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Em: 10-MAI-1999

Portugal concede asilo a Nino Vieira

Soldados da Junta dispararam ontem sobre um polícia e interromperam a entrega de víveres na embaixada portuguesa


Lusa-Tiago Petinga

GOLPE. Soldados da Junta Militar montam guarda ao palácio presidencial, parcialmente destruído pelas chamas Portugal concedeu ontem asilo ao presidente deposto da Guiné Bissau, João Bernardo Vieira Vieira.

A notícia foi dada pelo próprio primeiro-ministro, António Guterres, à sua chegada a Salonica para uma visita de três dias à Grécia, conforme refere o enviado do DN, Nuno Simas. Embora a possibilidade de dar asilo a Nino Vieira tenha sido admitida por Guterres na sexta-feira, após uma audiência com o Presidente Jorge Sampaio, a verdade é que o presidente deposto pela Junta Militar só ontem contactou o governo português.

Os primeiros contactos com o ministro dos Negócios Estrangeiros, Jaime Gama, foram feitos antes da partida de Lisboa. No entanto, só após a chegada à cidade de Salonica Nino falou, telefonicamente, com Jaime Gama. "Como é natural", sublinhou Guterres, o pedido de asilo teve "luz verde".

A Junta Militar guineense esteve ontem reunida com o presidente do Parlamento, Malam Bacai Sinhá - o provável futuro presiodente interino -, líderes parlamentares e membros do Governo para debater a situação de Nino Vieira, actualmente refugiado na embaixada portuguesa em Bissau.

Em declarações à agência Lusa, o porta-voz da Junta, comandante Zamora Induta, recordou que Nino Vieira está indiciado pelo crime de "omissão" no relatório do inquérito parlamentar sobre tráfico de armas para os separatistas de Casamança (Senegal).

Antes da reunião de ontem, outro responsável admitira que a decisão mais provável seria uma tentativa de acordo com Nino envolvendo a sua renúncia e o compromisso de que, caso seja notificado para comparecer perante os tribunais guineenses, se desloque ao país e aceite cumprir a pena a que venha eventualmente a ser condenado.

Outra alternativa seria a sua detenção em residência vigiada até ao julgamento, acrescentou Induta. Ontem, a tensão regressou por alguns momentos a Bissau, depois de soldados leais à Junta Militar terem disparado contra um guarda da embaixada portuguesa e interrompido uma entrega de alimentos no complexo.

De acordo com a Agência Lusa, um soldado da Junta disparou para os pés do polícia português, sem no entanto o atingir, quando o viu fazer um movimento que pensou ser para sacar uma arma, mas que na realidade era um walkie-talkie. Mais tarde, os rebeldes impediram a aproximação de camiões que transportavam víveres e medicamentos para o edifício da embaixada.

O embaixador português em Bissau, António Dias, apresentou um protesto pelo incidente ao primeiro-ministro guineense, Francisco Fadul, e exigiu a retirada dos soldados da Junta Militar que se encontram em frente da missão diplomática portuguesa.

Durante o dia de ontem foram ainda ouvidos alguns tiros esporádicos, mas, de um modo geral, a situação era considerada calma, após confrontos que, desde quinta-feira, terão provocado pelo menos 80 mortos e 263 feridos. Além disso, vários responsáveis do regime de Nino Vieira foram detidos depois da ofensiva lançada na quinta-feira e entregues à força de interposição da Ecomog - instalada em Bissau ao abrigo do acordo assinado em Abuja em Novembro passado - a fim de "garantir a sua segurança".

Entre eles contam-se o ex-ministro da Defesa Samba Lamine Mané, o chefe e vice-chefe do Estado-Maior, generais Humberto Gomes e Afonso Tê, e o responsável pela Segurança do Estado, João Monteiro. Também no decurso dos combates foram detidas várias centenas de soldados leais a Nino Vieira, tendo sido conduzidos para a base aérea militar do aeroporto, quartel-general do líder da Junta Militar, brigadeiro Ansumane Mané.

Refugiados de Bissau chegaram a Lisboa

Catorze refugiados guineenses e quatro cidadãos portugueses chegaram ontem a Lisboa a bordo de um C-130 da Força Aérea, que se deslocou a Bissau com ajuda humanitária para a embaixada portuguesa e um destacamento de 13 militares do Centro de Instrução de Operações Especiais.

Um primeiro grupo, composto por 21 cidadãos franceses e 13 senegaleses, entre os quais o consul-geral de França e o embaixador do Senegal, viajou também a bordo do aparelho, mas ficou na ilha do Sal.

Este grupo, que se encontrava refugiado na embaixada de Portugal na sequência dos confrontos dos últimos dias, seguiu depois viagem para Dacar, a bordo de um avião militar francês.

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