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Em: 08-MAR-1999

Regresso lento à normalidade

Sectores internos do PAIGC contestam a política do partido e pedem um congresso extraordinário que permita "extirpar a mentalidade de partido único, com todo o maniqueísmo que ela acarreta"


Arquivo DN-Eduardo Tomé NORMALIDADE. Com o acantonamento das forças, os tanques vão deixar de se "passear" nas ruas de Bissau

Os primeiros sinais de desanuviamento apareceram na última semana em Bissau, com o início das operações de desminagem, desarmamento e acantonamento de tropas, ao fim de nove meses de conflito que paralisou as actividades política e económica do país.

Além disso, o primeiro-ministro, Francisco Fadul, anunciou a reabertura próxima do Aeroporto Internacional de Bissau, o que ajudará a um regresso à normalidade na capital guineense. A Junta Militar deu início na quinta-feira às operações de desminagem nos bairros do Norte da cidade, onde se travou a maioria dos combates, afirmando ter já desactivado 563 engenhos, nomeadamente minas antipessoais.

As minas, num número total calculado em 11 500, foram espalhadas pelos beligerantes no auge do conflito e constituem um sério obstáculo à circulação de pessoas e ao recomeço das actividades na capital. Estas operações parecem confirmar o desejo de paz manifestado pelas partes em conflito durante a cerimónia de investidura do Governo de transição dirigido por Fadul, a 20 de Fevereiro último.

Na altura, tanto o Presidente João Benardo Vieira como Fadul apelaram à reconciliação nacional e pediram a todos os habitantes do país que trabalhassem a favor de uma "paz definitiva e duradoura".

Uma comissão nacional encarregada do desarmamento e do acantonamento das forças beligerantes começou já a funcionar no sentido de tornar mais seguro um país onde ainda há numerosas armas espalhadas.

O novo ministro da Defesa, Francisco Benante, indicou que a sua prioridade será a "reestruturação do exército" e a reintegração dos combatentes no exército regular. Estas operações são levadas a cabo ainda na presença de soldados do Senegal e da Guiné-Conacri que acorreram em auxílio de Nino Vieira e que, ao contrário do que foi exigido pelos rebeldes, não abandonaram a Guiné-Bissau antes do início do processo de reconciliação.

Estas forças começaram já a abandonar o país, mas a conclusão da retirada está prevista agora para 16 de Março. Entretanto, no fim-de-semana, o Bureau Político do PAIGC recomendou ao Secretariado do partido que elabore uma proposta para a criação de uma comissão de reconciliação.

Mas as divergências internas e a contestação à política do partido ficaram bem patentes nesta reunião, da qual saíram vários documentos de contestação e onde certos sectores insistiram na convocação de um congresso extraordinário.

Num memorando enviado a Nino Vieira, oito destacados membros do Bureau Político - entre os quais o presidente da Assembleia Nacional Popular, Malam Bacai Sinhá, o ex-primeiro-ministro Carlos Correia e o ex-ministro da Defesa Samba Lamine Mané - solicitaram a criação de uma comissão de preparação de um congresso extraordinário.

"Não se pode protelar mais a solução dos graves problemas existentes com abraços e apertos de mão simbólicos. É necessário extirpar do PAIGC a mentalidade de partido único, com todo o maniqueísmo que ela acarreta", lê-se no documento. O memorando diz também que "é necessário questionar os métodos de direcção e a sua própria composição", que "caminha para o envelhecimento e para um conservadorismo mortal".

Jornal Diário de Notícias: E-mail: dnot@mail.telepac.pt

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