A tirania e o despotismo não tem significações
precisas segundo alguns autores da ciência política. Os termos são geralmente
associados às ditaduras orientais (despotismo), ao passo que tirania é mais usada para
designar qualquer sistema de governo que é caracterizado por práticas
anticonstitucionais e antidemocráticas.
Despotismo e tirania tem repercussões emocionais e mostram em
vários graus a repulsa e o ressentimento por essa espécie de governo.
A população brasileira, em grande parte, sempre revelou seu
descrédito diante da política e as suas relações de poder. A democracia é falada, mas
não é de fato vivida, não é real. A política passou a ser, na ótica do senso-comum,
sinônimo de corrupções. Nela, os seus agentes buscam benefícios pessoais.
Se essas idéias fazem parte do senso-comum, por que a população tem a impressão que,
desde 1500 nada mudou? Por que o passado histórico do Brasil, tão manchado, impede a
democracia e um progresso significativo?
Talvez porque o homem, no fundo, sempre aspirou dominar seu
semelhante. Só não o faz hoje da maneira que fazia antes porque é impedido pelos
costumes de sua própria existência. Nos séculos passados, porém, dominou fisicamente
os chamados subalternos.
Antes do negro sempre houve escravidão, desde dúvidas pessoais
até as conquistas guerreiras. A diferença é que depois do negro a escravidão assumiu
características sutis de disfarces nos campos político, econômico e ideológico.
A sujeição do homem ao homem está aí sob todas as formas que a
força do dinheiro, das armas, das leis, da moral, com o pretexto de Justiça e Direitos
Humanos, impõe.
O conceito de que sempre haverá alguém que de uma forma ou de
outra vai dominar, tiranizar e escravizar o homem que está numa posição desprivilegiada
em relação ao primeiro sempre imperou. O outro, o subalterno, é o homem que ficará à
mercê do poder e da vontade do ser que se diz superior.
Tal poder e tirania está na personalidade humana de cada
indivíduo, submergido na horda que o rodeia. À medida que pensamos ser livres, somos
escravos. Basta olhar as divisões de classes que remetem as camadas sociais. O mandar e o
obedecer são inerentes à vida em sociedade.
No mundo dito moderno e complexo viver se torna tão perigoso e nossos direitos tão
podados pelos do vizinho e a escravidão tão fácil...age tranqüila na sociedade
controladora de hoje que não dispensa o inevitável -não- .
Separar a escravidão do passado de nossa própria escravidão
interna, de nossa violência de senhor ou de nossa revolta como
escravos é o mesmo que desatar o referencial histórico da psicologia.
"O negro atraiu pois, extinta a escravidão e as
violências, para elas se caminham todas as águas de nossa fantasia onipotente, de todos
os nossos sonhos noturnos inconfessáveis de domínio sexual e de violência, que mantêm
em equilíbrio nossa consciência ao sol da civilização", disse Eduardo Etzel,
médico e psicanalista.
O homem é sempre o mesmo e, por isso, seu comportamento é
constante. Buscamos entender a escravidão, assim como procuramos compreender a vida e a
morte. O homem muda tão lentamente que...em 500 anos nada contam na sua evolução
mental. O avanço tecnológico não significa progresso porque o que imperra é o fator
psicológico, é o que faz pensar.
A moderna escravidão atinge todos, sem cor, sexo, riqueza e
posição social, pois todos acabam se submetendo ao poder de uma força maior e aos
desígnios de uma minoria dirigente. Somos então, escravos de nossas próprias idéias e
engrenagens sociais?