AUTORES CATARINENSES
CONTEMPORÂNEOS
ENÉAS ATHANÁZIO
O ESCRITOR ENÉAS ATHANÁZIO,
CRONISTA DOS CAMPOS GERAIS
Ao
estrear, em 1973, com os contos de O Peão Negro, Enéas
Athanázio trouxe, desde logo, uma nova voz à literatura brasileira,
dentro de características que o distinguiram com nitidez no panorama
existente. Sendo narrativas regionais, inseriam-se na tradição
cultural dos Campos Gerais catarinenses. A fidelidade do autor a esta postura
inicial seria depois reafirmada com O Azul da Montanha, Meu
chão, Tempo Frio, e tantos outros.Meu Chão
complementa a trilogia sobre a terra catarinenses, e de uma forma que vem
coroar a sua criação literária com a coerência,
aliás, de quem domina os seus elementos. Note-se que a segurança
de Enéas Athanázio, ao manipular seu material, manifesta-se
claramente no equilíbrio que coloca em sua linguagem, onde dosa, de
modo conveniente, uma prosa clássica com a inclusão adequada
de expressões de uso regoinal. A par disso, sabe o autor, em suas estórias,
apreender e compreender o movimento humano em seu difícil relacionamento
dentro de uma comunidade determinada. Não fazendo uma literatura meramente
subjetiva, de caráter estático, capta o indivíduo em
meio a uma paisagem entre acolhedora e inóspita, quando então,
conto a conto, vai colocando as estruturas condutoras da vida de toda uma
região. As tensões e as sinuosidades da psicologia humana são
mostrada em pinceladas que mudam de coloração conforme a luza
projetada sobre a situação. A um primeiro olhar, a realidade
destas estórias seria simples, mas uma leitura mais atenta revela a
intransigência da visão do mundo do autor. Veja-se, neste aspecto,
as gradações sutis conseguidas no conto Ô de Casa,
entre o homem, a paisagem e a violência do epílogo, que explode
apenas para abrigar o eterno drama da incapacidade humana de viver em harmonia.
Focalizando uma sociedade rural em processo de modificação,
o homem, aqui, é um ser visceralmente isolado em meio a seus semelhantes.
Observe-se, quanto a isso, a narrativa Doca Gastura, pungente
pela imagem da inanidade do ser humano perante o que o destrói. Disperso
em largas extensões de terra, estes personagens vão, aos poucos,
unindo-se em aglomerações onde as diferenças se acentuam
de maneira drástica, porque os valores são diversos e inevitavelmente
se chocam. O mundo é o resultado de vivências parciais que não
se complementam. O conto O Campanheiro, apelando para o mito popular,
é bem expressivo pela síntese que faz desta colocação
do autor. O personagem, que vai pela estrada ao lado de uma espécie
de fantasma, numa noite escura, não alcança compreender jamais
quem seja realmente o outro. A vida, assim, é vista como algo incerto
entre propósitos não de todo compreensíveis. Se é
possível captar a base social, relatar as tradições,
verificar que a vida in natura vai sendo diluída pela introdução
progressiva de hábitos urbanos, como em contos como Apito na
Pirambeira e Cata-Jeca, já a estranheza do mundo
só pode ser insinuada pelo aspecto fantástico, como em Bicharia
Assustadae Negrinho Feio. As narrativas de Enéas,
misturando drama, humor, violência, têm como tônica dominante
um lirismo incontido. Em breves e estarrecedoras tomadas, o homem, em geral,
é visto com os olhos do amor e da solidariedade. É uma espécie
de luta para entender e dar sentido ao contraditório dos fatos concretos.Em
síntese, tendo Enéas Athanázio preferência pelos
momentos decisivos, onde, num lampejo, toda uma existência se projeta
de modo abrangente, se fosse preciso caracterizar sua obra, diríamos
que sua faze mais expressiva é essa consciência segura de seus
elementos unida à calma elaboração estética que
sabe dar aos mesmos. (Luz e Silva)
Unindo a pesquisa, o estudo e a criação ficcional, Enéas
Athanázio projetou-se como um dos mais conscientes, sérios e
persistentes homens das letras catarinenses.
O HOMEM DIVIDIDO: UMA LEITURA
DA OBRA
DO ESCRITOR ENÉAS ATHANÁZIO
Cleber Pacheco
Mestre em Literatura Brasileira
"Esse é tempo de partido
tempo de homens partidos."
Carlos Drummond de Andrade
Numa primeira leitura, a obra do escritor ENÉAS
ATHANÁZIO parece apontar para uma tendência regionalista, tratando
de usos, costumes e tipos do interior do Brasil, mais especificamente do estado
de Santa Catarina. Trata-se de um mundo muito bem conhecido e retratado pelo
autor. No entanto, num âmbito mais profundo, se realizarmos uma leitura
atenta, encontraremos um intenso drama vivido por alguns dos seus personagens
e que nos ajuda a entender melhor a sua ficção, bem como refletir
a respeito do homem contemporâneo.
Não podemos ignorar a questão regional, muito menos o lado humano
presente em seus textos, por isso mesmo, fazer um estudo de ambos é
algo perfeitamente cabível e necessário, detectando peculiaridades,
idéias e sentimentos próprios do universo ficcional athanaziano.
O Regionalismo
A chamada literatura regionalista não
é algo simples, nem apresenta uma característica única,
portanto precisa ser abordada em suas diversas vertentes.
O regionalismo romântico de José de Alencar e outros do mesmo
período realizavam uma fuga para o passado, tendo como traço
marcante a idealização e o pitoresco. O sertanismo é
a forma como ele se apresenta então.
Com o surgimento do naturalismo, a questão regional toma um outro rumo,
o tom idealista é substituído por uma interpretação
da realidade. Resumidamente, pode ser identificado pelos seguintes traços:
a) - O meio físico molda o caráter dos personagens;
b) - O homem vive em função da natureza;
c) - A natureza absorve o papel do homem.
De acordo com SODRÉ (1988, p. 408) "(...) o regionalismo valorizou
o elemento popular e, algumas vezes, quando fundiu a linguagem e o tema, alcançou
um teor qualitativo importante. Revelou o Brasil aos brasileiros (...)".
Desenvolvendo esta linha e conduzindo-a a um ponto limite, está a obra
de Monteiro Lobato, cuja influência podemos captar nos textos curtos
de ENÉAS ATHANÁZIO. Em livros como "Erva-Mãe"
e ainda em "Tempo Frio" e "O Cavalo Inveja e a Mula Manca",
podemos perceber um caráter anedótico nas histórias,
com personagens simples, agentes de pequenos acontecimentos, pequenos lances
reveladores de sua personalidade e condições, bem como de seus
sentimentos, valores e modos de pensar, suas falhas e até maldades.
As cidadezinhas com seus tipos e lances cômicos aparecem em situações
as mais diversas.
Caso exemplar disso é o conto "Receio Fundado", narrado com
economia de recursos, em forma de diálogos. A esposa faz uma consulta
para saber se pode trocar de marido. Aparentemente, ela é uma mulher
cheia de iniciativa, ousada, querendo tornar sua vida melhor, pois o atual
companheiro tem verdadeiro horror ao trabalho, limitando-se a beber e jogar.
Mas ao término, acabamos por descobrir que ela havia sido perdida pelo
primeiro marido no jogo de cartas e o seu desejo é voltar para ele,
a "melhor" opção disponível. O toque tragicômico
é que a esposa não percebe o absurdo da situação,
expressa ironicamente no título do conto.
Isso está presente no livro "Tempo Frio", apresentando uma
visão aguçada, um tanto divertida e até com um toque
de simpatia pelas fraquezas humanas e de compreensão pelas pequenas
"maldades" cometidas, numa ambigüidade bem explorada pelo autor
entre a ingenuidade e a malícia. Excelentes são os contos "Ortografia"
e "A Testemunha", entre outros.
Com linguagem precisa e clara, concisão e maestria, o autor desenvolve
as histórias revelando por meio de gestos, falas, atitudes, o modo
de ser das pessoas por ele retratadas.
Por outro lado, conseguimos detectar uma certa nostalgia e até melancolia
nesses mesmos livros. Em alguns contos e novelas posteriores, isso se acentua
cada vez mais, tornando complexa e rica a leitura. Se o meio influencia as
pessoas, com o passar do tempo, vai ocorrendo uma verdadeira cisão
entre o homem e o ambiente, por diversos motivos, tornando-o um ser dividido
e angustiado.
O Homem Dividido
Para abordarmos o problema da cisão existencial,
é importante primeiro fazermos uma breve avaliação a
respeito do herói na literatura. Para isso, teremos como referência
o livro "O Herói" (1985) do excelente crítico Flávio
Kothe. Nele, o autor analisa que para Aristóteles, os gêneros
literários considerados maiores contêm personagens aristocráticos,
não oriundos do povo, das classes baixas. Já na poética
moderna, o herói adota três posturas bem distintas:
a) - Pela própria iniciativa, busca realizar a ascensão social
(e cita personagens como "Robinson Crusoé", de Daniel Defoe,
e "Julian Sorel", de "O Vermelho e o Negro", de Sthendal);
b) - Descrença da luta pela ascensão social (como Leopold Bloom,
de "Ulisses", de Joyce, e "Madame Bovary", de Flaubert);
c) - Crença na reversão da estrutura social (Etienne, personagem
de "Germinal", de Zola).
Fazendo uma contraposição ainda maior, Kothe comenta o percurso
do herói antigo e do moderno, revelando que, no primeiro caso, ele
ocorre em um momento individual ou grupal entre o alto e o baixo da sociedade.
No segundo, há um questionamento da própria estrutura social
dividida em classe alta e classe baixa.
Feitas essas considerações, passemos, pois, a analisar as questões
pertinentes à obra de ENÉAS ATHANÁZIO.
No livro "Erva-Mãe", encontramos um texto muito significativo:
a divisão humana no conto "Sua Majestade." Nele, um autêntico
coronel, portanto alguém da classe alta, faz uma espécie de
balanço de suas posses. Ele é dono de vastas extensões
de terras, de gado e tudo que ali existe, inclusive de pessoas:
"O coronel dorme tranqüilo. Tudo aquilo é seu, tem a escritura
das terras e a submissão das almas. Na largueza daqueles limites impera
sua vontade soberana" (ATHANÁZIO, 1986, p. 47).
Apesar disso, há uma ameaça latente à sua espreita: as
lavouras que se espalham lentamente, ameaçando destruir o seu "reinado."
A iminência disso acontecer existe. A certeza da posse, porém,
busca distanciamento dessa realidade. A partir daí e somando-se ao
nítido contraste da primeira parte do conto, notadamente idílico,
compreenderemos, de modo implícito, a falta de percepção
e inconsciência do coronel em relação à própria
questão da posse.
As descrições da natureza, plantas e animais mostram um mundo
à parte, que desconhece totalmente a noção de propriedade.
A natureza, embora ameaçada pelo homem, vive a sua existência
sem tomar nenhum conhecimento dos valores humanos. É possível
ser mesmo dono das cores, do céu, do ar, dos animais e até das
assombrações?
A segurança do coronel a respeito do seu poder não é
questionada por ele, mas está presente, não exatamente apesar
dele e, sim, de modo indissociável a ele, se considerarmos a indiferença
do mundo natural com relação ao mundo civilizado aliada à
ameaça da modernização econômica que a lavoura
representa ao ir minando sorrateiramente o antigo sistema de pecuária
extensiva e latifúndios. A dissociação ocorre entre o
real e a percepção do real: o coronel recusa-se a ver com clareza
o que lhe acontece e a questionar a posse, inclusive de seres humanos. Para
ele, isso é algo indiscutível e estabelecido. Seu mundo assim
foi organizado e permanecerá até o fim, ao menos no que diz
respeito à subjetividade e compreensão da vida. Ou seja, a realidade
é uma, a percepção dela é outra. A inconsciência
permeia esta relação. Há uma recusa em aceitar outro
tipo de interpretação do real: é uma atitude defensiva.
