Família Zaccaria Nozari

Comune de Luzzara - Reggio Emilia

 

Giovanni Nozari e Gertudres Francisca de Souza

Foto:acervo familiar

 

A FAMÍLIA NOZARI NO BRASIL

Carlos Henrique de Rezende Nozari[1]

 

Os “Nozari” existentes no Brasil, provenientes da Província de Mantova, na Lombardia, são descendentes de duas famílias (acreditamos que de origens comum) que vieram para a América em épocas distintas. Os integrantes do primeiro ramo, estabelecido no Rio Grande do Sul, descendem de Zaccaria Nosari, emigrados de Dosolo/MN em 1877 enquanto que os do segundo ramo, descendentes de Annibale Nosari, emigraram de Roverbella/MN, em 1887 e estabeleceram-se no estado de São Paulo. Por ora, vamos tratar apenas do primeiro ramo.

 

A respeito da origem do sobrenome Nozari, encontramos a seguinte citação do pesquisador norte americano Holger Kersten:

“A palavra Nazareno deriva da palavra aramaica nazar, que significa vigiar, observar ou confessar. (…) Assim, um nazareno era alguém que observava ou celebrava os ritos sagrados. Nazaria era um ramo dos essênios (os Therapeutae ou curadores) e, como os ebionitas, constituíam provavelmente uma das primeiras comunidades cristãs e todos eles eram citados no Talmud como nozari. (…) Encontramos traços da denominação nazareno no Antigo Testamento e, por isso, sua origem pode ser localizada no período pré-cristão.”

“Na opinião de John M. Robertson, Sansão era um nazireu[2]; não permitia que lhe cortassem o cabelo e não bebia vinho. Levava, portanto, uma vida ascética. Os não-ascéticos eram denomindos de nazarenos para diferenciarem-se dos ascéticos nazireus” (KERSTEN, 1986: 107)[3]

 

Zaccaria Arcangelo Luigi Nosari, natural de Luzzara, província da Reggio Emilia (RE), margem direita do rio Pó, nasceu em 20/06/1842, filho de Venerio Nosari e Florinda Gelati, sendo avós paternos Giuseppe Nosari e Lucia Orlandini e maternos Giuseppe Gelati e Felicita Fornasari. Foi batizado na Paróquia de San Giorgio Maggiori, na manhã do dia seguinte ao nascimento. Casou com Rosa Guidini Saccani, perante o Pe. Fernando Doncristi em Villastrada (MN) e, no civil, em 28/09/1873, na comune de Dosolo (MN). Rosa, nascida em 1852, em Dosolo, distrito de Viadana, província de Mantova, era filha de Giovannni Saccani e Petronilla Ghidini. Em Villastrada, situada na margem esquerda do rio Po, na região da Lombardia (cerca de 120 Km a sudeste de Milão e 30 Km a sudoeste desta capital de província, próximo a foz do rio Oglio), nasceram os filhos Attiglio (1872), Pietro (1874) e Enrico (23/07/1875).

Zaccaria chegou com a família ao Rio de Janeiro em 16/01/1877 e, à Colônia Duque de Caxias (então Colônia dos Bugres), em 18/02/1877, onde adquiriu o lote número 5 da nona légua, com área de 111.687 m2, ao preço de 620 réis. Recebeu, do governo brasileiro, 40 réis de ajuda de custo, três meses de viveres, algumas ferramentas e mais 50 réis para cada uma das pessoas que o acompanhava[4]. Com a família de Zaccaria imigraram também os sogros Giovanni e Petronilla.

Nos assentamentos, o nome de família (sobrenome) foi registrado com diversas grafias, tais como Nozari, Nozzari e Nazzari, originando-se aí a forma Nozari, atualmente usada e fazendo confusão com a família Nazzari, também existente na Itália.

 

Em 15/08/1879 nasceram as filhas gêmeas Maria e Fiorina que viriam a falecer 3 e 4 dias após, respectivamente[5].

Romolo Venerio nasceu em 1880[6]. Não se tem mais nenhuma notícia do Romulo ou de sua descendência, razão pela qual acreditamos na possibilidade de ser o mesmo Romano, cuja certidão de casamento registra a data de 10/03/1881 como a do seu nascimento.  

Em 30/11/1882, Petronilla (1820) registrou o falecimento de seu marido, Giovanni Saccani, então com 67 anos, natural de Dosolo (MN), ocorrido às 20 horas do dia 18 daquele mês, tendo sido sepultado no cemitério da sede da Colônia Caxias.

Em 1883 Zaccaria adquiriu o lote de número 9 da oitava légua, originalmente destinado a Francisco Chistè, com área de 252.274 m2.

Vitório nasceu em 1884 e faleceu, conta a tradição oral, após ter caído de uma carroça e ter sido atropelado pela mesma, com a idade de 12 anos.

