Mais do Mesmo


SERÁ
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Tire suas mãos de mim
Eu não pertenço a você
Não é me dominado assim
Que você vai me entender

Eu posso estar sozinho
Mas eu sei muito bem aonde estou
Você pode até duvidar
Acho que isso não é amor.


[refrão]

Será isso imaginação?
Será que nada vai acontecer?
Será que é tudo isso em vão?
Será que vamos conseguir vencer?

Nos perderemos entre monstros
Da nossa própria criação
Serão noites inteiras
Talvez por medo da escuridão

Ficaremos acordados
Imaginando alguma solução
Pra que esse nosso egoísmo
Não destrua nosso coração.

[refrão]

Brigar pra quê
Se é sem querer
Quem é que vai
Nos proteger?

Será que vamos ter
Que responder
Pelos erros a mais
Eu e você?



AINDA É CEDO
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá/Ico Ouro-Preto

Uma menina me ensinou
Quase tudo o que eu sei
Era quase escravidão
Mas ela me tratava como um rei

Ela fazia muitos planos
Eu isso queria estar ali
Sempre ao lado dela
Eu não tinha aonde ir

Mas, egoísta que eu sou,
Me esqueci de ajudar
A ela como ela me ajudou
E não quis me separar.

Ela também estava perdida
E por isso se agarrava a mim também
Eu me agarrava nela
Porque eu não tinha mais ninguém.

E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo
cedo
cedo
cedo

[solo]

Sei que ela terminou
O que eu não comecei
E o que ela descobriu
Eu aprendi também, eu sei.

Ela falou: - Você tem medo.
Am eu disse: - Quem tem medo é você.
Falamos o que não devia
Nunca ser dito por ninguém

Ela me disse:
"- Eu não sei mais o que eu sinto por você.
Vamos dar um tempo, um dia a gente se vê."

E eu dizia: - Ainda é cedo
cedo
cedo
cedo.



GERAÇÃO COCA-COLA
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Quando nascemos fomos programados
A receber o que vocês nos empurraram
Com os enlatados dos USA, de 9 às 6.

Desde pequenos nós comemos lixo
Comercial e industrial
Mas agora chegou nossa vez
Vamos cuspir de volta o lixo em cima de vocês.

[refrão]

Somos os filhos da revolução
Somos burgueses sem religião
Somos o futuro da nação
Geração Coca-Cola.

[I]

Depois de vinte anos na escola
Não é difícil aprender
Todas as manhas do jogo sujo
Não é assim que tem que ser?

Vamos fazer nosso dever de casa
E aí então, vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis.

[refrão]
[solo de voz]
[repete I]
[refrão]