Em outras palavras, o coronel, enquanto herói, já realizou a
sua ascensão social, reitera-se e se adequa perfeitamente ao modelo
já estabelecido. Está totalmente integrado ao meio social. Já
no aspecto regional, mesmo sensível à natureza, admirando-a,
o que prevalece é o sentimento de posse, uma atitude de dominação
e controle, afastando-o dela. Aí ocorre outra dissociação
ou cisão: ele não vive a natureza tal qual ela é ou graças
a ela e sim como alguém separado dela por ser o seu proprietário
e fazer uso como bem entender. Não ocorre, assim, uma autêntica
integração homem/natureza. Ao invés disso, há
a preponderância do modelo social e cultural de status e poder sobre
o mundo natural. Este, no entanto, nunca se sujeita totalmente ao homem e
permanece existindo em sua esfera particular e própria.
Essa inconsciência da separatividade entre dois mundos está presente
num outro conto intitulado "O Batizado", do livro "O Cavalo
Inveja e a Mula Manca", em que um índio deseja a todo custo batizar
o seu filho e integrar-se a uma outra cultura totalmente diversa da sua. Em
nenhum momento, a personagem chamada Tipoti questiona o que perdeu da sua
identidade indígena ou o quanto perdeu. Quer ser aceito pelo homem
branco. E isto lhe basta.
Todavia, o sentimento melancólico já está presente no
livro "Erva-Mãe" nos contos "Ubirajara não Veio
à Aula", "Melancolia de Todas as Idades" e outros, expressando
o sentimento de divisão:
"Querer, de forma vaga, imprecisa, estar lá quando estou aqui
e cá quando me encontro lá; querer a companhia de Maria quando
converso com Paulo e deste se me encontro com ela; o azul do mar se ando nos
campos e o verde destes quando piso as areias brancas da orla (...)"
(ATHANÁZIO, 1986, p. 16).
Isso traz um sentimento de desconforto e inquietação, tornados
ainda mais intensos na novela de 1989, "A Cruz no Campo". Nesta,
a trajetória de Janary Messias é traçada cuidadosamente
e leva a um final, não diríamos trágico, mas melancólico.
O início da narrativa faz um contraponto com o seu final. O dia nasce,
o sol brilha, há perspectivas positivas e expectativas para as férias
que iniciam. Uma viagem acontece. Nela, Janary, advogado bem sucedido profissionalmente,
homem de renome, vestido com roupas esportivas, como para viver uma aventura,
chega a uma cidade onde se encontra com a nova juíza, mulher casada,
e tem um encontro amoroso com ela, que declara ser o advogado um "mito".
Admiração, status. Tudo parece bem. A seguir, há o encontro
com um amigo e a visita a um bordel. Prazeres. Depois há a defesa inesperada
em um júri. Outro contraponto. O réu cometeu um crime por causa
de adultério. Janary o defende e consegue a absolvição,
sendo que ele próprio acaba de cometer adultério com a juíza,
mulher casada. Parece haver aí uma contradição, ou total
falta de consciência. Isso mostra ainda o vazio existencial e a falta
de sentido da vida que a personagem leva: aparentar, ser aceito socialmente,
ter êxito. Aí está a satisfação de Janary.
E a sua insatisfação também.
Na fazenda do Taboão, o final da história remete ao fracasso
e a uma promessa que não se cumpre.
Quanto mais se aproxima da natureza, maior é o sentimento nostálgico
e de desconforto sentido por Janary e claramente percebido por Análio,
homem ligado ao meio natural, intuitivo e perspicaz. Nas conversas e no passeio,
o advogado percebe o quanto está distanciado no tempo e no espaço
de um mundo heróico, representado por tio Pedro, conhecido através
dos relatos do amigo fazendeiro.
A percepção de que não pertence àquele ambiente
e nem ao outro, dito civilizado, tortura Janary:
"Não pertencia mais a um e nunca pertenceria ao outro" (ATHANÁZIO,
1989, p. 30).
Isso pode ser esclarecido ainda pelo seguinte trecho:
"Aquilo que procurava e que não sabia bem o que era decididamente
não estava ali. A mesma inquietação o invadia. Foi tomado
por uma tristeza insuportável, dessas que molham os olhos" (Idem,
p. 29).
Aí temos a revelação da inadaptação do
personagem aos dois mundos, ficando dividido, e sendo dilacerado, simbolicamente
representada na cruz marcada na estrada pelos pneus do carro atirado num perau.
A insuportável cisão leva à morte, numa tentativa de
acabar com o sofrimento.
Todavia, uma outra maneira de sentir-se dividido ocorre em novela posterior
por via da relação amorosa.
Amor Dividido
Incapaz de questionar a estrutura social ou adaptar-se
totalmente a ela, incapaz de retornar ao seio da natureza, não só
a morte resta aos personagens de ENÉAS ATHANÁZIO. O amor pode
ser um caminho. Isso não quer dizer sempre uma saída ou impossibilidade
de encontrá-la. Tudo depende. Como isso acontece, iremos verificar
de ora em diante.
A novela "São Roque da Ventania", de 1993, trata da questão
amorosa, mais especificamente, um triângulo amoroso. Só aí
já temos uma divisão, que se estende por outros níveis.
Desde a definição ("Novela regional e típica, rurbana
e fantástica") até o final, tudo vai apontando para uma
cisão com três soluções bem distintas.
A novela é rural por se passar no interior, mas tendo influências
da urbanidade. É regional por ter a natureza como elemento decisivo
no destino de Cipriano e fantástica, porque este acaba por transformar-se
num animal.
Cipriano vive de modo simples, afeito às atividades de um pequeno sítio.
É uma pessoa simples. Não se adapta muito bem à rudimentar
vila de São Roque. As lidas são duras e rústicas. Ele
é um bom filho. Apaixona-se por Trudi, filha de um empresário,
ou seja, um representante do mundo moderno.
Trudi é bela, cheia de alegria e espontaneidade. Também é
eficiente nos negócios e ajuda o pai. Por sua vez, apaixona-se por
Théo (é a única a lidar bem com dois mundos).
Este vem da cidade grande. É o homem sem origem ou ao menos sem raízes.
Sai do orfanato, é malandro, gosta de mulheres, não é
lá muito honesto e sincero, é uma espécie de "Don
Juan", ou um falso "deus" (Theos), um falso messias. Aparenta
uma coisa e é outra. Transita entre a realidade e a fantasia. Desloca-se
da cidade para o interior. No fundo, não ama ninguém.
Com os desencontros amorosos, os caminhos vão se definindo. Por não
ser correspondido, Cipriano vai se tornando rude, irritado e grosseiro. Seu
amor por Trudi nunca se realiza e ele adota características animalescas.
Por não saber lidar com os seus sentimentos, por sua inadequação
ao amor, torna-se um ser pior, desumaniza-se. É um inadaptado, cindido
pela rejeição, por não saber viver as situações,
com a sociedade, com as pessoas e os próprios sentimentos. No seu caso,
o amor brutaliza. Está ligado ao erotismo, ao desejo, à necessidade
de posse.
No caso de Théo, tudo permanece como sempre foi. Por ser incapaz de
amar verdadeiramente, a ele interessa apenas a conquista, a lascívia.
Nenhuma mudança ocorre. Ele se limita a trocar de mulher e explorá-la
conforme lhe convém.
Trudi é a única que realmente ama. Ela torna-se alguém
melhor, mesmo sendo rejeitada por Théo. Aumenta o seu altruísmo,
dedica-se aos outros com pureza de intenções e enfim encontra
alguém capaz de corresponder aos seus sentimentos.
Assim sendo, o amor pode tanto dividir quanto somar e somente quando é
autêntico, sem nenhum laivo de egoísmo, pode trazer o fim das
dissensões, das dualidades. Neste caso, ele apresenta uma possibilidade
de redenção ao dissolver conflitos e aproximar mundos aparentemente
distintos.
Considerações Finais
Tratando a respeito do homem dividido, com dificuldade
de se adaptar ou romper com os padrões, o escritor ENÉAS ATHANÁZIO
cria, em sua ficção, uma literatura com lances dramáticos,
em busca de diversas soluções para resolver impasses.
Seu regionalismo não se limita ao pitoresco, nem ao típico ou
ao saudosismo. Isso tudo é substituído pela melancolia, pelo
conflito e a busca nem sempre frutífera de encontrar caminhos para
o homem já distante da natureza e resistente a aceitar de modo passivo
as imposições da estrutura social vigente.
Se existem lances cômicos, beirando à anedota, também
há uma visão aguçada dos conflitos sociais e individuais,
demonstrando que nem sempre a subjetividade humana consegue encontrar uma
maneira de expressar os seus anseios mais íntimos num meio onde as
aparências e o jogo social sufocam o indivíduo, impossibilitando-o
de encontrar-se e de obter a harmonia e a completude tão desejadas.
A possibilidade de vencer as próprias limitações, a máscara
social e o mundo dividido interna e externamente (na questão do afastamento
do autêntico oriundo da cisão homem/natureza e da questão
social, na separação entre classe alta e baixa), é, segundo
o autor, o altruísmo, ou ao menos está em nossa capacidade de
percebermos a alteridade.
Referências Bibliográficas
ATHANÁZIO, Enéas. Erva-Mãe,
S. Paulo, Editora do Escrito, 1986.
Tempo Frio, S. Paulo, Editora do Escritor, 1988.
A Cruz no Campo, S. Paulo, Editora do Escritor, 1989.
São Roque da Ventania, Blumenau, Editora Minarete, 1993.
O Cavalo Inveja e a Mula Manca, Blumenau, Editora Minarete, 2001.
KOTHE, Flávio. O Herói, Série Princípios, S. Paulo,
Editora Ática, 1985.
SODRÉ, Nelson Werneck. História da Literatura Brasileira, 8a.
ed., Rio de Janeiro, Editora Bertrand Brasil S/A, 1988.
ENÉAS ATHANÁZIO - CIDADÃO DO PIAUÍ
Apreciando projeto de autoria do Deputado Homero Castelo Branco, aprovado por unanimidade, a Assembléia Legislativa do Estado do Piauí acaba de conferir ao escritor catarinense Enéas Athanázio o título de Cidadão Piauiense Honorário. Segundo a justificativa, a honraria foi concedida em reconhecimento à divulgação que vem sendo feita pelo agraciado, há longos anos, do Estado do Piauí, sua terra, sua gente, sua cultura e, acima de tudo, de sua literatura, através de livros, revistas e jornais de vários pontos do País. O autor do projeto contou com a experiente assessoria literária do escritor Herculano Moraes e com o apoio dos escritores M.Paulo Nunes e Francisco Miguel de Moura, entre outros. A solenidade para entrega do diploma deverá acontecer após as eleições, em Teresina. Comovido com tão espontânea homenagem, Enéas Athanázio agradeceu pelo reconhecimento demonstrado pelos piauienses, através de seus representantes, declarando que espera ser digno da cidadania recebida e que pretende manter uma ponte permanente entre os dois Estados - o natal e o adotivo.
Um conto de Enéas Athanázio:
REFORMA AGRÁRIA
Numa
roda animada, na calçada da praça, o advogado pregava com entusiasmo
a necessidade de fazer a reforma agrária no país.
Apelando para estatísticas e opiniões de entendidos, afirmava
a urgência dessa reforma para evitar graves problemas sociais, distribuindo
a terra desocupada àqueles que queriam plantar e não tinham
meios.
Os ouvintes se dividiam, uns concordando, outros objetando. Mas o doutor,
com mil argumentos e gestos, esmagava as discordâncias até que
ficou falando sozinho, dono do assunto.
A prosa foi mudando de rumo e a roda aos poucos foi se desfazendo. O relógio
da igreja deu as horas. Acendendo um cigarro, o doutor rumou para o escritório.
Um caboclinho que estava por ali, ouvindo em silêncio a pregação
reformista, aproximou-se dele, tímido e desajeitado. Pegou-lhe a manga
do casaco.
- Descurpe, doutor foi dizendo ele eu percisava duma informação...
Meio irritado por ser abordado na rua, assim sem cerimônia, ia o advogado
esculhambar o atrevido e dizer que só atendia no escritório,
mas a figura mal vestida, parada humilde a sua frente e olhando para ele,
afastou a irritação. Parou.
