A alegoria da
espiritualidade gótica
Basílica do Carmo é riquíssima, mas peca no estilo
gótico pobre
A história da Basílica do Carmo começa em setembro de 1773
quando foi demarcado o local para a construção da igreja que seria a Matriz
da Freguesia de Nossa Senhora da Conceição e seria construída na Praça Bento Quirino.
Iniciada a construção da Matriz, os habitantes do então bairro rural, que se formara a
partir de 1739, na região conhecida como Campinas de Mato Grosso, ansiavam por um local
onde pudessem realizar os cultos.
Então, a população solicitou ao Bispo de São Paulo, através de Francisco Barreto
Leme, licença para construir uma Capela Provisória (erguida em pau a pique, barro,
madeira e coberta com sapé) para os ofícios religiosos, e foram atendidos. No terreno
oposto ao que já se constituía a Matriz, ergueu-se a modesta Capelinha e no dia 14 de
julho de 1774 o Frei Antonio de Pádua rezou a primeira missa. E em 26 de julho de 1781 a
Matriz da Conceição já estava instalada em sede própria.
Enquanto se construía a futura sede da Matriz de Nossa Senhora da
Conceição, atualmente Catedral Metropolitana de Campinas, a sede da primeira paróquia
da cidade foi a Igreja do Rosário, na Praça Visconde de Indaiatuba (Largo do Rosário),
demolida em cumprimento das normas do Plano de Urbanismo do engenheiro Prestes Maia. A
igreja do Rosário foi construída em 1817 e guardava pinturas de grande valor em estilo
bizantino. Logo que foi demolida, a igreja foi transferida para a Avenida Francisco José
de Camargo Andrade, no Castelo.
O historiador de Campinas, Celso Maria de Mello Puppo, na época,
sugeriu aos assistentes de Prestes Maia que o alargamento das ruas Francisco Glicério e
Campos Salles fosse feito do outro lado da rua, para não comprometer a igreja, mas não
adiantou.
Pelo nome de Matriz Velha designava-se, ainda há pouco, o vetusto
Templo da Praça Bento Quirino, construído uns 30 anos depois da Fundação de Campinas e
demolido em 1930. Após uma existência de um século e meio, a Matriz desapareceu para
dar lugar à Basílica de Nossa Senhora do Carmo. A Matriz Velha foi a segunda sede da
paróquia da Conceição que ali permaneceu por 84 anos, até ser transferida, em 1870,
para a igreja do Rosário, de onde saiu de novo, em 1883, para a atual Catedral.
O Largo do Carmo, onde está a Basílica do Carmo, é considerado
o marco oficial de inauguração da cidade. Durante muitos anos, funcionou no Largo a
primeira Delegacia de Polícia e o primeiro prédio da Câmara Municipal. Moraram no
Largo, mais precisamente na rua Barão de Jaguara, Roberto Handell e Hércules Florence,
considerados por muitos autores os pioneiros mundiais, respectivamente das transmissões
de rádio e da fotografia em Campinas. Foram, inclusive batizados na Basílica.
Arte
e simbologia
A Basílica do Carmo, cuja Ordem Terceira do Carmo se estabeleceu
em 1910 é uma das mais belas edificações de Campinas, com seus vitrais e afrêscos
pintados nas paredes dentro da igreja. Nela está enterrado o fundador de Campinas,
Barreto Leme e sua esposa Rosa Maria de Jesus, sob a torre leste. O costume de se enterrar
pessoas dentro das igrejas permaneceu até 1846, depois disto os corpos que ali estavam
foram transferidos para o cemitério da Saudade.
O visual da Basílica do Monte Carmelo atualmente segue o estilo
gótico, as obras de restauro foi projetada pelo engenheiro e arquiteto russo Wladmir
Rodionff, que está trabalhando na igreja há nove anos. A Porta Santa da Basílica do
Carmo é carregada de simbolismos. O próprio ícone central traz diversas informações
cristãs. O círculo azul de fundo indica o globo. Sobre ele está a cruz com três hastes
que representa a Santíssima Trindade, nesta área estão cinco pombos que são os cinco
continentes, a luz presente simboliza Cristo. As aves que estão entrelaçadas significa o
espírito de unidade dos filhos de Deus e de reconciliação entre os povos.