EDUARDO E MÔNICA
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Quem um dia ira dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo coração?
E quem ira dizer
Que não existe razão?
Eduardo abriu os olhos mas não quis se levantar:
Ficou deitado e viu que horas eram
Enquanto Mônica tomava um conhaque,
Noutro canto da cidade,
Como eles disseram.
Eduardo e Mônica um dia se encontraram sem querer
E conversaram muito mesmo pra tentar se conhecer.
Foi um carinha do cursinho do Eduardo que disse:
"- Tem uma festa legal e a gente quer se divertir."
Festa estranha, com gente esquisita:
"- Eu não estou legal. Não agüento mais birita."
E a Mônica riu e quis saber um pouco mais
Sobre o boyzinho que tentava impressionar
E o Eduardo, meio tonto, isso pensava em ir pra casa:
"- É quase duas, eu vou me ferrar."
Eduardo e Mônica trocaram telefone
Depois telefonaram e decidiram se encontrar.
O Eduardo sugeriu uma lanchonete
Mas a Mônica queria ver o filme do Godard.
Se encontraram então no parque da cidade
A Mônica de moto e o Eduardo de camelo.
O Eduardo achou estranho e melhor não comentar
Mas a menina tinha tinta no cabelo.
Eduardo e Mônica eram nada parecidos
Ela era de Leão e ele tinha dezesseis.
Ela fazia Medicina e falava alemão
E ele ainda nas aulinhas de inglês.
Ela gostava do Bandeira e do Bauhaus,
De Van Gogh e dos Mutantes,
De Caetano e de Rimbaud
E o Eduardo gostava de novela
E jogava futebol-de-botão com a seu avî.
Ela falava coisas sobre o Planalto Central,
Também magia e meditação.
E o Eduardo ainda estava
No esquema "escola-cinema-clube-televisão."
E, mesmo com tudo diferente,
Veio mesmo, de repente,
Uma vontade de se ver
E os dois se encontravam todo dia
E a vontade crescia,
Como tinha de ser.
Eduardo e Mônica fizeram natação, fotografia,
Teatro e artesanato e foram viajar.
A Mônica explicava pro Eduardo
Coisas sobre o céu, a terra, a água e o ar:
Ele aprendeu a beber, deixou o cabelo crescer
E decidiu trabalhar;
E ela se formou no mesmo mês
Em que ele passou no vestibular.
E os dois comemoraram juntos
E também brigaram juntos, muitas vezes depois.
E todo mundo diz que ele completa ela e vice-versa,
Que nem feijão com arroz.
Construíram uma casa uns dois anos atrás
Mais ou menos quando os gêmeos vieram
Batalharam grana e seguraram legal
A barra mais pesada que tiveram.
Eduardo e Mônica voltaram pra Brasília
E a nossa amizade da saudade no verão.
Só que nessas férias não vão viajar
Porque o filhinho do Eduardo tá de recuperação.
E quem um dia ira dizer
Que existe razão
Nas coisas feitas pelo o coração?
E quem ira dizer
Que não existe razão?



TEMPO PERDIDO
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Todos os dias quando acordo,
Não tenho mais o tempo que passou
Mas tenho muito tempo
Temos todo o tempo do mundo.
Todos os dias antes de dormir,
Lembro e esqueço como foi o dia:
"Sempre em frente,
Não temos tempo a perder."
Nosso suor sagrado
É bem mais belo que esse sangue amargo
E tão sério
E selvagem.
Veja o sol dessa manha tão cinza:
A tempestade que chega é da cor dos teus olhos castanhos.
Então me abraça forte e me diz mais uma vez
Que já estamos distantes de tudo:
Temos nosso próprio tempo.
Não tenho medo do escuro, mas deixe as luzes acesas agora.
O que foi escondido é o que se escondeu
E o que foi prometido, ninguém prometeu.
Nem foi tempo perdido.
Somos tão jovens.



"ÍNDIOS"
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Quem me dera, ao menos uma vez
Ter de volta todo o ouro que entreguei
A quem conseguiu me convencer
Que era prova de amizade
Se alguém levasse embora até o que eu não tinha.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Esquecer que acreditei que era por brincadeira
Que se cortava sempre um pano-de-chão
De linho nobre e pura seda.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Explicar o que ninguém consegue entender:
Que o que aconteceu ainda esta por vir
E o futuro não é mais como era antigamente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Provar que quem tem mais do que precisa ter
Quase sempre se convence que não tem o bastante
E fala demais, por não ter nada a dizer
Quem me dera, ao menos uma vez,
Que o mais simples fosse visto como o mais importante,
Mas nos deram espelhos
E vimos uma mundo doente.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Entender como isso Deus ao mesmo tempo é três
E esse mesmo Deus foi morto por vocês
É isso maldade então, deixar um Deus tão triste.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho.
Entenda - assim pude trazer você de volta para mim,
Quando descobri que é sempre isso você
Que me entende do início ao fim
E é isso você que tem a cura do meu vício De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Fazer com que o mundo saiba que seu nome
Esta em tudo e mesmo assim
Ninguém lhe diz ao menos obrigado.
Quem me dera, ao menos uma vez,
Como a mais bela tribo, dos mais belos índios,
Não ser atacado por ser inocente.
Eu quis o perigo e até sangrei sozinho,
Entenda - assim pude trazer você de volta para mim
Quando descobri que é sempre isso você
Que me entende do início ao fim
E é isso você que tem a cura do meu vício
De insistir nessa saudade que eu sinto
De tudo que eu ainda não vi.
Nos deram espelhos e vimos um mundo doente
Tentei chorar e não consegui.