- Pois não. Pode perguntar.
- Escuite, seu doutor, - indagou o outro com a maior simplicidade a
gente pode vender a terrinha que ganha na reforma?
O PERTO E O LONGE
Por Luiz Carlos Amorim
Depois de ler o livro O Perto e o Longe, do Dr.
Enéas Athanázio, a primeira coisa que me ocorreu foi o quanto
encaixou com perfeição o título escolhido.Eu me senti
tão perto de personalidades marcantes da literatura brasileira, como
Rangel, Lobato, Barreto, Montelo, Mário de Andrade e outros, alguns
já tão longe no tempo, mas presentes através da sua obra.
Conheço o Dr. Enéas e sei que ele é uma daquelas pessoas
que fala e diz, que olha e vê. E ele sempre surpreende a gente com um
trabalho ainda melhor que o anterior. Sou fã incondicional do conto,
gênero que ele domina tão bem, mas confesso que lia os ensaios
sem dar a essa modalidade literária, talvez, o devido valor.
O Perto e o Longe me prendeu do começo ao fim, pela elegância,
pela fluidez e pela maestria na narração. Talvez a minha falta
de interesse pelo não contemporâneo, até aqui, tenha feito
com que me deliciasse ainda mais com os ensaios contidos na livro.Aprendi
muito, tomei conhecimento de fatos literários importantes, como por
exemplo, o inusitado de um autor estrangeiro ter escrito uma obra espetacular
sobre Canudos: A Guerra do Fim do Mundo, de Vargas Llosa.Tive
notícias sobre o teatro de Lima Barreto, gênero que nem sabia
que o escritor tinha praticado. Conheci Silvio Meira, tradutor maior, que
verteu para o português Fausto, de Goethe eu li a
tradução, publicada pela Abril Cultural, na coleção
Teatro Vivo e não atentei para o seu tradutor.Através de O
Perto e o Longe, soube de Ascendino Leite, que soube, segundo Enéas,
escrever como ninguém o gênero diário, pouco praticado
entre nossos escritores.Entendi a reação explosiva e insólita
de Lobato, em relação à exposição de Anita
Malfatti, em 1917, que praticamente destruiu a carreira do artista. Torci
para que as respostas de Rangel às cartas de Lobato viessem a ser publicadas,
embora isso seja quase impossível, pois Rangel manteve a decisão
de não leva-las a público, antes de morrer.
E sobre muito mais eu tomei conhecimento, com este livro estupendo, publicado
pelo nosso mais serio e perseverante pesquisador das coisas literárias,
o Dr. Enéas Athanázio.
E mais, ainda: tive inúmeras indicações de boa leitura,
para me aprofundar mais no que fui iniciado.
O Perto e o Longe Viagens Literárias e um
livro que todos os apreciadores da boa literatura e os iniciantes ou não
no ofício de escrever deveriam ler.
DUAS VEZES ENÉAS
Recebemos o livro "Duas Vezes Enéas", com ensaios do professor Guilherme Queiroz de Macedo, de Belo Horizonte, Minas Gerais, sobre o escritor catarinense Enéas Athanázio. São dois ensaios escritos sobre a trajetória literária do ficcionista e ensaísta catarinense. O primeiro ensaio traça um painel geral da carreira literária de Enéas Athanázio, relacionando-a com as outras atividades que vem desenmvolvendo no campo dos estudos jurídicos, do magistério e editoriais, junto aos quais vem se consolidando a sua criação ficcional e ensaística.
O segundo ensaio trata especificamente das obras nas quais realizou estudos pioneiros e fundamentais sobre três grandes ficcionistas brasileiros: Monteiro Lobato, Godofredo Rangel e Lima Barreto.
SÃO ROQUE DA VENTANIA
Por Luiz Carlos Amorim
Este o título de outro livro do ensaísta e contista
Enéas Athanázio, a sua estréia no gênero novela
e quando dizemos novela, falamos do gênero literário,
nada a ver com aquilo que a televisão mostra.Trata-se de uma novela
regional, rural, típica, urbana e fantástica, como o próprio
subtítulo do livro indica. Mas trata-se, sobretudo, do registro da
vida no interior de Santa Catarina, feito por um escritor/observador especialista
em retratar com fidelidade as coisas do campo e da gente simples e humilde,
mas autêntica, do interior do estado.
E como não poderia deixar de ser, vindo de alguém tão
competente na arte de escrever, o quadro se completa com a fidelidade lingüística,
com as personagens falando como realmente falam as pessoas que vivem no campo
e nas pequenas cidades.
São Roque da Ventania é uma história de gente
da terra contrastando com a gente da cidade, é a história de
como o coração é mais coração na pureza
dos pés no chão. E o toque do fantástico, de como o amor
pode transformar as pessoas, dá o toque de mestre na obra.O Dr. Enéas
é um exímio contador de histórias, talvez o melhor contista
de SC e sua incursão pela novela, esse gênero literário
vizinho do conto, foi muito feliz. Dá gosto ler.
ENTREVISTA DO ESCRITOR ENÉAS ATHANÁZIO
AO SUPLEMENTO LITERÁRIO A ILHA EM 89
A ILHA Dr. Enéas Athanazio: com dezenas de obras
publicadas e circulando, o senhor é um escritor conhecido?E. Athanázio
No Brasil, quem assina artigos nos suplementos literários não
fica, em geral, conhecido. E os livros não suprem essa falha porque
não existe o hábito da leitura. Não penso nem de longe
concorrer com os deputados, mesmo que algum deles seja pianista,
nem com esses políticos que nunca dizem o que pensam e sim o que convém,
pois eles têm espaço certo na imprensa. Mas considerando que
sou um escritor provinciano (isto é, vivo fora do eixo Rio-São
Paulo), não posso me queixar. As pessoas ligadas nessas coisas de letras
em geral me conhecem e aumenta sempre o número de cartas que recebo.
De qualquer forma, o que importa é que a obra seja conhecida e não
o autor. Embora muito escritor se julgue cantor popular ou artista de TV,
que deva ser ovacionado sempre que sai à rua, isso é um equívoco.A
ILHA O que repercute mais na sua obra: o conto ou o ensaio?E. Athanázio
Sem dúvida, o conto. O ensaio, no Brasil, tem reduzido contingente
de leitores. Em Santa Catarina, então, não é bom nem
falar. Às vezes eu até imagino que sou o único leitor
do gênero nestas bandas, pelo menos não vejo ninguém escrever
ou comentar ensaios, embora muito gente a ele se dedique no País. Os
meus ensaios repercutem lá fora, em outros Estados, como aconteceu
com a biografia de Godofredo Rangel, o livro sobre o Lima Barreto e os trabalhos
a respeito de Monteiro Lobato. Este último mereceu referência
no livro De Jeca a Macunaíma, de Vasda B. Landers, professora
da Colúmbia University, escrito nos Estados Unidos. E o meu livro A
Pátina do Tempo foi citado por mestre Wilson Martins na sua coluna
do Jornal da Tarde. Luz e Silva fez uma extensa análise dessa minha
produção ensaística que a Fundação Casa
Dr. Blumenau publicou numa plaqueta.A ILHA Como o escritor Enéas
Athanázio vê a Literatura Catarinense de hoje? (hoje março
de 89)E. Athanázio Não vejo com bons olhos. Os livros
surgem, mas nada de novo acontece. Muitos se repetem e outros tendem a inovar,
sem sucesso. Também não existe crítica; quase tudo, com
uma ou outra exceção, se resumindo em notinhas. Não há
críticos, há notistas, mesmo que a crítica também
seja um gênero exigente, que dá trabalho e exige esforço.
O livro catarinense não encontra espaço, ocupado pelos best-sellers,
que viveram muito bem sem esses espaços e que, no entanto, entram com
uma força avassaladora. Nereu Correa e Salim Miguel acabaram com suas
colunas. Só Lauro Junkes e eu persistimos, como dois abencerragens
a acreditar numa coisa em que ninguém mais parece acreditar: a literatura.
Mas, como a esperança é a última que morre, ainda conservo
um fiapo de fé no futuro e no aparecimento de novos e autênticos
valores no panorama das letras catarinenses.(Nota: estamos publicando esta
entrevista, dada a dez anos atrás, por constatarmos o quanto ela continua
atual, como se fosse feita hoje.
Entrevistamos o escritor de novo em 2000 e aqui está a atualização para comparação:
ENTREVISTA COM ENÉAS ATHANÁZIO DEZ/1999
A Ilha Com 42 títulos publicados, ensaios e contos em jornais e revistas por todo o Brasil, o senhor é um escritor conhecido?
Dr. ENÉAS É difícil avaliar o quanto se é conhecido. Eu diria que tenho círculos de conhecimento e leitores esparsos, a julgar pelas cartas e outras manifestações que recebo. Seria pretensão dizer que sou um autor conhecido. Nosso Estado, infelizmente, não tem um só escritor que seja conhecido mesmo.A Ilha O que representa mais a sua obra, o conto ou o ensaio?Dr. ENÉAS Eu me considero um ficcionista voltado mais para o conto. O ensaio foi algo que aconteceu por acaso e cresceu em face das circunstâncias, inclusive o desejo de divulgar obras de outros. Mas existe quem considere o ensaio a parte mais importante. Deixemos, portanto, que o leitor decida.A Ilha Como o senhor vê a literatura catarinense hoje?Dr. ENÉAS Publica-se muito mas pouco existe de real expressão. Ainda esperamos que surja um autor que conquiste o país, como um Érico Veríssimo no Rio Grande ou um Jorge Amado na Bahia. Mas os anos passam e vou perdendo a esperança de que isso aconteça. No regionalismo campeiro, depois de Márcio Camargo Costa, não apareceu mais ninguém; continuamos os mesmos gatos pingados.A Ilha O senhor acha que a informática pode ser uma aliada ou pode ser prejudicial à literatura ou ao livro como o conhecemos até hoje?Dr. ENÉAS Na última Bienal Internacional do Livro, em São Paulo, esse assunto foi muito discutido e até acompanhei alguns debates A conclusão é aquilo que sempre pensei: ela será uma aliada da literatura e do livro, divulgando e informando, mas o livro continuará. Nunca se publicou tanto como agora, no mundo e no Brasil.A Ilha No final de seu mandato como vice-presidente da União Brasileira de Escritores (UBE-SC), que diria da instituição?Dr. ENÉAS Apesar das dificuldades, a UBE realizou bastante. Mesmo que certas coisas não nos agradem muito, ela é necessária como órgão representativo dos escritores catarinenses. Por isso, apelo a todos para que se filiem permitindo que todas as regiões do Estado estejam representadas na entidade.
MAIS DOIS LIVROS DO AUTOR
(LCA)
Enéas
Athanázio é um nome conhecido e respeitado no estado de Santa Catarina e pelo
Brasil, pela sua obra que chega amais de 40 titulos, hoje, e pelos ensaios,
contos, crônicas a artigos que publica em jornais e revistas pelo Brasil afora.
Não é à toa que se chega onde o Dr. Enéas chegou. Ele é, talvez, o mais importante
contista do nosso Estado, sem falar que é um ensaísta dos mais sérios, investigativos
e produtivos. Acabo de ler mais dois novos livros dele. Um é "A Gripe da Barreira
- Causos do Ermo", mais um volume de contos, gênero em que o autor é mestre.
O livro prossegue, segundo o próprio contista, na tentativa de formar um painel
dos Campos Gerais, como nunca se fez antes, registrando através da ficção
o que a região tem, ou tinha, de característico ou diferente. Como disse um
crítico, é um "roman-fleuve" em que cada conto é novo capítulo do mesmo romance
ambientado na região serrana de Santa Catarina, em geral desconhecida e esquecida.
É muito interessante a habilidade com que o autor conduz a sua narrativa,
de maneira que o leitor consegue se situar no meio do fato se desenrolando,
olhando para cenários, para personagens, sentindo cheiros, ouvindo sons. Dá
prazer ler os "causos" da região dos Campos Gerais, a terra do Dr. Enéas.
