Visão de Mundo, Paradigmas e Comportamento Humano
por
Carlos Antonio Fragoso Guimarães
Charlie Chaplin em Tempos Modernos
Uma palavra que vem sendo muito utilizada - e
infelizmente, muito mal utilizada, até mesmo para
justificar as mazelas do mecanicismo - com o fim de discernir a sutil mudança da
sociedade a partir de uma nova
maneira e/ou de novos insights compreensivos sobre a forma de se
compreender o mundo: a palavra
paradigma geralmente na utilzada no contexto de mudança de paradigmas,
ou seja, a mudança de um conjunto de idéias básicas generalizadas e compartilhadas sobre a maneira de funcionar do mundo para
novas possibilidades de entendimento do real, mudando-se ou ampliando-se o
entendimento convencional do real. Esta palavra foi popularizada pelo físico Thomas
Kuhn em seu livro A Estrutura das Revoluções Científicas, publicado em
1962.
A palavra
paradigma significa, portanto, um modelo ou um conjunto das formas básicas e dominantes do modo
de se compreender o mundo e o modo de uma sociedade ou mesmo de uma civilização - do
modo de se perceber, pensar, acreditar, avaliar, comentar e agir de acordo com uma visão particular de mundo, numa descrição
mais aceita, culturalmente repassada pela educação, do que seja a nossa realidade, numa bem
sucedida maneira de
ver, se ver, nos vermos o/ou o mundo e que é
culturalmente transmitida às novas gerações. Atualmente, vivemos numa era onde
o triunfo capitalista estabelece algumas idéias como sendo
"naturais" tais como a competitividade, a eficácia tecnológica e
que o acúmulo de conhecimentos técnicos tão amplamente cultivados e incentivados, dentro do contexto de uma sociedade
industrial e tecnicista qual a nossa, é o processo comum de se atingir o
progresso geral, e onde as únicas avaliações válidas são as dos balanços
contábeis sobre mercadorias, pouco ou nada se importando com o
desenvolvimento humano ou com a preservação da natureza, a não ser se esta
lhe trouxer lucros imediatos.
Assim, valores mais
humanos, como irmandade, cooperação, comunidade, união e partilha de bens e informações soam
estranhas, ultrapassadas ou sem um sentido de mercado utilitarista/pragmático
dentro deste universo de entendimento/comportamento competitivo atual.
A"mentalidade" dominante aceita leva a um comportamento compatível com a mesma,
por isso podemos dizer que a época atual é a época do individualismo
parcial levado ao
mais alto grau, pois assim são, também, as empresas e instituições privadas,
detentoras dos meios de produção e do processo de formação e distribuição de
riquezas, ao mesmo tempo que da impessoalidade provinda da cultura e consumo
de massas ligadas à indústria de produção em série e ao mercado
financeiro e, por isso, as detentoras do acesso, ou não, da população ao
mercado de trabalho. Como detêm o dinheiro e, conseqüentemente, o PODER
econômico e político, estes não se cansam de gritar aos quatro ventos (com
a conivência da mídia comercial) o capitalismo é o estado natural da
humanidade. Se existem pessoas, grupos e organizações não governamentais
que se preocupam com o homem, eles dão de ombros, pois a única coisa que
realmente lhes é significativa é o máximo lucro obtido no menor prazo de
tempo possível. Os homem só tem significado como produtor ou consumidor
anônimo (de preferência, como consumidor) de mercadorias, tendo, ele
próprio, se transformado em mercadoria no que se refere à questão do
trabalho assalariado, ou como apêndice da máquina. De qualquer modo, a
mercadoria, como objeto de venda e de lucro, tem primazia sobre o homem, pois
este além de "dar trabalho", é mais indócil que a mercadoria, que
não se pode queixar da alienação, infelicidade e desajuste social. Aliás,
quanto menos "homens" em uma fábrica, maiores os lucros. O
mais grave, porém, é que esta visão mecanicista e mercadológica de mundo
é imposta constantemente pelos meios de comunicação, e, como uma sutil
lavagem cerebral, vai sendo incorporada ao psiquismo coletivo, sem grandes
questionamentos.
Lewis Munford observa que "Cada
transformação do homem... apóia-se numa nova base ideológica e metafísica
(= visão de mundo); ou melhor, sobre as comoções e intuições mais
profundas, cuja expressão racionalizada assume a forma de uma teoria ou visão
de cosmos, homem e natureza" (cit. in Harman, 1989).
Cada sociedade
existente ou que já existiu tinha por base - o que lhe dá ou davam suas
características próprias - alguns pressupostos comuns, compartilhados a toda a sua
população, ou à uma parcela significativa dela, na forma de um conjunto de
premissas básicas que dão identidade à uma forma de ser no
mundo. Estas pressuposições básicas são formadoras do pensamento
coletivo e constituem um conjunto de referenciais teóricos (ainda que tacitamente
vigentes) e que estabelecem em linhas gerais quem somos, em que
tipo de universo estamos, e o que é importante ou não pa nós (ou que pensamos
ser para nós). Muitas destas pressuposições são visíveis na constituição
de instituições e costumes culturais (por exemplo, na divisão tripartite
dos poderes no Estado moderno, elaboração e criação feitas pelo Iluminismo), padrões de
pensamento e sistemas de valores vigentes na sociedade, e são tão aceitas,
como lugar comum, que são ensinadas de modo indireto pelo contexto social em
que se vive, ou/e tão assimiladas e introjetadas que passam a ser encaradas (caso
se pensam nelas), como o óbvio (por exemplo, a competitividade das pessoas
refletindo a das empresas que, por sua vez, refletem a "natural"
competitividade animal - que realmente tem bem pouco da feroz competitividade
refletida do homem,etc) e dificilmente são questionados.