QUE PAÍS É ESTE ?
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Nas favelas, no senado
Sujeira pra todo lado
Ninguém respeita a constituição
Mas todos acreditam no futuro da nação
Que pais é este?
No Amazonas, no Araguaia, na Baixada fluminense
No Mato grosso, nas Gerais e no Nordeste tudo em paz
Na morte eu descanso mas o sangue anda solto
Manchando os papéis, documentos fiéis
Ao descanso do patrão
Que país é este ?
Terceiro Mundo se for
Piada no exterior
Mas o Brasil vai ficar rico
Vamos faturar um milhão
Quando vendermos todas as almas
Dos nossos índios num leilão.
Que país é este?



FAROESTE CABOCLO
Letra: Renato Russo
Música: Renato Russo

Não tinha medo o tal João de Santo Cristo
Era o que todos diziam quando ele se perdeu
Deixou pra trás todo o marasmo da fazenda
Só pra sentir no seu sangue o ódio que Jesus lhe deu
Quando criança só pensava em ser bandido
Ainda mais quando com tiro de soldado o pai morreu
Era o terror da cercania onde morava
E na escola até o professor com ele aprendeu
Ia pra igreja só pra roubar o dinheiro
Que as velhinhas colocavam na caixinha do altar
Sentia mesmo que era mesmo diferente
Sentia que aquilo ali não era o seu lugar
Ele queria sair para ver o mar
E as coisas que ele via na televisão
Juntou dinheiro para poder viajar
E de escolha própria escolheu a solidão
Comia todas as menininhas da cidade
De tanto brincar de médico aos doze era professor
Aos quinze foi mandado pro reformatório
Onde aumentou seu ódio diante de tanto terror
Não entendia como a vida funcionava
Descriminação por causa da sua classe e sua cor
Ficou cansado de tentar achar resposta
E comprou uma passagem foi direto a Salvador
E lá chegando foi tomar um cafezinho
E encontrou um boiadeiro com quem foi falar
E o boiadeiro tinha uma passagem
Ia perder a viagem mas João foi lhe salvar:
Dizia ele "-Estou indo pra Brasília
Nesse país lugar melhor não há
Tî precisando visitar a minha filha
Eu fico aqui e você vai no meu lugar"
E João aceitou sua proposta
E num înibus entrou no Planalto Central
Ele ficou bestificado com a cidade
Saindo da rodoviária viu as luzes de natal
"- Meu Deus mas que cidade linda!
No Ano Novo eu começo a trabalhar"
Cortar madeira aprendiz de carpinteiro
Ganhava cem mil pro mês em Taguatinga
Na sexta feira foi pra zona da cidade
Gastar todo o seu dinheiro de rapaz trabalhador
E conhecia muita gente interessante
Até um neto bastardo do seu bisavô
Um peruano que vivia na Bolivia
E muitas coisas trazia de lá
Seu nome era Pablo e ele dizia
Que um negócio ele ia começar
E Santo Cristo até a morte trabalhava
Mas o dinheiro não dava pra ele se alimentar
E ouvia às sete horas o noticiário
Que dizia sempre que seu ministro ia ajudar
Mas ele não queria mais conversa
E decidiu que como Pablo ele ia se virar
Elaborou mais uma vez seu plano santo
E sem ser crucificado a plantação foi começar
Logo logo os maluco da cidade
Souberam da novidade
"-Tem bagulho bom ai!"
E João de Santo Cristo ficou rico
E acabou com todos os traficantes dali
Fez amigos, frequentava a Asa Norte
Ia pra festa de Rock pra se libertar
Mas de repente
Sob um má influência dos boyzinhos da cidade
Começou a roubar
Já no primeiro roubo ele dançou
E pro inferno ele foi pela primeira vez
Violência e estupro do seu corpo
"-Vocês vão ver, eu vou pegar vocês!"
Agora Santo Cristo era bandido
Destemido e temido no Distrito Federal
Não tinha nenhum medo de polícia
Capitão ou traficante, playboy ou general
Foi quando conheceu uma menina
E de todos os seus pecados ele se arrependeu
Maria Lúcia era uma menina linda
