A FAMÍLIA NOZARI NO BRASIL
Carlos Henrique de
Rezende Nozari
Os “Nozari” existentes no Brasil,
provenientes da Província de Mantova, na Lombardia, são
descendentes de duas famílias (acreditamos que de origens comum) que
vieram para a América em épocas distintas. Os integrantes do primeiro
ramo, estabelecido no Rio Grande do Sul, descendem de
Zaccaria Nosari, emigrados de Dosolo/MN em 1877 enquanto que os
do segundo ramo, descendentes de Annibale Nosari, emigraram de
Roverbella/MN, em 1887 e estabeleceram-se no estado de São Paulo.
Por ora, vamos tratar apenas do primeiro ramo.
A respeito da origem do sobrenome Nozari,
encontramos a seguinte citação do pesquisador norte americano Holger
Kersten:
“A palavra
Nazareno deriva da palavra aramaica nazar, que
significa vigiar, observar ou confessar. (…) Assim, um nazareno era
alguém que observava ou celebrava os ritos sagrados. Nazaria
era um ramo dos essênios (os Therapeutae ou curadores) e, como os
ebionitas, constituíam provavelmente uma das primeiras comunidades cristãs
e todos eles eram citados no Talmud como nozari. (…) Encontramos
traços da denominação nazareno no Antigo Testamento e, por isso, sua
origem pode ser localizada no período pré-cristão.”
“Na opinião de
John M. Robertson, Sansão era um nazireu;
não permitia que lhe cortassem o cabelo e não bebia vinho. Levava,
portanto, uma vida ascética. Os não-ascéticos eram denomindos de
nazarenos para diferenciarem-se dos ascéticos nazireus”
(KERSTEN, 1986: 107)
Zaccaria
Arcangelo Luigi Nosari, natural de Luzzara, província da
Reggio Emilia (RE), margem direita do rio Pó, nasceu em
20/06/1842, filho de Venerio Nosari e
Florinda Gelati,
sendo avós paternos Giuseppe Nosari e Lucia Orlandini e
maternos Giuseppe Gelati e Felicita Fornasari. Foi batizado
na Paróquia de San Giorgio Maggiori, na manhã do dia seguinte ao
nascimento. Casou com Rosa Guidini Saccani, perante o Pe.
Fernando Doncristi em Villastrada (MN) e, no civil, em
28/09/1873, na comune de Dosolo (MN). Rosa, nascida
em 1852, em Dosolo, distrito de Viadana, província de
Mantova, era filha de Giovannni Saccani e Petronilla Ghidini.
Em Villastrada, situada na margem esquerda do rio Po, na
região da Lombardia (cerca de 120 Km a sudeste de Milão e 30 Km a sudoeste
desta capital de província, próximo a foz do rio Oglio),
nasceram os filhos Attiglio (1872), Pietro (1874) e
Enrico (23/07/1875).
Zaccaria
chegou com a família ao Rio de Janeiro em 16/01/1877 e, à
Colônia Duque de Caxias (então Colônia dos Bugres), em
18/02/1877, onde adquiriu o lote número 5 da nona légua, com área de
111.687 m2,
ao preço de 620 réis. Recebeu, do governo brasileiro, 40 réis de ajuda de
custo, três meses de viveres, algumas ferramentas e mais 50 réis para cada
uma das pessoas que o acompanhava.
Com a família de Zaccaria imigraram também os sogros Giovanni e
Petronilla.
Nos assentamentos, o nome de família
(sobrenome) foi registrado com diversas grafias, tais como
Nozari, Nozzari e Nazzari, originando-se aí a forma
Nozari, atualmente usada e fazendo confusão com a família Nazzari,
também existente na Itália.
Em 15/08/1879
nasceram as filhas gêmeas Maria e Fiorina que viriam a falecer 3 e
4 dias após, respectivamente.
Romolo Venerio
nasceu em 1880.
Não se tem mais nenhuma notícia do Romulo ou de sua descendência, razão
pela qual acreditamos na possibilidade de ser o mesmo Romano, cuja
certidão de casamento registra a data de 10/03/1881 como a do seu
nascimento.
