![]() Em: 24-NOV-1999 Junta impõe pacto a partidos A quatro dias das eleições, o documento para partilha do Poder elaborado pelos militares continua no segredo dos deuses Luís Naves em Bissau![]() Lusa-Manuel Moura FESTA. Apoiantes animam campanha de Kumba Yala na cidade do Cachungo, 60 quilómetros a norte de Bissau Alguém exercita o clarim na base aérea de Bissalanca. O som repetitivo deve chegar ao interior da sala de reuniões onde os líderes da Junta Militar falam há horas. O tema da discussão é um documento, o pacto de regime, que hoje de manhã vai estalar com estrondo num país a quatro dias de legislativas e presidenciais. O texto, numa extensão ainda não conhecida, deverá conceder poderes especiais à Junta Militar. E só no sábado, na véspera das eleições, os partidos serão convocados para conhecer o seu conteúdo. O encontro dos militares da Junta começou de manhã. Algures no recinto da base, a banda treinava o hino nacional português e a espera prolongava-se. O debate continuou pela hora do almoço e pela hora da sesta. Lá fora, uma dúzia de jipes estacionava na sombra de uma elegante acácia, enquanto os soldados espalhados pelo recinto esperavam a voz dos chefes. Os membros da Junta concluíram a reunião às quatro da tarde. Houve uma rápida agitação. O general Ansumane Mané, comandante supremo da Junta, saiu desfardado, seguido dos restantes líderes, incluindo o primeiro-ministro, Francisco Fadul. Não houve qualquer explicação sobre o conteúdo do documento aprovado, sabendo-se apenas que ele será apresentado hoje ao Governo e no sábado aos partidos políticos. O teor deste pacto de regime parece não ser consensual, nem sequer entre os militares que venceram a rebelião de Junho do ano passado. Sobretudo, são imprevisíveis as consequências de este pacto surgir tão perto da votação. Apesar de tudo, os membros da Junta com quem tento falar evitam de imediato responder a questões sobre o texto, apenas me permitindo uma vaga curiosidade sobre a sua saúde ou o estado da família. Insisto com um dos comandantes: "E se os partidos não aceitarem?", pergunto; "Têm de aceitar", responde ele. Uma parte da sociedade guineense vai certamente aceitar alguma forma de pacto de regime. A anterior tentativa, a chamada Magna Carta, que dava extensos poderes à Junta Militar durante uma década, foi rejeitada de forma indignada. Mas um texto mais contido pode passar sem crise. A razão é simples: os vencedores da guerra têm de sair de cena de forma honrosa; acima de tudo, terá de estar resolvido o problema económico dos antigos combatentes da liberdade da pátria, a questão na origem da rebelião armada do ano passado. "O poder está na Junta Militar", lembra Carlos Schwarz, ministro do Equipamento Social e uma das figuras mais prestigiadas deste país. Crítico em relação à Magna Carta, que considerou excessiva, Schwarz defende "o princípio de uma estabilidade entre a sociedade civil e a Junta". Ao longo dos últimos seis meses, a Guiné sofreu na prática um bloqueio de financiamentos, sendo Portugal um dos raros países que contribuíram com as verbas prometidas. "Os EUA dizem que aparecem no dia seguinte às eleições", explica o ministro de um governo que se limita a "gerir a falta de fundos". Sem dinheiro, o Governo de Fadul não conseguiu cumprir a promessa de financiar os antigos combatentes, militares empobrecidos que aderiram à revolta desde o início e que, agora, permanecem no esquecimento. Schwarz diz desconhecer o conteúdo do documento ontem aprovado, mas considera que deve existir um pacto que regule a transição democrática e que os partidos o vão aceitar. "As eleições são um degrau do regresso à normalidade", diz o ministro. O pacto, adverte Schwarz, não deverá parecer aos civis como um assalto ao Poder; os militares, por seu lado, não poderão considerar o resultado das eleições como uma marginalização. "É extremamente perigoso marginalizar os militares", conclui o ministro, que é muito crítico em relação ao momento escolhido para apresentar este problema, temendo opções precipitadas. "Tudo devia ter sido resolvido ao longo dos últimos seis meses." Mas o pacto estala na última semana de uma campanha que converge do interior para a capital. A partir de hoje, todos os partidos concentram as suas atenções na área de Bissau. A agitação pacífica está a subir e a oposição, certa da sua vitória, desconfia do Poder. As ruas estão enfeitadas pelos coloridos cartazes dos inúmeros candidatos. Por ali circulam carros de propaganda e os muitos megafones parecem clarins repetitivos que interrompem a discussão dos poderosos. Candidatos deixam Bissau para o fim Com apenas mais quatro dias de campanha, os partidos políticos e candidatos às eleições da Guiné-Bissau esgotam-se para "tapar os buracos" ainda não cobertos, no interior do país, deixando Bissau para os últimos dias da luta política. A estratégia de cobrir, em primeiro lugar, as regiões do interior foi partilhada por todos os partidos e candidatos presidenciais que realizam, frequentemente, as suas acções de propaganda quase em simultâneo, separados apenas por escassas dezenas de metros ou por alguns minutos na abertura dos comícios. Foi assim com a abertura das campanhas da Resistência da Guiné-Bissau (RGB) e do Partido da Renovação Social (PRS), em Bafatá, e tem sido assim em muitas outras localidades, como Cacheu e Bissorá, onde se juntaram as caravanas do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC) e do RGB. Jornal Diário de Notícias: E-mail: dnot@mail.telepac.pt Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Geocities Guiné-Bissau, o Conflito no «site» Terràvista ![]() ![]() ![]() |