Eu dei gargalhadas sozinho, ao ler "A Visita do Bispo". Não sei se o fato
narrado aconteceu realmente, mas eu visualizei a situação e o autor fez com
que eu a visse hilária, muito divertida mesmo, evidenciando quão importante
é saber contar histórias. O outro é "O Regionalismo Passado a Limpo", um resumo
do que o autor leu e pensou sobre o regionalismo, também muito mal conhecido,
assunto sobre o qual tanto ele tem escrito e falado. Os livros podem ser solicitados
diretamente ao autor: Dr. Enéas Athanázio, Caixa postal 418 - 88330-000 -
Balneário Camboriú(SC)
CRÔNICAS DO MEIO NORTE
Foi lançado, em meados de 2000, mais um livro do profícuo
escritor catarinense Enéas Athanázio. Trata-se de "FAZER
O PIAUÍ - Crônicas do Meio-Norte", 112 páginas, publicado
pelas Edições Minarete.
Leitor e viajante incansável, Enéas Athanázio mantém
contatos com escritores de todo o país, sempre escrevendo sobre suas
obras. Antes mesmo de sua primeira visita ao Piauí, já analisara
livros de autores daquele Estado em artigos críticos estampados na
imprensa. Essa atividade, desde então, nunca cessou, intensificando-se
ainda mais após suas andanças piauienses, comentando obras de
várias épocas e gêneros diversos. É essa produção
que o autor reúne nesse novo livro, homenageando o Piauí, terra
que aprendeu a admirar e tem tantos e tão fraternos amigos. Pedidos
do novo livro do autor para o endereço Av.Brasil, 692/704 - 88330-000
Balneário Camboriu-SC.
CONTOS E NOVELA ATHANAZIANOS
Saíram, pela Editora Minarete, de Blumenau, dois novos
livros do escritor Enéas Athanázio, talvez o maior representante
das letras catarinenses por este Brasil afora. Trata-se de "O Cavalo
Inveja e a Mula Manca", coletânea de contos, gênero no qual
o autor é mestre. São histórias curtas, curiosas e gostosas,
contadas com uma desenvoltura e uma simplicidade como se agente estivesse
conversando e ouvindo Dr. Enéas contá-las pra gente.O estilo
dinâmico, a temática centrada na vida de gente como a gente,
de gente da terra da gente, confere à obra deste contista de mão
cheia o sabor de autenticidade, de verossimilhança, até de cumplicidade
do leitor. O outro livro, "A Liberdade Fica Longe", uma novela onde
se percebe as mesmas qualidades do contista, mais a capacidade de manutenção
da excelente narracão, o autor engendra uma pequena grande história
que poderia ser verdadeira hoje, ontem ou amanhã. Com competência
e graça em todos os sentidos, ele usa um vocabulário simples
e rico ao mesmo tempo, integrando com maestria termos regionais interessantíssimos,
que quase não ouvimos em centros urbanos. A leitura da obra de Enéas
Athanázio é cada vez mais prazerosa e podemos recomendá-la
com a maior segurança.
AS ANTECIPAÇÕES DE LOBATO
O ano literário de Enéas Athanázio começou bem cedo. Além de editar o jornal da União Brasileira de Escritores de Santa Catarina, ele publicou, nos primeiros dias de 2002, o seu novo livro "AS ANTECIPAÇÕES DE LOBATO E OUTROS ESCRITOS". Um dos maiores estudiosos de Lobato, ele nos traz, neste livro, mais ensaios sobre Lobato, Rangel, Cendrars, etc. Como sempre, um volume de conhecimento, fruto de estudo e pesquisa.
"JORNAL DO ENÉAS":
UM JORNAL SEM PRECONCEITO
Por Luiz Carlos Amorim
O Jornal do Enéas é, como o próprio
editor o escritor Enéas Athanázio o identificou,
um boletim cultural independente. Independente
porque não está atrelado à cultura oficial,
de nenhuma maneira, e também porque quem financia as suas edições,
via de regra, é o seu criador e mantenedor. Quando quase todos os espaços
literários e culturais minguavam e desapareciam, nascia o Jornal
do Enéas, despretensioso mas eficiente, de excelente qualidade
e de alcance invejável.
Nas suas oito páginas tamanho ofício, o jornal, que não
tem periodicidade fixa, mas que já está na edição
número 13, publica poemas, contos, crônicas, ensaios, resenhas,
charges e desenhos de gente de todo o Brasil. E do exterior, também.
A publicação tem circulação dirigida, por mala
direta, com tráfego livre por todo o país e por alguns endereços
internacionais. Não tem preconceito de qualquer natureza. Para constar
das páginas do Jornal do Enéas, basta que a produção
do artista tenha qualidade.
O editor, Dr. Enéas, já publicou muitas resenhas, crônicas
e ensaios em revistas, jornais, antologias e nos seus livros solo, sobre autores,
obras e pessoas que conheceu em suas muitas viagens pelo Brasil afora. Já
publicou, por mais de doze anos, em jornais do norte catarinense, uma página
literária onde reunia textos seus e de outros escritores, do estado
ou não. Faz um trabalho na mesma linha para a revista Blumenau em Cadernos,
há décadas.
O Jornal do Enéas continua, portanto, essa tradição
do escritor Enéas Athanázio, dos campos de Lages, de dar espaço
à boa literatura.
Um dos melhores espaços do gênero, é bom que se frize.
Para conhecer essa publicação, entre em contato com o Dr. Enéas
Athanázio, pelo mail e.atha@terra.com.br ou pela caixa postal 418 -
88330-000 - Balneário Camboriú - SC.
CRÔNICAS ANDARILHAS
Saiu mais um livro de crônicas do escritor Enéas Athanázio, "CRÔNICAS ANDARILHAS", pelas edições Minarete. Trata-se, como o próprio título indica, de um livro de crônica. É um livro alentado, de 196 páginas, com um conteúdo gostoso e interessante e uma apresentação impecável. Como o próprio autor diz, em uma das orelhas do livro, ele reúne naquele volume "um punhado de crônicas inspiradas em andanças minhas e de outros autores, e até em viagens imaginárias. Dr. Enéas conhece o Brasil de ponta a ponta. Vale a pena viajar com ele essas "viagens literárias".Pedidos para o autor: Caixa postal 418, CEP 88330-000, Balneário Camboriú, SC.
Em Tempo: Saiu o número 11 do Jornal do Enéas, o Boletim Cultural Independente, recheado de poesia, crônicas, contos, ensaios e muita informação cultural e literária. Quem não conhece, vale a pena entrar em contato com o editor, no endereço acima.
ENÉAS ATHANÁZIO: ENTREVISTA SOBRE NOVO LIVRO
Enéas Athanázio, contista, cronista, ensaísta, escritor respeitado em todo o Brasil, é também advogado e promotor aposentado. Ele acaba de lançar mais uma obra sobre direito, o livro "Direito Internacional Público - Noções Elementares", sobre o qual ela fala:
A ILHA: O que o levou a escrever um livro sobre
Direito Internacional Público?
Enéas Athanázio: Sempre gostei do Direito Internacional, disciplina
que julgo fascinante. Fiz leituras periódicas dos livros que surgiram
e contemplei com atenção o panorama mundial através da
imprensa, procurando me manter atualizado. Numa visita ao Prof. Pinto Ferreira,
então diretor de uma revista jurídica, fui convidado a escrever
para a revista dois ensaios sobre
Direito Internacional. Escrevi então o núcleo do que hoje constitui
os capítulos I IV. Nesse meio tempo, o mestre adoeceu e deixou a direção
da revista. Os ensaios ficaram abandonados na gaveta.
A ILHA: E depois, o que aconteceu?
Enéas Athanázio: Relendo aqueles originais, meses depois, percebi
que poderiam se tornar matérias para um livro, desde que ampliados
e atualizados. Foi o que fiz, escrevendo também os capítulos
II e III. Este último me deu um trabalho imenso, pela quantidade de
leituras a que me obrigou. Procurei dar ordem e sentido de conjunto e o resultado
me pareceu bom o suficiente para justificar o livro. Ressalvo que não
é um tratado e nem sequer um manual, mas apenas noções
elementares. Não me estendi em minúcias técnicas e filigranas
sempre abordadas nos livros existentes. Seria repisar com menor brilho o que
já ensinaram os grandes mestres.
A ILHA: Você julga oportuno, neste momento vivido pelo mundo, publicar
um livro sobre Direito Internacional, disciplina hoje tão desacreditada?
Enéas Athanázio: Mais oportuno que nunca. É nestes momentos
caóticos que o Direito Internacional, a ONU e outras Organizações
Internacionais precisam ser estudadas, conhecidas e prestigiadas. Não
será a presença de governantes prepotentes, por poderosos que
sejam, que nos levará a abdicar da busca da paz perpétua com
que sonhava Kant. Esses homens passarão e o mundo continuará.
O Direito Internacional, a ONU e as demais Organizações Internacionais
são conquistas obtidas com muita luta e sofrimento na tentativa de
colocar a ordem mundial sob a lei. Sua abolição ou enfraquecimento
seria o retorno à barbárie, coisa que, acredito, ninguém
possa desejar.
OITENTA E TANTAS LÉRIAS
por Luiz Carlos Amorim
O volume dois de "Fiapos de Vida" -
Oitenta e Tantas Lérias é o mais recente livro de crônicas
e contos do escritor catarinense Enéas
Athanázio. Já disse antes e volto a afirmar, Dr. Enéas
é, talvez, o mais importante contista, cronista e ensaísta catarinense,
conhecido e respeitado por todo o Brasil. Isso sem contar que a sua obra já
tem incursões por outros países.
Então recebo "Fiapos de Vida II" e começo a ler as
oitenta e tantas "lérias" do escritor. E não me surpreendo,
porque conheço toda a obra do Dr. Enéas, mas sinto ainda mais
leveza, mais sabor, um estilo elegante e sóbrio, um domínio
cada vez mais completo no saber contar, em dividir experiências e descobertas,
em lapidar a palavra com singeleza e perfeição, sem rebuscamentos
pedantes e pretenciosos.
São oitenta e tantos textos que, sem exagero, dão prazer ao
leitor. Alguns curtos outros mais longos, eu diria que todos são crônicas,
mas pode-se dizer que são crônicas e contos.
Mas todos com a mesma caraterística que sempre encontramos no autor:
a fluidez, a objetividade e o conteúdo. E o bom humor, na crônica
dos fiapos de vida, paralela à seriedade da pesquisa e do conhecimento
das crônicas sobre cultura e literatura, que informam e ensinam.
Até poesia há em "Fiapos de Vida": o autor, ao escrever
sobre alguns escritores e comentar-lhes a obra, transcreve peças importantes
de um ou outro.
É um livro abrangente, pois fala dos campos catarinenses, fala de diversos
lugares que o autor visitou, pelo
Brasil afora, em suas tantas viagens e fala de escritores de diversos pontos
do país.
Há que se ter o prazer de ler as oitenta e tantas lérias de
Enéas Athanázio.
ENÉAS ATHANÁZIO: UM SENHOR ESCRITOR
Por Filemon F. Martins
O Sr. José Enéas César Athanazio
nasceu em Campos Novos, Santa Catarina, no dia 28 de março de 1935.
Poeta, contista, cronista, biógrafo, crítico literário,
pesquisador, promotor de justiça aposentado, autor de inúmeros
livros, entre os quais "O Peão Negro", "3 Dimensões
de Lobato", "O Azul da Montanha", "Godofredo Rangel -
Biografia", "Meu Chão", "Tapete Verde", "Figuras
e Lugares", "A Pátina do Tempo", "O Amigo Escrito",
"São Roque da Ventania" (novela), "Silvio Meira - Breves
anotações sobre sua obra" e tantos outros.