E o coração dele pra ela o Santo Cristo prometeu
Ele dizia que queria se casar
E carpinteiro ele voltou a ser
"-Maria Lúcia eu pra sempre vou te amar
E um filho com você eu quero ter"
O tempo passa
E um dia vem na porta um senhor de alta classe com dinheiro na mão
E ele faz uma proposta indecorosa
E diz que espera uma resposta, uma resposta de João
"-Não boto bomba em banca de jornal
E nem em colégio de criança
Isso eu não faço não
E não protejo general de dez estrelas
Que fica atrás da mesa com o cu na mão
E é melhor o senhor sair da minha casa
Nunca brinque com um peixe de ascendente escorpião"
Mas antes de sair, com ódio no olhar
O velho disse:
"-Você perdeu a sua vida, meu irmão!"
"-Você perdeu a sua vida, meu irmão"
"-Você perdeu a sua vida, meu irmão"
Essas palavras vão entrar no coração
"-Eu vou sofrer as consequências como um cão."
Não é que o Santo Cristo estava certo
Seu futuro era incerto
E ele não foi trabalhar
Se embebedou e no meio da bebedeira
Descobriu que tinha outro trabalhando em seu lugar
Falou com Pablo que queria um parceiro
Que também tinha dinheiro e queria se armar
Pablo trazia o contrabando da Bolívia
E Santo Cristo revendia em Planaltina
Mas acontece que um tal de Jeremias
Traficante de renome apareceu por lá
Ficou sabendo dos planos de Santo Cristo
E decidiu que com João ele ia acabar.
Mas Pablo trouxe uma Winchester 22
E Santo Cristo já sabia atirar
E decidiu usar a arma só depois
Que Jeremias começasse a brigar
Jeremias maconheiro sem vergonha
Organizou a Roconha e fez todo mundo dançar
Desvirginava mocinhas inocentes
E dizia que era crente mas não sabia rezar
E Santo Cristo há muito não ia pra casa
E a saudade começou a apertar
"-Eu vou me embora, eu vou ver Maria Lúcia
Já está em tempo de a gente se casar"
Chegando em casa então ele chorou
E pro inferno ele foi pela segunda vez
Com Maria Lúcia Jeremias se casou
E um filho nela ele fez
Santo Cristo era só ódio pro dentro
E então o Jeremias pra um duelo ele chamou
"-Amanhã, as duas horas na Ceilândia
Em frente ao lote catorze é pra lá que eu vou
E você pode escolher as suas armas
Que eu acabo com você, seu porco traidor
E mato também Maria Lúcia
Aquela menina falsa pra que jurei o meu amor"
E Santo Cristo não sabia o que fazer
Quando viu o reporter da televisão
Que a notícia do duelo na TV
Dizendo a hora o local e a razão
No sábado, então as duas horas
Todo o povo sem demora
Foi lá só pra assistir
Um homem que atirava pelas costas
E acertou o Santo Cristo
E começou a sorrir
Sentindo o sangue na garganta
João olhou as bandeirinhas
E o povo a aplaudir
E olhou pro sorveteiro
E pras câmeras e a gente da TV que filmava tudo ali
E se lembrou de quando era uma criança
E de tudo o que viveu até aqui
E decidiu entar de vez naquela dança
"-Se a via-crucis virou circo, estou aqui."
E nisso o sol cegou seus olhos
E então Maria Lúcia ele reconheceu
Ela trazia a Winchester 22
A arma que seu primo Pablo lhe deu
"-Jeremias, eu sou homem. Coisa que você não é
Eu não atiro pelas costas, não.
Olha pra cá filha da puta sem vergonha
Dá uma olhada no meu sangue
E vem sentir o teu perdão"
E Santo Cristo com a Winchester 22
Deu cinco tiros no bandido traidor
Maria Lúcia se arrependeu depois
E morreu junto com João, seu protetor
O povo declarava que João de Santo Cristo
Era santo porque sabia morrer
E a alta burgesia da cidade não acreditava na história
Que ele viram da TV
E João não conseguiu o que queria
Quando veio pra Brasília com o diabo ter
Ele queria era falar com o presidente
Pra ajudar toda essa gente que só faz
Sofrer



