![]() Em: 19-MAI-1999 Trabalho da Igreja Católica evitou desgraça maior Na missão de Comura, fez-se o possível e o impossível para minorar a situação trágica dos refugiados. Sem esquecer a lepra Luís Naves A desgraça deste país teria sido maior sem o trabalho da Igreja Católica. O padre Giorgio Balla Barba, responsável da missão de Comura, não tem a imodéstia de fazer esta afirmação, antes pelo contrário, mas lembra com amargura os terríveis momentos vividos na primeira fase da guerra, quando os terrenos da missão ficaram cobertos por um manto de gente. "A opinião internacional não está bem informada sobre o que se passou durante estes 11 meses", diz o religioso, lamentando a possibilidade de novas emergências: "Se começarem sanções contra a Guiné vai ser um período triste, ainda mais triste do que até agora." Em Comura, três sacerdotes e dois irmãos leigos gerem um hospital que recebe doentes até da Guiné-Conacri. É a única leprosaria num raio de centenas quilómetros. Mas a missão destinguiu-se na distribuição de comida e na assistência humanitária às dezenas de milhares de refugiados que por ali passaram nos terrenos em volta da igreja pintada de verde e mesmo dentro do próprio templo. Sendo orçamento estatal e distribuidor local de arroz fornecido pela agência das Nações Unidas, Programa Alimentar Mundial (PAM), a missão inclui uma maternidade, uma carpintaria e, para subsistência, uma horta e a plantação de caju que financia a operação. A missão de Comura sustenta trinta funcionários e contratou médicos de Bissau que tratam dos doentes do hospital. O padre Barba, na Guiné desde 1966, explicou ao DN que não se sabe até que ponto a lepra está em crescimento na região. Segundo disse o sacerdote, não se descobrem novos casos, mas isso pode não significar que a doença recuou. A população de algumas áreas continua a ter uma relação com a doença marcada pelas crenças aninistas. Aos doentes que chegam ao hospital, os padres fazem um tratamento intensivo, mas muitos dos que partem acabam por regressar em pior situação. A missão é um sítio belo, a igreja erguida em 1965, as acácias vermelhas e as mangueiras carregadas de frutos. Mas existe uma espécie de maldição para os paraísos. No terreiro vazio pararam durante semanas cerca de 18 mil almas, sem luz e com a água que os padres tiravam desesperadamente do poço do hospital, 40 mil litros diários que salvaram muitas vidas. Na maternidade, as camas estão quase todas desocupadas, mas vejo um menino assustado, a cara marcada pelas queimaduras de uma bomba. Há flores por todo o lado nas imediações do pavilhão dos tuberculosos. Uma criança brinca com o padre Giorgio e a luz lateral do fim de tarde dá uma doçura suave às formas. Entre as mangueiras pontuadas pelos frutos pendurados ouve-se a ocasional queda de uma manga madura. Jornal Diário de Notícias: E-mail: dnot@mail.telepac.pt Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Geocities Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Terràvista ![]() ![]() ![]() |