Mas, dentro de nossa época mecanicista e
altamente neurótica, que tipo de evidência há que nos mostre que isso, esse
império ideológico, está a
se transformar? Bem, para podermos indicar estes indícios ( uma pessoa do
século XVII também não tinha muita consciência da revolução científica que
estava se processando em seus dias ) teremos que nos ater ao modo como a
ciência tem formulado a atual visão de mundo, visão mecânica e pragmática, bem
evidenciada, enquanto crítica social, no filme Tempos Modernos, de
Charlie Chaplin...
Em todo o processo de desenvolvimento humano,
nossos atos sempre seguem em harmonia com um entendimento ou concepção de
mundo, já o dissemos. Igualmente, por ser formada por homens, a ciência, em todas as suas
fases de desenvolvimento, nos mostra que a teoria e a prática científicas são
baseadas em uma visão de mundo implícita, em especial na dos econômicos
setores que financiam a pesquisa científica. Ou seja, tanto o homem/mulher
comum quanto o cientista - que também é um homem/mulher comum com um
treinamento mais aprofundado em certas técnicas de pesquisa, procuram
explicar os fenômenos que lhes interessam dentro de um conjunto de
pressupostos mais ou menos conscientes, que são as linhas lógicas que
estabelecem o vínculo do raciocínio. A diferença entre o homem comum e o
cientistas está em que este último geralmente adota - e isto é ainda mais real
na ciência moderna - um conjunto de pressupostos que o fazem explicar os
fenômenos de uma maneira apropriada a certos critérios aceitos como sendo
científicos, critérios estes que em muitas ciências apresentam um aspecto reducionista, ou seja,
explicado a partir da redução de fenômenos complexos a certos elementos ou acontecimentos
elementares. O sucesso e o poder deste método é o que estabelece que
o que é "verdadeiro" é o que pode ser enquadrado no critério da
medição, da mensuração e das relações numéricas, garantido a tal da
objetividade científica, ou seja, de fatos constatáveis por todos (ou
quase todos, já que o formalismo matemático há muito que se transformou numa
linguagem esotérica, acessível a uma minoria de iniciados ), sendo as impressões
psicológicas e emocionais elementos subjetivos que devem ficar longe do
domínio do cientificismo - crença irracional e fanática na
"verdade" e no "poder" da ciência - a nova
"religião" dominante, mesmo não sendo necessariamente a melhor...
Esta
tendência matemática e reducionista da ciência teve inúmeras repercussões e
trouxe, sem dúvida alguma, seus frutos úteis, principalmente por distinguir as
explicações objetivas de interpretações simplórias como as dos caprichos de
deuses, demônios e outras entidades fantásticas, ou de interpretações
equivocadas, como os postulados da física de Aristóteles, ou a visão de
universo de Ptolomeu, por exemplo. Porém, como todo conhecimento humano,
está vinculada a uma época, é fruto de um momento histórico e possui suas
limitações, tanto que teorias - por mais bem sucedidas que sejam em dado
momento - são sempre substituídas por outras, ainda melhores.
Nunca é demais falar do impacto deste
paradigma dito "científico" nas chamadas ciências humanas. Por exemplo, em
Psicologia e Neurologia, até fins dos anos 50, a principal característica
básica das ciências do comportamento estava na ênfase em que somente atitudes
e estímulos mensuráveis poderiam ser pesquisados seriamente; daí a forte
influência do Behaviorismo na América capitalista, tendo moldado várias
gerações de psicólogos. Nestes termos, o domínio da experiência psicológica
subjetiva só poderia ser considerado se fosse redutível à análise e medida do
comportamento observável, dentro dos critérios de estímulo e resposta.
Enfoques que tentavam a tratar da percepção e da consciência, como a das
escolas da Gestalt , fenomenologia e outras, eram desprezadas, e só a
muito custo - devido ao poder político dos médicos - a psicanálise pôde fincar
raízes nos meios acadêmicos da América. Cientistas comportamentais
(behavioristas) se mostraram altamente contagiados pela obsessão de fazer de
sua ciência uma "física humana" ao proclamarem que uma psicologia só
seria confiável se fosse erguida sobre sobre os critérios de estímulos e
respostas, como as forças de ação e reação da dinâmica newtoniana, e que era
pura fantasia tentar erguer uma ciência calcada em relatos individuais de
experiências subjetivas internas. (Harman, 1989; Capra, 1986; Grof, 1988).
