Narciso chamava de feio tudo o que não era espelho. A vaidade
humana toma proporções estratosféricas quando falamos em culto ao corpo. São horas
malhando, exercitando-se. É um puxa-puxa de ferros que parece não ter fim. A luta é
insana. Corpos que suam, músculos reagem. Vaidade e saúde contrapõe-se rumo ao
estereótipo do corpo perfeito. O suor escolhe nas faces das pessoas que não medem o
esforço para atingirem o seu ideal.
Mas o corpo pode não ser tão perfeito assim, uma vez que os meios para se ter esse corpo
são um tanto quanto perigosos. No meio dessa história encontram-se os esteróides
anabolizantes e os complexos vitamínicos. Corpos pré-fabricados. As chamadas
"bombas". E eles não possuem esse apelido à toa. Arrebentam com o coração e
com o fígado de quem quer encurtar o caminho para o corpo de Adonis.
Tudo em busca de um resultado mais rápido. Incrivelmente mais
rápido. Dentro de um comparativo entre a malhação saudável e a que utiliza de métodos
dúbios, o resultado chega a ser instantâneo. Em questão de meses, corpos antes
esqueléticos tomam forma e a musculatura incha de tal forma que é nítida a diferença
entre um corpo esculpido e um corpo pré-moldado. O que é esculpido é muito mais
trabalhado, e possuí um aspecto mais saudável. O pré-moldado, é aquela coisa inchada,
desforme.
Dentro das academias, é difícil encontrar quem assuma que faz
uso de qualquer tipo de substância para melhorar seu desempenho atlético. "Não uso
qualquer substância para ter resultado mais rápido. Não acho que vale tudo para se ter
um corpo perfeito, existem limites do próprio corpo que devem ser respeitados",
afirma o estudante André Fraga. Ele afirma que apenas consome complexos vitamínicos como
maneira de complementar sua alimentação é a base de muita fruta e nenhum doce ou
gordura.
Para Sueli Damasceno, professora de educação física, esse culto
ao corpo desenfreado que assistimos precisam ser melhor repensados. "O ser humano tem
que ter em mente a saúde em primeiro lugar, depois vaidade", diz.
A Clips Brasil fez uma pesquisa entre os alunos de academias e
houve um consenso bem dialético. Os corpos são esculturais, sem dúvida, mas eles buscam
no outro, conteúdo e inteligência. Dizem não dar tanta importância assim ao físico,
na outra pessoa. "Eu procuro muito mais por uma pessoa inteligente do que uma que
possua um corpo perfeito", diz Ednaldo Pereira, fisiculturista. "De que adianta
buscar alguém que tenha um corpo assim (mostra o corpo super definido) e uma cabeça
vazia?", questiona a farmacêutica Vilma Oliveira. E a grande maioria das resposta
foi assim. Mas claro que há quem discorde. "Se eu malho tanto para ter esse corpo,
para quê vou ficar com alguém que não esta´ nem aí para o corpo dela?" , é a
pergunta que deixa no ar o arquiteto Nilton Seffer.
Além dessa pergunta, questionamos aos alunos, se houvesse apenas
tempo para treinar ou ler um bom livro, o que eles escolheriam? 90% escolheu malhar.
"Não dá. Desculpe-me mas eu iria malhar", é o que diz Sueli Damasceno.
"Com certeza iria treinar", afirma o vendedor Cláudio Silva. Mas como em tudo,
há exceções.
"Talvez eu não fosse ler, mas com certeza assistiria a um
bom filme", diz a dona de casa Edna Delgado, que se exercita em uma academia há
apenas um mês por motivo de saúde. "Com certeza pegaria um bom livro para ler.
Sempre tive muita vontade de estudar, mas nunca tive condições.", afirma o
fisiculturista Ednaldo Pereira.