HÁ TEMPOS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Parece cocaína mas é só tristeza, talvez tua cidade.
Muitos temores nascem do cansaço e da solidão.
E o descompasso e o desperdício
herdeiros são agora da virtude que perdemos.
Há tempos tive um sonho.
Não me lembro não me lembro.
Tua tristeza é tão exata.
E hoje o dia é tão bonito.
Já estamos acostumados.
A não termos mais nem isso.
Sonhos vem. E sonhos vão.
O resto é imperfeito.
Disseste que se tua voz tivesse força igual
A imensa dor que sentes
Teu grito acordaria não só a tua casa
Mas a vizinhança inteira.
E há tempos nem os santos
Tem ao certo a medida da maldade.
E há tempos são os jovens que adoecem.
Há tempos o encanto esta ausente.
Há ferrugem nos sorrisos.
E só o acaso estende os braços
A quem procura abrigo e proteção.
Meu amor,
Disciplina é liberdade.
Compaixão é fortaleza.
Ter bondade é ter coragem.
E ela disse: - lá em casa tem um
poço mas a água é muito limpa.



PAIS E FILHOS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Estatuas e cofres. E paredes pintadas.
Ninguém sabe o que aconteceu.
Ela se jogou da janela do quinto andar.
Nada é fácil de entender.
Dorme agora.
É isso o vento lá fora.
Quero colo. Vou fugir de casa.
Posso dormir aqui com vocês?
Estou com medo. Tive um pesadelo
Só vou voltar depois das três.
Meu filho vai ter nome de santo.
Quero o nome mais bonito.
É preciso amar as pessoas como se
Não houvesse amanhã.
Porque se você parar para pensar,
Na verdade não há.
Me diz porque o céu é azul.
Explica a grande fúria do mundo.
São meus filhos que tomam conta de mim.
Eu moro com a minha mãe
Mas meu pai vem me visitar.
Eu moro na rua, não tenho ninguém
Eu moro em qualquer lugar.
Já morei em tanta casa que nem me lembro mais.
Eu moro com os meus pais.
É preciso amar as pessoas como se
Não houvesse amanhã.
Porque se você parar para pensar,
Na verdade não há.
Sou uma gota d'agua
Sou um grão de areia.
Você me diz que seus pais não entendem.
Mas você não entende seus pais.
Você culpa seus pais por tudo.
E isso é absurdo.
São crianças como você
O que você vai ser, quando você crescer?



MENINOS E MENINAS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

Quero me encontrar mas não sei onde estou.
Vem comigo procurar um lugar mais calmo.
Longe dessa confusão e dessa gente que não se respeita.
Tenho quase certeza que eu não sou daqui.
Acho que gosto de S. Paulo. E gosto de S. João.
Gosto de S. Francisco. E S. Sebastião.
E eu gosto de meninos e meninas.
Vai ver que é assim mesmo e vai ser assim pra sempre.
Vai ficando complicado e ao mesmo tempo diferente.
Estou cansado de bater e ninguém abrir.
Você me deixou sentindo tanto frio.
Não sei mais o que dizer.
Te fiz comida.
Velei teu sono.
Fui teu amigo.
Te levei comigo e me diz: Pra mim o que é que ficou?
Me deixa ver como viver é bom.
Não é a vida como esta e sim as coisas como são.
Você não quis tentar me ajudar.
Então a culpa é de quem?
A culpa é de quem?
Eu canto em português errado.
Acho que o imperfeito não participa do passado.
Troco as pessoas.
Troco os pronomes.
Preciso de oxigênio.
Preciso ter amigos.
Preciso ter dinheiro.
Preciso de carinho.
Acho que te amava.
Agora acho que te odeio.
São tudo pequenas coisas.
E tudo deve passar.
Acho que gosto de S. Paulo. Gosto de S. João.
Gosto de S. Francisco. E S. Sebastião.
E eu gosto de meninos e meninas.



