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O país da desigualdade busca trabalho

TRABALHO: Aplicação das forças e faculdades humanas para alcançar um determinado fim. Atividade coordenada, de caráter físico e/ou intelectual, necessária à realização de qualquer tarefa, serviço ou empreendimento. Trabalho remunerado ou assalariado; serviço, emprego. Local onde se exerce essa atividade. Qualquer obra realizada. Esforço incomum; luta, lida. Bruxaria.

A década passada assistiu a um enorme salto tecnológico. Enquanto o mercado em escala global ia se consolidando a partir do paradigma produto mundial (automação e inovação), o enorme investimento militar da guerra fria fazia ruir as economias do leste e ameaçava a estabilidade norte-americana. A tecnologia passa a ser privada e o avanço nas pesquisas de ponta viabilizou maior produtividade nos setores de telecomunicações, eletrônica, automação e bioengenharia.

O capitalismo passa a alimentar sua dinâmica com o crescimento dos salários reais dos empregados e uma progressiva qualificação da mão-de-obra. O número de empregos gerados entrou em declínio, reduzindo a taxa de geração de ocupações. Como o setor de serviços foi tomado por intensa automação, evaporou-se a fantasia de que absorveria os excedentes da indústria.

De acordo com o economista da Acic (Associação Comercial e Industrial de Campinas), Laerte Martins, a região tem hoje, em média, 400.143 pessoas que compõe a População Economicamente Ativa (PEA), mas somente 221.413 têm carteira assinada. Destas 400.143 pessoas, 80.478 estão fora do mercado de trabalho, isso representa o contingente da população sem condições de trabalho e corresponde ao índice de 16,7% de desempregados.

Para Laerte Martins, o fenômeno da globalização, o desenvolvimento tecnológico, a automação e o comportamento econômico de cada país contribuiu muito para gerar mais desemprego na região e no Brasil.

"As pessoas podem estar desempregadas porque não estão devidamente qualificadas para exercerem determinadas funções", explica.

O grau de escolaridade do campineiro é muito baixo, 9,8% têm formação superior completa, 23,9% têm segundo grau completo, 33,4% têm primeiro grau completo, 26,2% oscilam entre a quarta e a oitava série, 5,7% têm menos de quatro anos de escolaridade e 1% são analfabetos.

Como o setor de serviços foi tomado por intensa automação, evaporou-se a fantasia de que absorveria os excedentes da indústria. E é o setor de serviços e comércio que, em Campinas

correspondem a 53% dos recursos econômicos da cidade contra 47% da indústria, que vai empregar mais, embora o setor industrial prometa, até o final do ano, gerar 12 mil postos de trabalho.

Outra tendência é a expansão da terceirização. Certos serviços e insumos são produzidos mais eficientemente se delegados a pequenas unidades especializadas. Em países, ainda em desenvolvimento como o Brasil, esse processo acaba sendo utilizado para empurrar a sonegação para a ponta da cadeia produtiva e dividir os benefícios via preço.

A informalização do emprego se aprofunda com a sofisticação das telecomunicações e o barateamento das transmissões de dados.

O ‘empregado ’ administrativo já trabalha em casa com seu micro ligado à rede de computadores de uma ou mais organizações para as quais presta serviços poupando tempo. Em compensação, os gastos com água, luz, espaço e alimentação serão seus. É um jogo de perdas e ganhos cujo balanço é prematuro.

O trabalho informal é uma alternativa em função da perdas do emprego no setor formal. Encontram-se nesta categoria desde encanadores e manicures até especialistas em informática. Existem 178.730 trabalhadores na informalidade em Campinas.

Outra constatação importante na qualificação do desemprego atual é a questão do trabalho jovem. Mais da metade do desemprego está concentrado na população até 29 anos, que significa 51%. Em seguida vêm os trabalhadores entre 30 e 39 anos (27%), 40 e 64 anos (19%) e o trabalho infantil entre 10 e 17 anos (3%).

É importante frisar que a Constituição Federal e o Estatuto da Criança e do Adolescente proíbem o trabalho antes dos 14 anos. Há exceção para o caso do aprendiz, limitado à idade entre 12 e 14 anos. Porém, dados de 99 indicam que 2,7 milhões de crianças e adolescentes não estudam porque trabalham em condições desumanas.

Apesar do efetivo impacto do plano Real e os anteriores sobre a população carente, a desigualdade continua despudorada. A renda apropriada pelos 10% mais ricos da população brasileira é cerca de 43 vezes superior à renda per capita da população pobre. Minorar este monumental cisma entre pobres e ricos não é tarefa fácil, mas ao menos acabar com a imensa concentração de renda em Campinas e no país.

Ponto de encontro

Em Campinas, o ponto de encontro dos desempregados da região é na Praça Guilherme de Almeida. Lá os ‘desesperados’, a procura de trabalho, se reúnem em busca de algo que já virou um sonho, embora todo cidadão tenha direito ao trabalho com remuneração justa.

Carlos Miranda, tem 48 anos, é Encarregado de Obras e está desempregado há três anos. Para ele o maior desafio de estar desempregado é manter o caráter.

"Há três anos eu não sei o que é registro em carteira, vou me virando com bicos. Mas, o maior problema é depender de minha esposa, me sinto envergonhado", diz.

Já o Soldador e Montador, Manoel Bispo, 48 anos e há cinco anos desempregado, disse que "a trancos e barrancos está dando para sobreviver". "Pobre sobrevive de teimoso. Estou desempregado há cinco anos e cheio de contas para pagar e como se não bastasse dependo de minha esposa que é empregada doméstica", ressalta.

Quem trabalha no Brasil?

O mito do brasileiro preguiçoso esconde a história de milhões de pessoas que, ao longo de quase seis séculos, passaram sua vida na luta cotidiana pela sobrevivência. No século XX, a economia mais complexa ampliou o quadro de trabalhadores, com a incorporação de um funcionalismo público numeroso e a multiplicação dos profissionais liberais e empresários que gerenciam seus próprios negócios. A apregoada indolência do brasileiro é um pretexto e uma justificativa cruel para quem não quer reconhecer que o trabalho sempre foi desvalorizado no país.

JOVEM

Além de não poder contribuir com a receita familiar, o jovem é objeto do bombardeio diário pela mídia de consumo. Assimilando padrões inviáveis de classe média, ele passa a necessitar de um par de tênis e um jeans de marca razoável. Faz parte de seu padrão de sociabilidade. Sem emprego e com a renda familiar praticamente inexistente, o caminho pode ser a marginalidade.

MULHER

Somete a partir dos anos 80, a mulher inclui em suas aspirações permanetes, o trabalho fora de casa. A queda da renda familiar e os novos valores sociais foram as causa determinantes. O fato é que, até então, a mulher se colocava fora do universo daqueles que estavam procurando trabalho, aliviando as estatísticas de desemprego.

O problema da miséria e do trabalho não pode permanecer subordinado absolutamente à necessidade de estabilidade monetária. E o Brasil teve sete planos econômicos para domar a inflação: Cruzado 1, Cruzado 2, Bresser, Verão, Collor 1, Collor 2 e o Real.

Há uma necessidade de restabelecer a dinâmica de crescimento na oferta de postos de trabalho, tornar a mão-de-obra apta a ocupá-los e abandonar a perversa boa consciência de que o mercado informal constitui num relevante auxiliar na absorção de desempregados. De uma perspectiva micro, o mercado informal garante sobrevida ao indivíduo ( o que não é nada despresível). De um outro ponto de vista agregado, se quase negligível como reserva de Estado – exceto em relação à Previdência – é socialmente explosivo em um país.

Patrícia Santos