O último filho, Giovanni Attiglio Luigi[7], nasceu em 06/07/1886. No registro, feito por ocasião do seu batizado, aparece como nascido em 1887, mas depoimento do próprio João confirma o nascimento em 1886.

Após a morte de Rosa Saccani, ocorrida em 1887, Zaccaria casou com Maria Menegol (1888), viúva de Antonio Menegol, nascida em 1845, em Mel (Belluno) e chegada à colônia Caxias em 16/01/1879, com o marido e os filhos Eugênia (1864) e Giuseppe (1866). Moravam no Travessão Diamantina (8ª Légua).

Maria (Marieta) não teve filhos com Zaccaria, mas foi uma madrasta exemplar para os filhos pequenos do novo marido. É interessante registrar que havia uma acentuada semelhança física entre a Marieta e a Rosina, de tal forma que o filho Romano e o caçula João, quando a viram pela primeira vez caminhando pela estrada, correram ao encontro dela exclamando la mamma è tornata![8], e a abraçaram efusivamente. O sensível coração da bondosa mãe, também viúva, apiedou-se daqueles pobres órfãos que imediatamente foram adotados como filhos. A esse respeito, João, em suas “memórias” publicadas em fevereiro de 1963, deixou os seguintes versos:

 

Em 1886, foi quando eu nasci,

Mas fui tão infeliz que minha mãe não conheci.

Não tinha ainda dois anos quando ela faleceu,

Este foi o destino que Deus me deu ...

Madrasta tem fama de má, o povo assim diz,

Para mim foi o contrário, com ela fui muito feliz.

A madrasta foi quem me criou; para mim foi muito boa,

Pois além de boa mãe, foi grande esposa e patroa.

Ela nunca me deu um tapa, me queria com todo o coração

Dando-me bons conselhos e ensinando a oração …”

 

 

Em 01/08/1893 a família de Zaccaria (com exceção do já falecido Attilio[9] e de Petronilla, que ficou nas terras da nona légua) mudou-se para a colônia Marques do Herval, quarto distrito de Conceição do Arroio, atual Barra do Ouro (2º distrito de Osório). Os filhos do primeiro casamento de Maria ficaram nas terras de Menegol.

Zaccaria adquiriu o lote nº 20 (chácara nº 27, sede lote nº 45) da Linha Encantada, próximo ao rio Cachoeira (nascente do rio Maquiné). Enrico ficou com o lote nº 19, chácara nº 36, enquanto que Pietro recebeu o lote nº 21. Romano, Vitório e João permaneceram na sede do povoado, com o pai, por serem muito pequenos. Posteriormente, com a chegada de Giuseppe (José) Menegol, construíram um alambique para fabricação de cachaça, nas margens de uma sanga, afluente do Rio Cachoeira.

No ano de 1897, Enrico, Romano e João trabalharam na construção da estrada de rodagem que liga Taquara à Barra do Ouro, recebendo como pagamento, do Governo Federal, uma colônia e meia de terra, cada um.

Em 1908 Zaccaria adquiriu mais três colônias de terra na Barra do Ouro. Em 1910 Enrico comprou parte da colônia adquirida por João com o trabalho na estrada. Zaccaria requereu usucapião de 1850 ha. de terra que cultivava, no caminho entre Barra do Ouro e São Francisco de Paula. Zaccaria faleceu em 24/06/1916, logo após completar 74 anos. Está sepultado no Cemitério de Barra do Ouro, Município de Maquiné.

Em fins de outubro de 1909, Romano e João seguiram para Passo Fundo[10] para trabalharem na construção do ramal Passo Fundo / Marcelino Ramos, da estrada de ferro da VFRGS[11]. Pietro, nesta ocasião já morava na "Capital do Planalto".

Ao término da obra, em 1910, João também se estabeleceu em Passo Fundo, enquanto Romano seguia, a convite do amigo Protásio Dorneles Vargas[12], para São Borja, com o objetivo inicial de trabalhar em nova obra rodoviária, após o que, passou a trabalhar na fazenda Santos Reis, da família de Protásio.

 

Pietro (posteriormente registrado Pedro) casou com Júlia Paschoaline, natural de Antônio Prado (Paese Nuovo), com quem teve os seguintes filhos: Mercedes, casada com Carlos Nicolai; Amélia, casada com Álvaro Marques; Laurindo, casado com Elvira Lopes e Adélia, casada com Marcelino Braga. Morou primeiramente "nos campos de cima da serra" e, mais tarde, em Passo Fundo, onde trabalhou na Bramate-Corá.