Em 30/11/1882, Petronilla (1820) registrou
o falecimento de seu marido, Giovanni Saccani, então com 67 anos, natural
de Dosolo (MN), ocorrido às 20 horas do dia 18 daquele mês, tendo sido
sepultado no cemitério da sede da Colônia Caxias.
Em 1883 Zaccaria adquiriu o lote de número
9 da oitava légua, originalmente destinado a Francisco Chistè, com área de
252.274 m2.
Vitório nasceu em 1884 e faleceu,
conta a tradição oral, após ter caído de uma carroça e ter sido atropelado
pela mesma, com a idade de 12 anos.
O último filho,
Giovanni Attiglio Luigi,
nasceu em 06/07/1886. No registro, feito por ocasião do seu batizado,
aparece como nascido em 1887, mas depoimento do próprio João confirma o
nascimento em 1886.
Após a morte de Rosa Saccani,
ocorrida em 1887, Zaccaria casou com Maria Menegol (1888),
viúva de Antonio Menegol, nascida em 1845, em Mel (Belluno)
e chegada à colônia Caxias em 16/01/1879, com o marido e os filhos
Eugênia (1864) e Giuseppe (1866). Moravam no Travessão
Diamantina (8ª Légua).
Maria (Marieta)
não teve filhos com Zaccaria, mas foi uma madrasta exemplar
para os filhos pequenos do novo marido. É interessante registrar que havia
uma acentuada semelhança física entre a Marieta e a Rosina, de tal forma
que o filho Romano e o caçula João, quando a viram pela primeira vez
caminhando pela estrada, correram ao encontro dela exclamando “la
mamma è tornata!”,
e a abraçaram efusivamente. O sensível coração da bondosa mãe, também
viúva, apiedou-se daqueles pobres órfãos que imediatamente foram adotados
como filhos. A esse respeito, João, em suas “memórias” publicadas em
fevereiro de 1963, deixou os seguintes versos:
“Em 1886,
foi quando eu nasci,
Mas fui tão
infeliz que minha mãe não conheci.
Não tinha ainda dois anos quando ela
faleceu,
Este foi o destino que Deus me deu
...
Madrasta tem fama de má, o povo assim
diz,
Para mim foi o contrário, com ela fui
muito feliz.
A madrasta foi quem me criou; para
mim foi muito boa,
Pois além de boa mãe, foi grande
esposa e patroa.
Ela nunca me deu um tapa, me queria
com todo o coração
Dando-me bons conselhos e
ensinando a oração …”
Em 01/08/1893 a
família de Zaccaria (com exceção do já falecido Attilio
e de Petronilla, que ficou nas terras da nona légua) mudou-se para a
colônia Marques do Herval, quarto distrito de Conceição do
Arroio, atual Barra do Ouro (2º distrito de Osório). Os filhos do primeiro
casamento de Maria ficaram nas terras de Menegol.
Zaccaria adquiriu o lote nº 20 (chácara nº
27, sede lote nº 45) da Linha Encantada, próximo ao rio Cachoeira
(nascente do rio Maquiné). Enrico ficou com o lote nº 19, chácara nº 36,
enquanto que Pietro recebeu o lote nº 21. Romano, Vitório e João
permaneceram na sede do povoado, com o pai, por serem muito pequenos.
Posteriormente, com a chegada de Giuseppe (José) Menegol, construíram um
alambique para fabricação de cachaça, nas margens de uma sanga, afluente
do Rio Cachoeira.
No ano de 1897, Enrico, Romano e João
trabalharam na construção da estrada de rodagem que liga Taquara à Barra
do Ouro, recebendo como pagamento, do Governo Federal, uma colônia e meia
de terra, cada um.
Em 1908 Zaccaria adquiriu mais três
colônias de terra na Barra do Ouro. Em 1910 Enrico comprou parte da
colônia adquirida por João com o trabalho na estrada. Zaccaria requereu
usucapião de 1850 ha. de terra que cultivava, no caminho entre Barra do
Ouro e São Francisco de Paula. Zaccaria faleceu em 24/06/1916, logo após
completar 74 anos. Está sepultado no Cemitério de Barra do Ouro, Município
de Maquiné.
Em fins de outubro
de 1909, Romano e João seguiram para Passo Fundo
para
trabalharem na construção do ramal Passo Fundo
/ Marcelino Ramos, da
estrada de ferro da VFRGS.