A sociologia, ciência que teve seu nascimento
formal em meados do século XIX, se desenvolveu justamente no rastro da
racionalidade cada vez mais materialista das ciências naturais e
físicas [pré-Einsteiniana e pré-física-quântica] e de seu método
cartesiano, já obtido o amplo reconhecimento da academia como de extrema
eficácia para se atingir uma "verdadeira" compreensão da natureza,
e, portanto, apta a substituir as cristalizadas e enferrujadas religiões
dogmáticas para explicação da origem e funcionamento do mundo. A
possibilidade de descobrir todas as leis naturais do mundo, seguindo o exemplo
bem sucedido as leis do movimento de Newton, por meio de procedimentos de
experimentação, dedução e indução, por terem sido bem sucedidos na
biologia e na medicina (embora em parte), havia estimulado uma euforia
racionalista e acabando por adquirir "parte da sacralidade que
antes pertencia às explicações religiosas: a de descobrir e apontar aos
homens o caminho em direção à verdade. A ciência já não parecia uma
forma particular e especializada de saber, mas a única cazpaz de explicar a
vida, abolir e suplantar as crenças religiosas e até mesmo as discussões
éticas. Supunha-se que, utilizando-se adequadamente os métodos de
investigação, a verdade se descortinaria diante dos cientistas - os novos
'magos' da civilização -, quaisquer que fossem suas opiniões
pessoais, seus valore éticos sobre o bem e o mal, o certo e o errado "
(CRISTINA COSTA, Sociologia, p. 41 Ed. Moderna, 1999).
Assim sendo, a ciência têm estimulado e influenciado uma visão de mundo em que
tudo o que existe existe de forma fortuita e se relaciona com as demais
coisas de uma maneira mecânica, previsível, controlável e mensurável. A
mesma maneira pela qual deve seguir e agir o mercado financeiro que junto com
a indústria financiava e promovia o desenvolvimento da ciência e da
tecnologia...
O sucesso desta abordagem em psicologia
sempre causou algum incômodo em todos, até mesmo entre os behavioristas, e
atingiu muitas pessoas. O romance de Anthony Bourughs, A Laranja
Mecânica, posteriormente transformado em um filme de sucesso dirigido por
Stanley Kubrick, fez uma ácida crítica ao pensamento mecanicista behaviorista,
que teve seu maior teórico em B. F. Skinner. Afinal, se a consciência não
existia senão como um epifenômeno biológico, como dar valor a única realidade
experiencial direta que temos que é a nossa percepção consciente??? É algo
muito estranho, anti-natural mesmo, que a ciência queira repudiar a
consciência como "uma realidade causal", quando temos a profunda convicção e
certeza de que é o nosso querer, junto com a nossa reflexão íntima, em suma,
nossa consciência que nos faz agir sobre o mundo e decidir nossas ações.
E se a mente não existe a não ser como
subproduto da atividade cerebral assim como a urina é um subproduto dos rins,
que tipo de conseqüências isso traz com respeito aos valores e ao
livre-arbítrio humano? A mente existe ou não existe? O que é que, dentro do
cientista, compreende, escolhe, aprende, "intui" e explica? Segundo a ciência
mecanicista, as maravilhas do pensar humano nada mais são que frutos da
complexidade de um cérebro que se desenvolveu de modo casual e acidentalmente
através de longos milhões de anos de evolução cega, submetido a um tipo de
"seleção natural" igualmente mecânico. Guardando as proporções, isso é o mesmo
que dizer que um satélite espacial de telecomunicações pode muito bem surgir
da explosão de uma mina de ferro e de silício. Sendo assim, tanto o pensar
racional humano, quanto os instintos dos animais, bem como o desenvolvimento
de sistemas fisiológicos altamente complexos e inimitáveis, como os olhos, nada
mais seriam que fortuitas combinações de átomos que deram certo ao longo de
uma evolução sem objetivo algum além do de se combinar elementos bioquímicos
de acordo com as leis da natureza juntamente com a mágica da seleção
natural.
Mesmo que algo nesta concepção de
realidade (advinda de uma visão de mundo onde toda a natureza e as criaturas
que a habitam não passam de máquinas biológicas, mas máquinas assim
mesmo) nos deixe meio que desconfiados de que algo de importante está sendo
deixado de lado, ela foi amplamente aceita e, por sua força e influência,
rejeitou todas as inúmeras evidências de que esta explicação, na verdade,
explica muito pouco e mal a realidade em si. Aliás, foi este tipo de visão de
mundo que veio a desacreditar muitos dos valores humanos e humanistas,
incluindo os de igualdade e fraternidade, lema de todas as revoluções. Além
disso, existiam certos acontecimentos e fenômenos que não se encaixam de modo
algum dentro desta visão de mundo mecanicista global e constituem-se em
verdadeiras anomalias desta abordagem. Através dos séculos, das culturas, das
modas e dos acontecimentos, fala-se sempre de um tipo específico de fenômenos
psicológicos que escapam gritantemente da abordagem mecanicista da
ciência, entre eles a telepatia, a intuição, a vidência à distância e muitos
outros, confirmados por pesquisadores sérios e célebres (Jung, 1987;Grof, 1988;
Weil, 1986; Fadiman & Frager, 1986). A ciência convencional ofereceu um
grande número de explicações possíveis e prováveis, algumas delas tão
complexas quanto realmente fantasiosas, na tentativa de demonstrar que, por
não estarem de acordo com o paradigma vigente, estes acontecimentos não
passam, na melhor das hipóteses, de equívocos. Vários cientistas de grande
competência se alistaram de ambos os lados, dos que acreditam na veracidade
dos fatos transpessoais, e
dos que os negam. De qualquer forma, cresceu muito os que engrossam a filas
dos primeiros nos últimos trinta anos (Walsh & Vaughan, 1992).
