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Em: 22-FEV-1999

Um passo de gigante na Guiné-Bissau

O dia 20 de Fevereiro de 1999 é mais uma data a reter na história da Guiné-Bissau. Ela pode representar uma nova fase na crise político-militar iniciada a 7 de Junho de 1998 e que esventrou o país totalmente. Para todos os efeitos, é um passo gigante na consolidação da paz.

É ainda prematuro tecer considerações mais profundas, porque muitas dúvidas pairam no ar ao analisar melhor o discurso proferido pelo Presidente João Bernardo Vieira na tomada de posse do novo Governo de transição chefiado por Francisco Fadul. Um discurso cáustico, com farpas e outros pormenores de não menos importância, que a circunstância e a dimensão histórica do acto não aconselhavam, tendo em conta o grau de sofrimento e a destruição que assola a nação guineense provocada por uma guerra estúpida e injustificável.

Infelizmente ela aconteceu porque os dirigentes e responsáveis do país não foram capazes de governar com a responsabilidade e a sensibilidade necessárias. Embora os novos caminhos a percorrer pelo novo Executivo estejam cheios de "minas e armadilhas", estamos certos de que o novo primeiro-ministro reúne todas as condições para corporizar um novo ciclo político na Guiné-Bissau.

Um novo ciclo que implemente uma cultura de paz e desenvolvimento e bem-estar para a população. Recuperar a independência nacional, a dignidade perdida do Estado, a justiça e o respeito pela dignidade humana.

Embora saibamos que estes objectivos não são fáceis de alcançar num país mergulhado há mais de duas décadas na mais profunda inversão de valores, temos consciência de que não são tarefas impossíveis, desde que haja vontade política, competência e livre participação da sociedade civil.

Temos o exemplo de Portugal. Um país que sofreu um atraso enorme com os 40 anos de ditadura e que foi obrigado a regressar às suas fronteiras de origem, hoje, 25 anos depois, é um país moderno e próspero, de referência na Europa, que conquistou uma posição ímpar no mundo.

Tal só foi possível graças ao esforço, abnegação e altruísmo de uma geração inteira. Não há milagres sem trabalho e esforço colectivo! E os guineenses não devem perder de vista a experiência portuguesa. E é com Portugal e os portugueses que devemos principalmente reencontrar o nosso destino.

Quer queiramos ou não, é justo e é um desígnio que pertence absolutamente à nossa geração e à história. Qualquer outra tentativa vai esbarrar com a realidade socioeconómica e cultural da Guiné-Bissau. Francisco Fadul, o novo primeiro-ministro, é um homem vertical com provas dadas no passado. E, embora disponha agora de um elenco de executivos que parece mais um "saco de cobras e lagartos", reforçamos a ideia de que tem todas as condições para levar a bom porto a transição política na Guiné-Bissau.

Para que haja uma passagem pacífica até às eleições, é indispensável que o novo Governo não responda às provocações gratuitas dos desesperados do regime e também que não os provoque. Nesta árdua tarefa de repor quase tudo no país, o novo Executivo deve pugnar pela legalidade e transparência na gestão da "coisa pública".

Só assim a comunidade internacional e os empresários - nacionais e estrangeiros - regressarão em força à Guiné-Bissau. Tanto mais que este, ao contrário do que se tem dito, não é um país pobre. As possibilidades geostratégicas na região podem dar-lhe uma categoria de pólo múltiplo de atracção de investimentos.

O país tem excedentes de recursos naturais que ultrapassam mais de 200 milhões de dólares por ano, possuindo igualmente excelentes condições para uma aposta de turismo de alta qualidade e outros sectores de serviços e indústria. Tudo é uma questão de saber.

Director do "Diário de Bissau"

Jornal Diário de Notícias: E-mail: dnot@mail.telepac.pt

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Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Geocities

Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Terràvista

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