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Em: 18-MAI-1999

Exílio de Nino só depende da assinatura de renúncia

Portugal pode oferecer-se como garante de cumprimento do acordo com a Junta

Carlos Albino


Lusa-João Relvas COINCIDÊNCIA. Delegação da Junta e Veiga Simão, em completa harmonia gestual, retomaram cooperação militar

Nino Vieira pode apenas vir a assinar a declaração formal de renúncia à Presidência da Guiné-Bissau já no avião que o trará para Portugal, país que lhe concedeu asilo político, sob garantia a ser dada à Junta Militar pelas autoridades portuguesas, que inclusivamente devem acompanhar e testemunhar o acto de renúncia, segundo disseram ontem observadores que seguem de perto o processo guineense.

O mais certo, segundo a mesma fonte, é que esse papel caiba a Veiga Simão, que na próxima sexta-feira e sábado está em Cabo Verde para participar na reunião dos ministros da Defesa da CPLP. Uma deslocação do ministro da Defesa a Bissau pode ocorrer ainda no dia 22 ou no dia seguinte (domingo).

Veiga Simão tem pendente uma visita a Bissau, na sequência do convite que lhe foi dirigido pelo primeiro-ministro Francisco Fadul antes de estalarem os acontecimentos que culminaram com a rendição militar de Nino à Junta. À semelhança do que acontece com outros membros do Governo português, também Veiga Simão não encara uma deslocação a Bissau antes que a situação de Nino esteja resolvida em definitivo.

A Junta exige que Nino renuncie ao cargo presidencial antes de partir para o exílio. Segundo os observadores, Nino estará já na disposição de aceitar a renúncia ao cargo, mas fazendo-o apenas em circunstâncias que lhe evitem uma extrema humilhação, o que não acontecerá caso faça a sua partida para o exílio na companhia de uma autoridade portuguesa relevante, como é o caso do ministro da Defesa.

Veiga Simão poderá ser assim, perante a Junta, o garante da assinatura de renúncia por parte de Nino, pelo que o ministro da Defesa, após uma visita a Bissau, pode regressar a Lisboa com Nino.

Uma das nossas fontes comentou, a propósito, que Nino "tem um grande sentido dos seus interesses vitais", pelo que não deverá desperdiçar a ocasião que Lisboa lhe pode proporcionar, uma vez que quanto mais prolongada for a sua permanência na embaixada portuguesa mais debilitados ficarão alguns apoios de que ainda dispõe, embora tais apoios tenham já expressão mais pessoal do que política.

Ontem, a delegação da Junta Militar que está em Lisboa para contactos oficiais esteve com Veiga Simão, encontrando-se hoje de manhã com Jaime Gama, antes da partida do ministro dos Negócios Estrangeiros para a China.

A delegação, que integra o capitão-tenente Zamora Induta (porta-voz da Junta), o tenente-coronel Veríssimo Seabra (indigitado chefe do Estado-Maior das Forças Armadas da Guiné-Bissau) e mais dois oficiais superiores (o tenente-coronel Iaia Seidi Cani e o major Melcíades Gomes), tem evitado contactos com os jornalistas. Todavia, antes de viajar para Lisboa, Zamora Induta admitiu a possibilidade de Nino sair do país "por razões de saúde e outras", embora reafirmando que "vai ser julgado".

Em Lisboa, a delegação da Junta já obteve garantias de reatamento da cooperação técnico-militar com Portugal, que tinha sido suspensa por inesperada e inusitada decisão de Nino poucas semanas antes da sua destituição. Veiga Simão garantiu mesmo que Lisboa vai gastar "dez vezes mais" do que os valores anualmente programados em cooperação neste domínio com Bissau. A cooperação vai ser retomada "de imediato", segundo o ministro.

A reunião da delegação hoje com Jaime Gama tem um cariz essencialmente político, devendo ser analisada a questão do exílio.

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