A construção visual da Porta, de acordo com Wladmir Rodionff
seguiu o estilo gótico e florido da igreja. No alto estão impressas a primeira e a
última letra do alfabeto grego alfa e ômega .
A porta da Basílica do Carmo é a única existente no Brasil e a
sexta do mundo. Há quatro portas na Itália e uma na Espanha. A porta tem sentido
simbólico de passagem de uma situação difícil para um futuro melhor.
"A imagem de Nossa senhora do Carmo chegou a Campinas em
1879, trazida de Barcelona pelo Monsenhor Ribas Dávila. A imagem pesa mais de 200 quilos
e tem 2 metros de altura", conta Rodionff.
Ele ainda explica que está tentando recuperar o estilo gótico da
igreja, pois com a crise da oligarquia cafeeira as obras foram paralisadas. "Quem
financiou a construção da Basílica foram os Barões do Café, que na época, queriam
uma Basílica semelhante as da Europa, um projeto grandioso, um terreno que cobria a
extensão do Mausoléu de Carlos Gomes até a atual Basílica. Não conseguiram. O café
entrou em declínio e o dinheiro que financiava a igreja acabou, por isso os terrenos da
Praça Bento Quirino e do Mausoléu de Carlos Gomes foram cedidos à Prefeitura que em
troca prometeu terminar a edificação. O que não aconteceu". Outro resquício da
era do colapso do café pode ser cisto nas abóbadas da Igreja.
"A altura do teto da Basílica tem altura inferior às
exigências da arquitetura gótica. Deveria ser um terço mais alta do que é hoje. O
forro que deveria ser de alvenaria, é de gesso", conta Rodionff.
Anjos em relevo, pinturas, o batistério, a marmoraria nos mais
belos ornamentos e cores, os vitrais que representam o Santíssimo sacramento, os murais
das paredes que foram pintados pelo artista italiano Gaetano Niani, as torres e o
silêncio são as principais características do Templo. Entre os elementos góticos
estão as rampas de acesso à porta principal, o galo vigilante que funciona como uma
bússola sobre uma das torres principais , conforme o vento e um crucifixo de ferro de
quatro metros sob a parede frontal. A Basílica é patrimônio histórico, tombada pelo
Condepacc.
Curiosidades
históricas da Basílica
A atual Basílica do Carmo foi inaugurada oficialmente em 16 de
julho de 1940. Sua edificação está repleta de histórias. Os dois relógios com
mostruário de louça pertenceram à antiga Cadeia Pública de Campinas, as duas torres
são originais da Matriz de Nossa senhora da Conceição. A construção dessas torres foi
marcada por uma tragédia. O arquiteto italiano Santoro caiu de uma delas durante a
construção e morreu.
A igreja tem 18,5 metros de frente e 52,20 de fundo. A nave
central mede 9 metros e cada uma das laterais 4,5 metros. O Templo é extremamente
iluminado e arejado, o piso é formado de ladrilhos e granito, apresentando um belo
desenho.
Nas janelas esguias aparecem símbolos litúrgicos pomba,
pavão, pelicano e peixe lembram Maria, Jesus e a imortalidade através de seu
sangue. Abaixo da cruz estão postados um de cada lado os santos carmelitas Simão
Stock e João da Cruz. No grande vitral do arco do cruzeiro vê-se um belo rendilhado
feito de cachos de uvas e folhas lembrando o mistério da Eucaristia e a beleza da
virgindade. Judith e Ester, duas estátuas de dois metros, são mulheres fortes do antigo
testamento e simbolizam Maria, a mulher forte por excelência. Sem esquecer do órgão que
é o instrumento de maior recurso harmônico e melódico de Campinas. Possui dois teclados
e aproximadamente 24 timbres ou registros diferentes que podem ser usados sozinhos ou
combinados entre si. É um órgão de tubos, tipo romântico que glorifica as melhores
Catedrais da Europa. |