 

Enrico (Henrique) permaneceu na Barra do Ouro, com o pai. Casou em Caxias (08/01/1894) com Ítala Bergamaschi, nascida em 16/07/1876, em Sustinente (MN), filha de Silvestre e Elena Bergamaschi, naturais do distrito de Ostiglia (MN) e moradores na 9ª Légua, lote nº 4. O casal teve os seguintes filhos, todos nascidos na Barra do Ouro: Rosa (25/10/1894), solteira; Atílio, casado com Josefina Masieiro; Cezário Venério, casado com Emília Guazzelli; João Nozari Sobrinho, casado com Amélia Debastiani; Otávio, casado com Filomena Dal Corno; Vitória; Silvestre[13]; Valentim, casado com Adelaide Bergmann; Ângelo, casado com Adelaide Demoliner; Mafalda, casada com Romano Komaski; Arlindo, casado com Mótea Kenner e Helena, casada com Pedro Donada.

 

Romano, em São Borja, casou com Otília de Oliveira Prestes, natural de Porto Alegre, com quem teve os filhos Waldemar (nascido em 20/1/1910, na Barra do Ouro), Evaldo (01/01/1915, em São Borja) e Getúlio (11/05/1920, em Osório). Transferiu-se, em 1917, para Barra do Ouro (então município de Taquara do Mundo Novo).

 

João, por sua vez, casou, em Passo Fundo, com Gertrudes Francisca de Souza[14], filha de Laurindo Antônio Francisco de Souza e de Anna Vargas da Silva[15], em 25/11/1910, com quem teve os filhos Raymundo Alcides (19/01/1912), José Henrique (17/04/1914) e Maria de Lourdes (09/12/1924). Em 1910 passou a trabalhar na construção da Cervejaria Bramate-Corá (depois Cervejaria Brahma, em Passo Fundo). Adquiriu um terreno à rua Payssandú onde construiu (primeiramente aos fundos) uma casa mista que tomou o número 1140. Do lado desta ergueu a casa onde passou a morar o irmão Pedro.

 

Bodas de Ouro do casal Gertrudes e João Nozari

sentados: Gertudres e João Nozari.
Em pé :filhos Raymundo, José Henrique e Lourdes; noras Dilecta Bastos e Marina Rezende e o genro Lirio Susin

 

Após a construção da Cervejaria, foi admitido como ajudante de cervejeiro. Em 1916 a Bramate teve mudada sua razão social para Cervejaria Serrana Ltda. Mais tarde, passa a ser o encarregado da fabricação, no turno da noite. Em 01/06/1947 a Cervejaria Serrana transformou-se em filial da Companhia Cervejaria Brahma, onde João continuou trabalhando até o advento de sua aposentadoria ocorrida em 16/01/1948. Por volta de 1955, mudou-se para o nº 84 da Rua General Neto, aonde viria a falecer sua companheira Gertrudes em 24/12/1962.

 

Viúvo, João passou a morar em Porto Alegre com a filha Lourdes, até seu falecimento, ocorrido em 07/01/1971. Seus restos mortais estão depositados na carneira 53, 6ª ordem, parede "A", do Ossário da Catedral Metropolitana de Porto Alegre.

 

 

[1] Pesquisador do Instituto Genealógico do Rio Grande do Sul - INGERS; e-mail: lnozari@plugin.com.br

[2] (Juízes, 13, 5-7)

[3] KERSTEN, Hoger. Jesus viveu na Índia. Circulo do Livro, São Paulo, SP, 1986.

[4] Livro 3 de Matrícula de Colonos, códice 230, fl. 162, registro número 1.119 do Arquivo Histórico do RS

[5] (GARDELIN, M.; COSTA, R., 1992: 183) Os Povoadores da Colônia Caxias.

[6] No livro Os Povoadores da Colônia Caxias consta a data de 25/10/1880 para o assentamento efetuado no Livro de Nascimentos, Casamentos e Óbitos do Cartório Velazquez (Io Tabelionato de Caxias).

[7] Registrado como João Nozari, em 29/06/1940, no Cartório de Registro Civil de Passo Fundo, talão 55, fl. 96 do livro 30 de Registro de Nascimentos.

[8] A mamãe voltou!

[9] Falecido em Caxias antes do nascimento de João.

[10] A pé até Taquara, de trem até Porto Alegre; de barco até Cachoeira do Sul e novamente de trem até Passo Fundo.

[11] Trecho localizado em Sertão.

[12] Irmão do ex-presidente  Getúlio Dorneles Vargas.

[13] Faleceu aos 18 anos, após ter sido picado por uma cobra.

[14] Natural de São Pedro do Sul, município de Santa Maria da Boca do Monte.

[15] Também aparece como Anna Rodrigues Vargas de Souza.


Carlos Henrique de Rezende Nozari
chnozari@plugin.com.br

 


 

 

 

 

 

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