancas, Páscoas leves,
Alvos pães de áureos altares,
De mais candidez que as neves
E a madrugada nos mares.
Almas sem sombras ferozes
Nem espasmos delirantes.
Eco das bíblicas vozes,
Caminhos reverdejantes.
O vosso riso é bendito,
Os vossos sonhos são castos,
O estrelamento infinito
De mundos claros e vastos.
Podeis rir, peitos ufanos,
Belas almas feiticeiras,
Vós tendes nos risos lhanos
O trigo das vossas eiras.
A vossa vida é planície,
Não tem declives funestos:
Sois torres que a superfície
Assenta nos dons modestos.
A nossa vida é bem rasa,
Preso à terra o vosso esforço;
Nem mesmo um frêmito de asa
Vos faz agitar o dorso...
Sois como plantas vencidas
Conquistadas pela terra,
Dando à terra muitas vidas
E tudo que a Vida encerra.
É do vosso sangue moço
Que na terra se derrama,
Que sobe o rubro alvoroço
De ocasos de sóis em chama.
Manchas, ao certo, não tendes
E nem trágico flagício,
Almas isentas de duendes,
Lavadas no Sacrifício.
Das pedras, nos vossos ombros,
A rigidez não carrega.
Em jardins tornam-se escombros
E em luz a crença que é cega.
Desses perfis adoráveis,
Na curva casta dos flancos
Brotam viços inefáveis
Dos florescimentos brancos.
Podeis rir! ó benfazeja
Bondade de nobre essência,
Deus vos chama e vos deseja
Na estrelada florescência.
Um anjo vos acompanha
Nessa estrada matutina
E convosco a ideal montanha
Sobe da graça divina.
O flagelo deste mundo,
Nesses corações não pesa.
Enquanto o Horror vai profundo
Vossa alma tranqüila reza.
Contritos e de mãos postas,
Humildemente de joelhos,
O Demônio, pelas costas,
Não vem vos dar maus conselhos.
Vós sois as sagradas reses
Votadas ao azul Sacrário.
Deus vos olha muitas vezes
Com o seu olhar visionário.
Mas quando, como as estrelas,
Adormecerdes um dia,
Voando mais perto a vê-las
Na Paragem fugidia.
Quando na excelsa Bonança
Afinal adormecerdes,
Nos olhos toda a esperança
Levando dos prados verdes.
Quando lá fordes, subindo
Para as límpidas Alturas,
Profundamente dormindo,
Em busca das almas puras.
Praza aos céus que nos caminhos
Da eterna Glória, das palmas,
Mais brancas que os claros linhos
Possais encontrar as almas!