VENTO NO LITORAL
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

De tarde quero descansar, chegar até a praia
Ver se o vento ainda está forte
E vai ser bom subir nas pedras.
Sei que faço isso para esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora
Agora está tão longe
Vê, a linha do horizonte me distrai:
Dos nossos planos é que eu tenho mais saudade,
Quando olhávamos juntos na mesma direção.
Aonde está você agora
Além de aqui dentro de mim?
Agimos certo sem querer
Foi só o tempo que errou
Vai ser difícil sem você
Porque você está comigo o tempo todo.
E quando vejo o mar
Existe algo que diz:
"-A vida continua e se entregar é uma bobagem."
Já que você não está aqui,
O que posso fazer é cuidar de mim.
Quero ser feliz ao menos.
Lembra que o plano era ficarmos bem?
"-Ei, olha só o que achei: cavalos-marinhos."
Sei que faço isso pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando tudo embora.



PERFEIÇÃO
Letra: Renato Russo

Música: Dado Villa Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
Inc. "O Bêbado e a Equilibrista" (A. Blanc/J. Bosco)

1

Vamos celebrar a estupidez humana
A estupidez de todas as nações
O meu país e sua corja de assassinos
Covardes, estupradores e ladroes
Vamos celebrar a estupidez do povo
Nossa polícia e televisão
Vamos celebrar o nosso governo
E nosso estado que não é nação
Celebrar a juventude sem escolas
As crianças mortas
Celebrar nossa desunião
Vamos celebrar Eros e Thanatus
Perséphone e Hades
Vamos celebrar nossa tristeza
Vamos celebrar nossa vaidade

2

Vamos comemorar como idiotas
A cada fevereiro e feriado
Todos os mortos nas estradas
E os mortos por falta de hospitais
Vamos celebrar nossa justiça
A ganância e a difamação
Vamos celebrar os preconceitos
E o voto dos analfabetos
Comemorar a água podre
Todos os impostos, queimadas, mentiras e sequestros
Nosso castelo de cartas marcadas
O trabalho escravo e nosso pequeno universo
Toda a hipocrisia e toda a afetação
Todo o roubo e toda a indiferença
Vamos celebrar epidemias
É a festa da torcida campeã

3

Vamos celebrar a fome
Não ter a quem ouvir
Não se ter a quem amar
Vamos alimentar o que é maldade
Vamos machucar um coração
Vamos celebrar nossa bandeira
Nosso passado de absurdos gloriosos
Tudo o que é gratuito e feio
Tudo o que é normal
Vamos cantar juntos o hino nacional
(A lágrima é verdadeira)
Vamos celebrar nossa saudade
E comemorar a nossa solidão

4

Vamos festejar a inveja
A intolerância e a incompreensão
Vamos festejar a violência
E esquecer a nossa gente
Que trabalhou honestamente a vida inteira
E agora não tem mais direito a nada
Vamos celebrar a aberração
De toda nossa falta de bom senso
Nosso descaso por educação
Vamos celebrar o horror de tudo isso
Com festa, velório e caixão
Está tudo morto e enterrado agora
Já aqui também podemos celebrar
A estupidez de quem cantou essa canção

5

Venha, meu coração está com pressa
Quando a esperança está dispersa
Só a verdade me liberta
Chega de maldade e ilusão
Venha, o amor tem sempre a porta aberta
E vem chegando a primavera
Nosso futuro recomeça
Venha, que o que vem é perfeição