O que mais irrita nestes ditos
"fenômenos anômalos" aos cientistas mecanicistas é o fato de que eles parecem
confirmar que a mente, esse ser fictício, pode agir diretamente sobre
os meios físicos. Só que eles se esquecem de que é isso mesmo que ela faz o
tempo todo, em nossas vidas. É a minha decisão mental de andar que me leva
daqui para ali, e são minhas atitudes mentais frente à vida e às dificuldades
externas que me levam a tomar atitudes, que criam ou atenuam nosso stress e
que, em última análise, influenciam todo o meu organismo e meu comportamento,
como vemos nas sessões de hipnose, biofeedbak, etc. A mente pode até mesmo
causar doenças, como o câncer, como já está mais que suficientemente provado
por inúmeras pesquisas, assim como pode levar a melhoras e a cura, como no tal
efeito placebo. Seria muito irreal negar, como fazem os grandes cientistas
mecanicistas, especialmente os behavioristas radicais, que a nossa mente não
tem qualquer efeito sobre as nossas ações no mundo físico. Assim sendo, o
posicionamento de vários cientistas de vanguarda, tais como Carl Jung, Roger
Sperry, Fritjof Capra, Stanislav Grof e inúmeros e inúmeros outros ao
enfantizar a realidade mental como uma realidade causal traz um impacto
semelhante ao de Copérnico ao reformular os sistemas astronômicos no século
XVI, dando início à revolução científica que teve nomes como Galileu,
Descartes, Newton, LaPlace e tantos outros.
Roger Sperry, prêmio Nobel de Medicina
em 1981, escreveu um artigo para a Annual Review of Neuroscience, de
1981. Tradicionalmente, esse artigo deveria passar em revista as conquistas da
abordagem biomédica na abordagem mecanicista da ciência, reforçando a visão de
mundo reducionista convencional. Mas, ao contrário, Sperry tratou da área e da
importância da experiência subjetiva, que, de certa forma, ainda era
negilgenciada, e demonstrou o progresso em ciências biomédicas em termos do
interesse de alguns pesquisadores no estudo da consciência:
"Os conceitos atuais da relação mente-cérebro envolvem uma absoluta ruptura com as doutrinas materialistas e
comportamentais, há muito instituídas, e que dominaram a neurociência
por muitas décadas. Em vez de renunciar à consciência ou de ignorá-la, a
nova interpretação confere pleno reconhecimento à primazia da percepção
consciente interior como realidade causal".
Como nos diz Willis Harman, "assim como a
frase 'A Terra gira ao redor do Sol' converteu-se, de certa forma, na
súmula inadequada da revolução copernicana, assim também tornou-se 'a
consciência como realidade causal' a súmula da 'segunda revolução
copernicana' (Harman, 1989). Mas, seguindo o pensamento de Harman, devemos
lembrar, recordando-nos da insistência de Sigmund Freud, de que nossos
processos mentais inconscientes também são processos causais, definindo muito
de nossas crenças e comportamentos. Assim, precisamos estudar a amplidão
destes elementos nas crenças inconscientes.
Freud, Jung e outros teóricos têm
constantemente demonstrado que todos nós temos uma série de crenças que nos
faz - de modo automático - conceitualizar a nossa experiência, pessoal e
coletiva. São crenças quanto à história, crenças quanto ao futuro, quanto ao
que deve ser valorizado ou feito. Mas, o mais importante, é que algumas destas
crenças são inconscientes.
Freud demonstrou que as pessoas, sem se dar
conta destas crenças inconscientes, as deixam transparecer por inferência de
seu comportamento, por exemplo, no caso clássico dos lápsos de linguagem, ou
dos atos compulsivos, dentre tantos outros. Um outro caso clássico, visível na
psicoterapia e na educação, é a crença inconsciente na própria inferioridade
ou incompetência, mesmo que, conscientemente, se diga o contrário. E, assim,
estas pessoas acabam por promover ações e ocorrências que lhes indicam a sua
incongruência íntima, usando a terminologia de Carl Rogers.
Assim, embora tenhamos consciência de uma
grande parcela de nossas crenças, as que estão fora de nossa percepção
consciente nem por isso deixam de estar atuantes, influenciando nossos
comportamentos. O grau de autonomia individual vai depeder do graude
congruência psicologógica do indivíduo, tal como nos expressa Rogers. Não
sabemos, realmente, do grau de crenças ou no que acreditamos
inconscientemente, mas é muito provável que estas sejam de uma ordem ou
qualidade bem diversas de nossas crenças conscientes (Freud, 1916; Grof, 1988;
Harman, 1989).
"O sistema total de
crenças de uma pessoa consiste num conjunto de crenças e expectativas
- expressas ou não, implícitas e explícitas, conscientes e inconscientes - que ela aceita como verdadeiras com relação
ao mundo em que vive.
"Esse sistema de crenças não precisa
ter consistência lógica; na verdade, provavelmente nunca a tenha. Pode ser
dividido em compartimentos contendo crenças logicamente contraditórias que,
de maneira típica, não assomam à percepção consciente nas mesmas ocasiões.
