Este foi o único país do mundo no qual as idéias de Bakunin se concretizaram tornando-se um poder real. Foi lá inclusive, que o anarco-sindicalismo alcançou seu apogeu.
A história de sofrimento das massas populares espanholas é anterior a chegada de Fanelli, precursor persuasivo e expressivo de tal doutrina tão brava, calorosa e criativa.
Por volta de 1840 o parlamento espanhol provocou uma grande revolução ao confirmar o desapropriamento das terras de pequenos fazendeiros, para dá-las à ricos cidadãos das cidades. Para se defender desta injustiça os camponeses se armaram e se defenderam como puderam. A "nova classe de fazendeiros" desenvolveu um pequeno exército de ocupação das terras, iniciando uma interminável guerra entre guerrilhas.
Assim, os camponeses seguiram um "ritual" quase que pré-programado. Eles mataram os guardas, sequestraram padres e funcionários, incendiaram igrejas, queimaram registros cadastrais e contratos de arrendamentos, aboliram o dinheiro, declararam sua independência em relação ao Estado, proclamaram comunas livres e exploraram coletivamente a terra. Porém, tudo isso ocorreu anos antes do surgimento das idéias libertárias.
Em 1845, um discípulo de Proudhon, Ramón de La Sagra, fundou em Coruña o jornal El Provenir que, apesar de ter sido fechado imediatamente pelas autoridades pode ser considerado o primeiro periódico anarquista.
Isolada da Europa e com características ao mesmo revolucionárias e conservadoras a Espanha produziu um poderoso movimento anarquista.
Antes do aparecimento dos bakunistas houve várias greves e tumultos em diversas regiões da Espanha. Em setembro de 1868 a rainha Isabelle foi forçada a se exilar quando começou imediatamente a história do ouro e do anarquismo espanhol. Em outubro desse ano, aproveitando a agitação geral, Fanelli espalhou entre os jovens intelectuais e operários as idéias antiautoritárias defendidas na I Internacional. Quase todos, imediatamente aderiram ao movimento, aparecendo os primeiros jornais relatando as primeiras seções da Internacional. Em 1870 foi fundada a Federação Espanhola da Internacional e dois anos mais tarde, apesar das pressões do genro de Marx, os anarquistas descentralizaram as sessões locais, que ganharam total autonomia e criaram um escritório central, apenas com o intuito de fazer correspondências e estatísticas.
Depois da curta e infeliz presidência do federalista Pi y Margall, sem a participação dos anarquistas, o exército tomou o poder e suspendeu a Federação Espanhola da Internacional, prendeu os anarquistas, obrigando-os a se exilarem. Porém os anarquistas continuaram na clandestinidade, atuando com relativo sucesso.
Em 1878, com a tentativa de assassinato do rei Afonso XII a repressão contra-atacou com violência, gerando greves. Quatro anos mais tarde um governo mais liberal legalizou as corporações de operários e liberou a organização Internacional Espanhola. Mesmo assim, a violência adotada por alguns grupos de anarquistas levou-os novamente à clandestinidade um ano depois. Ao mesmo tempo, os anarquistas espanhóis se dividiram entre anarco-comunistas e coletivistas (adeptos de Bakunin).
Anos mais tarde, os anarquistas tomaram a CNT- Confederação Nacional do Trabalho- e evitaram a formação de uma burocracia permanente dentro desta.
Em 1924, depois de muitos incidentes e participações nos movimentos operários de toda a Europa, a CNT foi dissolvida por ordem de Primo de Rivera.
Em 1927, em Valência, representantes de diversos grupos anarquistas se uniram e fundaram a FAI- Federação Anarquista Ibérica- sendo uma organização clandestina e destinada à preparação de revoluções.
Com a queda de Primo Rivera, em 1930, todos os grupos políticos, inclusive os anarquistas passaram a brigar pela república. Mesmo com a conquista desta, os anarquistas continuaram com as greves e reivindicações radicais, deixando bem claro o que pretendiam. Sob o comando da FAI, eles fizeram ma série de atentados, saquearam igrejas e redistribuíram terras, provocando uma verdadeira reforma agrária.
Em maio de 1936, Duruti e Garcia Oliver participaram de um congresso e Saragoza, onde se recusaram a atuar junto aos socialistas, deixando a Espanha em um estado de expectativa e agitação. Com a revolta dos generais em julho de 1936 estourou a guerra civil. Três anos depois, a Espanha caiu sob a tutela de Francisco Franco.
O problema dos anarquistas espanhóis é que eles não podiam se manter fiéis à sua doutrina, ao mesmo tempo que participavam de uma guerra e uma constante luta pelo poder.
Por outro lado, eles podiam acrescentar à sua honra uma extraordinária experiência na guerra civil, tendo praticado com muito sucesso a coletivização dos meios de produção e realizando na prática a autogestão espanhola.
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