Li "São Roque da Ventania", "Vida Confinada", "Silvio
Meira" e o excelente "O Amigo Escrito", além de alguns
artigos esparsos do escritor catarinense. Observa-se, no entanto, que nos
seus livros há pouca ou quase nenhuma informação sobre
o autor, o que é uma pena, porque esta prática dificultará
o trabalho do pesquisador do futuro. Se hoje já é bastante difícil
levantar dados, pesquisar, quando estes não estão presentes
no livros, imaginem no futuro. Em "São Roque da Ventania"
o autor pinta com cores vivas a novela da própria vida, não
uma novela televisiva, mas no sentido real, narrando de forma magistral o
linguajar, os hábitos e costumes usados nas fazendas e no interior
do estado de Santa Catarina. Aliás, desde sua estréia, em 1973,
com o livro "O Peão Negro", que o escritor Enéas Athanázio,
com seus contos regionais, vem se destacando com brilhantismo no panorama
das letras de Santa Catarina e do Brasil. O escritor Benedicto Luz e Silva,
certa ocasião, escreveu: "Note-se que a segurança de Enéas
Athanázio, ao manipular seu material, manifesta-se claramente no equilíbrio
que coloca em sua linguagem, onde dosa, de modo conveniente, uma prosa clássica
com a inclusão adequada de expressões de uso regional."
O crítico literário Fernando Tokarski, do jornal "Transparência",
da Universidade do Contestado, Canoinhas, afirma: "Em textos breves,
o mais importante escritor regionalista catarinense repete com "Fiapos
de Vida" o êxito de seus livros anteriores. Textos enxutos, caracterizados
pela linguagem rural, compõe esta obra de fácil e agradável
leitura. São mais de quarenta breves histórias retratando a
vida campeira e os enlevos forenses."
Competente e talentoso, o Dr. Enéas Athanázio vai construindo,
aos poucos, uma obra fabulosa e, sobretudo, fazendo justiça, como é
o caso do livro "O Amigo Escrito", em que o autor descreve um pouco
da vida e obra do grande escritor mineiro José Godofredo de Moura Rangel,
autor de "Vida Ociosa" e "Falange Gloriosa", entre outros,
recordando, inclusive, suas andanças em São Paulo. Quando jovem
e estudante de Direito, foi nomeado e trabalhou como escrivão de uma
sub-delegacia no Posto Policial do Brás, mais precisamente na Avenida
Celso Garcia, tendo se transferido, posteriormente, para o novo Posto Policial
do Belenzinho e residido na rua 21 de Abril, no nostálgico Bairro do
Brás, onde "dormia, escrevia e lia incessantemente", conforme
Enéas Athanázio, citando Edgard Cavalheiro em "Monteiro
Lobato - Vida e Obra".
O livro é interessantíssimo e traz preciosas informações
sobre o escritor mineiro, aborda a correspondência com Monteiro Lobato,
o trabalho assoberbado do Juiz em conflito com o talento literário.
Faz uma rápida análise das obras de Godofredo Rangel, resgatando
a memória do escritor.
O dicionarista Mário Ribeiro Martins, no livro Dicionário Bibliográfico
do Tocantins, faz referência ao livro "Fazer o Piauí - Crônicas
do meu Norte", onde Enéas Athanázio, no capítulo
"Veredas do Tocantis" faz uma análise criteriosa do livro
de contos "Veredão", do escritor tocantinense Moura lima.
Atualizado, politizado e culto, o escritor catarinense foi um crítico
ferrenho do governo de Fernando Henrique Cardoso. Hoje, não sei, mas
pelo rumo que tomou o governo do Partido dos Trabalhadores, creio, Enéas
Athanázio continua sendo crítico "sem papas na língua".
Seus trabalhos literários estão publicados em vários
jornais, revistas e antologias do Brasil e exterior, como por exemplo: "Antologia
Del-Secchi", de Roberto de Castro Del´Secchi, "Nossa Mensagem",
do saudoso Aparício Fernandes, 1977 - página 117, "Literatura
- Revista do Escritor Brasileiro", nº 10, páginas 32 a 34
- junho de 1996.
Presente no Dicionário Bibliográfico do Tocantis, página
842, do sociólogo Mário Ribeiro Martins, procurador de justiça
aposentado. É verbete da Enciclopédia de Literatura Brasileira,
de Afrânio Coutinho, edição do MEC, 1990, com revisão
de Graça Coutinho e Rita Mousinho, edição revista e atualizada
em 2001.
DE SANTA CATARINA PARA O BRASL
José Afrânio Moreira Duarte
Embora sem mudar-se nunca do seu bem amado Estado de Santa
Catarina, onde foi Promotor em várias comarcas, até aposentar-se
já no final de carreira, em Florianópolis, Enéas Athanázio
conseguiu projetar seu nome como intelectual de respeito através do
Brasil que já conhece quase todo, visto que uma de suas diversões
prediletas é viajar.Atualmente reside em Balneário Camboriú.
Dedica-se primordialmente ao conto e ao ensaio literário, colaborando
ativamente na imprensa catarinense mas também na de muitas outras unidades
da Federação.
Estreou em livro em 1973 com a ótima coletânea de contos intitulada
"O Peão Negro", a que se seguiram numerosos outros, tanto
de ficção quanto de ensaio, sendo que hoje sua obra literária
já ultrapassa trinta títulos individuais, mas ele participou
também de numerosas antologias.
Como contista, Enéas Athanázio é um excelente cultivador
do regionalismo, focalizando múltiplos aspectos do interior catarinense
que ele tão bem conhece. Para fazer um enfoque completo da vasta obra
de Enéas Athanázio seria preciso escrever um livro inteiro.
Como o meu objetivo é apenas escrever um artigo de jornal, vou tomar
para exemplo apenas dois de seus livros mais recentes, "O Cavalo Inveja
e a Mula Manca" e "A Liberdade Fica Longe."
Como de hábito nos trabalhos ficcionais de Enéas Athanázio,
os contos inseridos em "O Cavalo Inveja e a Mula Manca" parecem
tirados da vida real, aparentando fatos verídicos transformados em
literatura. Se as histórias não são verídicas,
são muito verossímeis.
Enéas Athanázio escreve sempre num português impecável.
Seu estilo, despretensioso e simples, é encantador, original e cativante,
como comprovam os seguintes excertos:
"Perdida num desvão entre o rio e a serra, a Vila do Calmoso vegetava
em silêncio, esquecida do mundo. Só se agitava um tanto nas chuvaradas,
quando o rio saía da caixa e a água barrenta bufava furiosa,
na ânsia de alcançar o Rio do Peixe e daí o Uruguai."
Referindo-se a um hotel interiorano, edificado numa cidade onde ventava muito
e forte, motivo porque nele foram colocados quatro cabos de aço, aparentemente
para segurá-lo, impedindo que desmoronasse, Enéas Athanázio
assim se expressa:
"Embalado pelo vento que cantava nos oitões, dormi no velho hotel,
com pena de sua escravidão. Creio que os rangidos noturnos de suas
vigas e paredes expressavam um sonho de liberdade e com ele fui desde logo
solidário."
A boa ficção de Enéas Athanázio é sempre,
ou quase sempre, regionalista, no que se refere aos enfoques exteriores, mas
as histórias, na maioria das vezes, têm um cunho de universalidade,
o que faz o leitor lembrar-se de Leon Tolstoi quando ele disse: "Escreve
sobre tua aldeia e escreverás sobre o mundo."
Quando lê "A Liberdade Fica Longe", livro pequeno em seu formato
mas grande no conteúdo, o leitor fica indeciso, sem saber se é
obra de ficção ou depoimento memorialístico. O certo
é que se trata de um texto bom e de agradável leitura.
É indispensável registrar que como ensaísta, erudito
e profundo, Enéas Athanázio escreveu vários livros sobre
o genial Monteiro Lobato e também sobre o talentoso e pouco conhecido
escritor mineiro Godofredo Rangel com quem Monteiro Lobato se correspondeu
durante mais de quarenta anos, tendo sido as cartas do mestre paulista endereçadas
ao amigo mineiro reunidas no livro intitulado "A Barca de Gleyre".
Enéas Athanázio escreveu ainda um interessante livro focalizando,
sob muitos aspectos, mormente o literário, o simpático Estado
do Piauí.
No final de "A Liberdade Fica Longe", Enéas Athanázio
diz:
"Pelas noites a dentro, escrevia e escrevia, tentando realizar o melhor.
Naquelas horas silenciosas, no quartinho acanhado, compreendi que só
através da literatura, produzindo uma grande obra, eu alcançaria
a liberdade que a vida não me dera. Sabia agora, de experiência
própria, que a liberdade ficava longe, mas eu chegaria lá!"
Plenamente vitorioso na vida jurídica e na vida literária também,
Enéas Athanázio de há muito chegou lá, num patamar
bem alto.
Uma vez eu disse, em correspondência endereçada ao Enéas:
"Como de hábito, quer quando comentar, quer quando cria, você
escreve sempre com brilhantismo, inteligência, talento e classe."
Agora, cada vez mais convicto, repito a assertiva.
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José Afrânio Moreira Duarte é escritor, membro da Academia
Mineira de Letras.
MUNDO ÍNDIO
Saio da leitura de seu "Mundo Índio" convencido
de que você é um dos mais importantes homens de letras do Brasil.
Nesse volume de apenas 94 páginas temos uma síntese de sua múltipla
personalidade literária, como ensaísta, contista e crítico
dos mais argutos que o País já teve em sua história.
Suas andanças culturais por esses Brasis a dentro lembram a paixão
de Mário de Andrade por nossa Terra e seu Povo. Sua fidelidade às
nossas raízes recorda Monteiro Lobato. Seu amor às fontes de
nossa cultura nos leva à literatura de José de Alencar e ao
encantamento de Guimarães Rosa - cada um em seu tempo e lugar próprios.
Recordo-me bem que, em Porto Alegre, em outubro de 1951, Afonso Schmidt me
falava da necessidade de vir a Goiás conhecer de perto o cenário
onde se desenrolava um dos seus romances, a fim de não fugir à
autenticidade do texto com referência è geografia humana e telúrica
da obra. Escritor de verdade faz assim.
Você encerra esse seu delicioso livro com a chave-de-ouro dessas "Alegações
Finais", em que, "Em Defesa de Nheçu", mostra todo um
belo arrazoado jurídico a favor dos verdadeiros donos das terras do
Brasil - nossos irmãos silvícolas, despojados de tudo pelos
invasores brancos.
E com que força histórica você reconstrói a figura
legendária desse Martinho Bugreiro, vítima e implacável
vingador e destruidor do Povo Indígena nas plagas catarinenses.
Em "O Ermitão" e "Xokleng" mais uma vez você
é a voz da Justiça no patrocínio do Direito dos espoliados
autóctones brasilíndios, tão massacrados pelos ditos
civilizados, esses sim, bárbaros atrozes.
Não me canso de exaltar suas qualidades de escritor, um dos mais importantes
de nossas letras na atualidade. Mil parabéns, Enéas Athanázio!
Anápolis/GO, 22 de junho de 2003
PAULO NUNES BATISTA (*)
_______________________
(*) Poeta erudito e popular, cordelista, ficcionista e crítico literário. Advogado e membro da Academia Goiana de Letras. Nascido na Paraíba,é radicado em Anápolis.
PAIXÃO POR LOBATO
Henrique Chiste Neto
No mês de abril sempre "comemoramos" Lobato:
imagino que ainda seja realizada a Semana Monteiro Lobato aí na terrinha.
Foi numa semana dessas, lá pelo meado da década de 70, que fui
agraciado com a medalha de reconhecimento "Valores Taubateanos",
uma criação do então incansável Oswaldo Barboza
Guisard; mas isso não interessa, a comenda é para meu deleite,
enfoquemos Lobato.
Talvez nenhum outro escritor patrício tenha conseguido popularidade
tão grande como nosso ilustre conterrâneo.
O criador de Narizinho, nascido a 18 de abril de 1882, nunca teve um verdadeiro
e legítimo reconhecimento, principalmente de sua terra natal, em contrapartida
de sua enorme obra, de seu grande legado, que deixou através de sua
existência.
Fôssemos de cultura avançada e tiraríamos enorme proveito
na exploração, até, do nome Monteiro Lobato. Mas deixa
pra lá, isto é para Salzburg com seu Mozart, Stratford com seu
Shakespeare e outros mais privilegiados; fiquemos no nosso nível.