Inconscientemente, a pessoa rechaça os sinais que possam revelar tal
contradição interior. Observem que essa decisão de não se tornar
conscientemente cônscio de algo é inconsciente. Nós optamos, como também
acreditamos inconscientemente (...)
A forma como percebemos a realidade é
fortemente influenciada por crenças, adquiridas do meio, de forma
inconsciente. Os fenômenos de recusa e de resistência na psicoterapia
ilustram a intensidade com que tendemos a não ver coisas que ameaçam imagens
profundamente enraizadas, conflitantes com crenças bastante conservadoras.
Pesquisas sobre hipnose, auto-expectativa e expectativa por parte do
pesquisador, autoritarismo e preconceito, percepção subliminar e atenção
seletiva, demonstram reiteradamente que nossas percepções e 'verificações'
da realidade são influenciadas. muito mais do que geralmente se acredita,
por crenças, atitudes e outros processos mentais, sem o que grande parte
desses processos é inconsciente. Percebemos que o que esperamos, o que nos
foi sugerido que devêssemos preceber, o que 'precisamos' perceber - a tal
ponto que poderíamos ficar chocadas se o percebêssemos
conscientemente.
"Essa influência de crenças sobre a
percepção se intensifica quando um grande número de pessoas acredita na
mesma coisa. Os antropólogos culturais documentaram em detalhe de que modo
pessoas que crescem em culturas diferentes percebem com clareza realidades
diferentes".
Willis Harman, 1994
Os fenômenos da sugestão hipnótica nos
mostram muito claramente, e de forma dramática, o quanto a mudança de crenças
podem alterar a percepção e a sensação, até mesmo fazendo o sujeito "ver",
"ouvir" e "sentir" um objeto ou pessoa que não está presente. Enfim, o nosso
modo de "perceber", "sentir" e "experimentar" a realidade é altamente
condicionado por nossas crenças arraigadas, principalmente as crenças
paradigmáticas coletivas. Estas crenças, por sua vez, são afetadas
positivamente pela maneira de atuar sobre a realidade, a partir de seus
referenciais - que, claro, reforça as crenças e o paradigma. Se ocorre alguma
"anomalia", sentimo-nos tão pouco à vontade, que relegamos o fato ao mundo do
erro de experimentação, ilusão ou simplesmente são esquecidos.
"Pois bem, cada um de nós, a partir da
infância, está sujeito a uma complexa série de sugestões advindas do meio
social que, com efeito, nos ensinam a perceber o mundo" (Harman, 1994).
Por exemplo, todos nós sabemos como uma visão de mundo bastante tendenciosa é
posta por meio da propaganda do atual governo Federal brasileiro, altamente
incongruente com a realidade nacional. Da mesma forma, a sociedade e a cultura
nos passam uma visão de mundo que, para ela, é o correto, mesmo que surjam o
tempo todo fenômenos que lhe apontem as mazelas.
De fato, vivemos hoje uma era de defesas e contradições
altamente racionalizadas, na busca frenética pela justificação destas nossas
mesmas contradições, tomando por base o sistema capitalista. Segundo Antônio
Houaiss e Roberto Amaral, "os raciocínios fundadores de certas práticas,
mais que teorias, de certa parte da imprensa internacional e da quase
totalidade da boa imprensa terceiro-mundista, e, nela, conspicuamente, a
brasileira, autoritariamente unânime, são uma ciranda de lógicas e paralógicas
que assumem ares de filosofia da História e se fazem triunfalistas, condenando
não apenas os erros do passado, mas - como se apresentam oniscientes - os
erros presentes e os erros futuros: fora do capitalismo - com suas
moralizações, o imperialismo (...), o transcapitalismo, o gerencialismo, o
oligomonopolismo, o monopólio da mente, da técnica e da ciência, da formação e
da informação... a Globalização econômica (sob os auspícios dos EUA,
evidentemente), enfim - fora do capitalismo (repitamos) não há salvação,
tanto (é óbvio) para os já salvos, quanto (é muito mais óbvio) para os
salvandos, salaváveis e salvaturos: a estes, só se lhes pede compreensão,
inteligência e paciência. Apenas mais dois, três seculozinhos, quem
sabe?"(Houaiss & Amaral, 1997, adaptado).
Um outro exemplo, o capitalismo, em sua
guerra ao comunismo detrator dos direitos humanos, financiou um grande número
de golpes militares na América Latina e Ásia, cujos horrores e torturas aos
civis são indizíveis. Da mesma forma, a industria sofisticada - em seu mito de
progresso material - tem sido um verdadeiro câncer ecológico, rompendo o
bem-estar de inúmeras pessoas, povos e espécies, principalmente nos trópicos.
Ou, então, impõem seu sistema de tratamento, por exemplo, da saúde, como
prevenção a que doenças do Terceiro-Mundo não atinja os países do Primeiro
Mundo, muito embora a Educação em Massa seja um aspecto negligenciado,
taticamente, nos primeiros países, mas extremamente bem sucedida nos últimos.
O mito do super-sábio médico alopata, o super sacerdote da saúde,
financiado pelos cartéis da indústria farmacológica, tem feito mais de um
profissional inflar seu orgulho, mesmo às custas de vidas humanas, etc. Mas
estas experiências que são apontadoras de anomalias são, sempre, "corrigidas"
para que, através de racionalismos, não sejam mais percebidas, graças ao poder
do paradigma dominante... "E, sendo assim, cada um de nós é literalmente
hipnotizado desde a infância para perceber o mundo da maneira pela qual as
pessoas da nossa cultura o percebem" (Harman, 1984).
