Revolted
The residents of Ilha Amarela were revolted by the cold and cruel
death of the student. His aunt, Maria Costa Souza, who was at the
hospital, said she suspected that the men were officers from the reserve
service of the Polícia Militar, by the fact they had handcuffs and
all four had short haircuts.
For Noel's aunt, the unknown men were after another youth known
as "Maicon,"who is known to commit petty crimes. Noel doesn't even
look like this "Maicon." Noel lived with his family at 20 Rua Boa Vista
in Ilha Amarela and a student at Clériston Andrade High School.
The police of the 5th district, who are investigating the crime say they
are going to check the take, but they suspect it is stolen.
As of now, the only police district which has had the courage to investigate crime attributed to extermination groups formed by Polícia Militar, has been the 8th district, led by Nilton Ferreira, who has kept a dossier with photographs.
The dossier was distributed to the press, to the secretary of Public Health, Francisco Netto and to the ministry of justice. Most of the assassinations occur on the outskirts of the city, but the robberies, assaults and break-ins are registered all parts of the city, without distinction.
Despite this, off the 9,000 Politica Militars who work in Salvador, most work security in banks and public buildings, according to the CPC, Police Command of the Capital.
22/9/97
Supostos policiais matam estudante
Cristovaldo Rodrigues
Quatro homens, armados e com algemas, todos à
paisana, ocupando o Fiat de placa JNA-8354, provavelmente placa “fria”,
executaram o estudante Noel de Jesus Souza, 16 anos, fato ocorrido na tarde
de sábado, em um campo de futebol, em Ilha Amarela. O garoto estava
em casa ajudando os familiares a carregar brita e, logo em seguida, foi
para o campo jogar bola, acabando por ser assassinado.
Naquele exato momento, o Fiat branco parou e dele
saltaram quatro homens, todos de arma em punho, supostamente policiais
militares, a julgar pelo corte do cabelo. Seguiram em direção
de Noel, dizendo para ele: “Até que enfim conseguimos lhe pegar”.
Dito isso, um dos desconhecidos deflagrou um tiro no peito esquerdo do
garoto, que caiu praticamente morto. Os criminosos, logo em seguida, pegaram
o irmão de Noel, Alexandro de Jesus Souza, algemaram e exigiram
que ele os levasse até a casa da vítima. Após se certificarem
de que tinham matado a pessoa errada, os desconhecidos liberaram o rapaz
e disseram: “Vá dar socorro ao seu irmão para ele não
morrer”.
Revolta
A morte fria e cruel do estudante revoltou os moradores
de Ilha Amarela. A tia dele, Maria Costa Souza, que esteve na manhã
de ontem no Instituto Médico–Legal Nina Rodrigues, disse que suspeita
que os homens sejam militares do Serviço Reservado da PM, ao tomar
por base que estavam armados com algemas e pelo corte de cabelo dos quatro.
Para a tia de Noel, os desconhecidos estavam atrás de
um garoto conhecido por “Maicon”, que é dado à prática
de crimes contra o patrimônio, porém não chega a ser
uma pessoa de alta periculosidade, porque faz pequenos furtos. Noel tem
semelhança física com “Maicon”. Ele morava com os pais na
Rua Boa Vista, casa 20, Ilha Amarela, e cursava a 5ª série
no Colégio Clériston Andrade. Os policiais da 5ª Delegacia,
que investigam o crime, vão checar a placa através do Detran,
mas, a princípio, eles suspeitam que seja “fria”.
18/9/97
Violência cresce na Grande Salvador
O índice de violência na Grande Salvador
vem crescendo assustadoramente, de acordo com dados do Instituto Médico-Legal
Nina Rodrigues. A média atingiu 3,5 vítimas de crime por
dia. Nos oito primeiros meses deste ano, o número de assassinatos
ultrapassou a casa de 850. A maioria das vítimas foi morta a tiros
e facadas, mas existem também inúmeros casos de óbitos
provocados por espancamentos e estrangulamentos. De acordo com dados da
12ª Delegacia, que fica em Itapuã, dos 22 assassinatos ali
registrados, até o dia 15 de agosto, nada menos do que 12 foram
cometidos por policiais – alguns em troca de tiros com os marginais.
Até então, o único delegado
que teve coragem de apurar crimes atribuídos a grupos de extermínio
formados por policiais militares foi o titular da 8ª Delegacia, Nilton
Ferreira, que elaborou um dossiê com fotografias.
O dossiê foi distribuído à imprensa, entregue
ao secretário da Segurança Pública, Francisco Netto,
e ao Ministério da Justiça. A maioria dos assassinatos ocorre
na periferia, mas os roubos, assaltos e arrombamentos são registrados
em toda a cidade, sem distinção.
Enquanto isso, dos nove mil policiais militares que trabalham
em Salvador, a maioria serve de segurança a bancos e repartições
públicas, segundo o Comando da Polícia da Capital (CPC).