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Em: 22-MAI-1999

Nino Vieira é o acusado central

Presidente deposto agiu como verdadeiro duplo perante os independentistas de Casamansa e o Presidente do Senegal

Carlos Albino


Arquivo DN
DUPLA. Nino e o seu ministro da Defesa, Samba Lamine Mané (o que cortou a cooperação militar com Portugal). São as mais altas figuras implicadas

Vale a pena seguir quase à letra o relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito sobre o tráfico ilegal de armas e cuja cópia integral o DN acaba de obter. Numa reunião efectuada no Palácio da República, por volta das 23 horas do dia 30 de Janeiro de 1998 e em que se encontravam presentes o primeiro-ministro Carlos Correia, o ministro da Defesa Samba Lamine Mané, a ministra do Interior Francisca Pereira e vários oficiais das Forças Armadas guineenses, o brigadeiro Ansumane Mané disse, de caras, a Nino Vieira que este estava a falar do tráfico de armas. E naquele local e àquela mesma hora, Ansumane Mané perguntou então a Nino Vieira "qual dos militares ali presentes não tinha vendido armas".

Isto tinha história. É que Ansumane Mané, anteriormente informara Nino da existência de tráfico de armas, "mas que este não tomou quaisquer medidas tendentes a pôr cobro à situação" e que "caso essas medidas tivessem sido tomadas nada disso voltaria a acontecer". Ansumane Mané disse ainda naquele dia e àquela hora que "estava farto da questão do trráfico de armas" e que, "a partir dessa altura, quem fosse apanhado a vender armas deveria ser enviado ao Tribunal e que se cumprisse a lei".

Ainda segundo o relatório parlamentar, Nino Vieira terá respondido a Ansumane Mané que "não dissesse que foi por não ter tomado medidas que continuou o roubo das armas", ao que Ansumane Mané retorquiu que "enquanto ninguém fosse fuzilado por causa do tráfico de armas, esta situação não pararia".

E que aconteceu depois deste diálogo?

Nino terá dado intruções ao seu ministro da Defesa, Samba Lamine Mané, relativamente a uma carta da qual seria portador para o Presidente senegalês Abdou Diouf, a quem devia dizer que "havia oficiais detidos e que o processo de detenção dos implicados iria prosseguir".

A suspensão de Ansumane Mané das funções de chefe de estado-maior general das forças armadas seria depois ordenada por Nino, com base em declarações de detidos que sabe-se agora serem falsas.

Perante a comissão parlamentar, Mané testemunhou desabridamente ser verdade que fizera no Palácio da República a declaração sobre o envolvimento dos oficiais presentes na trafico de armas e que "o Presidente estava ao corrente dos factos". Curiosamente, o citado ministro da Defesa (Samba Lamine Mané) preferiu negar aos parlamentares as declarações assumidas por Ansumane Mané. Mas os parlamentares acabaram por depreender "ter o Presidente da República conhecimento da existência de tráfico de armas" na Guiné-Bissau, "não tendo no entanto tomado quaisquer diligências no sentido de pôr termo a essa situação anómala e ilegal". Na verdade, o chefe da secreta guineense, coronel João Monteiro, além do ministro da Defesa, está no rol dos principais suspeitos pelo tráfico de armas, onde Nino paira como a figura central e "eminência parda" do esquema.

Concluem os parlamentares que, "a confirmarem-se estes factos, incorre o Presidente da República em erro de omissão, na medida em que tendo conhecimento de práticas lesivas aos interesses do Estado, não as denunciou".

A duplicidade de Nino (face ao Presidente do Senegal e aos independentistas de Casamansa) levou um declarante citado no inquérito, o alferes Bacar Sanhá, a transmitir aos deputados que um rebelde de Casamansa, Abdulai Indjai, "acusa a Guiné-Bissau de comer dos dois lados, porque vendera armas ao Senegal, mais precisamente canhões B 10 e de 75 mm, tendo eles destruído um canhão de 75 mm em Nhássia, quando os senegaleses caíram numa emboscada".

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