Santa Catarina - Tragédia que se repete |
05 de dezembro de 2008
... As falhas apontadas nessa tragédia em Santa Catarina, envolvem elementos que estão presentes na maioria das
cidades brasileiras, principalmente nas grandes regiões metropolitanas. Alguns fenômenos da natureza é até possível
prevê-los, cabe as homens apenas se antecipar para minimizar as consequências. ...
Vulnerabilidade da região
Não é a primeira vez que o Vale do Itajaí sofre inundações de grandes proporções. O Vale já passou por duas enchentes históricas, em 1983 e 1984,
causando a morte de 43 pessoas, deixando claro a vulnerabilidade da região, fato que deve ser o foco da atenção de autoridades e pesquisadores.
Estudo de caso
Vale do Itajaí - uma região vulnerável
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Nove especialistas, professores da Fundação Universidade Regional de Blumenau e da Universidade Estadual de Santa Catarina, se reuniram para
discutir as causas prinipais da enchente deste ano e sugerir providências.
Características da região - Morfologia do Vale
A região tem relevo altamente acidentado, formado por montanhas e encostas íngremes, principalmente ao sul de Blumenau.
Geologia
As montanhas da região têm grande quantidade de terra sobre rocha e a espessura do solo é muito grande, suscetível a desmoronamento.
Clima
Nos últimos meses, o enorme volume de chuvas que caiu sobre o Vale do Itajaí. No fim de semana da tragédia, choveu cerca de 1/3 do volume de
água esperado para o ano todo e encharcou o solo, que, sem capacidade de absorver mais água, desceu montanha abaixo.
Pincipais causas
A enchente na região é reflexo tanto de elementos da natureza, quanto de elementos humanos, e podem ser resumido em cinco principais causas.
- A quantidade de chuva na região
- O local de concentração da chuva
- O tipo de rocha do Vale do Iatajaí
- A forma como vem sendo feita a ocupação desordenada do local
- O desmatamento da vegetação local
Chuva
Em quatro dias choveu 500 milímetros (mm), esse índice pluviométrico tem o significado de 500 litros de água para cada metro
quadrado da região, isto é mais do que o dobro da enchente de 1984, causada por uma chuva de 200 milímetros. Devemos considerar
também que a média anual da região é de 1500 milímetros, foi 1/3 da chuva de todo o ano, caindo em quatro dias. Essa quantidade
de chuva seria uma tragédia em qualquer região habitada, desse país.
Chuva - não foi o único problema
Historicamente, as enchentes ocorrem a partir do Alto do Vale do Itajaí, uma área de 8 mil quilômetros quadrados, formada por trinta cidades
rurais, e, é nesta região que está concentrado o Sistema de alerta a enchentes, com monitoramento meteorológico e hidrológico. Quando chove
no alto do Vale, a Defesa Civil tem pelo menos 24 horas para evitar o pior nas partes mais baixas. Contudo neste ano a chuva se concentrou
no médio do Vale Itajaí, na região de Blumenau e entorno, uma região em que não há sistema de alerta nos rios,
logo não houve como se precaver.
Rochas
As rochas que formam a encosta do Vale são antigas, de 600 milhões a 2,4 milhões de anos. Na região, não existem mais rochas sãs - são
intemperizadas, decompostas ao longo dos anos e, com o tempo, se tornaram porosas e viraram barro. Além disso, esses solos são profundos,
com 30 a 40 metros de espessura, sujeitos a se movimentar facilmente, situação que se potencializa por causa da inclinação das encostas,
que chega a 70º de declive.
A presença humana e a transformação do espaço
Cortes nos morros: se a declividade acentuada já não bastasse, as construções a tornam ainda mais vulneráveis por causa dos cortes feito nas
montanhas para a cosntrução de casas. Os assentamentos usam a terraplanagem para deixar o terreno liso adequado a construção de moradias. Esse
retalhamento aumenta a instabilidade do solo. Tanto morar em cima quanto em baixo torna-se arriscado.
Ricos e pobres
Na tragédia deste ano, desabaram casas de ricos e pobres, algumas construções com mais de 50 anos de existência.
Observações aéreas feita pelos professores das Universidades, pode-se constatar o problema da ocupação desenfreada e do
desmatamento. Um fato que mostrou uma combinação de fatores como a força da água e a vulnerabilidade do solo, é que,
houve desabamentos inclusive em áreas com mata nativa. Mas a proporção de avalanches foi incomparavelmente maior onde
havia loteamentos e desmatamento.
Matas Ciliares
Por causa do declive acentuado das encostas, a ocupação do Vale do Itajaí ocorreu primeiramente nas margens e várzeas dos rios, o que
causou o desmatamento de 90% das matas ciliares(1) da região.
(1) Matas Ciliares, é um tipo de vegetação existem nas margens dos rios, protegendo-o da ação erosiva das águas, pois reduz a velocidades
de escoamento, evitando enxurradas e os desbarrancamento das margens, o que levaria ao assoreamento do rio. Existe legislação que
rege sobre essa questão da ocupação das margens dos rios.
Mata Atlântica
As enscostas do Vale, cobertas por vegetação de Mata Atlântica, passaram a ser ocupadas ao longo do século passado, depois do adensamento
da várzea. Nesta região a Mata Atlântica é um tipo de vegetação relativamente abundante, quando comparada ao restante do país.
O desmatamento dessa área para ocupação das encostas foi suficiente para aumentar a vulnerabilidade do solo, já bastante acentuada em
função de características locais.
A natureza e os interesses imobiliários
Todas as cidades do Médio Vale Itajaí fizeram planos diretores, porém as limitações impostas pela natureza não são reconhecidas.
Durante muito tempo em Blumenau, políticos eram loteadores, o resultado disso, é que, o interesse imobiliário acaba sendo priorizado.
Atualmente metade da população do Vale do Itajaí vive nas encostas dos morros.
Observações adicionais
As falhas apontadas nessa tragédia em Santa Catarina, envolvem elementos que estão presentes na maioria das cidades brasileiras,
principalmente nas grandes regiões metropolitanas. Alguns fenômenos da natureza é até possível prevê-los, cabe as homens apenas
se antecipar para minimizar as consequências.
Vamos repassar as principais falhas:
- Desmatamento e ocupação das encostas
- Destruição das matas ciliares
- Ocupação de áreas de várzea
- Ocupação de áreas de mananciais
- Aterramento e ocupação de áreas de manguezais
- Obras sem avaliação dos impactos ambientais
- Invasão de áreas de risco.
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