Pois é, em Santa Catarina, o escritor Enéas Athanázio
é um pesquisador incansável do regionalismo catarinense e um
apaixonado por Monteiro Lobato.
Com 67 anos de idade, o escritor e pesquisador lança mais uma obra.
"As Antecipações de Lobato e Outros Escritos" (Editora
Minarete) é uma coletânea de doze ensaios e o quarto livro do
catarinense sobre o criador de Emília e Visconde de Sabugosa. A diferença
entre os trabalhos de Athanázio e outros tantos que se dedicam ao estudo
da vida e obra de Monteiro Lobato, é justamente o foco. Enquanto a
maioria se concentra na análise dos textos infanto-juvenis, o escritor
concentra esforços na obra para adultos, desvendando trabalhos um tanto
esquecidos pelos leitores e até pelas editoras, que têm pouco
interesse em reeditá-las, lamenta o autor.
O livro resgata a existência de um texto chamado "Conto Industrial",
que narra a invenção do popular "Biotônico Fontoura"
e registra uma visita que Athanázio fez à Chácara do
Visconde aí em Taubaté. (Ai que vergooonha do Athanázio!!!)
Embora seja um dos maiores estudiosos de nosso conterrâneo, e o único
a ter em casa uma coleção completa da "Revista do Brasil"
(Será que temos isto aí?), da qual Lobato foi proprietário
por 24 anos, Athanázio garante que a proximidade não o influenciou
nas letras, mas, sim, no modo de viver. "Ele foi um homem que conseguiu
aliar a vida do escritor com a do homem de ação, o que é
algo muito difícil", justifica. E continua: "E quanto mais
eu lia suas obras, mais afinidade sentia pelo modo dele agir, pela coragem
nos posicionamentos, na tentativa de pensar sempre com a própria cabeça,
não participando de grupos ou panelas. E acabei ficando assim, vamos
dizer, um bom conhecedor de seu trabalho."
Na obra de Lobato para adultos, o catarinense destaca o espírito democrático
e o amor à liberdade. "Muito mais do que a obra, o grande legado
é o exemplo de vida", afirma Athanázio.
Se isso tudo é bom para nós, aproveitemos como exemplo, e porque
não se sai desse marasmo de "cidade morta" e, de um salto,
com ajuda de pirlimpimpim, pousemos neste novo século com idéias
mais atuais e empreendedoras, aproveitando o produto Lobato, para, de uma
só vez, reconhecer e usufruir do legado deixado. (Fonte; Jornal "A
Notícia").
(Transcrito do Jornal Matéria-Prima, Taubaté/SP,
05 a 11/04/02, número 161, pág. 19)
"Sou leitor dês que o mundo é mundo":
A constituição do leitor e do escritor
e as interfaces com os personagens de ficção
nas obras de Enéas Athanázio
Prof. Guilherme Queiroz de Macedo
Licenciado em História - FAFICH/UFMG
Graduando Licenciatura Pedagogia - FAE/UFMG
Compreendi que só através da literatura, produzindo uma grande
obra, eu alcançaria a liberdade que a vida não me dera. Sabia,
agora, de experiência própria, que a liberdade ficava longe,
mas eu chegaria lá! (do personagem de ficção Natan Zilef
In: ATHANAZIO, Enéas. A liberdade fica longe: novela. Balneário
Camboriu: 2001, p. 23. In: ATHANAZIO, Enéas. A liberdade fica longe:
novelas, contos e crônicas. Balneário Camboriu: 2007, p. 19).
1 - A formação do leitor e do escritor vista através dos olhares do autor e de seus personagens
A evocação do período vivido no Colégio
Interno de Porto União - SC, entre 1945 e 1951, está sempre
presente nas obras de Enéas Athanazio, tornando-as bastante interessantes
na análise das questões educacionais, do ponto de vista vivido
pelos alunos internos, o que chama a atenção dos historiadores,
sobretudo da Educação, tanto em Santa Catarina quanto de todo
o Brasil, sobretudo dos campos de pesquisas envolvendo a formação
de leitores e escritores.
A relação autor-personagem fica em evidência, se levarmos
em conta a intertextualidade existente em toda a obra de ficção
athanaziana, o que nos auxilia a delinear os contornos do retrato da educação
catarinense e brasileira da primeira para a segunda metade do século
XX, através dos olhares do autor e do personagem, como afirma o próprio
Athanázio: Porto União, cidade escura e úmida, onde morei,
mas, na verdade, pouco conheci porque estive recluso num internato à
moda antiga; Calmon, espécie de morada de férias, na qual passava
meses de cada ano (2005 a, p. 165-166).
As entrevistas concedidas pelo autor colocam em evidência a intertextualidade
com os seus personagens de ficção - Janary Messias, Natan Zilef
e Théo Jolivet - e podem ser percebidas, nas referências que
fazem a seus professores, a sua formação como leitor e, posteriormente,
como escritor.
Lopes e Galvão chamam-nos atenção para a ligação
entre os campos de pesquisa da História da Educação com
a Nova História Cultural, sobretudo do livro - quais eram os objetos
mais lidos e por quem e da leitura - os como e os porquês da leitura,
na expressão do historiador Robert Darnton. São três os
momentos constitutivos do circuito que possibilitam o ato de ler: a produção,
a circulação e as apropriações dos materiais de
leitura (2005 b, p. 56).
A produção dos materiais de leitura compreende o lugar ocupado
pelo escrito nas diferentes sociedades e a circulação dos objetos
de leitura procuram investigar as diferentes maneiras como os materiais escritos
eram disponibilizados aos potenciais leitores nas diferentes sociedades e
épocas (2005 b, p. 56-57).
Entretanto, o pólo mais fugidio e imponderável da leitura, os
leitores também têm sido objeto de investigação
(...) [os leitores] são estudados para captar sua individual e singular
maneira de ler (2005 b, p. 58). A trajetória e formação
de Enéas Athanázio como leitor e, posteriormente, como escritor,
se insere no que Lopes e Galvão chamam de reconstituição
da história da formação de leitores individuais, que
pode ser realizada através do estudo de suas bibliotecas particulares,
do levantamento das leituras que faziam e das marcas das anotações
que deixavam nos livros. Esses estudos possibilitam um melhor conhecimento
da trajetória pessoal e profissional desses leitores (2005 b, p. 58-59).
2 - Contextualização do autor e da obra: Quem é Enéas Athanázio?
Escritor, contista, cronista e ensaísta catarinense,
o próprio autor resume em seu mais recente livro a sua trajetória
literária: tendo estreado nas letras em 1973, com a coletânea
de contos O Peão Negro, o Autor tem hoje 38 livros e 13 opúsculos
publicados, totalizando 51 obras em volumes individuais. Participou, até
agora em cerca de 120 antologias e coletâneas de contos, crônicas
e ensaios, entre os quais algumas no Exterior (Estados Unidos, Portugal e
França). Seus contos, crônicas, resenhas e artigos são
publicados com regularidade em jornais, revistas e suplementos de vários
pontos do País. É colunista do "Jornal Página 3",
de Balneário Camboriu, e da revista "Blumenau em Cadernos"
há muitos anos". (2007).
Silveira de Souza e Flávio José Cardozo entrevistaram o autor
em 1991 e na apresentação contextualizam o autor e a sua obra
literária: a literatura de ficção regionalista voltada
para o linguajar e os costumes dos Campos Gerais de Santa Catarina, (...)
encontra hoje em Enéas Athanázio um dos mais conhecidos, assíduos
e aclamados cultores. Criador de tipos, arguto observador da vida interiorana,
à qual por vezes mescla leves pitadas de realismo fantástico,
Enéas resgata o dialeto regional catarinense, dimensionando-o em contos
e 'causos' de expressivo efeito literário. Autor de obra relativamente
numerosa, ao lado do ficcionista, convivem também o articulista, o
pesquisador, o jurista e o ensaísta de literatura. As pesquisas e ensaios
que realizou sobre a vida e a obra de Monteiro Lobato, Godofredo Rangel e
Lima Barreto constituem-se em apreciáveis fontes de consulta para o
conhecimento daqueles escritores (1991, p. 2).
O autor, em entrevistas concedidas em 1991 e em 2001, respectivamente, relata-nos
como entrou para o Colégio Interno de Porto União, onde permaneceu
de 1945 a 1951, dos 10 aos 16 anos: O meu padrasto era funcionário
da Companhia Lumber, aquela mesma do caso do Contestado . A Lumber tinha (...)
seções (...) em Calmon, um lugarejo a uns 60 Km ao sul de Porto
União. Meu padastro trabalhava em Calmon. Como era muito difícil
para ele atender os compromissos do emprego morando em Porto União,
ele e a minha mãe decidiram ir para Calmon, muito embora houvesse trem
diário. Eles foram para Calmon e eu não tive alternativa, fui
para o internato. Fiquei lá seis anos, saí adolescente. Esse
internato, é claro, me marcou muito. Mesmo porque era o mais conhecido
da região e para ele vinham rapazes de toda parte. (
) Entrei
lá com 10 anos e saí com 16. Fiz uma parte do primário
e todo o ginásio (1991, p. 4-5).
O autor também recorda os bons professores que teve, como foi a sua
trajetória de estudante no colégio interno e de quais matérias
mais gostava: Eu diria que uma impressão positiva foi o que deixou
o professor Estevão Juk, o famoso Jucão, professor de português.
Era um homem muito comedido, extremamente comedido - e extremamente justo.
A gente tinha muita confiança no julgamento dele, a gente sabia que
era duro, mas incapaz de uma injustiça deliberada. Um elogio dele era
uma coisa que causava muita satisfação. Mandava fazer uma redação,
a gente ficava lá uma semana fazendo, depois lia em aula. Quando ele
gostava, dizia: 'Muito bem, senhor!' Aquilo era um galardão para a
semana inteira. (...) Mediano. (...) Eu tinha mais facilidade para línguas.
Já para matemática, ciências (1991, p. 5).
O autor revela-nos que escrevia diários nos tempos de Colégio
Interno em Porto União: Já nos idos colegiais eu gostava de
receber um seco 'muito bem' do professor de português pelas minhas redações.
Escrevia algumas coisas e fui vítima da mania dos diários, que
nunca foram longe. Nos tempos de Faculdade a escrita se amiudou. (2001 b).
Os diários de Janary Messias teriam sido escritos durante o período
em que o próprio Enéas Athanázio puxou seis anos de internato
(1945/1951)?
3 - A formação do leitor e do escritor vista através do olhar dos personagens
Dentre as obras levantadas na bibliografia do autor, composta
de 51 títulos, que poderiam confirmar a hipótese da intertextualidade
entre o autor e seus personagens de ficção, destacamos a novela
de um estudante, publicada em sua obra mais recente A Liberdade fica longe
(2007, p. 59-70), sob o título de Mudança de Vida, que relata
o período de internato de outro personagem de ficção
e também aluno interno - Théo Jolivet - caracterizado por Athanázio
como aluno mediano. Na entrevista, o autor considerou a si mesmo também
como aluno mediano. Novamente, o autor utiliza-se de outro personagem de ficção,
para delinear o retrato da educação vivida por ele próprio
no mesmo Internato de Porto União.
Enéas Athanazio, a partir de seus personagens - Théo Jolivet,
Natan Zilef e Janary Messias - constrói as narrativas do período
em que viveu no Internato, colocando-se contra os métodos pedagógicos
repressores e autoritários do Colégio a partir do ponto de vista
e do olhar dos personagens, alunos internos como o próprio autor no
período 1945/1951.
Depois de caracterizar o personagem Théo Jolivet como um aluno mediano,
o autor relata-nos a mudança e transformação pela qual
passou o seu personagem, quando resolver tornar-se um estudante de verdade,
em contraponto com os seus colegas Telmo, Nivaldo, Djalma, Adão que
continuaram mantendo a mesma postura de sempre. A disposição
em mudar de vida do personagem manifestou-se no momento imediatamente posterior
à conversa com os colegas nas escadarias da construção
- obras do futuro ginásio de esportes coberto do Colégio Interno,
cujos trabalhos nunca terminaram, na troca de lugares com um colega de sala
de aula, das carteiras do fundo para as da frente, demonstrando que em todas
as épocas históricas, as escolas possuíam territórios
e espaços ocupados pelos alunos que delineavam o seu perfil como bons
ou maus estudantes.