GIZ
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá

E mesmo sem te ver
Acho até que estou indo bem
Só apareço por assim dizer
Quando convém aparecer
Ou quando quero
Desenho toda a calçada
Acaba o giz tem tijolo de construção
Eu rabisco o sol
Que a chuva apagou
Quero que saibas
Que me lembro
Queria até que pudesses me ver
És parte ainda
Do que me faz forte
E pra ser honesto
Só um pouquinho infeliz
Mas tudo bem
Tudo bem
Tudo bem
Tudo bem
Tudo bem
Tudo bem
Lá vem lá vem lá vem de novo
Acho que estou gostando de alguém
E é de ti
Que não esquecerei



DEZESSEIS
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo/Marcelo Bonfá
João Roberto era o maioral
O nosso Johnny era um cara legal
Ele tinha um Opala metálico azul
Era o rei dos pegas na Asa Sul
E em todo lugar
Quando ele pegava no violão
Conquistava as meninas
E quem mais quisesse ver
Sabia tudo da Janis
Do Led Zeppelin, dos Beatles e dos Rolling
Stones
Mas de uns tempos prá cá
Meio sem querer
Alguma coisa aconteceu
Johnny andava meio quieto demais
Só que quase ninguém percebeu
Johnny estava com um sorriso estranho
Quando marcou um super pega no fim de semana
Não vai ser no CASEB
Nem no Lago Norte, nem na UnB
As máquinas prontas, o ronco de motor
A cidade inteira se movimentou
E Johnny disse:
"- Eu vou prá curva do Diabo em Sobradinho
e vocês ?"
E os motores saíram ligados a mil prá estrada da morte o maior pega que existiu
Só deu para ouvir, foi aquela explosão
E os pedaços do Opala azul de Johnny pelo chão
No dia seguinte, falou o diretor: - O aluno João Roberto não está mais entre nós
Ele só tinha dezesseis. Que isso sirva de aviso prá vocês".
E na saída da aula, foi estranho e bonito todo o mundo cantando baixinho:
Strawberry Fields Forever Strawberry Fields Forever
E até hoje, quem se lembra diz que não foi o caminhão
Nem a curva fatal e nem a explosão
Johnny era fera demais prá vacilar assim
E o que dizem que foi tudo por causa de um coração partido
Um coração... um coração...um coração
Bye, bye bye Johnny. Johnny, bye, bye. Bye, bye Johnny.



ANTES DAS SEIS
Letra: Renato Russo
Música: Dado Villa-Lobos/Renato Russo

Quem inventou o amor ?
Me explica por favor
Quem inventou o amor ?
Me explica por favor

Vem e me diz o que aconteceu
Faz de conta que passou
Quem inventou o amor ?
Me explica por favor

Daqui vejo seu descanso
Perto do seu travesseiro
Depois quero ver se acerto
Dos dois quem acorda primeiro

Quem inventou o amor ?
Me explica por favor
Quem inventou o amor ?
Me explica por favor

Enquanto a vida vai e vem
Você procura achar alguém
Que um dia possa lhe dizer
-Quero ficar só com você

Quem inventou o amor ?



Mais do Mesmo

Coletânea dos maiores sucessos da Legião Urbana
Data de lançamento: Março de 1998
Vendagem: 646 mil cópias



Músicas:
Será
Ainda É Cedo
Gerçãao Coca-Cola
Eduardo e Mônica
Tempo Perdido
"Índios"
Que País é Este
Faroeste Caboclo
Há Tempos
Pais e Filhos
Meninos e Meninas
Vento no Litoral
Perfeição
Giz
Dezesseis
Antes das Seis


É uma coletanea com os maiores sucessos da Legião, mas acho que se Renato estivesse vivo, não gostaria nem um pouco deste disco, pois o mesmo é puro marketing da gravadora para sugar dinheiro em cima da banda. Mas em fim, se trata de um contrato que a banda tinha assinado com a mesma, de qualquer forma esse é um bom disco para ter em casa, o contrato de venda foi válido até Dezembro de 1999.