C R I S T A O S   E   A N A R Q U I S T A S !

                                  (LIBERA..., Brasil, # 73, junio 1997, p. 2)

   Nos, militantes Anarquistas Cristaos de Rio de Janeiro, nos vemos
diante da responsabilidade de esclarecer algumas informacoes (ou antes,
deformacoes) publicadas no LIBERA... # 69, de fervereiro/97. Referimo-nos
a uma nota, assinada, que por conter varias generalizacoes equivocadas e
inveridicas, por si so antilibertarias, podem gerar varios mal-entendidos,
prejudicando nao so o momento de fertil reestructuracao que estamos
vivendo, mas tambem o trabalho de divulgacao das propostas Anarquistas nos
Movimentos Sociais que nos sao proximos.

   Vemos o LIBERA ... como um veiculo de divulgacao do Anarquismo em suas
varias expressoes. Ha varios anos fazemos uma distribucao dirigida (a
pessoas que demostrem um minimo de interesse por nossas ideias) do
LIBERA... em todos os locais aos quais temos acesso. Esta tarefa,
livremente assumida, embora pequena e muito aquem do que gostariamos de
fazer, limitada ainda pela dificultade de uma participacao mais efetiva
devido a um acumulo de atividade, demonstra o quanto nos identificamos e
confiamos no boletin do CELIP, embora nem sempre concordemos com todas as
opiniones expressas. O que, alias, e natural num veiculo e num Movimiento
libertario. 

   A diversidade de opinioes e puntos de vista e saudavel e desejavel, se
mantidas numa atmosfera de respeito mutuo e, principalmente, de respeito a
diferenca, a libertade de cada pessoa crer de acordo com a sua
consciencia.  Porque, se somos Anarquistas, se somos Libertarios,
precisamos ser necessariamente um poco mais que democratas. Mas nunca, em
hipotese alguna, _menos_. Porque assim estariamos abdicando, na pratica,
do Anarquismo. 

   Nos, Anarquistas Cristaos, entendemos que o Anarquismo e, antes de mais
nada, _uma ideologia politica de transformacao social_. Toda e qualquer
outra consideracao filosofica, individual ou coletiva, precisa ser vista
por este prisma. O Anarquismo nao e uma divagacao vazia de desocupados, ao
qual se agrega o que qualquer um quiser. O Anarquismo nao se presta a
devaneios e querelas filosoficas e muito menos a definicoes absolutas. O
Anarquismo e sim uma ideologia politica bastante clara e bem definida por
elaboracoes, praticas e principios que, longe de serem absolutos, estao em
permanente renovacao. O que nos proporcionou este conteudo ideologico tau
solido foi a contribucao criativa de cada companheiro e companheira -
"grandes" ou "pequenos", celebres ou anonimos - que nos precederam na
luta. Os rumos que esta luta tera serao definidos pelo que faremos com
este corpo ideologico vivo que recebemos e assumimos voluntariamente. 

   O Anarquismo e uma ideologia social. A sua legitimidade e para ser
provada na vida pratica do povo em luta. Ha muito tempo o Anarquismo faz a
sua opcao de classe: nasceu entre os trabalhadores, na luta pela
libertacao do jugo do capital, e esta luta justifica a sua imprescindivel
existencia. 

   O principio basilar do Anarquismo e a Liberdade: a Liberdade que pode
advir de uma Revolucao Social feita por trabalhadores. Mas tambem a
Liberdade de cada pessoa buscar a sua propia verdade, e o direito de crer
porque provou a sua verdade em si mismo. 

   O que nos, Anarquistas Cristaos, nao podemos de manera alguna admitir
(e pensamos que nenhum anarquista sincero o possa) sao definicoes
dogmaticas e autoritarias de "anarquismo" que, alem do mais, excluem ou
tentam excluir militantes politicamente provados em varios anos de
estrada. Que por nao se enquadrarem em tais definicoes autoritarias de
"anarquismo" ateista, nao seriam, portanto, anarquistas. 

   O Anarquismo nao e propriedade de alguns "iluminados" que decidem quem
e ou nao e anarquista. A pratica nos mostra que a estes geralmente falta
um embasamento ideologico minimo ate para definir o que propoe o
Anarquismo. 

   E nada nem ninguem, nem preconceito nem dogma, pode querer impedir que
o Anarquismo encontre as pessoas que buscam a Liberdade na luta cotidiana,
na vida. Nenhum visao estreita e fanatica de ateismo pode ser um obstaculo
para que _qualquer_ pessoa sinceramente interessada, descubra-se
_anarquista_. 

   Quanto a nos estamos tranquilos, porque a nossa pratica e nosso
trabalho respondem por si. E tambem porque nao somos os primeiros a
afirmarem-se Cristaos e Anarquistas _convictos e coerentes_. Nao somos nem
os primeiros, nem os melhores. Poderiamos citar uma lista razoavel e dar
exemplos de como esta questao ja foi tratada, inclusive por ateistas ou
descrentes, de forma lucida e construtiva. Mas achamos que nao cabe aqui,
neste Manifesto. 

   E preciso dizer que nao buscamos polemicas. Buscamos sim um dialogo
leal com qualquer pessoa ou grupos interessados em discutir e aprofundar
estes assuntos. Mas a polemica esteril e rancorosa, que divide e
imobiliza, evitamos com a seguranca e a firmeza de que, assim como nunca
intentamos convencer ninguem a pensar como nos, da mesma forma esperamos
ser tratados. Porem, se ainda assim o "espirito de polemica" quiser
arreganhar seus dentes, propomos que a coisa seja tratada da seguinte
forma: ao inves de querelas interminaveis que nada acrescentam (nao
havendo respeito mutuo), que cada uma das partes prove a sua verdade na
arena da vida concreta, na luta dos trabalhadores, dos estudantes, dos
desempregados, nos Movimentos Sociais. Porque e si que queremos, todos,
ver o Anarquismo atuando e fermentando. 

   Nos, Anarquistas Cristaos, publicamos este Manifesto visando esclarecer
todas estas questoes, por entendermos que nos afetam diretamente e tambem
ao trabalho que desenvolvemos junto aos Movementos Sociais. E por acharmos
que ja era hora de fazer ouvir nossa voz. Esperamos que haja outras vozes
e que elas expressem estes sentimentos melhor do que nos. Mas estamos
convictos de que, mesmo que so houvesse uma unica voz, ela mereceria ser
escutada, pelo menos entre os anarquistas. 

                    Anarquistas Cristaos de Rio de Janeiro / Fevereiro, 1997.

NOTA: Qualquer contato com os/as autores/as desta materia, escrever para a 
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