O severo professor Melk, de português, percebendo a mudança,
convocou o aluno Théo Jolivet para responder a uma argüição
sobre preposições, tendo ele que se justificar para poder melhor
se preparar para discorrer sobre o assunto na próxima aula. O momento
da argüição perante o rígido professor Melk e os
colegas internos, revelam-nos o impacto psicológico no aluno, quando
inquirido publicamente na sala de aula, diante do professor - geralmente sentado
em uma bancada superior - e frente a frente com os colegas de classe, próximo
ao quadro-negro. A expectativa em receber uma nota máxima criava sempre
um clima de suspense, quando a argüição era concluída.
A lembrança de que haveria argüição da temida matemática,
matéria que tinha mais dificuldade, fez com que Théo Jolivet
lembrasse de que deveria deixar a comemoração do bom resultado
obtido em Português de lado e se preparar bastante, uma vez que certamente
seria chamado pelo inflexível professor Bro Joannes. Mais uma vez Théo
Jolivet e os colegas internos se viam diante de uma argüição,
momento tradicional no ritual dos colégios da metade do século
XX, para separar e discriminar os alunos que sabem daqueles que não
sabem, criando novamente a expectativa do aluno em receber uma nota máxima
do professor de matemática Bro Joannes. Alguns colegas de Théo
Jolivet passaram a tratá-lo de forma diferente, outros seguiram o seu
exemplo, enquanto outros internos passaram a lhe dispensar maior atenção,
conseqüência da mudança de vida a que se propôs o
personagem-estudante.
A rara presença de professoras, lecionando em um Internato de frades
franciscanos alemães no interior de Santa Catarina na metade do século
XX também foi mencionada pelo personagem, cujo mapa foi considerado
o melhor trabalho da turma: Se o seu mapa não mudou o mundo, era certo
que ajudara na sua mudança interior.
Depois de alguns dias de férias, durante os quais descansou, Théo
retornou ao Internato com a alma limpa e lavada, disposto a se dedicar ao
estudo, preparando-se para os exames orais de latim, nos quais até
mesmo as orações mais tradicionais da Igreja Católica
deveriam ser decoradas pelos alunos.
O personagem novamente se depara com o rigoroso professor de portugues Melk,
considerado por todos os alunos como um dos mais duros, que pediu a todos
uma redação sobre a vida dos colonos catarinenses da segunda
metade do século XX e a leitura da mesma em voz alta, junto ao quadro
negro, diante dele e na frente dos colegas. Théo reescreveu um texto
anterior, dando-lhe uma nova versão e colorido diferentes e, no momento
da leitura, diante da recusa do severo professor em aceitar o texto, argumentou
que - como os grandes escritores - deu novas versões e ampliou a mesma
história. Obtendo a permissão do professor, Theo se esforçou
para firmar a voz e leu com alma o que havia escrito. (2007, p. 68).
Théo começou a perceber em si mesmo os efeitos da mudança
de vida a que se propôs como estudante do Internato, aumentando o seu
entusiasmo e dedicação aos estudos: Só então se
deu conta de que estudar também é bom passatempo. Desta vez,
porém, as provas não lhe provocaram o pânico dos anos
anteriores. Estudou um pouco mais e o resultado foi bom. Com as notas altas
obtidas no semestre alcançou excelente média (2007, p. 69).
Nos exames orais de História, tendo que discorrer sobre um episódio
histórico nacional, Théo se saiu bem, escolhendo como tema o
movimento de Canudos, uma vez que andava lendo Euclides da Cunha, autor de
Os Sertões (2007, p. 69).
4 - Os marcos de constituição do autor-personagem
como leitor e escritor
A novela de um estudante Mudança de Vida pode ser tomada como ponto
de partida e como marco de constituição do autor e do personagem
como leitor e, posteriormente, como escritor, ressaltando a pertinência
do ponto de vista do aluno adotado pelo autor e por seus personagens - enquanto
alunos de um Colégio Interno - nas obras de ficção analisadas.
Em outras obras de sua autoria, o autor também delineia os marcos que
o constituíram a sua formação como leitor e como escritor,
o também que pode ser comprovado nas entrevistas que concedeu, nos
remetendo a contos e crônicas, que também fazem referências,
presentes na trajetória literária do autor, desde os tempos
de Internato em Porto União - Santa Catarina (1945 - 1951), que aprofundam
nos estudos secundários na Escola Comercial em Curitiba - Paraná
(1952 - 1954), na Faculdade de Direito de Florianópolis - Santa Catarina
(1955 - 1959) e no retorno a Campos Novos - Santa Catarina (1960 - 1968),
culminando com a sua estréia literária com a obra O Peão
Negro (1973).
Em outras obras do autor estão presentes, no processo de sua constituição
como leitor e como escritor, contos e crônicas que comprovam a relação
autor-personagem, envolvendo outros personagens presentes em suas obras literárias
como Natan Zilef (2001 a) (2004, p. 24-25) (2007, p. 117-18), nas crônicas
e contos Ubirajara não veio à aula (1986, p. 9-10), A Estradinha
(1994, p. 5-7), Simpático (1976, p. 49-53), A Carteira de Couro (1995,
p. 13-20) e Momentos Fugazes (2004, p. 24-25) (2007, p. 117-18) e na novela
literária A Liberdade fica longe (2001 a) (2007, p. 7-19).
Na crônica Momentos Fugazes o autor refere-se ao personagem e amigo
Natan Zilef, o saudoso beduíno, andarilho por herança de sangue
e leitor compulsivo, que morava num remoto e silencioso povoado à margem
da ferrovia. Através do personagem, o autor delineia os marcos que
o constituíram como leitor: vítima do carnegão literário,
já nessa época Natan se entregava ao 'vício impune' da
leitura. Esgotados os poucos livros disponíveis na Vila, alguns reiúnos
como animais sem dono, correndo de mão em mão e as velhas revistas
sebosas e esfiapadas, a única forma de renovar tão conhecido
estoque residia no jornaleiro do trem misto que vinha do norte, todas as manhãs,
sempre sortido de revistas, inclusive em quadrinhos, jornais variados e até
uns poucos livros (2007, p. 117-18).
Os livros e a leitura faziam parte do mundo de seu personagem Natan Zilef,
com tanta força como na pungente e tocante passagem: restava, então,
esperar o misto da manhã, transportando pessoas, cargas, o sonho e
a fantasia impressos naquelas páginas repletas de cores e letras, reveladoras
de mundos jamais suspeitados pelos moradores da bucólica Vila. Mas
era preciso ser ágil e rápido, que a parada se resumia a uns
momentos fugazes, e o agente não tardava a dar o 'pode' para a partida.
Com o trem ainda em movimento, o Beduíno saltava para o estribo e dali
embarafustava na corrida pelo vagão (...), em cujo final se instalava
o jornaleiro. Ali se exibiam, estirados em cordões, as revistas de
capas vistosas e os jornais que continham assuntos gerais e recentes que o
menino devoraria depois, estirado na cama. Com os olhos neles e os ouvidos
no implacável sino do 'pode', escolhia com rapidez o que desejava,
pagava e tratava de saltar, muitas vezes com a composição já
andando (2007, p. 118, Grifos nossos).
A mania de leitura do personagem o deixava entristecido quando não
conseguia adquirir os livros, jornais e revistas: vivia momentos de angústia
quando o jornaleiro não estava no seu posto, afastando-se para vender
em outros vagões, ou não tinha troco para devolver. Algumas
vezes teve que saltar de mãos vazias, tão frustrado que quase
chegava às lágrimas. Em geral, porém, acariciava na plataforma
suas amadas revistas e os jornais novinhos, enquanto o misto desaparecida
martelando nos velhos trilhos. (2007, p 118).
O autor faz uma breve referência, nas entrelinhas, a Natan Zilef na
obra Vida Confinada quando mencionou a um colega de Internato que preferia
passar as férias no Colégio a voltar para casa: um destes lhe
confessou que se sentia melhor ali que suportando os entreveros dos pais e
as rezingas da mãe com a empregada (1997, p. 54). A implicância
do padrasto com o vicio de leitura do personagem fez com que ele resolvesse
ganhar o mundo, o que reforça a nossa hipótese da existência
de interfaces entre o autor e seus personagens de ficção: voltava
feliz para casa, driblando o padrasto e sua implicância com a 'mania
de leitura' do menino, fato que seria uma das causas da fuga de Natan para
o mundo, em busca de ares mais livres, como narrei em minha novela 'A Liberdade
fica longe'. Mas essa é outra história! (2007, p 118). O autor
tambem refere-se à origem social de Natan, quando o mesmo diz que sempre
fui aluno remediado (2007, p. 8).
5 - As interfaces dos olhares do autor e dos personagens nas obras de ficção athanaziana.
Nesta perspectiva, podemos afirmar que existe uma coerência
interna nas obras analisadas, em função dos olhares do autor
e do personagem, uma vez que ambos colocam-se como alunos internos do Colégio
de Porto União, o que pode ser comprovado pelos mesmos lugares aonde
passavam as férias pequenas e grandes - Calmon - SC e Campos Novos
- SC e pelas atividades que faziam - andar de cavalo, ler, trocar livros e
revistas com os amigos, esperar o trem misto vindo do Norte diário
na estação para comprar livros e revistas, passeios de canoa
pelo rio Iguaçu localizado entre as áreas rurais dos municípios
de Porto União - SC e União da Vitória - PR, na divisa
entre os Estados de Santa Catarina e do Paraná.
Considero que, a partir de seus personagens de ficção Janary
Messias, Théo Jolivet e Natan Zilef, o autor constrói as narrativas
do período em que puxou seis anos de Internato, colocando-se contra
os métodos pedagógicos opressores, repressores e autoritários
do Colégio, a partir do ponto de vista e do olhar dos personagens,
todos eles alunos internos do Colégio de Porto União, como o
próprio Enéas Athanázio.
Janary Messias aparece no conto Ubirajara não veio a aula, quando o
autor, por meio dele, relata a repentina partida de um colega de Internato
que adoeceu, foi levado de trem e nunca mais retornou. Ubirajara sentava-se
na frente de Janary e a sua ausência na carteira o colocava mais perto
da Professora - mais uma vez o autor refere-se à rara presença
de Professoras lecionando no Colégio Interno de Porto União,
nas décadas de 40 e 50 do século XX - e, daí por diante,
não escapou mais de suas argüições orais: quando
olhei para frente, depois de arrumados os livros embaixo da carteira, notei
que faltava alguma coisa. Havia um buraco na fila de cabeças que ficava
diante de mim. Pelo vão avistei a professora sentada atrás da
mesa. Nunca me pareceu tão feia, tão velha e tão perigosamente
próxima. Ela percorreu a sala enorme com os terríveis óculos
escuros brilhando nas lentes esverdeadas. Como demorou a inspeção!
Terminou, finalmente. Senti o olhar pesado se fixando em mim, áspero,
hostil. A voz fanhosa veio através do vão: - Janary, vá
ao quadro! Meio tremendo, percebi que a ausência do colega facilitou
a escolha: fiquei exposto (1986, p. 9).
A expectativa pelo retorno do colega de internato nunca se confirma e o personagem
passa a ser argüido todos os dias: os dias passam lentos, úmidos
e chuvosos. Não temos notícias. Ubirajara não vem a aula.
Falta alguém na minha frente. O vão continua me aproximando
da megera. Cada dia mais feia e mais velha. Ubirajara não vem a aula.
Os dias passam. E passam. Falta uma cabeça na fila da frente. O vão
continua aberto. - Janary vá ao quadro! (1986: p. 10).
