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          A relíquia sem memória

Desde os primórdios de século XIX residiam no Brasil os soberanos do Império português em seus vastos ‘Paços Imperiais’. A vida era faustosa graças aos resultados da indústria açucareira e cafeeira, das magníficas residências, dos vestuários luxuosos, dos móveis abundantes e requintados. Foi na segunda metade deste século que nasceu o Palácio dos Azulejos, um exemplar raro da arquitetura brasileira, constituindo-se no testemunho do período áureo da economia cafeeira paulista. Edificado em 1878 pelo fazendeiro Joaquim Ferreira Penteado, o Barão de Itatiba, e seu genro, Antonio Carlos Pacheco e Silva, o imóvel caracteriza-se por um caso singular de duas residências. Tinha esta dupla residência duas fachadas que se localiza nas ruas Regente Feijó e Ferreira Penteado, n. 0 850 no centro da cidade de Campinas.

O prédio era inteiramente revestido de azulejos, daí a denominação popular de ‘Palácio dos Azulejos’. Construído em taipa de pilão e alvenaria de tijolos, a edificação seguiu o estilo neoclássico da expressão oitocentista da época, possuindo significativos elementos arquitetônicos como: platibanda encimada com vasos e estátuas, pinturas murais internas, clarabóias trabalhadas, esquadrarias em madeiras almofadadas, bandeira em ferro fundido onde consta a data de construção do prédio, entre outros. Além destes elementos, existiam outros (com grande influência mourisca), como o revestimento da fachada em azulejos e o piso de uma das salas formado por figuras geométricas (arabescos), madeira marchetada de vários tipos e tonalidades, numa alusão à religiosidade daquele povo. A preocupação com a ordenação dos vãos, com sua regularidade, a utilização do arco pleno, a clareza imprimida pela platibanda são compromissos óbvios da formulação estética do neoclassicismo. Com as sucessivas crises que envolveram a cafeicultura, entre o final do século passado e início deste, o Palácio dos azulejos foi vendido à Prefeitura Municipal de Campinas, em 1908. Assim, começava a vida política do Palácio que iria durar 60 anos. E deste então, o espaço do edifício foi redefinido e reestruturado de acordo com sua nova natureza: de espaço público. Cessado seu uso residencial na primeira década do século, a partir dos anos 30 o edifício se reestrutura integralmente em função da redefinição do papel dos organismos públicos em consequência do Estado Novo eliminando qualquer vestígio do espaço residencial primitivo.

Em 1968, com a inauguração do Paço Municipal, na Avenida Anchieta, transferiram-se para lá muitos órgãos insdtalados no Palácio dos Azulejos, restando apenas alguns, entre os quais a Sanasa (responsável pela primeira iniciativa de restauro), que permaneceu no Palácio até junho de 1996.

Atualmente, o Palácio dos Azulejos está sob a responsabilidade da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo, lá funcionam os Conselhos de cultura, o Condepacc, a Coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural, o Museu da Imagem e do Som e o Arquivo Histórico de Campinas que, em conjunto com a ACIC e outros parcerias buscará recursos para o restauro do imóvel, através do Programa nacional de Apoio à Cultura (PRONAC). O projeto de restauro foi elaborado pela coordenadoria Setorial do Patrimônio Cultural da Secretaria de Cultura e Turismo, com o apoio do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico nacional (IPHAN) e aprovado pelo Condepacc e Condephaat.

 Antigo Solar do Barão

Continha o prédio um pátio interno com um jardim entre as duas residências e, em continuação da fachada da rua Ferreira Penteado uma prolongada construção das cavalariças com um grande portão para a entrada das carruagens. Foi o coronel Eliziário Ferreira Penteado, filho do Barão de Itatiba, que construiu o Palácio na época áurea do café e também contratou o técnico francês cujo nome era Benoit Fôret para montar jardim, mais especificamente cultivar uma conífera japonesa que os nipônicos denominam de Ithió. Acima do prédio há duas estátuas de faiança portuguesa que enfeita até hoje a platibanda do Palácio, assim como o gradil, trabalhado artesanalmente por técnicos. Guilherme de Almeida, poeta da época, fez todo o trabalho artesanal em relevo nas paredes – hoje cobertas com latex – e classificava o Palácio de monárquico-brasileiro. Feito da mais fina louça portuguesa, o Palácio dos Azulejos, lembram para quem os vê, um passado distante e cheio de glórias onde as antigas fazendas de café faziam de Campinas um centro famoso no Brasil inteiro. Os Barões da época mandavam construir suas vivendas nos pontos centrais da cidade, usando o melhor material vindo da Europa.

A vendedora de flores, inspiradas nas graciosas nuanças dos tempos remotos evoca a compostura estética de uma arte que não morre, Ela é um dos monumentos líricos do Palácio. O guerreiro e sua armadura, lembra da Idade Média. Pouco ou nada resta do prédio primitivo, as fachadas estão incompletas e deturpadas, assim como as duas escadarias, as salas, as clarabóias com caixilhos de vidro da Bélgica, os lustres com pigmentos de cristal importados da França, os mármores italianos, os metais da Inglaterra.
O Palácio dos Azulejos foi tombado pelo Condephaat, em dezembro de 1967 em sua área envoltória não poderia ser construído nenhum prédio ou edifício de grande porte. Não é isso que ocorreu. Hoje encontramos grandes arranhas-céus, desvalorizando a área que envolve o Palácio. Assim, como o próprio prédio mutilado e violentado pelo tempo, apresentando rachaduras, além de estar em constante processo de restauro.

Campinas leva os seus valores à morte; velhas residências, monumentos...à margem do esquecimento, sem sombras, sem vestígios, sem memória, ao pó...

Para serviços municipais, foram ligados os dois prédios com a demolição das paredes. Internamente eles tem sofrido várias deformações como a substituição de paredes e de janelas por vitrais com caixilhos de ferro, o revestimento do forro de madeira composto de desenhos, por enfeites de gesso, a remoção de escadas de serviço, mudanças de paredes e substituição de forros, a substituição de soalhos e de rodapés desprezadas as características primitivas, a retirada irregular e desnecessária de balaustres da principal escada nobre, acréscimos de construções inteiramente fora de estilo, demolição das cavalariças para ser construído as instalações do Corpo de Bombeiros.

Patrícia Santos