Mais uma vez nos ensina os professores Antônio Houaiss
e Roberto Amaral, como exemplo máximo dos papeis do paradigma
cartesiano na economia e na política de nosso país: "O Brasil, segundo
o BIRD (Banco Interamericano de Desenvolvimento), conquistou, em 1996, pelo
segundo ano consecutivo, o troféu de campeão mundial de desigualdade social,
disputado com Botswana, jovem país africano. De acordo com o IPEA (Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas), do Ministério do Planejamento, os 50% dos
brasileiros mais pobres detinham 11,6% da renda nacional. Em 1994, os mesmos
50% detinham 10,4% da renda nacional. Apesar da pequena melhora, a situação de
1995 é pior que em 1991, quando os 50% mais pobres detinham 13% da renda
nacional. Também em 1995 os 20% mais ricos ficaram com 63,3% da renda nacional
(...) (cf. "Brasil é campeão da desigualdade social", in Folha de São
Paulo de 09.07.97) (Houaiss & Amaral, 1997, página 231). Apesar
desta gritante desigualdade (sem falar em inúmeras outras, como a da
distribuição agrária, estúpida e opressora desde os descobrimento do Brasil),
a mentalidade da maior parte da "elite" nacional concorda com a forma de
administração do governo dentro dos padrões liberais ditados pelos países
economicamente dominantes, pois o mote do Neoliberalismo implica em que tudo
isso (a concentração de renda nas mãos de uma minoria) é normal dentro do que
se chama do neodarwinismo econômico e político: "a disputa de mercado pelos
países (e dentro de cada país pelos seus nacionais entre si) é um processo de
seleção do mais forte, e por isso o capitalismo de hoje é o capitalismo de
quem tem a melhor capacidade de sobreviver. A neossemântica não fala mais nem
em lei da selva, nem em imperialismo: o discurso dominante varia entre
'modernidade' e 'globalização' (...)" (Houaiss & Amaral, 1997, página
232). No final, como bem colocam os ditos autores, o mundo foi reduzido a
gráficos e contas de onde foi expulso, e se considera penetra indesejável, o
ser humano. Mais uma vez percebe-se o quanto os modelos científicos - que
descrevem simbolicamente as principais características ou dimensões dos
fenômenos que representam - moldam-se e se combinam no sentido de se transformarem em óculos que determinam a percepção e a filtragem do que
aceitamos como realidade. No caso, a teoria biológica evolucionista de
Darwin, com sua ênfase na sobrevivência do mais forte, cai como uma luva na
justificação das contradições humanas do capitalismo, que, por sua vez,
incentiva uma ciência sempre mais voltada para uma compreensão "darwinista" da
natureza, ad infinitum, na aberração chamada Darwinsmo Social. Algo semelhante foi feito pelos nazistas a
partir da genética, com base numa tal pseudo-superioridade da raça
ariana...
"(...) Os modelos, em especial quando implícitos,
pressupostos ou não-questionados, vêm a funcionar como organizadores
auto-realizáveis e autoproféticos da experiência, que modificam a percepção,
sugerem áreas de pesquisa, dão formas à investigação e determinam a
interpretação dos dados e experiências. A natureza auto-realizadora e
autoprofética desse processo indica que os modelos são autovalidadores. Isto
é, os seus efeitos na percepção e na interpretação favorecem a sua própria
validade, moldando a percepção de maneiras autoconsistentes. Em outras
palavras, tudo o que percebemos tende a nos dizer que os nossos modelos e
crenças são os corretos, em detrimento de outros, de outros pensadores e de
outras culturas. O maior perigo desse efeito reside no fato de a sua operação
ser quase toda inconsciente (...)" (Walsh & Vaughan, 1992, página
19).
Mais de um antropólogo e outros cientistas
sociais descrevem como algumas sociedades ditas primitivas usam de certos
"poderes", que para o ocidente são impossíveis, de modo corriqueiro em suas
vidas diárias, e que funcionam tanto quanto as terapias respeitadas
convencionais do ocidente. Temos assim os xamãs, os médiuns, os curandeiros e
muitos outros. É até interessante como um sistema não ocidental de cura e
tratamento de doenças, como o chinês, tenha tido uma aceitação considerável
entre os médicos ocidentais, já que ele se apóia num conceito de
corpo-mente-energia que é desconhecido na alopatia ocidental, tendo apenas
analogia com a homeopatia. E hoje, usando de seu poder político, os médicos
brasileiros conseguiram que só eles possam usar a acupuntura...
Outros fenômenos que antes eram considerado
impossíveis, como o auto-controle das funções corporais como batimentos
cardíacos, temperatura corporal e pressão sanguínea que são freqüentes entre
os yoguis indianos, são agora reconhecidos como possíveis, através de
experimentos técnicos de biofeedback.