Pietro, nesta ocasião já morava na "Capital do Planalto".
Ao término da obra,
em 1910, João também se estabeleceu em Passo Fundo, enquanto Romano
seguia, a convite do amigo Protásio Dorneles Vargas,
para São Borja, com o objetivo inicial de trabalhar em nova obra
rodoviária, após o que, passou a trabalhar na fazenda Santos Reis, da
família de Protásio.
Pietro (posteriormente registrado
Pedro) casou com Júlia Paschoaline, natural de Antônio Prado
(Paese Nuovo), com quem teve os seguintes filhos: Mercedes, casada
com Carlos Nicolai; Amélia, casada com Álvaro Marques;
Laurindo, casado com Elvira Lopes e Adélia, casada
com Marcelino Braga. Morou primeiramente "nos campos de cima da
serra" e, mais tarde, em Passo Fundo, onde trabalhou na Bramate-Corá.
Enrico
(Henrique) permaneceu na Barra do Ouro, com o pai. Casou em Caxias
(08/01/1894) com Ítala Bergamaschi, nascida em 16/07/1876, em
Sustinente (MN), filha de Silvestre e Elena Bergamaschi,
naturais do distrito de Ostiglia (MN) e moradores na 9ª Légua, lote
nº 4. O casal teve os seguintes filhos, todos nascidos na Barra do Ouro:
Rosa (25/10/1894), solteira; Atílio, casado com Josefina
Masieiro; Cezário Venério, casado com Emília Guazzelli;
João Nozari Sobrinho, casado com Amélia Debastiani;
Otávio, casado com Filomena Dal Corno; Vitória; Silvestre;
Valentim, casado com Adelaide Bergmann; Ângelo,
casado com Adelaide Demoliner; Mafalda, casada com Romano
Komaski; Arlindo, casado com Mótea Kenner e Helena,
casada com Pedro Donada.
Romano, em São Borja, casou com
Otília de Oliveira Prestes, natural de Porto Alegre, com quem teve os
filhos Waldemar (nascido em 20/1/1910, na Barra do Ouro), Evaldo
(01/01/1915, em São Borja) e Getúlio (11/05/1920, em Osório).
Transferiu-se, em 1917, para Barra do Ouro (então município de Taquara do
Mundo Novo).
João, por
sua vez, casou, em Passo Fundo, com Gertrudes Francisca de Souza,
filha de Laurindo Antônio Francisco de Souza e de Anna Vargas da
Silva,
em 25/11/1910, com quem teve os filhos Raymundo Alcides
(19/01/1912), José Henrique (17/04/1914) e Maria de
Lourdes (09/12/1924). Em 1910 passou a trabalhar na construção da
Cervejaria Bramate-Corá (depois Cervejaria Brahma, em Passo
Fundo). Adquiriu um terreno à rua Payssandú onde construiu (primeiramente
aos fundos) uma casa mista que tomou o número 1140. Do lado desta ergueu a
casa onde passou a morar o irmão Pedro.
Bodas de Ouro do casal Gertrudes e João
Nozari
sentados: Gertudres e João Nozari.
Em pé :filhos Raymundo, José Henrique e Lourdes;
noras Dilecta Bastos e Marina Rezende e o genro Lirio
Susin
Após a construção da Cervejaria, foi
admitido como ajudante de cervejeiro. Em 1916 a Bramate teve mudada
sua razão social para Cervejaria Serrana Ltda. Mais tarde, passa a
ser o encarregado da fabricação, no turno da noite. Em 01/06/1947 a
Cervejaria Serrana transformou-se em filial da Companhia Cervejaria
Brahma, onde João continuou trabalhando até o advento de sua
aposentadoria ocorrida em 16/01/1948. Por volta de 1955, mudou-se para o
nº 84 da Rua General Neto, aonde viria a falecer sua companheira Gertrudes
em 24/12/1962.
Viúvo, João passou a morar em
Porto Alegre com a filha Lourdes, até seu falecimento, ocorrido em
07/01/1971. Seus restos mortais estão
depositados na carneira
53, 6ª ordem, parede "A", do Ossário da Catedral Metropolitana de Porto
Alegre.
Carlos
Henrique de Rezende Nozari
chnozari@plugin.com.br
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