O S   F I L H O S   D E   F U K U Y A M A

                                 (LIBERA..., Brasil, # 74, julio 1997, p. 1)

   Um ciclo de debates que vem acontecendo no Chile, pais recem-saido de
uma ditadura militar de graves consequencias, pretende criar um
documento-base para as esquerdas de representativos paises
latino-americanos. Sao eles: o Brasil, o proprio Chile, Argentina e
Mexico. Esta iniciativa nao mereceria maiores comentarios, se nao fosse
pela peculiar decisao - harmonica e unanime- dos membros do encontro. A
bizarra atitude, a qual nos referimos, e a supressao da palabra socialismo
da redacao do texto final, que tem como objetivo nortear as agendas
politicas para os pleitos eleitorais nos referidos paises. 

   Seria pouco etico de nossa parte divulgar informacoes levianas, levando
a acreditar que os debates transcorreram sem divergencias de
encaminhamento ou principios. Sim elas ocorreram, mas nao em torno da
exclusao da "incomoda" palabra socialismo. Neste particular, sob a batuta
do filosofo Roberto Mangabeira Unger, de Harvard, os membros do encontro
firmaron sua comunhao, conforme publicado pela FOLHA DE SAO PAULO em 11 de
maio deste ano. 

   Segundo observadores do encontro, que pretende ja em 1998 produzir no
Brasil bases teoricas para uma frente de centro-ezquerda, os antigos
"dogmas" da ezquerda como: privatizacoes o reformas no Estado, devem ser
objeto de reavaliacoes. Depois de tantas "novedades", nos vem a mente uma
duvida natural e ate certo punto primaria. Se o socialismo foi rejeitado,
dada - segundo os ideologos do coloquio - a complexidades e variacoes das
interpretacoes do termo, o que se coloca no lugar do vazio, antes ocupado
por ele?! 

   A ezquerda institucional, que ora nos proporciona um espetaculo de
excrescencia lapidar, tem a sua disposicao um cardapio interessante e pode
optar pela defensa de um _Capitalismo democratizado_, defendido pela
grande parte dos participantes, ou ainda pela designacao petista, do
presidenciavel Tarso Genro, qual seja de um _Capitalismo regulado_. Foi
preciso sacrificar o socialismo, para que Lula e Brizola se encontrassem
em um exuberante centro de convencoes no Chile para tracarem planos
"realistas" para a ezquerda brasileira. O preco da reforma petista, passa
pela adesao as fileiras da contra-revolucao. 

   Para um partido que tem, entre outros, Emir Sader (o Perry Anderson
tupiniquim) na crista da producao de seus "designios" ideologicos, aderir
as conclusoes do nipo-americano Fukuyama, materializadas na _Teoria do Fim
da Historia_ (aceitando o Neo-Liberalismo como destino), e um papel
patetico e por demais degradante a se desempenhar. Acreditar que a
humanizacao de capitalismo e possivel, e aceitar a hipotese de que este
configura-se em _telos_, ou seja,o fim do processo de "evolucao" da
humanidade. Da mesma forma que o Partidao (PCB) nos anos 50 no Brasil,
defendia apoio a burguesia nacional, contra o imperialismo. Grande
ingenuidade, revestida de mecanica newtoniana, que levou o PCB a um
desgaste profundo, do qual nao se reestabeleceu. 

   Esta esquerda, parece obedecer a uma vocacao ou arquetipo da estupidez.
E um determinismo historico adotado com o aval das possibilidades ou
possibilismos. O mais desconcertante e que os petistas, falamos destes,
pois nao devemos "chutar cachorro morto" (PDT), sob o manto do realismo
eleitoral, acabam hipotecando suas certezas ideologicas, para um possivel,
mas incerto, resgate apos os pleitos.Chegando ao poder o PT, tera que
"regular" o capital e, por conseguinte, abrir mao do socialismo. Se for
derrotado, no jogo estabelecido pela burguesia, talvez atribua a culpa au
excesso de reivindicacoes sociais ainda existentes no programa. Em
cualquier das duas hipoteses o grande perdedor sera o socialismo. 

   Quanto da maquiagem sera necessario para "limpar" a graxa das maos (o
que ainda ha de mais autentico) dos "companheiros" do PT? 

   O aburguesamento dos partidos "operarios", quando tornan-se alternativa
do poder, ou mesmo antes, nao era estranho a Bakunin no seculo XIX e nao
deve se- lo para os anarquistas deste fim de seculo XX. Mas ainda assim,
poderiamos esperar um pouco mais de dignidade dos "combativos
companheiros", ou entao, o minimo de decencia ao despojarem-se
publicamente, de forma esquizofrenica, de seus principios. 


    Source: geocities.com/capitolhill/senate/6972

               ( geocities.com/capitolhill/senate)                   ( geocities.com/capitolhill)