Estes vários exemplos ressaltam a
dificuldade que temos em reconhecer o quanto a 'realidade' que percebemos é peculiar à nossa hipnose
cultural. Tendemos a achar curioso o fato de que outras culturas 'tradicionais' ou 'primitivas' percebam
a realidade de forma discrepante do ponto de vista global da ciência
moderna. É muito penoso alimentar o pensamento de que nós, na moderna e
tecnológica sociedade ocidental, podemos ter as nossas próprias
peculiaridades culturais quanto ao modo de perceber o mundo, e de que nossa
realidade possa ser tão intrinsecamente provinciana quanto a da Idade Média
nos parece hoje. Uma vez que a ciência ocidental é o 'melhor' sistema já concebido de saber, parece razoável que
consideremos nossos valores 'normais', nossas
preferências 'naturais' e o nosso mundo percebido e
medido, como uma máquina sujeita ao homem técnico, o 'real " (Harman, 1994, com adaptações).
Onde está os indícios de que nosso
paradigma está se modificando? No reconhecimento das falhas de nossa visão
de mundo e no ressurgir de uma concepção mais ogânica,
holística,
ecológica,
transpessoal
e humana
do homem na natureza. Na aceitação de que nossa
visão de mundo não é a melhor. Que as outras, em sua diferença, têm muito a
nos dizer e ensinar, inclusive sobre nós mesmo... de que o universo é muito
mais sutil e complexo do que o que nos faz crer nossa "vã filosofia"
científica, ou melhor, cientificista...
É interessante notar o paradoxo entre algumas
ciências humanas, ansiosas por fazerem de suas disciplinas campos mais
científicos de acordo com os paradigmas da física clássica newtoniana, e a
grande mudança de paradigma ocorrida na própra Física moderna,
cada vez menos mecanicista e determinista.
Desde a revolução conceptual ocorrida na década de
vinte, com o desenvolvimento da Física Quântica, que está cada vez mais
claro - pelo menos para muitos físicos célebres e importantes - que a
ciência, através de seu desenvolvimento e descobertas, apresenta uma visão
de mundo que é apenas um modelo, ou um mapa temporário, uma
construção intelectual, parcial, da realidade, e que deve passar por
inúmeros retoques, ou até mesmo ser completamente reformulado, através do
tempo, à medida que novos insights e novas descobertas - muitas
delas incompatíveis com a visão de mundo dominante - ganham terreno.
Portanto, para muitos físicos, filósofos, psicólogos e antropólogos, bem
como para ecologistas e outros estudiosos sistêmicos, não é surpreendente
a
descoberta de que um dado modelo é como uma janela que nos permite ver parte
da realidade sem, contudo, apresentar uma adequada visão para toda a
complexa realidade, que extrapola - e muito - a área de observação da
janela-teoria aceita.
O conceito de complementaridade,
introduzido por Niels Bohr na Física, pode muito bem ter sido um dos pontos
altos mais significativos da ciência nos últimos duzentos anos, levando a um
processo de maturação em ciência cujas conseqüências ainda trarão gratas
surpresas. Por este conceito, formas aparentemente contraditórias de se
compreender uma fenômeno passam a ser aceitas como complementares,
integrando o conhecimento que temos. O exemplo clássico é o do estudo dos
fenômenos luminosos, onde modelos de descrição das características da luz -
os modelos ondulatórios e de partículas - que, pelo paradigma clássico são
incompatíveis - passam a ser ambos aceitos para a descrição de certos
aspectos observáveis da luz. Da mesma forma, as ciências humanas bem que
podem romper com os grilhões de sua obsessão mecanicista-mensurável para se
lançar numa integração complementar de teorias que englobassem, como na
física, sistemas complementares corpo-mente-consciência-ecologia.
Sem tocarmos em inúmeros exemplos da Física,
onde o paradigma mecanicista e reducionsta ruiu completamente, como vemos
muito bem exemplificado na Teoria de Bell, e outras, basta por hora citar
que o grande físico teórico David Bohm formulou uma teoria holística onde
não podemos jamais entender a realidade em termos de campos ou partículas
apenas; é necessário perceber o todo não fragmentado,
as caraceterísticas do conjunto, não a análise sempre mais fragmentada das
partes.
Este entendimento da evolução perceptual na
ciência modelo, a Física, pode nos liberar para vôos mais altos num sistema
mais complexo que o da matéria inerte e mercantilizável, cujos valor
extrapolou o domínio do paradigma científico e atingiu sistemas complexos,
qual a da sociedade humana que, de tão fiel à visão reducionista da ciência
clássica, acabou por se fragmentar e mecanizar ao extremo.
Isso aponta para grandes paradoxos de nossa
civilização, tal qual a corrida armamentista incontrolável, aumentando as
possibilidades de uma catástrofe bélica, em nome da segurança
nacional, mas, na verdade, em nome da hegemonia da atual única
super-potência, ou a desigualdade da distribuição de riquezas, amparadas
que são por gráficos extremamente belos em termos cartesianos, mas
humanamente pífios. E neste desequilíbrio extremamente doloroso, desumano,
cruel e cínico, as organizações políticas colocam em posição de destaque,
como o ponto alto do desenvovimento social, as frias e calculistas
instituições econômicas, voltadas para o dinheiro e sua multiplicação para o
bem de uns poucos, em detrimento de instituições voltadas para o bem-estar
humano, ecológico e global.