No conto A Carteira de Couro, Athanázio relatou-nos o encontro que
teve muitos anos depois com um dos colegas de internato que trabalhavam para
poder custear os estudos - o Djalma: quando ele puxou conversa aquela voz
me pareceu familiar. Comecei então a observa-lo e logo percebi que
era um antigo colega de internato a quem não via há muitos anos
(...) fiz referência ao nosso Ginásio, como se fosse por acaso,
e sua memória reagiu, desencavando-me dos confins do tempo (...) conversamos,
rimos, rebuscamos os anos de internato (...) As imagens do Ginásio
voltavam nítidas graças ao misterioso processo da lembrança
(1995, p. 13-14). Djalma e outro colega - Adão - aparecem também
na novela de um estudante Mudança de Vida (2007, p. 60-61).
O autor mencionou as más condições de conservação
física do prédio do Internato de Porto União, fato este
já relatado por seu personagem de ficção Janary Messias,
apesar de ser conhecido como o melhor Colégio do Norte: gozando da
fama de ser o melhor da região, nosso velho 'Ginásio São
Roque' alardeava que os alunos que gastavam os fundilhos nos seus bancos,
entravam fácil nas faculdades da Capital. Eram duas meias verdades,
porque a 'região' não tinham outros para servirem de comparação
e os ex-alunos, que chegavam nos cursos superiores, constituíam uma
minoria inexpressiva. Mas de qualquer forma, serviam para alimentar o bairrismo
da cidade. A realidade era bem mais modesta. O antigo casarão amarelo,
construído em três níveis para aproveitar a encosta do
coxilhão, com uma larga área coberta pelo lado interior, beirava
a pobreza. As paredes pediam pintura, o soalho de pinho escuro nunca conheceu
tapetes, as salas de aula não tinham cortinas. Pior ainda: padecia
de crônica falta de água, deixando as privadas com um cheiro
de rebentar nariz, e estimulando a sujeira dos internos por natureza ariscos
aos banhos num frio medonho que quase varava o ano. (1995, p. 14-15).
Athanazio fez referência às origens dos alunos e a inexistência
de exames de seleção para o melhor Educandário do Norte,
o que foi relatado também por Janary Messias: seleção
de alunos parece que não se cogitava. Entrava de tudo, desde bundinhas
das cidades até alguns meio bárbaros, laçados nos cafundós
dos sítios para sofrerem a primeira doma - a quebra de queixo. Carrancudos,
encrenqueiros, sempre em grupos aparentados, tinham até faces escondidas
e com eles nossa turma não queria seca (ceca). Havia também
os ricos, cujos pais faziam gordos 'depósitos' para os extras dos filhos,
os remediados e os pobres (1995, p. 15).
Conversando com o colega com o qual encontrara ao acaso em uma viagem de ônibus,
Djalma relembra, de forma emocionada, a dura vida de Internato pela qual passou
em sua juventude, como nos conta o autor: Entre estes estava o coitado do
Djalma, obrigado a trabalhar para pagar o internato (...) ele surgiu nítido
na minha lembrança varrendo os pátios, encerando o soalho ou
puxando latas de água jogadas às privadas imundas, apelidadas
de 'cangurus'. Meu amigo, porém, não mostrava o menor acanhamento
em falar no assunto. Começou a recordar a pobreza em que viveu naqueles
anos (1995, p. 15-16).
A vida cotidiana do Colégio Interno não era conhecida, por conveniência,
da maioria dos pais dos alunos: começava o ano letivo, ele [Djalma]
e a mãe embarcavam no trem misto que ligava a vila onde moravam à
cidade do Colégio. Depois de horas de viagem, rumavam da estação
para o casarão amarelo no topo do morro, e lá ela o entregava
ao padre-prefeito na portaria. Jamais passou dali, nem imaginava como seria
o interior lúgubre do prédio. (...) A porta de imbuia maciça
se fechava devagar e implacável. Ele (...) subia a escada de degraus
judiados rumo ao dormitório. (...) Descia em seguida para rever os
colegas e receber instruções sobre seu serviço (...)
Em poucos dias tudo caía na rotina. As aulas monótonas, as mãos
calejadas de puxar água. (...) acordado pelas palmas do padre prefeito
(...) Foi assim por muito tempo, aquele tempo lerdo da juventude (1995, p.
16-19).
No conto Simpático, o autor fez referência a um amigo - que acreditamos
ser o mesmo Téo de A Estradinha - com quem trocava livros e revistas
morador de um povoado, próximo à Vila, situada próxima
às margens da ferrovia: anos mais tarde, já mocinho e passado
o interesse pelas andanças, eu costumava visitar um antigo morador
em viloca distante alguns quilômetros. Trocávamos livros e revistas
e para lá seguia, sempre a pé (1976, p. 52).
Na crônica A Estradinha, o autor novamente refere-se ao amigo Téo
- um dos tantos que o tempo levou - seria o mesmo Théo Jolivet da novela
de um estudante Mudança de Vida? - com quem trocava jornais e revistas,
na Vila à beira da ferrovia, indo até sua casa em um velho cavalo,
chamado de Rosilho ou Simpático: naquela campina plana, (...) começava
a estradinha que ligava minha vila ao lugarejo onde morava meu amigo Téo,
um dos tantos que o tempo levou (...) Era ainda por ali, na fase da leitura
apaixonada, que eu rumava para a casa de Téo, com quem trocava livros
e revistas (...) Quase sempre a pé, com o maço de leituras embaixo
do braço (1994: p. 5-6).
A intertextualidade entre autor-personagem evidencia-se na entrevista e na
obra Vida Confinada, levando-nos a concluir que os personagens de ficção
do autor Janary Messias, Theo Jolivet e Natan Zilef teriam sido inspirados
em vários colegas com os quais o autor conviveu no Internato de Porto
União, bem como teriam características do próprio Enéas
Athanázio. Neste sentido os diários de Janary Messias, personagem
ficcional do autor, seriam na verdade os diários escritos na mesma
época em que puxou seis anos de internato em Porto União - SC
(1945-1951), mania da qual ele próprio confessa, em uma das entrevistas,
ter sido vítima.
Uma outra evidência que comprova a intertextualidade autor-personagem
seriam os mesmos lugares que freqüentavam e atividades que faziam, que
tanto os personagens de ficção, como o próprio autor
viveram: as 'férias grandes' ele passava na terra natal , alternando
entre a Fazenda e a casa dos avós. (...) As férias de julho
eram gozadas na casa dos pais, numa Vila à margem da ferrovia, distante
uns sessenta quilômetros do Colégio. Sede de uma multinacional
madeireira, a Vila ficava a 1181 metros de altitude e nela o frio predominava,
inclusive com geadas e nevadas. Fora um dos campos de guerra dos fanáticos
na Revolta dos Jagunços e os habitantes mais antigos ainda se lembravam
das tropelias daqueles anos. (...) As férias, porém, não
entravam na rotina do Colégio. Constituíam capítulo à
parte, para além de seus muros (1997, p. 54-55).
6 - A relevância e alcance dos olhares do autor e do personagem em suas formações como leitores e escritores
A abrangência e pertinência da análise
das obras alcançam o contexto histórico-cultural e sócio-econômico
do Estado de Santa Catarina, durante os 30 a 40 anos que se seguiram à
Guerra dos Jagunços, mais conhecida pela historiografia brasileira
como Guerra do Contestado (1912 - 1916), que marcou o apogeu e a crise dos
ciclos econômicos do pinheiro e da erva mate na região. A relevância
e o alcance da análise, como contribuição para o melhor
entendimento da realidade social, por meio do olhar do autor e dos seus personagens
de ficção nas obras, trazem contribuições importantes
e oportunas para um melhor conhecimento, não só da Educação
catarinense, mas de toda a realidade social, política, econômica
e cultural vivida na região do Contestado e dos Campos Gerais Catarinenenses.
Em outras obras, Enéas Athanazio comprovam a hipótese levantada
da presença de uma intertextualidade entre as entrevistas e da obra,
uma vez que as reminiscências escolares de Vida Confinada, nos remetem
a contos e crônicas do mesmo autor que fazem referências à
formação do leitor e do escritor, presentes na trajetória
literária do autor, desde os tempos de Internato em Porto União
(1945-1951), que aprofundaram nos estudos secundários no Escola Comercial
em Curitiba - Paraná (1952-1954), na Faculdade de Direito em Florianópolis
- Santa Catarina (1955-1959) e no retorno à terra natal Campos Novos
- SC (1960-1968), culminando com a sua estréia literária com
a obra O Peão Negro, em 1973: Eu sempre lia e desde cedo entendi que
o escritor era um marginalizado, um incompreendido. Talvez inconscientemente,
procurei fugir um pouco do compromisso mais sério com a literatura.
Por isso é que comecei tarde. Meu primeiro livro foi publicado quando
eu tinha mais de 30 anos (...) Quando saí de Campos Novos, já
tinha o esboço desse livro. Andei por Anita Garibaldi, Canoinhas, tive
tempo para ir escrevendo. Em 73, enfim, me decidi a publicar O Peão
Negro, que foi bem recebido. E então não parei mais (ATHANAZIO:
1991, p. 5-7).
Enéas Athanázio, em uma das entrevistas, relata-nos como foi
o seu despertar para a leitura, através dos seus primeiros contatos
com livros e leituras, depois de ter puxado seis anos de internato num colégio
de frades franciscanos alemães, na cidade de Porto União: sou
leitor dês que o mundo é mundo. Só lembro de mim mesmo
sobraçando livros, revistas e jornais. Em Calmon, esgotado o estoque
caseiro e dos amigos, era a espera ansiosa do trem misto que vinha do norte,
cujo jornaleiro eu 'assaltava' na curta parada do trem na plataforma da estação.
Depois, afagando as capas coloridas, eu me enfurnava no meu canto e lia até
cansar (2001 b).
Referências Bibliográficas
ATHANAZIO, Enéas. Simpático. In: O Azul da Montanha:
contos. São Paulo: Editora do Escritor, 1976, p. 49-53.
ATHANÁZIO, Enéas. Ubirajara não veio à aula. In:
Erva Mãe: contos. São Paulo: Editora do Escritor, 1986, p. 9-10.
ATHANAZIO, Enéas. A Estradinha. In: Rosilho Velho: contos juvenis.
Balneário Camboriu: Minarete, 1994, p. 5-7.
ATHANAZIO, Enéas. A Carteira de Couro. In: Solidão Solidão:
contos. Balneário Camboriu: Minarete, 1995, p. 13-20.
ATHANÁZIO, Enéas. Vida Confinada: autoficção.
Balneário Camboriu: Minarete, 1997.
ATHANAZIO, Enéas. A Liberdade fica longe: novela literária.
Balneário Camboriu: Minarete, 2001 (a).
ATHANAZIO, Enéas. Momentos Fugazes. In: Fiapos de Vida: oitenta e tantas
lérias. V. 2. Balneário Camboriu: Minarete, 2004, p.24-25.
ATHANAZIO, Enéas. Andarilho: exercício de autoficção.
In: Crônicas Andarilhas: utopia campeira. Balneário Camboriu:
Minarete, 2005 (a), p. 165-74.
ATHANÁZIO, Enéas. Mudança de vida: a novela de um estudante.
In: A Liberdade fica longe: novelas, contos e crônicas. Balneário
Camboriu: Minarete, 2007, p. 59-70.
ATHANAZIO, Enéas. A liberdade fica longe. In: A Liberdade fica longe:
novelas, contos e crônicas. Balneário Camboriu: 2007, p. 7-19.
ATHANAZIO, Enéas. Momentos fugazes. In: A Liberdade fica longe: novelas,
contos e crônicas. Balneário Camboriu: 2007, p. 117-18.
ATHANAZIO, Enéas. O Campo está dentro de mim. Entrevista concedida
a João Carlos Taveira. In: Revista Literatura. Especial 10 Anos. Brasília,
20, p. 9-18, abril 2001 (b).
CARDOSO, Flávio José, SILVEIRA DE SOUZA (orgs.). Entrevista.
In: Enéas Athanázio: estudo biobibliográfico: Antologia.
Escritores Catarinenses Série Hoje, 4. Florianópolis: FCC, 1991,
p 4-10.
LOPES, Eliane Marta Teixeira, GALVÃO, Ana Maria de Oliveira. História
da Educação. Rio de Janeiro: DP & A, 2005 (b).
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