![]() Em: 16-MAI-1999 Água a menos e lixo a mais A cidade de Bissau cresceu e não suporta tanta gente. O conflito só agravou os problemas. ![]() NEGÓCIO. Sete alfaiates cortam e costuram nas imediações do mercado de Bandi. O senhor Barry, emigrante, só lamenta que, com a crise actual, ninguém compre Sete alfaiates cortam e costuram nas imediações do mercado de Bandi. O senhor Barry, como se apresenta em francês, veio da Costa do Marfim e cobra 7500 francos (uns 2500 escudos) por um elegante fato de camisa e calças. O metro quadrado do melhor tecido é a dois mil CFA e o modelo de camisa na moda tem três bolsos e uma gola redonda, aberta. Barry, que vive há dois ou três anos na Guiné-Bissau, não foi importunado quando as forças da Junta Militar conquistaram a capital guineense, na semana passada. Emigrante só lamenta numa coisa: com a crise actual, ninguém compra.Bissau não tem dinheiro. A capital guineense está mergulhada em problemas e muito afectada pelos 11 meses de conflito. "Não temos meios para resolver o problema do lixo acumulado", lamenta a presidente da Câmara de Bissau, Zinha Vaz. A autarca quer envolver os militares na limpeza da cidade, porque teme que o lixo e a escassez de saneamento levem a uma eventual epidemia de cólera, quando chegarem as chuvas, dentro de um mês. "A água está muito má", acrescenta Zinha Vaz. "Os furos existentes são do tempo colonial". A cidade cresceu e não suporta tanta gente. O triunfo da Junta Militar trouxe ainda mais pessoas de fora. "Temos quatro reservatórios, só um funciona bem. As pessoas preocupam-se mais com a electricidade do que com a água", conclui a presidente da câmara, que está a pôr em acção um plano de emergência de seis meses, até às eleições. Uma das iniciativas é recorrer ao trabalho voluntário. O grupo de António Ndula Gomes, a Ajude, uma Associação de Juventude para o Desenvolvimento, de cariz ambientalista, está a participar nesse esforço de limpeza de uma cidade ainda em estado de choque, repleta de cicatrizes. A equipa de António, com 29 pessoas, recolhe o entulho da Rádio Nacional, junto às instalações da Marinha, onde o regime deposto colocou a sua artilharia e exerceu grande parte da repressão. A rádio está a operar, apesar de ter sido o centro da propaganda governamental de Nino Vieira. "Não houve retaliação, não houve afastamento de jornalistas", diz Ricardo Semedo, o novo director de informação, nomeado pelo Governo. "Durante o conflito, o Governo do regime deposto criou uma comissão para gerir a informação durante o conflito. Essa comissão integrou elementos que não jornalistas da Rádio Nacional", explica Semedo. Algumas das pessoas dessa comissão encontram-se na embaixada portuguesa. Refugiadas. Os jornalistas da estação afirmam que agora não há interferências sobre o seu trabalho. Várias pessoas disseram que, uma semana depois de a Junta conquistar Bissau, já se pode falar livremente. Nos meses anteriores, houve ameaças directas e era preciso ter cuidado com as conversas. Percebe-se que os jornalistas da Rádio Nacional passaram um mau bocado. As instalações da rádio estão em muito mau estado. Os quatro computadores foram roubados e as máquinas de escrever são primitivas. Os estúdios não tiveram manutenção durante 11 meses e os arquivos foram saqueados. Ali ao lado havia uma caserna senegalesa. Escrito nas portas ainda se pode ler "Les Arabes" e "Les Berets Verts". A Junta, diz um dos jornalistas, "sempre deixou a gente trabalhar livremente". A Rádio Nacional não atinge todo o País porque o movimento rebelde continua a dominar os emissores em Naacra. Os estúdios esperam a chegada de uma equipa da RDP portuguesa com material sobressalente. Na realidade, a rádio consiste hoje numa sala com isolamento sonoro instalado pelo Governo jugoslavo (ainda ali está uma placa, ao lado do retrato de Amílcar Cabral) e duas pequenas salas onde os locutores tentam fazer-se ouvir pelo país. Novo emissor, em breve, poderá repor a situação. Apenas uma jornalista morreu. Chamava-se Maria Eucolástica Gama e estava grávida. Adoeceu em Dacar antes de se poder juntar à família que se encontrava em Lisboa. A normalidade chega lentamente a Bissau. A televisão guineense emitiu ontem e a cidade fervilha de agitação, no meio de uma miséria bem real. A energia tem falhas constantes e os telefones só a pagar no destino. O único jornal, Banobero, saiu esta semana. Onde foram desencantar o papel é que ninguém sabe. País está isolado em termos económicos O país está totalmente sob o controlo da Junta Militar, mas a fronteira com o Senegal foi encerrada há dois dias. Mas pelo lado senegalês, ao contrário de notícias postas a circular por agências internacionais. As mesmas agências traçam um falso retrato de Bissau, que sublinha uma grande insegurança e até agressividade dos vencedores do conflito em relação aos países vizinhos. Dependente da moeda que circula na região (suportada pelo Banco de França), a Guiné-Bissau está de facto isolada em termos económicos. Os bancos continuam fechados e não há liquidez ou até notas pequenas, sendo impossível fazer trocos. As mercadorias não podem entrar no país e mesmo as organizações internacionais em acção aqui parecem alarmadas com as informações que circulam no exterior sobre a situação interna guineense. Jornal Diário de Notícias: E-mail: dnot@mail.telepac.pt Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Geocities Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Terràvista ![]() ![]() ![]() |