Não existe nenhuma razão óbvia e/ou natural para que
se acredite que a lógica matemática dos valores econômicos conduzam a cada
vez mais sábias e humanas decisões sociais. E, em nome do crescimento
econômico, a opinião pública deve ser amplamente moldada nos valores do
capital. A frugalidade, o equilíbrio, antes consideradas virtudes e condição
para a saúde mental individual e coletiva, é cada vez mais desencorajada
diante de modelos de consumo e imagens de venda, pois a frugalidade é
prejudicial à economia. Que importa o câncer? "Vá ao sucesso com o cigarro
H..."
À pergunta "por que tanto consumo?", a resposta
racionalizada é "para escoar a produção", qualquer que seja ela, inclusive a
armamentista. Os indicadores econômicos, como o PIB, são essencialmente
padrões de aparência, mas que nos indicam que o crescimento estúpido de
consumo está a exaurir de forma irreparável os recursos naturais, que
deveriam ser patrimônio de toda a humanidade e não só desta, mas de futuras
gerações e de outros seres vivos além dos humanos.
É realmente saudável que num planeta com
recursos naturais não renováveis e outros em cujo equilíbrio ecológico está
sendo destruído, incentivar a velocidade de consumo, principalmente pela
minoria dos países ricos? A resposta capitalista seria: "é bom para criar
empregos e para dar poder de compra, e fazer a roda girar, fazendo tudo de
novo" (adaptado de Harmann, 1989). Bom, mas sendo assim, será que estes
empregos e esta visão estará devotada ao desenvolvimento do homem, do
humanismo como um todo, ao embelezar as cidades, cuidar do meio ambiente,
promover uma relação integrativa entre todos? "Não", reponde o
capitalista, " estas coisas são consideradas desperdícios econômicos, não
dão lucros, e são perigosas para o capitalismo. Deve-se produzir coisas que
dêem dinheiro de forma rápida e faça o povo ficar acomodado. Assim, vamos
lançar cada vez mais jogos de computador, que exijam o equipamento mais
moderno para incentivar o consumo, casas pré-fabricadas para a uniformização
dos gostos, e coisas assim. Além do mais, é necessário que o capital tenha o
máximo controle de tudo, garantindo sua sobrevivência à longo prazo, e tenha
em mãos os meios de propagar sua ideologia. Por isso é necessário a
privatização de estatais e o controle da informação, principalmente através
das mídias mais populares, como a televisão, que é um veículo
comercial".
A produção econômica, num círculo vicioso, onde
se busca manter o máximo poder, é considerada a base primordial da relação
social. Grande parte das profissões e cursos universitários mais bem aceitos
implicam a inserção na máquina capitalista, mesmo que sejam cursos onde a
pessoa aprende a manipular a vontade de outros, como Marketing e
Publicidade. Além disso, à medida que a globalização ideológica
econômica vem atingindo os limites do mundo, a racionalização dos lucros
impõem um grau de automação tecnológica que visa a eliminar mão de obra, e,
assim, os empregos...
Mas nosso país têm homens ilustres,
intelectuais, não têm? Vai ver que esse é exatamente o problema. Estes são
pessoas que são ciosas de seu intelecto, que acredtiam ser mais do que são e
pensam em termos de duas dimensões: só entendem os gráficos no papel. A
forma artificial deles os levam a optar pelas decisões que apontem em
crescimento dos gráficos cartesianos, que levem em conta o custo-benefício
de instituições, bancos e empresas no tempo mais rápido possível para que
eles mesmos tenham os louros do dinheiro, da fama e da vaidade. Tome-se o
exemplo do imperador FHC.... E isso tudo
não tem dado mais segurança, bem-estar social ou desenvolvimento da
qualidade de vida, muito pelo contrário. Cada vez mais a população é forçada
a agir e a doar suas forças, sonhos e anseios para que este sistema corrupto
sobreviva e cresça.
A única solução para tudo isso é mudarmos radicalmente nossos valores, e percebernos a força que há me
nós, seres humanos, para mudarmos o quadro reducionista que o século XX,
infernal e mecanicista, tem nos dado e feito acreditar como o único válido.
Ou mudamos, ou deixamos de ser humanos para sermos tecnocratas, como o Darth
Vader, o general negro do filme Guerra nas Estrelas....
Bibliografia Sugerida
e Links:
-
Capra, Fritjof: O Ponto de Mutação,
Ed. Cultrix, São Paulo,1986.
-
Fadiman, J. & Frager, R. : Teorias
da Personalidade, São Paulo, Harbra, 1986.
-
Freud, Sigmund: Cinco Lições
de Psicanálise, Imago Editora, 1986.
-
Grof, Stanislav: Além
do Cérebro, McGraw-Hill, 1988.
-
Harman, Willis: Global Mind Change,
Institute of Noetic Scientes, 1989.
-
Harman, Willis: Uma Total Mudança
de Mentalidade, Cultrix/Pensamento, São Paulo, 1994.
-
Houaiss, A. & Amaral, R.: Socialismo:
Vida, Morte Ressurreição, Ed. Vozes, Petrópolos,
1997.
-
Jung, Carl: O Homem e Seus Símbolos.
Ed. Nova Fronteira, 1977.
-
Walsh, R. N. & Vaughan, F.: Além
do Ego. Ed. Cultrix/Pensamento, São Paulo, 1992.
Links:
João Pessoa, 19 de maio de 1998