![]() Em: 08-MAI-1999 Mané conquista enfim Bissau ![]() DN-Eduardo Tomé VITÓRIA. Alegadas atitudes de Nino Vieira obrigaram o brigadeiro Ansumane Mané a recorrer de novo ao uso da força O Presidente Nino Vieira foi, ontem, afastado do Poder na Guiné-Bissau por forças fiéis à Junta Militar. Os militares revoltosos - após 24 horas de combates na capital, que vitimaram 70 civis - conseguiram pôr assim fim a um regime ditatorial de 20 anos. Nino, de 60 anos, refugiou-se primeiro no Centro Cultural Francês e depois na embaixada portuguesa, onde já se encontrava a família, enquanto a população saía à rua em apoio dos revoltosos. Os confrontos, nomeadamente com armas pesadas, começaram ao fim do dia de quinta-feira, rompendo uma trégua de várias semanas. Ontem, a meio da manhã, as tropas fiéis a Nino Vieira rendiam-se finalmente, o que levou o comandante Zamora Induta, porta-voz da Junta Militar, a anunciar o fim dos combates e a garantir que a Junta "não tem qualquer intenção de matar" o Presidente deposto. Entretanto, e segundo a Lusa, 20 cadáveres encontravam-se no Hospital Simão Mendes, de Bissau, que também recebeu várias dezenas de feridos. Por seu turno, a Cruz Vermelha avançava que a explosão de um obus num centro missionário católico da capital provocou a morte a 50 pessoas que ali se tinham refugiado. O derrube de Nino põe termo a uma rebelião militar que foi liderada pelo chefe de Estado-Maior, o brigadeiro Ansumane Mané, começou a 7 de Junho de 1998 e fez várias centenas de mortos. Na origem da rebelião esteve a demissão de Ansumane Mané, acusado pelo Presidente de estar implicado em tráfico de armas para Casamansa (Sul do Senegal); acusação que caiu por terra com o relatório de uma comissão de inquérito parlamentar. Desde Outubro de 1998 que as forças rebeldes controlavam todas as cidades do interior do país. A 1 de Novembro, o acordo de Abuja (Nigéria) estabelecia o cessar-fogo, renovado posteriormente. Este acordo foi o culminar dos esforços conjuntos da Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa (CPLP) e da Comunidade Económica dos Estados da África Ocidental (CEDEAO). O acordo de Abuja previa a retirada das forças estrangeiras - três mil soldados do Senegal e da Guiné-Conacri - que se tinham colocado ao lado de Nino Vieira, a colocação de uma força de interposição de 600 homens da ECOMOG, a criação de um Governo de unidade nacional e a organização de eleições gerais. De acordo com Francisco Fadul, primeiro-ministro do Governo de unidade nacional, terá sido a recusa de Nino em desarmar 600 soldados da guarda presidencial a gota de água que transbordou o copo da tensão que se vinha vivendo em Bissau. Em resposta à recusa de Nino, as forças fiéis à Junta Militar armaram um batalhão encarregado da segurança de Ansumane Mané e lançaram o ataque às forças presidenciais. Na conferência de imprensa que deu, ontem, em Lisboa, Fadul lançou um apelo à comunidade internacional para que ajude o seu país a "sair do limiar da pobreza", numa alusão às promessas de apoio que lhe foram anunciadas na mesa-redonda de há dois dias em Genebra. O chefe do Governo da Guiné apresentou também desculpas ao Estado francês pelos estragos ontem registados no centro cultural daquele país: os revoltosos atacaram o local ao fim da manhã, quando a rádio noticiou que Nino estava ali refugiado, e provocaram um incêndio no centro. E enquanto a calma regressava a Bissau, os refugiados guineenses em Portugal manifestavam a sua alegria pela queda do regime. "É o fim do Nino Vieira", "O povo venceu o tirano" foram alguns dos comentários de refugiados guineenses em Lisboa. Portugal dá segurança aos franceses Os funcionários do Centro Cultural francês e os "comandos" (fuzileiros especiais) responsáveis pela segurança da delegação diplomática gaulesa encontram-se a salvo na embaixada de Portugal em Bissau. "Os 20 funcionários e os dez comandos estão a salvo e em segurança na Embaixada de Portugal em Bissau, e sob protecção portuguesa", disse uma fonte oficial à Lusa. O Presidente guineense, João Bernardo Vieira, e a mulher também se encontram refugiados na Embaixada portuguesa. O MNE português contactou o embaixador francês em Lisboa, Pierre Brochard. Jornal Diário de Notícias: E-mail: dnot@mail.telepac.pt Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Geocities Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Terràvista ![]() ![]() ![]() |